Lições na vida e obra de
Jacó.
Estudos em Gênesis.
MISERICÓRDIA E GRAÇA DE
DEUS NA VIDA DE UM PATRIARCA.
INTRODUÇÃO
O nome Jacó como sabemos significa Suplantador.
Suplantador
significa: Derrubar, vencer, levar vantagens, ser superior.
Estas são apenas algumas das mais conhecidas atitudes
deste Patriarca.
A história de Jacó pode ser resumida em dois pontos
principais:
1º- O propósito de Deus em graça, agindo em
cumprimento de seus planos (Rom. 9:11-13); e
2º- A natureza humana maquinando e planejando
alcançar aquilo que esse propósito, teria infalivelmente realizado, sem
qualquer conspiração ou plano.
Dos fatos
extraordinários acontecidos na história de Jacó, a energia da natureza foi
manifesta: Antes do seu nascimento, quando do seu nascimento e depois do seu
nascimento.
- Antes
do seu nascimento: Os filhos lutavam dentro dela.
- Quando
do seu nascimento: Agarrou o calcanhar de seu irmão.
- Depois
do seu nascimento: Sua vida nos mostra como a natureza age, opera, conspira,
tentando por si mesma, fazer alguma coisa para Deus. Compra o direito de
primogenitura, e engana seu pai para
alcançar a bênção; porém, tudo isto apenas serviu, para dar maior relevo a
graça daquele que condescendeu em denominar-se a si mesmo, como o Deus de Jacó.
No livro de Êxodo, Deus apareceu a Moisés como o Deus
de Abraão, Deus de Isaque e o Deus de Jacó. Deus sempre se manifestou no
passado ao seu povo neste tríplice caráter. Como o Deus de Abraão, Ele é o Deus
da fé (Rom. 4:11—22); Como Deus de Isaque, Ele é o Deus da Promessa (Gálatas 4:
23, 28); Como o Deus de Jacó, Ele é o Deus de toda graça (I Pe 5: 10).
Em tudo isto, vemos Deus, O Deus de toda a graça, descendo até a profundidade da miséria e
degradação da raça humana, para amá-lo, resgatá-lo, erguê-lo, levantá-lo, para
o colocar num lugar e estado, no qual o homem pudesse manter uma livre comunhão
com Ele, em toda a realidade do que Deus é. Isto é graça soberana de Deus!
(Tito 2: 11,14).
Tudo isto que temos perante nossos olhos, está cheio
de instrução e ensino para nós, nada foi escrito com a finalidade de recordar
pecados (Heb. 10:3, como temos nas ofertas, segundo o sacerdócio Levítico), mas
sim com a finalidade de nos revelar que os homens do passado eram sujeito as
mesmas paixões que nós (Atos 14:15; Tiago 5:17), e não homens perfeitos, e Deus
tratou com eles assim como eram e suportou seus erros, suas fraquezas e faltas,
embora, odiasse o pecado que neles haviam e (há em nós), os amou, como ama cada
pecador, com um amor tão especial, insondável, que desceu na pessoa Bendita do
Senhor Jesus Cristo, até ao lugar mais negro e horrível da nossa culpa e
necessidade, para fazer a propiciação da nossa culpa, do nosso pecado, e nos
constituir num povo exclusivo seu. Só a infinita graça de Deus pode agir assim.
O que
temos em Gênesis sobre a vida de Jacó pode ser dividido em Seis pontos
principais, a saber:
1- Do nascimento até a fuga para
Padã-Arã.
Cap.
25: 19-34; 27: 1-46; 28:1-10.
2- Jacó entre Berseba e Padã-Arã.
Acontecimentos no caminho.
Cap.
28:10-22; 29:1-13.
3- Jacó em Padã-Arã. Sua permanência
ali.
Cap.
29:14-35; 30:1-43; 31:1-21.
4- Jacó retorna para a terra de seus
pais.
Cap.
31:22-55; 32:1-32; 33:1-20.
5- Jacó na terra de seus pais.
Cap.
34:1-31; 35:1-29; 37:1-36.
6- Jacó desce ao Egito.
Cap.
46:1-7, 26-34; 47:1-12, 27-31; 48:1-22; 49:1-33; 50:1-13.
Capítulo
1.
1- Do nascimento até a fuga para
Padã-Arã.
a) Os filhos no ventre (25: 21-23).
b) Os filhos nascem (25: 24-26).
c) Os filhos crescem (25: 27-34).
d) Acontecimentos no lar (27: 1-46).
A)
Os filhos no ventre. (propósito de Deus manifestado,
quanto à eleição, Rom. 9:10-12).
a)
Luta.
b)
Inquietação
c)
3- 02 nações, 02 povos, divisão. Um será mais forte e o
mais velho será servo do mais moço.
