domingo, 17 de dezembro de 2017

Paulo, Silas e o Carcereiro de Filipos

Atos 16:8 - 12 e 16 - 25:

"E, tendo passado por Mísia, desceram a Trôade. E Paulo teve de noite uma visão, em que se apresentou um homem da Macedônia, e lhe rogou, dizendo: Passa à Macedônia, e ajuda-nos. E, logo depois desta visão, procuramos partir para a Macedônia, concluindo que o Senhor nos chamava para lhes anunciarmos o evangelho. E, navegando de Trôade, fomos correndo em caminho direito para a Samotrácia e, no dia seguinte, para Neápolis; E dali para Filipos, que é a primeira cidade desta parte da Macedônia, e é uma colônia; e estivemos alguns dias nesta cidade”.

"
E aconteceu que, indo nós à oração, nos saiu ao encontro uma jovem, que tinha espírito de adivinhação, a qual, adivinhando, dava grande lucro aos seus senhores. Esta, seguindo a Paulo e a nós, clamava, dizendo: Estes homens, que nos anunciam o caminho da salvação, são servos do Deus Altíssimo. E isto fez ela por muitos dias. Mas Paulo, perturbado, voltou-se e disse ao espírito: Em nome de Jesus Cristo, te mando que saias dela. E na mesma hora saiu”.

E, vendo seus senhores que a esperança do seu lucro estava perdida, prenderam Paulo e Silas, e os levaram à praça, à presença dos magistrados. E, apresentando-os aos magistrados, disseram: Estes homens, sendo judeus, perturbaram a nossa cidade, E nos expõem costumes que não nos é lícito receber nem praticar, visto que somos romanos. E a multidão se levantou unida contra eles, e os magistrados, rasgando-lhes as vestes, mandaram açoitá-los com varas. E, havendo-lhes dado muitos açoites, os lançaram na prisão, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança. O qual, tendo recebido tal ordem, os lançou no cárcere interior, e lhes segurou os pés no tronco. E, perto da meia-noite, Paulo e Silas oravam e cantavam hinos a Deus, e os outros presos os escutavam".

Somente Deus sabe quando uma pessoa está preparada para receber o Evangelho, porque só Ele pode preparar o coração para que escute a Palavra; "porque Deus não vê  como vê o homem; pois o homem vê o que está diante de seus olhos, mas Deus olha o coração" (1 Sam. 16:7b). Uma visão é dada a Paulo, de uma terra preparada disposta a receber a semente da Palavra de Deus, um varão macedônio é utilizado para guiar os destinos destes homens que estão dispostos a fazer a vontade de Deus. Quem era este homem? Como o encontrariam? Quais seriam suas circunstâncias? Não sabiam, mas, sem dúvida tudo estava nas mãos de Deus, e quando uma alma decide em confiar nEle, pode estar segura de que tudo sairá bem. 

Sigamos, então, a Paulo e Silas em Filipos, saindo para ir à beira do rio ao lugar onde era costume fazer a oração.

        "Sucedeu que quando íamos à oração, uma jovem que tinha um espírito de adivinhação... andando perto de Paulo e de nós, clamava, dizendo. Estes homens são servos do Deus Altíssimo, e vos anunciam o caminho da salvação" .

         Outros aparte de Paulo teriam recebido estas palavras, que saiam da boca desta jovem mulher, como um testemunho estimulante em seu trabalho. Não dizia esta à verdade? Não eram eles os servos do Deus Altíssimo? E não mostravam o caminho da salvação? Por que afligir-se, e por que abafar semelhante testemunho? Pela motivo evidente, de que este provinha de Satanás. O apóstolo estava consciente de que aceitando isto, teria arruinado totalmente sua missão na Macedônia, "para que Satanás não alcance vantagem alguma sobre nós; pois não ignoramos suas maquinações" (2 Cor.2:11). Em nossos dias, este inimigo tem-se unido à pregação do Evangelho, isto está provado por toda grande confusão que existe em torno do que nesta terra leva o nome de Igreja, tantas diferenças na diversidade de doutrina, tantas diferenças na forma de adorar, tantas diferenças nos costumes de reunir, seja quanto a música, vestimenta, organização etc. Mas agora Ai! Não há crentes tão fiéis como Paulo para discernir o que está Satanás fazendo através de tudo isto, enganando às almas para que não creiam na verdade.

