O Santuário.
“ENTÃO falou o Senhor a Moisés, dizendo: Fala aos filhos de Israel,
que me tragam uma oferta alçada; de todo o homem cujo coração se mover
voluntariamente, dele tomareis
a minha oferta alçada... E me farão um santuário, e habitarei no meio deles. Conforme
a tudo o que eu te mostrar para modelo do tabernáculo, e para modelo de todos
os seus pertences, assim mesmo o fareis" (Êxodo 25: 1,2,8,9).
Vamos lançar um breve olhar sobre o tabernáculo e tentar colher alguns
pensamentos e lições que dele podem nos advir. É de suma importância não
esquecer neste propósito de Romanos 15:4 que diz: “Porque tudo o que dantes foi escrito, para nosso
ensino foi escrito, para que pela paciência e consolação das Escrituras tenhamos
esperança”.
Então
de posse deste pensamento consideraremos em breve espaço alguns detalhes do
tabernáculo, levantado no deserto e ordenado conforme as instruções do seu
idealizador, o Deus criador de todas as coisas, e para tal, o trecho de nossa observação
será os versos citados acima do capítulo 25 do livro de Êxodo.
Dando uma
breve olhada na parte compreendida até o capitulo 30 podemos observar que o
assunto deles está dividido em três partes
distintas: Em
primeiro lugar, temos as instruções para a edificação do Tabernáculo e de
seus utensílios e seu mobiliário, os quais em suas descrições manifestam a Deus. Vemos estas
descrições até Êxodo
27:19.
Em segundo lugar são
apresentadas as vestiduras e a consagração dos sacerdotes, em Êxodo 28 e 29.
Depois, por último, os utensílios de aproximação, ou seja, aqueles que eram necessários
para se aproximar de Deus, eles são detalhados
em Êxodo 30.
Se observarmos atentamente
veremos que
alguns destes utensílios
que
manifestam
a Deus, manifestam também alguma
parte de Sua glória, e os mesmos foram usados para a sua aproximação; entretanto,
devemos sempre lembrar o desenho original e principal de cada um; fazendo isto evitaremos confusão, e o
significado será facilmente compreendido. A
divisão apresentada acima pode nos ajudar
a
entender mais precisamente e com
mais clareza esta parte importante do livro.
Lembramos: a menção destes fatos visa instigar-nos
a fazer uma observação completa, utilizamos apenas alguns detalhes com o
propósito de induzir-nos ao estudo desta parte importante do cânon inspirado.
O componente principal de nossa atenção, nestas
instruções, e que deve chamar-nos a prestar a devida atenção é: “Fazer
um santuário:” "E me farão um santuário, e habitarei no meio deles."
A ideia principal do Tabernáculo é, portanto, a habitação
de Deus no meio deles. Tal como foi dito no cântico de Moisés em Êxodo 15:2, Deus
nunca antes havia morado na terra com Seu povo até que cruzaram o mar vermelho,
até que a redenção, em figura, fosse cumprida.
Para que a redenção, não em figura, mas realmente
fosse cumprida, Deus teve que tomar outras decisões que não podem ser avaliadas
e nem descritas. É admirável o que escreveu o escritor aos Hebreus sobre estes
mistérios de Deus. Me impressiona as palavras que o Espírito Santo utilizou
para explicar o mistério da Piedade
(1 Tim. 3:16), diz Ele: “visto como os filhos
participam da carne e do sangue, também ele participou das mesmas coisas... Por
isso convinha
que em tudo fosse semelhante aos irmãos, para ser misericordioso e fiel
sumo sacerdote naquilo que é de Deus, para
expiar os pecados do povo (Heb. 2:14ª, 17).
No
deserto, sob a velha aliança, o Senhor quis morar no meio do seu povo. Na nova
aliança Ele quis ser fisicamente como um do seu povo, para poder ser
misericordioso nas coisas concernentes a Deus. Quem pode explicar tal amor!
No Éden vemos o Senhor cuidando e dialogando com
Adão, apareceu e também se comunicou com os patriarcas; mas até que tirou o Seu
povo do Egito, nada é dito acerca de fazer um santuário no qual Ele pudesse
morar com eles.
O Tabernáculo, então, foi uma prova da redenção e o
sinal de que Deus trouxe um povo redimido para relacionar-se consigo, sendo Ele
mesmo o Centro ao redor do qual eles se congregavam.