B)
Os filhos nascem. (características)
a) O
primeiro, ruivo, peludo, Nome Esaú.
b) O
segundo, agarrado ao calcanhar do irmão, Nome Jacó.
C)
Os filhos crescem. (Vocação deles).
a)
Esaú, perito caçador, Homem do campo.
b)
Jacó, homem pacato, homem caseiro.
D) Acontecimentos no lar. (Partidos).
a) Isaque
amava Esaú, razão: saboreava da sua caça.
b) Rebeca amava Jacó, certamente gostava da sua
companhia.
É muito triste, quando isto
acontece no lar. A vocação dos filhos não deve atrair o amor do pai, pelo
contrário, todos devem ser amados em igualdade de condições. Os pais devem
criar os filhos na disciplina e admoestação do Senhor (Efe 6:4).
E) O cozinhado de Jacó e a atitude
carnal de Esaú.
No cozinhado, temos a concupiscência da carne.
Esmorecido:
Isto nos fala da condição espiritual de Esaú – desanimado.
Deixe-me
comer um pouco deste cozinhado vermelho, concupiscência dos olhos.
Quando não há um objetivo fixo, definido, a fé
vacilará, qualquer coisa poderá ocupar lugar nos nossos corações e substituir o
gozo da obediência, de servir ao Senhor. O apóstolo Paulo disse: “Prossigo para
conquistar aquilo para o que também fui conquistado por Cristo Jesus. Irmãos,
quanto a mim, não julgo havê-lo alcançado; mas uma coisa faço: esquecendo-me
das coisas que para trás ficam e avançando para as que diante de mim estão,
prossigo para o alvo, para o prêmio da soberana vocação de Deus em Cristo
Jesus” (Filip. 3:12-14).
É preciso que observemos os ensinos da palavra de
Deus, para que tenhamos condições de viver e agir segundo a sua vontade,
valorizando tudo quanto o Senhor em graça nos concede. Somente o conhecimento
de Deus, pode nos capacitar a andar por fé e não pelo que vemos (II Cor 5: 7); portanto,
se Esaú conhece ao Senhor e o valor da primogenitura não teria agido assim, e o
resultado deste procedimento não poderia ser mais desastroso (Heb. 12:16, 17).
Não havia um alvo no seu coração que pudesse satisfazê-lo e o encorajar. Ele
disse: Estou a ponto de morrer, de que isto me valerá!
Assim desprezou Esaú um direito, que recebeu por nascimento.
Que eu e você leitor destas notas não desprezemos o que o Senhor em graça nos
concedeu. Existem ainda muitos Esaús por este mundo afora..
Nestes dois homens, temos um contraste tremendo: Esaú
nos fala daquele que anda pelo que vê, ao passo que Jacó nos fala da fé; isto é
muito instrutivo para nós.
A condição de Esaú caracteriza o homem natural, o
homem sem vida. Escute suas palavras: “Estou a ponto de morrer!” (Gen. 25:32).
Não havia nada mais diante da visão deste homem, não havia nenhuma esperança,
portanto, nada tinha valor para ele, em outras palavras, era um homem
totalmente desprovido de fé.
Por outro lado, não era assim a expectativa de Jacó;
ele via o futuro, e aquilo que não significava nada para Esaú, possuía muito
valor para ele; estava disposto a adquirir esta posição, pois sabia do seu
valor futuro e para sua própria vida, isto caracteriza a fé. A fé olha sempre
para frente, descansa onde o homem não pode atingir por seus próprios esforços,
em outras palavras, a fé descansa, espera em Deus, por isso somente a fé pode
glorificá-lo.
A falta da fé, esmoreceu Esaú, mas a possessão da fé
fortaleceu Jacó. Estas duas coisas distinguem todos os habitantes deste
planeta. Todos estão numa destas duas posições.
F) Rebeca e Jacó enganam Isaque.
Nesta parte
das escrituras, podemos ver um fato novo e triste nesta história, ou seja, a
incompreensão do plano de Deus no que diz respeito à eleição. Nem Isaque nem
Rebeca entenderam isto. Os acontecimentos aqui registrados põem em realce a condição
espiritual deles.
Assim vemos Isaque querendo dar a Esaú, aquilo que por
decreto divino pertencia a Jacó, e por outro lado, vemos Rebeca agindo em
desacordo com a vontade de Deus, querendo adquirir para Jacó, aquilo que a
soberana graça do Senhor, já havia designado (25:23); e sempre que agirmos
desta forma, necessitamos saber que sofreremos as consequências de tais atos. O
fato que Rebeca nunca mais viu Jacó pode ser apontado como uma destas consequências.
G) A velhice de Isaque (27:1-46).
Eis um estado muito perigoso na vida de qualquer servo
de Deus. A história que nos antecede,
bem como a história que é escrita em
nossos dias, nos revelam o perigo deste estado; certamente, esta é a
razão dos primeiros versos de Eclesiastes doze: “Lembra-te do teu criador nos
dias da tua mocidade, antes...”.