        Assim também, podemos destacar que esta jovem mulher não disse uma só palavra de Cristo; ela não pronuncia o precioso nome do Senhor Jesus, isto não foi dito, porque ela não o conhecia, os demônios falando em outras porções da Palavra haviam exclamado: "A Jesus conheço" e "Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus Altíssimo? Conjuro-te por Deus que não me atormentes" (Atos 19:15 e Marcos 5:7). Então, aqui estava o perigo, porque a Escritura diz enfaticamente: "e em nenhum outro há salvação; porque não há outro nome debaixo do céu, dado aos homens, em que podemos ser salvos". Alguém pode falar de Deus e de religião sem que haja lugar para Cristo no coração, como está escrito: "O que não honra o Filho, não honra o Pai que lhe enviou" (João 5:23). Os fariseus, em João 9:24, podiam dizer ao cego curado: "Dá glória a Deus"; mas falando do Senhor Jesus, diziam: "Este homem é um pecador". Muitos dizem "eu creio em Deus" e pensam que isto é suficiente, mas a mesma Palavra de Deus os desmente: "Tu crês que Deus é um; fazes bem. Também os demônios creem, e estremecem" (Tiago 2:19). Esta crença não é suficiente para salva-los da ira de Deus, só o Senhor Jesus Cristo pode dizer: "O que crê em mim, ainda que esteja morto viverá" (João 11:25).

        Um obreiro menos espiritual que Paulo podia deixar passar isto, pensando que podia favorecer e ajudar no progresso da obra. Paulo pensava de forma diferente, e ele tinha razão. Então, no nome do Senhor Jesus Cristo, este "nome" que o inimigo havia excluído de seus discursos com muito cuidado, põe Satanás em fuga.

         Havendo fracassado em seus intentos por meio da astúcia, deseja agora alcançar seus desígnios pela violência. "Porém vendo seus senhores que a esperança do seu lucro havia sido perdida, prenderam a Paulo e a Silas... Depois de haver-lhes açoitado muito, os lançaram no cárcere, mandando ao carcereiro que os guardasse com segurança. O qual, tendo recebido esta ordem, os lançou no calabouço interior, e lhes assegurou os pês no tronco".

         Deste modo o inimigo parecia triunfar; mas recordemos que os soldados do Senhor Jesus Cristo alcançaram as suas mais brilhantes vitórias, no meio de circunstâncias que humanamente falando, são impossíveis. Satanás cometeu um grande erro ao lançar o apóstolo na prisão. É consolador pensar que ele não tem feito outra coisa que não seja cometer erros desde sua queda até agora. Toda sua história, do começo ao fim, está repleta de erros.

        Segundo o juízo da fé, o servo do Senhor Jesus Cristo estará em melhor condição numa prisão por causa da verdade, do que em qualquer outro lugar, para desonrar seu mestre. Na verdade, Paulo poderia ter evitado isto.  Ele poderia ter sido um homem reconhecido como "um servo do Deus Altíssimo", se somente houvesse aceitado o testemunho dessa serva, e aceitado a ajuda de Satanás em seu trabalho. Mas ele não podia fazer isto, e devia sofrer por ele.

        Alguém pode imaginar que havia chegado o fim do trabalho do evangelista na cidade de Filipos, após os pregadores terem sido lançados ali. Mas não! A prisão era o lugar próprio onde eles deveriam se encontrar naquele momento. O trabalho deles estava ali. Eles deviam encontrar, no interior dos muros da prisão, um auditório que não encontrariam fora dela.

Versículos 26 al 35:
"Então sobreveio de repente um grande terremoto, de tal maneira que os alicerces da prisão se moveram; e num instante se abriram todas as portas, e as cadeias de todos se soltaram. Despertando o carcereiro, e vendo abertas as portas do cárcere, tirou a espada e ia se matar, pensando que os presos haviam fugido. Mas Paulo clamou com grande voz, dizendo. Não te faças nenhum mal, pois todos estamos aqui. 
El, então, pedindo luz, se precipitou para dentro, e tremendo, se prostrou aos pés de Paulo e de Silas; e tirando-os para fora, lhes disse: Senhores, que devo fazer para ser salvo? Eles disseram: Crê no Senhor Jesus Cristo, e serás salvo, tu e tu casa. E pregaram a palavra do Senhor a ele e a todos os que estavam em sua casa. E ele, tomando-os naquela mesma hora da noite, lhes lavou as feridas; e em seguida foi batizado com todos os seus. E levando-os a sua casa, lhes pôs a mesa; e se regozijou com toda sua casa por haverem crido a Deus. Quando chegou o dia, os magistrados enviaram quadrilheiros, dizendo: Solta aqueles homens".