Tal é o pensamento de Deus na redenção, não só
salvará o seu povo, segundo os Seus próprios propósitos, mas, também, conforme o
Seu coração, deseja tê-los num lugar de proximidade consigo, reunidos ao Seu
redor, sendo Ele mesmo seu Deus, e eles o Seu povo.
É verdade, nós sabemos, pelos resultados advindos, que
quão decepcionantes foram estes resultados em relação aos desejos do Seu
coração, por causa do fracasso do povo sob a sua própria responsabilidade.
Mesmo assim, Ele teve Seu santuário no meio deles, tanto no deserto como
durante o reino.
Agora na dispensação da graça Seu povo forma Sua
casa; no milênio terá outro santuário material em Jerusalém e, finalmente, no
estado eterno, a santa cidade, a nova Jerusalém descerá do céu, de Deus, e
formará sobre a nova terra o tabernáculo de Deus com os homens (Apocalipse 21:
2, 3).
Então os conselhos do coração de Deus serão
mostrados em sua perfeição completa, e visto que as coisas anteriores, com todas
as dores relacionadas a elas pelo pecado do homem, terão passado, não haverá
nada que possa impedir o desfrutar pleno, perfeito, e bem-aventurado que brota
do livre manancial do coração de Deus para Seu querido povo e, consequentemente,
de seus próprios corações para Deus, bem como da Sua manifestação perfeita, e da
adoração e do serviço perfeitos que eles lhe hão de prestar.
Mas o tipo de tudo isto é encontrado neste
santuário, que Israel recebeu instruções de edificar, conforme o modelo
mostrado pelo próprio Deus, para sua
própria habitação no meio deles. Isto, portanto, é muito instrutivo e
interessante.
Podemos também ver o Tabernáculo sob outro prisma,
ou seja, a casa que Deus morava deveria também ser, necessariamente, o cenário
da revelação da Sua glória.
Por isso, ao passar pelas narrativas da escritura é
importantíssimo observar cada detalhe, pois, cada uma de suas partes apresenta,
em figura, alguma manifestação de Deus.
Como alguém
escreveu: “As glórias de Cristo, o Mediador, em cada forma são apresentadas no
tabernáculo; não precisamente, a unidade do Seu povo, considerado como Seu
corpo; todavia em cada maneira em que os modos de operar e as perfeições de
Deus são manifestados por Ele, seja no pleno alcance da criação, seja em Seu
povo, ou em Sua Pessoa. A cena da manifestação da glória de Deus, Sua casa, Seu
domínio, no qual Ele mostra seu ser (na medida em que se pode ver), os modos de
agir de Sua graça, e Sua glória, e Sua relação por meio de Cristo conosco, pobres
e débeis criaturas, mas que se aproximam Dele, nos são reveladas Nele, mas
ainda com um véu sobre Sua presença, e com Deus, não com o Pai.”
Por esta razão, a mente espiritual segue seu curso,
deleitando-se nos ensinos típicos apresentados nos pequenos detalhes deste
santuário, extraindo deles os variados métodos da revelação de Deus, sendo
instruída e capacitada por Ele, para compreender os diversos e ilimitados
aspectos do seu amor e graça contidos nestas revelações, mas que será totalmente
compreendido e perfeitamente desfrutado, quando a chave destes mistérios for
desvendado por Nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo.
Lembrando sempre disto, controlaremos, por um lado,
todos os voos da nossa imaginação, e por outro, revestiremos nossas meditações
com um novo interesse, na medida em que o Senhor Jesus Cristo estiver sempre
diante das nossas almas.
Mas há ainda um terceiro aspecto do Tabernáculo que
precisamos considerar, pois, o tabernáculo é posto perante nós nesta tríplice
demonstração, e nisto é uma figura dos próprios céus. Assim vemos nele o átrio interior,
o lugar santo, e o lugar santíssimo. Ali somente os sacerdotes tinham permissão
de entrada, embora houvesse restrições.
Deus dispôs os mobiliários do tabernáculo conforme
as restrições impostas, e os sacerdotes tinham que observar criteriosamente as
determinações divinas. Assim, para adentrarem ao interior do tabernáculo eles
passavam pela cortina do pátio que os introduzia no átrio interior; cumpridas
as orientações pertinentes ao altar de cobre e da bacia de cobre, passavam pelo
primeiro véu chegando ao lugar santo, onde estava a mesa como os pães da
preposição, o candeeiro de ouro e o altar de incenso, e aí introduzidos estavam
diante do terceiro véu (lugar da presença de Deus), onde deveriam deter-se ali.