A primeira coisa que encontramos no velho Isaque é a cegueira,
(não podendo ver, porque os olhos se lhe enfraqueciam), que situação! Nada pode
ser mais triste do que isto! Quantos dos nossos já ficaram cegos? E quantos
outros estão caminhando para esta situação? Quantas notícias estranhas e
vergonhosas ouvimos! Perguntamos: porque razão? Como pode ser isto? A resposta
é simples e incisiva. Estão cegos ou está cego. Quantos escândalos seriam
evitados se não chegássemos a esta situação. Um adultério aqui, um roubo ali,
outra briga acolá, o que faz isto? Cegueira espiritual somente! Nada mais, nada
menos do que isto.
A razão pela qual Isaque intencionou dar a Esaú
aquilo que por decreto divino pertencia a Jacó, não é outra, a não ser cegueira;
e a razão pela qual os homens intentam mudar a instrução divina, também não é
outra: é cegueira espiritual.
A bênção que Isaque quis dar a Esaú contrariava a
orientação de Deus, que disse: “O mais velho será servo do mais moço”, e Isaque
quis inverter esta ordem.
H) Rebeca – escutando e planejando:
Se a cegueira espiritual é um estado perigoso, a
surdez espiritual, também é muito perigosa. Na vida de qualquer pessoa que
deseja servir ao Senhor, o ato de ouvir é muito importante, por essa razão
necessitamos compreender o que ouvimos, como ouvimos, a quem ouvimos e por que
ouvimos.
A Bíblia nos ensina a quem devemos ouvir (Mat. 17:5).
Assim, sendo, necessitamos do ouvido para que Deus nos fale pela sua palavra,
por isso disse o Senhor Jesus: Bem-aventurado... os vosso ouvidos, porque
ouvem. Bem-aventurados aqueles que leem e aqueles que ouvem as palavras da
profecia... (Mat 13:16; Apoc. 1:3).
Jamais deveremos imitar Rebeca, ela agiu conforme
ouviu e melhor lhe pareceu ao coração e não segundo a vontade de Deus, é esta a
razão porque somos várias vezes advertidos pela palavra de Deus, a sermos
prudentes em nossa conduta. Salmo 1:1 –
“bem-aventurado o homem que não anda no conselho dos ímpios, não se detém no
caminho dos pecadores, nem se assenta na roda dos escarnecedores”. I Cor. 15:33
– “Não vos enganeis: as más conversações corrompem os bons costumes”. Mateus
10:16 – “Eis que vos envio como ovelhas ao meio dos lobos; portanto, sede
prudentes como as serpentes e simples como as pombas”.
I) A estratégia de Rebeca:
Rebeca entendeu a vontade de Deus, quanto à
predestinação e, pelo amor que tinha a Jacó, não permitiu que a bênção fosse
dada a Esaú (Rom. 9:11), mas os meios
que ela empregou para alcançar o favor de Deus, estavam em desacordo com
esta mesma vontade, e ações assim, trarão consequências graves.
J) A execução do plano:
Para que o
plano de Rebeca alcançasse êxito, era necessário agir. Foi preciso que Jacó
tomasse a forma de Esaú, fazendo-se semelhante a ele. Isto nos faz lembrar que
Nosso Senhor Jesus Cristo, tornou-se semelhante a nós, tomou a nossa forma e
morreu em nosso lugar, para consolidar o plano de Deus da Redenção do pecador,
plano proposto antes da fundação do mundo, para que alcançasse para nós a bênção da eterna herança (Filip. 2:7-8; Heb. 2:14,15).
H) O lado negro do plano:
É muito triste quando vemos qualquer pessoa
intentando adquirir alguma coisa através da mentira, e mais terrível é ainda, quando
fazemos uso do nome do Senhor de forma desonrosa, mentirosa, para conseguirmos
nossos intentos. Nunca podemos esquecer que o Senhor é santo e que mentira
alguma poderá proceder dele. O Senhor Jesus disse que o diabo é o mentiroso e
pai da mentira (Jo 8:44) e João disse: Mentira alguma jamais procede da verdade
(I Jo 2:21). Por isso associar o Senhor com a sua esperteza (porque o Senhor
Deus a mandou ao meu encontro), não foi de forma alguma uma maneira correta de
agir deste homem escolhido de Deus.
Mas Jacó estava acostumado a mentir, no verso
anterior, quando questionado por seu pai sobre sua identidade, ele havia
mentido sem nenhum receio. Ele disse: Sou Esaú teu primogênito, quando na
verdade era Jacó.
I) A consumação do plano:
No verso 23 Lemos: “E o abençoou”.