        É muito pouco provável que o carcereiro da prisão encontrasse o caminho para a beira do rio até ao lugar da reunião de oração. Ele não tinha interesse por tais coisas. Ele não era alguém que buscasse tais coisas, mas um pecador duro que tinha uma profissão cruel. Ele não parece ter mostrado muita doçura para Paulo e Silas, mas muito rigor, porque lemos: "os lançou no calabouço mais interior, e acorrentou seus pés no tronco".

        Mas Deus tinha reservadas as riquezas de sua graça para este pobre carcereiro. E como ele estava pouco preparado ou desinteressado em ir ouvir o evangelho, o Senhor lhe enviou o evangelho; o que é mais interessante, se valeu do diabo mesmo para enviá-lo. O carcereiro não sabia quem eram aqueles a quem ele lançara na cela interior, e não imaginava o que ia acontecer antes que um novo dia começasse. E podemos agregar que Satanás tampouco imaginava, não sabia o que estava fazendo ao enviar os pregadores a prisão, para ser o meio da conversão deste carcereiro. Contudo o Senhor Jesus Cristo sabia o que ia fazer, recordemos da visão de Paulo: "um varão macedônio estava em pé, rogando-lhe e dizendo: Passa a Macedônia e ajuda-nos". Sem dúvida este carcereiro era um pecador endurecido, mas ao mesmo tempo era uma alma exercitada, uma alma que estava despertando das trevas para Deus.
        Deus disse: "Meu conselho será firme, e farei toda a minha vontade" (Isaías 46:10). E quando Ele estende Seu amor para um pecador perdido e miserável, Ele o traz ao céu, apesar de toda maldade e furor do inimigo.

        No que concerne a Paulo e Silas, é evidente que eles estavam no lugar que deveriam estar. Eles estavam ali por amor à verdade, e por isto, o Senhor estava com eles. Desta forma eles eram perfeitamente ditosos. Ainda que bem encerrados no interior das sombrias muralhas da prisão, com seus pés acorrentados no tronco, mas estes muros não podiam aprisionar seus espíritos (Ecles. 8:8). Nada pode tirar o gozo daquele que tem o Senhor com ele: "A meia noite, Paulo e Silas, oravam, e cantavam louvores a Deus, e os prisioneiros os escutavam".

        Que sonidos estranhos saíam desta prisão interior! É certo que ali nunca antes isto foi escutado. O que se escutava ali habitualmente eram maldições, palavras blasfemas, violentas, gemidos dolorosos e lágrimas é o que saía destes muros. Mas a meia noite escutar palavras de oração e louvores, foi verdadeiramente surpreendente. Pouco importa o lugar onde nos encontremos se temos Deus conosco. Sua presença ilumina a cela mais escura e transforma uma prisão na própria porta do céu. Ele pode fazer ditosos os Seus servos onde quer que eles estejam e pode dar-lhes a vitória, ainda que seja nas circunstâncias mais contrárias.

         "Então sobreveio de repente um grande terremoto, de tal maneira que os alicerces do cárcere sacudiram; e no mesmo instante todas as portas se abriram, e as cadeias de todos se soltaram" (v.26).

        Se Paulo não estivesse em plena comunhão com o pensamento de Cristo teria, seguramente, olhado para Silas e dito: "Este é o momento para escapar; Deus claramente interveio em nosso favor e tem posto diante de nós uma porta aberta; a providência, certamente, pôs esta oportunidade diante de nós". Mas não, Paulo melhor instruído não tomou nenhuma atitude para fugir. As exigências da verdade o haviam conduzido a prisão, a atividade da graça, o fez permanecer ali. A providência abriu a porta, mas a fé o fez recusar a traspassá-la. Fala-se muito de ser guiado pela providência, porém se Paulo tivesse sido guiado por ela, o carcereiro nunca teria sido uma joia de sua coroa.