A continuação desta jornada até o interior do segundo
véu, somente era permitida ao Sumo Sacerdote, e isto, uma vez por ano, conforme
Lev. 16:2-17 e Heb. 9:6,7.
Em 2ª. Coríntios 12:2, Paulo fala de que foi
"arrebatado até o terceiro céu". Há uma alusão a este significado do
Tabernáculo na epístola aos Hebreus: "Visto
que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou (lit.: passou através de) nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão"
(Hebreus 4:14). Cristo é considerado nesta Escritura como havendo passado, como
o sumo sacerdote Judeu no dia da expiação, através do átrio, o lugar santo, ao
lugar santíssimo (todos os quais são simbólicos dos céus), à presença de Deus.
Em relação com isto devemos lembrar que o tabernáculo
foi feito segundo o modelo mostrado a Moisés no monte (Êxodo 25: 9, 40, etc.), e
era, portanto, tipo das coisas celestiais. Este ensino é desenvolvido na
epístola aos Hebreus. Lemos ali do Senhor Jesus Cristo como "ministro do
santuário, e daquele verdadeiro tabernáculo que o Senhor levantou, e não o
homem" (Hebreus 8:2); e outra vez: "De
sorte que era bem necessário que as figuras das coisas que estão no céu assim
se purificassem; mas as próprias coisas celestiais com sacrifícios melhores do
que estes. Porque Cristo não entrou num santuário feito por mãos, figura do
verdadeiro, porém no mesmo céu, para agora comparecer por nós perante a face de
Deus" (Hebreus 9:23,24).
Portanto, compreendemos facilmente, que o Tabernáculo foi à cenário do
ministério sacerdotal terreno; uma vez que sendo a morada de Deus, foi também o
lugar onde o pecador se aproximou Dele (ou seja, o lugar onde um povo foi posto
numa relação pessoal com Ele) na pessoa do sumo sacerdote. É verdade que o sumo
sacerdote só podia entrar uma única vez ao ano no lugar santíssimo; mas isto era
a consequência do fraqueza dos sacerdotes (Heb. 7:28ª), e não alterava, de
maneira alguma, seu desenho original.
Entretanto, estas coisas, incluindo o véu, e a exclusão do lugar santo
de todos, exceto dos sacerdotes, têm como objetivo nos ensinar, mesmo que por
meio destes contrastes, os maiores, melhores e mais bem-aventurados privilégios,
dos quais, os crentes da presente dispensação da graça desfrutam.
Eles têm plena liberdade de aceso, em todo tempo, ao Lugar Santíssimo, uma
vez que o véu foi rasgado, e visto que são feitos perfeitos para sempre, pois não
tem mais consciência de pecados, por causa do único sacrifício do Senhor Jesus
Cristo (Hebreus 10), eles se aproximam, confiantemente, com toda ousadia de seu
Deus e Pai pelo sangue do Senhor Jesus Cristo (Heb. 10:19).
É, então, muito precioso para todos nós saber, que em figura, Deus em
graça, misericórdia e amor quis nos mostrar o que fez quando redimiu seu povo
do Egito. Eles eram fracos e falhos; Ele teve que suportar suas fraquezas,
debilidades e coração duro e impenitente, mas demonstrou que Nele havia graça
suficiente para cumprir todos os seus propósito para com eles.
Puniu conforme os padrões e rigores da sua justiça toda incredulidade
(Heb. 3:17-19) em todos aqueles que resistiram suas orientações e ordens.
Conduziu seu querido povo até a terra prometida, assegurando-lhes todos os
benefícios que suas promessas lhes outorgaram.
Hoje não vivemos mais por figuras nem sombras, temos a realidade dos
fatos, como temos visto nas citações acima da epistola aos Hebreus. É
fundamental que nestes dias de densas trevas firmamos nossos corações naquilo
que o Senhor nos prometeu e com toda confiança descansemos nas suas infalíveis
promessas.
Ele virá breve para nos
levar para Ele como Ele próprio nos prometeu e João registrou no capitulo 14 do
seu evangelho, portanto, não desfalecemos nem retrocedamos. Que sigamos o
exemplo de Paulo, isto é: “Prossigamos para o alvo, pelo prêmio
da soberana vocação de Deus em Cristo Jesus” (Filip. 3:14).
“A graça do Senhor Jesus Cristo, e o amor de
Deus, e a comunhão do Espírito Santo seja com todos vós. Amém.”
(2 Cor. 13:14).
J.B.C.
Março de 2020
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