A ESPOSA DO CORDEIRO
“E encontrando uma pérola
preciosa (de grande valor), foi e vendeu tudo o que tinha, e a comprou” (Mateus
13:46).
A Igreja é chamada “a esposa
do Cordeiro” (Apocalipse 21:9), no entanto, este título tem um grande
significado. “O Cordeiro” é uma figura sob a qual o Filho de Deus é
apresentado, o que nos fala dos sofrimentos que Ele suportou por nós. Como consequência
disso, a designação “a esposa do Cordeiro” demonstra que o Senhor Jesus a
comprou mediante Seus sofrimentos; e que Ela foi avaliada por Ele, por um preço
tão elevado, que para possuí-la, deixou tudo por causa dela. E desde o começo
Ele proclamou esta preciosa verdade do Evangelho.
Antes que Adão recebesse Eva,
o Senhor Jeová fez cair sobre ele um profundo sono - figura da morte -, durante
o qual tomou uma de suas costelas e formou aquela que lhe apresentou para que
fosse sua mulher. Nisto vemos uma sombra da humilhação e do sofrimento que
suportou o verdadeiro Adão, a fim de adquirir para si mesmo a sua Eva, digo, a
Igreja.
Séculos depois, vemos o mesmo
em Jacó que teve que suportar as fadigas e a pena imposta de quatorze anos de
trabalho, antes de possuir Raquel. O costume do país, assim como, as duras
exigências do ávido Labão lhe impuseram essas condições. Jacó deveria suportar
o extenuante ardor do sol durante o dia e as geadas durante a noite, um
trabalho incessante e a prolongação do seu exílio, ou então partir sem levar
sua amada Raquel.
José, antes que Azenate lhe
fosse dada por esposa, foi separado de seus irmãos.
Vemos o mesmo em Moisés que
também fugiu para longe de seu povo e, além disso, recebeu a Zípora, pela ajuda
que prestou, defendendo- a dos pastores de Mídiã e depois abrindo-lhe o poço
para abeberar (dar de beber) as ovelhas, de maneira tal que o pai de Zípora
reconheceu o direito de Moisés em pedir a mão de sua filha. Moisés a desposou
apesar de expor sua boa reputação frente a sua parentela, já que ela era uma
etíope de pele escura, a qual, segundo os pensamentos de Arão e de Miriã, não
lhe convinha; contudo Moisés suportou o opróbrio e tomou por esposa aquela que
ele escolheu.
Em cada um destes matrimônios
é nos apresentado o caráter do Esposo. Tipologicamente contemplamos neles o
Senhor Jesus adquirindo a sua Esposa a expensas de algo pessoal: morte, como em
Adão; trabalho, fadiga e luta, como no caso de Jacó; separação e dolorosa
saudade, como as que sofreram José, ou simplesmente o opróbrio, estimando que fizesse
algo indigno dEle, tal como os irmão de Moisés, julgando-o pelo enlace com a
etíope.
O principio que reconhecemos nestas figuras é
sempre o mesmo: o esposo sofrendo.
Poderíamos mencionar ainda
Boáz, que é outro tipo do Senhor Jesus. Boáz era um homem rico e poderoso,
porém tomou em suas mãos a causa de uma pobre mulher que estava espigando em
seus campos; permitiu que ela se aproximasse, escutou sua petição e depois a
tomou por esposa. Ele não teve vergonha de permitir que uma estrangeira,
destituída de tudo e que na véspera dependendo de sua liberalidade, fosse sua
companheira, aquela que compartilharia de suas riquezas e suas honras, que
edificaria sua casa e perpetuaria seu nome entre as tribos de Israel. O
casamento de Boáz com Rute nos ensina, pois, o mesmo mistério; ensina-nos que o
Esposo da Igreja, primeiramente, humilhou-se a si mesmo, para resgatá-la e
fazê-la sua.
Porém esta grande verdade não
nos é revelada somente através de tipos e exemplos; ela é mostrada também,
mediante o ensino claro e positivo das Escrituras. Está escrito: “Cristo amou a
Igreja, e se entregou a si mesmo por ela, para santificá-la mediante a lavagem
de água pela palavra”. E tudo isto fez para apresentá-la como sua Esposa
gloriosa, sem mancha, nem ruga, digna de si mesmo (Efésios 5). Nesta passagem,
como doutrina claramente exposta, vemos o Cordeiro como Esposo, pois antes de
tomar a Igreja por Esposa, se entregou a si mesmo por ela. Ele toma por Esposa
aquela que primeiro comprou com seu sangue.