        "Despertando o carcereiro, e vendo abertas as portas do cárcere, tirou a espada e ia suicidar, pensando que os presos haviam fugido" (v.27). Isto prova muito claramente que o terremoto, com todas as circunstâncias que o acompanharam, não havia tocado o coração do carcereiro. Ele supôs naturalmente que os prisioneiros haviam fugido. Ele não podia imaginá-los tranquilamente sentados na prisão, quando as portas estavam abertas e libertados de suas cadeias. Que seria dele se os prisioneiros tivessem fugido? Como poderia ele enfrentar as autoridades? Impossível! Qualquer coisa, menos esta! A morte, ainda que por sua própria mão, era preferível.

        Deste modo, o diabo havia conduzido a este pecador endurecido até o limite do precipício. Ele ia dar o golpe final e fatal para precipitá-lo na eternidade da desgraça quando, eis aqui, uma voz de amor Divino ressoa a seus ouvidos. Era a voz de Jesus, por boca de Seu servo, uma voz de terna compaixão: "Não te faças nenhum mal".

         Isto era irresistível. Um pecador endurecido podia fazer frente a um terremoto, a até mesmo a própria morte, mas não podia resistir o poder da graça de Deus. "Ele então pedindo luz, se precipitou para dentro, e tremendo se prostrou aos pés de Paulo e Silas; e tirando-os para fora, lhes disse; senhores: Que devo fazer para ser salvo"? O amor pode quebrantar o mais duro coração. E, certamente, havia muito amor nestas palavras: "Não te faças nenhum mal", pronunciadas por aquele que havia sido tratado duramente umas horas antes.

         Destaquemos que não há nenhum censura nas palavras de Paulo ao carcereiro. Esta era a maneira de atuar de Cristo, o caminho da graça Divina. Se examinamos os evangelhos, nunca encontramos o Senhor censurando um pecador em angústia. Hás palavras tocantes de graça e ternura, mas nunca censura.

  O Senhor atuava deste modo sempre: Também Paulo, guiado pelo Espírito de Deus. Nem uma palavra em relação ao rude tratamento quando foi lançado na prisão, nem uma palavra acerca das cadeias. "Não te faças nenhum dano", depois, "Crê no Senhor Jesus e serás salvo tu e toda tua casa". 

Esta é a rica e preciosa graça de Deus. Esta brilha, nesta cena, com um brilho pouco comum. É seu gozo salvar um pecador, e Ele o faz de uma maneira digna dEle mesmo.

        E agora examinemos o fruto de tudo isto. A conversão do carcereiro não tem nenhuma dúvida. Preservado do suicídio, ele é introduzido na família de Deus, e as provas são claras a este respeito: "E pregaram a palavra do Senhor a ele e a todos os que estavam em sua casa. E ele tomando-os naquela mesma hora da noite, lhes lavou as feridas; e em seguida foi batizado ele com todos os seus. E levando-os para a sua casa, lhes pôs a mesa; e regozijou com toda sua casa por haverem crido a Deus" (v.32-34). O carcereiro com toda sua casa "crê a Deus", não diz: em Deus, porque é o testemunho dado por sua Palavra, que nos fala de nosso Senhor Jesus Cristo, o que o homem deve crer.

        Que maravilhosa mudança! O carcereiro sem misericórdia torna-se num hospedeiro generoso! "Se alguém está em Cristo, é uma nova criatura: as coisas velhas passaram; eis que tudo se fez novo" (2 Coríntios 5:17). Vemos agora claramente que Paulo tinha razão para não se deixar guiar pelas circunstâncias. Quão maravilhoso e elevado é deixar-se guiar por Deus (Salmo 32:8)! Satanás pensava obstruir o evangelho, e eis aqui, ajudou no progresso deste; ele esperava livrar-se destes dois servos de Cristo, mas eis aqui que perde um dos seus! Cristo é mais forte que Satanás; e todos aqueles que confiam em Cristo e atuam de acordo com Seus pensamentos participam seguramente nas vitórias da graça, e brilharão sob o esplendor da glória para sempre.

        E você, estimado leitor, com quem se identifica suas crenças? Com os demônios que "creem que Deus é um"; ou com o carcereiro e sua casa que tem "crido a Deus", tem crido no Senhor Jesus Cristo? Medite nisto.




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