Apesar do que temos relatado acima
sobre a mentira e do seu uso para alcançar esta bênção; era evidente que a
vontade de Deus era esta. O Senhor já tinha revelado isto. O erro não está em
adquirir a bênção e sim nos meios empregados para adquiri-la. Quando o Senhor
promete, devemos descansar nele, que cumprirá fielmente o que prometera, ele
não necessita de formas ou meios humanos para realizar seus propósitos.
Se Isaque estivesse numa condição
espiritual boa, certamente teria agido em conformidade com a vontade de Deus, e
assim evitado, que em sua casa houvesse qualquer conspiração, seja no aspecto de Jacó roubar a bênção, ou Esaú
planejar matar Jacó.
J) A bênção recebida:
Nisto temos o cumprimento do
propósito de Deus quanto à eleição. Nós sabemos que Deus tem um plano para o
seu amado e querido povo, e também sabemos que há de cumpri-lo. Em Romanos
8:29, Paulo fala da nossa predestinação e nos versos seguintes menciona uma
farta lista de coisas que poderiam ser contrárias aquilo que Deus nos oferece,
mas ele conclui: “Nada poderá nos separar do amor de Deus que está em Cristo
Jesus nosso Senhor”. Na expressão “Amor de Deus”está incluído o seu supremo
propósito em Cristo Jesus para conosco.
L) A bênção confirmada:
“Eu o abençoei e ele será
abençoado”. Tais foram as palavras que Isaque pronunciou a Esaú, embora
pudéssemos ler que ele se estremeceu de violenta comoção. A emoção humana se
manifesta nas mais diversas situações, quando seus sentidos são atingidos. Temos
nas escrituras muitos exemplos assim. Quem pode descrever o estado emocional de
Noé, quando dentro daquela arca, seus contemporâneos começaram a bater do lado
de fora! Uma coisa sabemos, Noé não podia fazer mais nada por eles, foi o
Senhor quem fechou a porta. Tal era a condição de Isaque, não podia voltar
atrás, foi o Senhor quem dissera: “o mais velho servirá ao mais moço”.
M) A bênção sancionada:
Embora Esaú bradasse com profundo
amargor: “Abençoa-me meu pai” e Isaque respondesse: “Que me será dado fazer-te
agora meu filho”; e ainda, Isaque chamar-lhe:
astuto e Esaú chamar-lhe: Suplantador. Isto não anula a bênção concedida.
O ato de acusar os eleitos de Deus é uma atividade do
inimigo também no Novo Testamento. Em Apocalipse 12; 10-12, lemos do acusador
dos irmãos. Em Romanos 8: 33, Paulo pergunta: Quem intentará acusação contra os
eleitos de Deus? E ainda em I João 2:1,2, ele nos ensina que temos um advogado
junto ao Pai e que é a propiciação pelos nossos pecados.
O que Deus dá não depende da aceitação e compreensão
dos homens, diz o inspirado apóstolo: “Nada poderá nos separar do amor de Deus,
que está em Cristo Jesus, nosso Senhor” (Rom. 8: 38b).
N) As consequências do plano:
• Ódio de Esaú
• Vingança de Esaú
• Temos de Rebeca
• Solução de Rebeca
• Outra estratégia de Rebeca
• Ausência de Jacó
O que tudo isto custou para Jacó?
As consequências do plano de Rebeca, foram muito
graves para Jacó, teve um custo muito alto. Depois que Jacó fraudulentamente
herdou a bênção de seu pai, gozou de pouca felicidade na sua vida.
Enumeraremos algumas dificuldades, pelas quais ele
passou:
1- Fugiu
da casa de seu pai;
2- Foi
enganado por seu tio Labão;
3- Depois
de 20 anos de servidão fugiu ocultamente;
4- Reencontrou
Esaú com grande medo de ser assassinado;
5- Nunca
mais viu sua mãe, a quem tanto amava;
6- Rúben,
seu primogênito, profanou o seu leito;
7- Teve
que deplorar a traição e crueldade de Simeão e Levi;
8- Sentiu
a perda da esposa amada;
9- Foi
enganado por seus filhos, quando venderam José;
10- Lamentou o suposto fim prematuro de José;
11- Desceu ao Egito, e morreu
ali, em terra estranha.
Mas, apesar de todos estes acontecimentos em sua
vida, bem como, as experiências as quais foi submetido, faz-se necessário
também salientar a sua obediência em contraste com a desobediência de Esaú. No
capítulo 28 de Gênesis lemos dela. Isaque disse a Jacó: “Levanta-te e vai!” (verso
2). Isaque despediu a Jacó, que se foi (Verso 5). Esaú viu, que Jacó,
obedecendo a seu pai e a sua mãe, foi (verso 7). Jacó partiu de Berseba e
seguiu para Harã, (verso 10).
