domingo, 28 de novembro de 2021

Relações Entre Cristãos

 

RELAÇÕES ENTRE CRISTÃOS

 

 

I. - OS CRISTÃOS ENTRE SI

 

         As relações dos cristãos entre si constituem um assunto mu­ito mais importante do que parece a primeira vista. Não faço aqui alusão às relações que os crentes têm quando estão congre­gados para o culto, para a edificação ou para a oração; mas quero chamar nossa atenção para os temas de nossas conversas quando, entre crentes nos encontramos  entretendo fami­liarmente. Sobre este ponto, temos de empregar a maior vigilância, para que o inimigo não nos induza a despojar do caráter de santidade, pureza de elevação moral que deve distinguir aqueles que professam ser os membros do Corpo de Cristo, o  Templo do Espírito Santo.

 

        É Triste e humilhante, certamente, é ouvir o tipo de conversas que, com frequência, há entre aqueles cujos princípios deveriam manifestar, por estas conversas, um resultado prático muito diferente. Ao presenciar muitas vezes estas conversas,  não podemos senão exclamar: Como é possível crer que os tais creiam realmente naquilo que professam! Creem verdadeiramente que morreram  ressuscitaram com Cristo? Que sua vocação é celestial, que formam parte do corpo de Cristo, que estão crucificados com Ele, que  não estão na carne, mas "no Espírito"? Creem, por acaso, que são estrangeiros  peregrinos na terra,  que esperam dos céus ao Filho de Deus? Estas preciosas e importantes verdades, sem duvida, formam parte da profissão de fé à qual aderiram nominalmente; mas mostra ser, moralmente impossível, que haja tido algum efeito em seus corações.

 

         Um coração que se acha sob a bendita influência de tão maravilhosas verdades, teria, por acaso, algum gozo, no menor grau em participar dessas conversas vãs, frívolas  vazias, na práticas que tratam de pessoas ou de circunstâncias com as quais o crente não tem nada a ver, tais como: cinema, futebol, eventos desportivos típicos do país, ma­nobras políticas, boxe,  e todas as outras futilidades em voga?... Seria estas as ocupações de um coração cheio de Cristo? Contudo, temos que reconhecer que este é o caso de muitos cristãos professantesos quais são apenas dos lábios para fora”.

 

II. - NOSSAS RELAÇÕES COM O MUNDO

 

        Infelizmente, não é só em nosso contato com os outros cristãos que nos esquecemos do que somos pela graça, ou melhor dizendo, quando esquecemos que professamos ser do Senhor; é assim também em nossa relação com o mundo. Quantas vezes, ao encontrar-nos com pessoas inconversas, nos deixamos arrastar pelo curso de seus pensamentos,  nos colocamos, finalmente, sobre o mesmo terreno em que elas estão! Por certo, alguns cristãos lamentam dito estado de coisas. Mas há também os que justificam, interpretando erroneamente a declaração do Apóstolo Paulo em 1 Coríntios 9:22, "Fiz-me tudo para todos"; isto não quer dizer que Paulo participava de todas as aberrações do mundo, mas que negava sua pessoa entre todas as classes de homens a quem se dirigia para que, "por todos os meios chegar a salvar alguns." Seu objetivo era, pois, o de levar pecadores a Cristo,  não comprazer-se a si mesmo participando em suas varias e enfadonhas conversas.

 

         Amados irmãos, consideremos o Senhor, nosso divino Exemplo,  vejamos como agia com os homens neste mundo. Tinha, por acaso, algum objetivo, ou alguma preocupação comum com eles? De modo nenhum. Achava suas delicias num só objetivo, e estava cheio dele, dele falava sempre. Constantemente procurava, dirigir para eles os pensamentos dos homens. É também a meta que temos de propor aos crentes, não o esqueçamos! Qualquer que seja o lugar, ou o momento em que encontrarmos as pessoas do mundo, teríamos que dirigir seus pensamentos para a Pessoa de Cristo.  Se não achamos um caminho aberto para introduzir a Cristo, pelo menos, não deveríamos permitir que o curso de seus pensamentos exercesse influência sobre nós.