No Antigo Testamento se
encontra o mesmo ensino quanto à relação entre Jeová e Jerusalém. É, em
essência, a mesma relação que existe entre Cristo e a Igreja. Por isso lemos do
que é dito a Jerusalém: “Porque o teu Criador é o teu marido; Jeová dos
exércitos é o seu nome; e o Santo de Israel é o teu Redentor” (Isaías 54:5).
Toda passagem mostra Jerusalém levantada de seu estado de humilhação pela terna
bondade e o gratuito amor de Jeová, que reconhece como sua aquela que, como
aconteceu com a etíope, a Rute, podia ser um opróbrio para Ele (Isaías 54).
Jeremias também apresenta o
Senhor Jeová agindo com a mesma graça e voltando a tomar para si Jerusalém,
inclusive depois que ela mostrou-se infiel e tenha sido recusada, tanto
judicialmente, como legalmente (Jeremias 3).
A mesma figura é encontra também nas ordens
que Jeová dá ao profeta Oseías (capítulos 1 a 3). Ele compra a sua mulher
(3:2), a lava e a purifica, e carrega também com ele o opróbrio de uma união
com uma mulher perdida e indigna.
Ainda mais, na impressionante
descrição que traça Ezequiel (capítulo 16) acerca de Jerusalém, esta é vista
num estado de degradação mais repulsivo; mas então, quando ninguém lança sobre
ela um só olhar de piedade, o Senhor Jeová não só tem compaixão dela, mas a
vivifica, a lava, a veste, a atavia com adornos, a unge, a embeleza e a enche
de dons; sua bondade não se detém, até que a tenha tomado para si mesmo: “tu
ficaste sendo minha”, disse o Senhor Jeová (v. 8).
Assim também vemos nos ensinos
ou nos oráculos dos profetas, como nos tipos ou nas sombras dos tempos mais
remotos; todos eles proclamam o grande mistério de que o Cordeiro - o que sofre
- é o Esposo, Aquele que no final fará assentar com ele a Igreja como sua
companheira, associada a sua glória, é o mesmo que primeiro a resgatou com seu
sangue, a lavou e purificou mediante sua palavra e seu Espírito, sofreu o
opróbrio por amor a ela (cf. Lucas 19:7) e desceu até ela, quando ela se
encontrava em seu estado de ruína e miséria, antes de poder levá-la para ele à
glória.
Tal é o mistério do divino
Esposo. É o mistério de um amor que sobrepõe todo conhecimento: o amor de
Cristo pela Igreja e o amor da Igreja por Cristo. Ela o ama por causa de tudo o
que Ele fez por ela, por causa do doloroso serviço ao qual Cristo se sujeitou
para adquiri-la; Ele a ama por causa do preço com que a avaliou e pelo qual a
adquiriu.
A Esposa estará para sempre junto dAquele que a amou até dar sua própria vida
por ela. O Esposo verá ao seu lado àquela que o cativou até ao ponto de
impulsioná-lo a suportar tudo voluntariamente, por causa do amor que lhe
dedicou, por causa desse amor que o fez renunciar a tudo aquilo do qual Ele era
digno (Mateus 13:45-46).
Ele a aprecia de uma maneira suprema, e ela a
Ele de igual maneira exceto que com esta diferença: Cristo manifestou e provou
seu amor por ela, antes que a Igreja fosse sua; pois antes havia avaliado o
preço pelo qual seu amor podia adquiri-la.
O amor da Esposa se manifesta mais tarde e ocupa o segundo lugar. Começa
somente quando ela conhece todo amor do Esposo para ela: “Nós o amamos, porque
ele nos amou primeiro” (1.ª João 4:19). Portanto, Cristo como Esposo, assim
como em tudo o mais, seja em graça ou em glória, deve ter “a preeminência”
(Colossenses 1:18).
Bellett
J.G.
Traduzido de Mensagem evangélica 1973.
Por: João Batista Carneiro. Março de 2009.
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