Se lemos aqui, da obediência de Jacó, lemos também da
desobediência de Esaú. Vendo Esaú que Isaque abençoara a Jacó, e vendo que ao
abençoá-lo lhe ordenara, (verso 6), e vendo que Jacó obedecera a seu pai e sua
mãe; e sabedor de que Isaque, seu pai, não via com bons olhos as filhas de
Canaã (versos 7 e 8), foi Esaú e contraiu
matrimônio com uma filha de Ismael, o
que não era a vontade de seu pai. Assim temos nestas passagens, em destaque, a
desobediência de Esaú em contraste com a obediência de Jacó, atitudes que
caracterizaram suas ações.
Esaú é um símbolo do pecador que despreza o amor de
Deus, rejeita a salvação que há em Cristo Jesus, mas que um dia, tardiamente,
há de buscá-lo, sem que possa achá-lo. (Jer. 49:8; Ob. 6, 8, 18, 21; Mal.
1:2,3; Rom. 9: 10-13; Jer. 48: 5; Amós 5: 16-18; Mat. 9:12; 13: 42, 50; 22: 13;
24: 51; 25: 30; Luc. 13:28; II Tes. 2: 11,12).
Nestas cenas que se passaram diante de nós, torna-se
necessário realçar o comportamento de Isaque, depois que concedeu a bênção a
Jacó; Diz a palavra de Deus: “mal acabara Isaque de abençoar a Jacó, tendo este
saído da sua presença, chegou Esaú”. Isaque lhe perguntou: “Quem és?” veio a
resposta: “Sou Esaú, teu primogênito”. O que lhe disse Isaque? “Eu o abençoei e
ele será abençoado, eu o constituí em teu senhor, e todos os seus irmãos lhe
dei por servos”. Postura digna de quem fez a vontade de Deus. Não fez uso de
formas e nem maneiras para enganar Esaú, também não foi hipócrita, e nem fez
uso de falsidade; mas com sinceridade de coração, fez uso da verdade para
comunicar ao seu filho Esaú o que havia ocorrido, bem como, a impossibilidade
de retroceder.
Este é um principio bíblico, disse o Senhor Jesus:
“seja a vossa palavra, Sim, sim e não, não, o que passar disto vem do maligno”
(Mat.5: 37: Tia. 5:12).
Esta também deve ser nossa atitude, quando expostos a
situações semelhantes, porque esta é a conduta da Fé.
Esaú demonstrou com suas atitudes ser um “profano”.
PROFANO: (DO
Latim profanu), e significa:
1- Indiferente à
atitude piedosa.
2- Contrário ao
respeito devido a coisas sagradas.
3- Estranho ou
alheio a ideias ou conhecimentos sobre determinados assuntos.
4- Tratar com
irreverência as coisas sagradas.
5- Fazer mau uso
de algo sagrado.
Em suma: “Profano é alguém que gostaria de
possuir o céu e a terra e desfrutar o presente sem perder o direito ao futuro”.
Este é o retrato do mundano que
professa ser cristão, mas cuja consciência nunca experimentou os efeitos das
verdades divinas e cujo coração nunca sentiu a influência da graça de Deus.
Capítulo
2.
2- Jacó de Berseba até Harã – Acontecimentos no caminho: (Gen.
28: 10-22; 29: 1-10).
Esta parte do livro de Gênesis nos
mostra Jacó como peregrino e solitário na terra, a caminho de Padã-Arã.
Jacó aqui é colocado numa posição e
lugar, no qual pode experimentar amargos frutos, como resultados dos seus atos
para com Esaú seu irmão. Enquanto por outro lado vemos Deus elevando-se acima
das circunstâncias na vida de Jacó, para manifestar de maneira maravilhosa e
esplêndida, a sua graça soberana, bem como, sua profunda sabedoria, pela
maneira como trata com Jacó.
a)
“Partiu”
– verso 10.
• Obediência
– disposição para obedecer.
Embora saibamos das razões porque Jacó foi enviado a
Padã-Arã, é preciso destacar sua obediência.
A obediência de Jacó está posta perante nós, em
contraste com a desobediência de Esaú. Temos lido nos versos 6 a 8 das atitudes
tomadas por Esaú (vendo, ...vendo, ...vendo, ...sabedor, ...foi), as quais
contrariaram os desejos de seus pais. É assim que Esaú é posto perante nós, ou
seja, um homem guiado pelo que via e pelo que sabia, um homem carnal, um homem
conduzido pelos seus desejos.
Eis a razão por o Espírito Santo nos ensina que: “Os
que estão na carne não podem agradar a Deus” (Rom. 8: 8). Em contraste com esta
postura, encontramos Jacó agindo em conformidade com os desejos dos seus pais obedecendo-os,
embora, no decurso da sua vida, vemo-lo,
planejando e executando planos que simplesmente atendia as razões carnais.