         Se tivermos assuntos ou negócios com os hom­ens do mundo, é natural que os levemos avante, mas nem por isso temos de ter comunhão com eles em sua maneira de pensar ou de falar, pois nosso Mestre nunca a teve: CONTATO NÃO SIGNIFICA CO­MUNHÃO. O que devemos aproveitar nestas circunstân­cias é a oportunidade de apresentar o Evangelho de Cristo, não só de boca, mas também pela retidão da nossa conduta prática. Quan­to mais nosso andar se afastar do Senhor, tanto mais iremos perdendo o caráter de santidade que deve ser nossa grande marca; neste caso, seremos, então, como o sal que perdeu o seu sabor, que não serve para nada.” Estou certo que a falta de paz profunda  permanente, da qual muitos crentes se queixam, tem sua origem nas frívolas e inúteis conversas que costumam ter, como também na leitura assídua de literatura mundana. Semelhantes costumes entristecem ao Espírito Santo; se o Espírito Santo está contristado em nós, não podemos gozar de Cristo, pois só o Espírito pode apresentar Cristo as nossas almas, por meio da Palavra de Deus.

 

         Desde cedo, não quero afirmar com isto que todos os crentes que carecem de paz interior tenham forçosamente seguido este caminho. Mas proclamo que TEMOS DE VIGIAR MUITO, pois são coisas que não deixam nunca de comprometer nossa saúde espiritual, de manter a alma num estado de fraqueza que desonra a Cristo.

 

III. - LEGALISMO OU OBEDIÊNCIA?

 

         Alguns pensarão, talvez, que ocupar-se destas coisas é fixar-se em considerações vulgares, algo de pouco valor espiritual. As tacha­rá de legalista”, acusará o autor de querer sujeitar o crente a uma espécie de servidão, contorcendo sobre si mesmo. De maneira nenhuma! Se for legalismo chamar nossa atenção sobre as matérias de nossas conversas, então o resultado será o legalismo da Epístola aos Efésios; pois lemos nela que nem palavras torpes, parvoíces, nem chocarrices, devem se nomear entre nós, "como convém a santos" (Efésios 5: 3, 4).Assim também, lemos em Colossenses 4:6, "Seja vossa palavra sempre agradável, temperada com sal". Tais são as [1]diáfanas dos ensinos da Palavra de Deus ,  temos de obedecê-las; observemos que elas estão estritamente relacionadas com algumas das mais elevadas doutrinas da inspiração. Acontece, pois,  e experimentamos isto na prática, que se estes ensinos não operarem poderosamente sobre nossa consciência, tampouco podemos gozar das verdades mais elevadas e mais sublimes. É impossível que eu tenha gozo da minha vocação celestial, e que caminhe de maneira digna da mesma, se consinto com estas "Parvoíces e chocarrices" (Efésios 5:4).

 

·         Por outra parte, temos de nos guardar sobremaneira,  com muito cuidado, de toda classe de santidade afetada ou fingida, que tenha o nome de hipocrisia ou farisaísmo, como também do que venha ser obrigação carnal. Essa hipocrisia não tem mais valor que a negligência ou a insensatez espiritual. Mas, por que não evitamos ambas as coisas? O Evan­gelho nos ensina algo muito melhor; em vez dessa fingida "santidade", nos fala de uma santificação real, efetiva; em vez da negligência ou leviandade espiritual, nos brinda com o verdadeiro gozo. Não há a menor necessidade de FINGIR uma coisa ou outra, pois se alimento com a Pessoa de Cristo, tudo será em mim a mesma realidade,  isso sem es­forço algum para aparentar. Se sirvo como por obrigação, tudo é incapacidade,  fraqueza, se afirmo que estou obrigado, ou me vejo forçado a falar de Cristo, isto vem a ser uma escravidão, descobrindo desta forma minha fraqueza, meu extravio. Mas se minha alma se acha em comunhão com Ele, será para mim uma coisa naturalmente  fácil, um gostoso pri­vilégio, pois "da abundância do coração fala a boca". Existe um pequeno inseto que sempre toma o color da folha com a qual se alimenta; passa exatamente o mesmo com o cristão, fica fácil discernir com que nutre sua alma.

 

         “Mas”, dirão alguns: “não podemos falar sempre de Cristo!” Amados irmãos é na medida na qual somos guiados pelo Espírito que nossos pensamentos,  nossas palavras refletem a Cristo. Se somos filhos de Deus, estaremos ocupados com Ele durante a eternidade. Ele será o tema de nossa contemplação,  da nossa adoração, por que não começar agora mesmo? Nossa separação do mundo não é atualmente menos real ou efetiva do que será então na eternidade; mas, infelizmente, de uma forma geral não andamos pelo Espírito.

 

         Bem é verdade que ao tratar das conversas que os cristãos usualmente têm, nos colocamos num terreno perigoso, "terrenal"; mas É NECESSÁRIO FAZÊ-LO. Seria preferível, se soubéssemos nos manter sobre um terreno espiritualmente mais elevado, mas, infelizmente, é precisamente nisto que falha­mos. Por isso, na Palavra  de Deus, o Espírito Santo se ocupa de nossas inconsequências, e isto é uma manifestação da graça divina. Notemos, por exemplo, que se as Escrituras nos diz que estamos assenta­dos "nos lugares celestiais em Cristo Jesus" (Efésios 2:6), por outra par­te, nos exorta a não furtar. Recomendar a homens celestiais que não furtem é, por certo, colocar-lhes sobre um nível espiritual muito baixo, não obstante, é o nível no qual as Escrituras nos posicionam, e isso nos basta. Bem sabia o Espírito de Deus que não só bastava revelar nossa posição: assentados NOS CÉUS, mas que também necessitávamos de ensinos para conduzir-nos SOBRE A TERRA.  Não esquecemos irmãos, que será por meio de nossa marcha prática sobre a terra que manifestaremos que temos compreendido nossa posição celestial. De modo que se a conduta de um cristão é carnal,  mundana, isto evidência que não anda na posição santa  e elevada como membro do Corpo de Cristo,  templo do Espírito Santo.

 

IV.- O REMÉDIO

 

         Por isso quero exortar afetuosa, mais solenemente, aos que geralmente tomam parte em conversas frívolas, e dizer-lhes: Ama­dos irmãos, tende o sumo cuidado do vosso estado de saúde espi­ritual! Tais costumes são sintomas de uma enfermidade interna, a qual pode vir a obstruir em vós as mesmas fontes da vida. Não permitas que esta enfermidade avance; Recorrei ao sobe­rano Médico. Ninguém poderá restaurar vosso estado espiritual, somente o Senhor poderá fazê-lo.

 

         Uma nova contemplação da excelência, do valor da perfeição de Cristo, é a única atitude que pode elevar nossas almas por cima da baixa condição na qual podemos ser encontrados. Toda nossa esterilidade, nossa com­pleta incapacidade, provém do fato de haver abandonado a Cristo. Não foi Ele que nos abandonou. NÃO! Bendito seja seu Nome, isto não pode ser! Mas, na prática, fomos nós que o abandonamos; portanto, nosso nível espiritual baixou tanto que torna, às vezes, muito difícil discernir em nós algo que seja cristão, a não ser o único nome. Temos nos detido, repentinamente, em nossa marcha prática. Não temos experimentado, como devíamos fazer, o que significa o cálice de amargura” de Cristo  seu batismo; não temos pro­curado ter comunhão com Ele em Seus sofrimentos, Sua morte,  Sua ressurreição. Conhecemos o resultado destas coisas, como sendo efetuadas Nele, mas não as temos experimentado na prática. ESTA É a causa de nossa fraqueza,  de nosso declive espiritual. Nada o poderá remediar, senão uma maior contemplação da plenitude de Cristo.

 

C. H. Mackintosh



[1] Diáfanas - (corpo) que deixa passar a luz através de si, quase em sua totalidade. Que tem uma grande quantidade de luz ou de claridade.          

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