Estando no caminho da obediência vemo-lo imitando seu
avô Abraão, que quando chamado por Deus, “Obedeceu” (Heb. 11: 8).
É este o principio (a base) e o fim (objetivo) da fé.
Deus espera que cada um de seus filhos, seja obediente a Ele, e a razão da
formação da sua família celestial e a nossa adoção nesta família como filhos,
tem como fundamento e objetivo a obediência. Em Hebreus 5:8 lemos que nosso
Senhor Jesus Cristo aprendeu obediência, sendo Filho, pelas coisas que padeceu.
Em I Samuel 15:22 lemos que o Senhor tem prazer em que seja obedecida a sua
palavra, sendo o obedecer melhor que o sacrificar.
b) Tendo chegado a certo lugar –
verso 11:
•O
lugar que Jacó chegou.
•Betel
(a Casa de Deus)
•Quando
Jacó Chegou ali?
Caminhando segundo a direção indicada por seus pais,
Jacó chegou a certo lugar. É preciso destacar que Jacó chegou ali à noite e
certamente estava cansado e exausto, em outras palavras, estava no limite de
suas forças. Estava nas condições em que Deus podia encontrá-lo e revelar o seu
propósito em graça, para ele.
As condições nas quais o Senhor o encontrou coloca
perante nós a sua situação presente, bem como, as suas urgentes necessidades:
1- À noite (O sol era posto);
2- Uma pedra por travesseiro (Sua cabeça repousa
sobre uma base dura (firme));
3- Deitou-se para dormir. (Revela o estado físico e
espiritual de Jacó).
Foi nestas condições que o Senhor em graça manifestou-lhe
seus desígnios para ele e para sua descendência.
Agora encontramos Jacó sonhando, e tendo uma visão espetacular;
uma escada até aos céus e os anjos de Deus subindo e descendo sobre ela (Jo.
1:51); Esta escada fala-nos das provisões que o Senhor tem feito para o
pecador; apresenta-nos um caminho aberto, pelo qual o pecador (sob a graça)
pode entrar na presença de Deus e ser socorrido nas ocasiões oportunas (hebreus
4: 14-16); fala-nos também do Senhor Jesus deixando o lar da glória e vinda ao
encontro da necessidade do pecador, prefigurado em Jacó. O Senhor está perto, como é preciosa a sua
presença! Traz conforto e consolação e reanima o cansado. Jacó diz: Aqui é a
casa de Deus! A porta dos céus.
Deus é o Deus de Betel. É preciso guardar isto,
esquecê-lo trará grande prejuízo a nossa vida como servo; Guardar isto fará que jamais nos desviemos do caminho que o Senhor nos
colocou e no qual prometeu estar conosco até a consumação dos Séculos (Mat.
28:20). O Senhor em graça veio ao nosso encontro e o seu desejo e ter-nos em
sua casa, prefigurada em Betel. A felicidade, a alegria, o prazer e o gozo
começam ali e não finda, são eternos, são a porção do seu querido e amado povo.
Que bendita porção está ali!.
C) - Perto dele estava o Senhor – v.
13
Nesta cena encontramos Jacó solitário, desamparado e
dormindo sobre uma pedra, triste situação em que o encontramos; a casa de seus
pais havia ficado para traz, agora estava errante pela terra a caminho da casa
de Labão seu tio, mas não estava como
aparentemente parecia, só; o Senhor estava perto dele, e foi nestas condições
que o Senhor o encontrou. Não podemos deixar de reconhecer a bem-aventurança de
uma tal situação, em que nada temos no que apoiar, assim era Jacó dormindo
sobre uma pedra.
Somente o Senhor o viu ali e somente o Senhor veio ao
encontro de suas necessidades; assim também, será conosco no vale desta vida, e
somente em circunstâncias semelhantes, o Senhor poderá nos valer.
O que o Senhor veio fazer ali?
• Revelar-se.
Disse o
Senhor: “Eu sou o Senhor, Deus de Abraão, teu pai, e Deus de Isaque”.
• Prometer-lhe.
1- A
terra para ele e sua descendência;
2- Uma grande família tal qual o pó da terra,
estendendo-se em todas as quatro direções;
3- Que
nele e na sua descendência seriam benditas todas as famílias da terra.
• Cuidar
dele.
·
Estou contigo;
·
Te guardarei;
·
Te farei voltar;
·
Te não desampararei;
·
Cumprirei o que te hei referido.
D)
Despertado do Sono – v. 16.
Ao acordar, o primeiro sinal de Jacó foi reconhecer
que o Senhor estava naquele lugar e que ele não tinha conhecimento disto. Que
triste revelação de si mesmo! Não é de admirar que ficasse com medo, pois se
ele conhecesse o Senhor, certamente saberia que Ele estaria ali e que cuidaria
dele nesta jornada. Não é assim que sucede conosco também? Quantas vezes
andamos por este mundo e agimos de maneira tal, como se o Senhor não existisse,
e que não estivesse vendo o que
estávamos fazendo, nisto somos também semelhantes a Jacó.
Jacó temeroso diz: Este lugar é a casa de Deus, a
porta dos céus!
Neste lugar, encontramos Jacó solitário, desamparado
e dormindo sobre uma pedra; a casa de seus pais havia ficado para traz e a
terra de Labão era seu objetivo.
Quão consolador é vermos nas páginas inspiradas, seja
onde quer que nos detenhamos nelas, a presença do Senhor junto do seu amado e
querido povo.
Que preciosa companhia! Perguntamos: O que o Senhor
está fazendo ali?
• Revelando:
“Eu sou o Deus de Abraão, Deus de Isaque”.
• Prometendo:
1- A
terra para ele e a sua descendência;
2- Uma
grande família, tal qual o pó da terra, estendendo-se para o Norte e para o
Sul, Oriente e Ocidente;
3- Que
nele e na sua descendência seriam benditas todas as famílias da terra.
1_ Estou contigo;
2_ Te guardarei;
3_ Te farei voltar;
4_ Te não desampararei;
5_ Cumprirei o que te hei
referido.
Tudo o que nós necessitamos é de uma visão
espiritual. Se não tivermos uma noção clara daquilo que Deus quer de nós,
andaremos como que perdidos no vale desta vida. Em Ef. 5.14, Paulo nos exorta a
que despertemos do sono, para que Cristo possa nos iluminar.
Na descrição de Mateus 26.40-45, quando o Senhor
estava agonizando no Jardim do Getsêmani, os discípulos estavam dormindo e Ele
os advertiu com a recomendação de que vigiassem e orassem. Se olharmos para
nós mesmos, acredito que a nossa situação hoje não é muito diferente daquela,
visto que temos perdido a visão das coisas espirituais. Temos dado muito de nós
para esta vida e muitíssimo pouco para a obra do Senhor. Como Jacó,
necessitamos despertar do sono. E como seria bom se acordássemos como Jacó
acordou e víssemos o que ele viu! Diante da sua visão, ele disse:
•
“O Senhor está aqui!” — demonstração do conhecimento de Deus;
•
Temeu
e disse: “Quão temível é este lugar!”
— conhecimento de si mesmo; sentiu-se indigno de estar ali;
•
“É a
casa de Deus, a porta dos céus!” — conhecimento do lugar da habitação de
Deus e da Sua presença (Sl. 89.7). Como é diferente o lugar onde o Senhor está,
que lugar maravilhoso! No Salmo 84.1-10, o salmista diz: “Quão amáveis
são os teus tabernáculos, Senhor dos Exércitos, um dia aí vale mais do que mil
nas tendas da perversidade”.
E)
Jacó
levantou — v. 17
• Prontidão para
adorar.
Somente o
conhecimento de Deus produz adoração sincera e verdadeira (Jo. 4.22). Foi este
conhecimento que fez com que Abraão levantasse de madrugada e conduzisse Isaque
até ao Monte Moriá para que ali o oferecesse em
holocausto, na plena certeza de que Deus iria prover um substituto para seu filho
(Heb. 11.19). Foi este mesmo conhecimento que levou Moisés a considerar o
opróbrio de Cristo por maiores riquezas que os tesouros do Egito (Heb. 11.26).
Foi também este
conhecimento que levou Paulo a dizer: “o que para mim era lucro, reputei perda, por causa da sublimidade do
conhecimento de Cristo Jesus meu Senhor” (Fp. 3.7- 8); e por fim queremos
lembrarmos daqueles que o escritor da epístola aos Hebreus fala no capítulo
11.38 como sendo pessoas das quais o mundo era indigno, pelo fato de que ao
conhecerem a Deus, obtiveram uma fé e um conhecimento pelo qual agradaram a
Deus.
Por esta razão, a exortação que temos em Oséias 6.3a, 6b é sempre
atual e imperativa, como também a de Paulo em Romanos 1.28. São advertências
que não devemos negligenciar!
F) Jacó mudou o nome daquele
lugar — v. 19
a) Aptidão para discernir.
Após todos estes acontecimentos, podemos imaginar Jacó dizendo
consigo mesmo: “Aqui não é Luz (Amendoeira), aqui é Betel — a casa de Deus”.
Nesse ponto aprendemos um princípio importante, de que não importa o nome que
as pessoas dão aos lugares, mas verdadeiramente se há em nós o discernimento
para as coisas de Deus quanto à Sua vontade.
Podemos perguntar: “O que a Palavra de Deus nos ensina acerca do
significado Casa de Deus?”. Devemos estar satisfeitos com isso. Nada pode
subsistir ou perdurar onde as instruções da Palavra de Deus são tão claras,
suficientes para satisfazer àqueles que têm prazer na Sua vontade.
G) O voto de Jacó — v. 20-22
a)
Falta de discernimento.
É Impressionante como o homem cai tão depressa do lugar onde Deus
o colocou para o lugar da sua razão, ignorando os caminhos de Deus em graça
para com ele. No parágrafo anterior consideramos o discernimento de Jacó
quanto à vontade de Deus, mas aqui temos que considerar o oposto quanto a este
mesmo fato.
Consideremos os cuidados de Deus para com ele, cuidados que o
Senhor já lhe havia revelado no verso 15 do capítulo que temos estudado. Aqui
não é o Senhor que faz aliança com Jacó, mas é ele que faz aliança com o
Senhor. Nesta aliança é Jacó que impõe condições. Ele diz:
1_ Se Deus for comigo;
2_ Se me der pão e roupa;
3_ Se me fizer voltar em paz à
casa de meus pais;
4_ Será meu Deus;
5_ Aquela pedra será a Sua casa;
6_ E do que me der darei o dízimo —
primeiro eu, depois o Senhor.
Aqui vemos a criatura impondo condições ao Criador. Sempre tem
sido assim na história da humanidade; o barro quer ensinar como ele deve ser
moldado. Mas felizmente o Oleiro não escuta a voz do barro e trabalha como
planejou; sua graça age, opera em conformidade com seu plano e suprema vontade.
Esta mesma graça que ignorou os planos de Jacó no passado, tem também ignorado
os nossos no presente e agido conosco também em conformidade com o padrão que
tem estabelecido, visto que ele é soberano sobre toda a sua criação. Por isso,
damos graças Àquele que assim tem nos trazido à sua presença por causa do seu
infinito amor.
H) Jacó e o caminho de Betel
a Harã —
Gênesis 29.1-10
Quero aqui chamar a nossa atenção para o que caracterizou a vida
de Jacó depois de Betel. Devemos lembrar que em Betel Deus fez promessas, mas
infelizmente Jacó não partiu dali confiado nas promessas de Deus, e sim nas
condições que ele mesmo impôs. Isso foi grave para sua vida.
O Espírito Santo revela no Novo Testamento que o homem natural não
aceita as coisas do Espírito de Deus; e que os que se inclinam para a carne
cogitam as coisas da carne; e, ainda, que o homem semeará conforme a sua ceifa
(I Cor. 2.14 / Rm. 8.5-8 / Gl. 6.7).
Jacó, por si mesmo, introduziu-se numa atmosfera adequada a esta
condição e esteve numa escola própria à sua condição carnal. Não devemos aqui
entrar em minúcias, visto que isso será mais bem abordado na continuação deste
estudo. Consideremos tão somente que isso quer nos advertir no tempo presente
para que não tratemos as coisas de Deus de modo carnal e desprezível. Ele nos
tem revelado a sua vontade, seu amor, seu plano eterno para conosco em Cristo, e a nossa responsabilidade nesta relação é
demonstrar que tipo de apreciação temos destas revelações, e qual será a nossa conduta
em virtude delas.
Em concluir esta parte do estudo, frisaremos apenas que Jacó,
estando em Harã à procura de Labão, encontra-se com Raquel, à qual toma-se o
objeto do seu amor e pela qual serve a Labão pelo período de quatorze anos.
Este acontecimento chama a nossa atenção para o que estamos olhando. Lemos na Palavra que alguns homens “olharam”. Assim,
perguntamos: “O que olharam? Para que olharam? Por que olharam?”. Não podemos
esquecer que a condição espiritual de cada um deles implicou decisivamente nos
motivos pelo qual olharam.
Lembremo-nos de alguns deles: A primeira pessoa que encontramos
assim é Eva (Gen. 3.6); daí por diante podemos citar alguns dos muitos exemplos
que a Palavra nos oferece, tais como:
·
Ló (Gen. 13.10)
·
Abraão (Gen. 13.14)
·
Moisés (Ex. 2.11)
·
Os Espias (Nm. 13.1,17,21)
·
Davi (II Sm. 11.2)
·
O Rico (Lc. 16.23).
Ao mencionar estas pessoas, devemos lembrar que as respostas às
interrogações acima, nos proporcionarão condições para que também nós possamos
claramente saber “o que” e “para que” estamos olhando, sem deixar de considerar
a exortação de Hebreus 12.2: “Olhando firmemente
para o autor e consumador da fé”.
É muito comum nas nossas vidas sermos impressionados pelas coisas
que se aproximam de nós, por isso é necessário um exame próprio (I Cor.
11.28,31) e julgarmo-nos quanto ao nosso
proceder, para que possamos discernirmos onde estamos e saber o que tem
preenchido os nossos corações, o que tem ocupado as nossas vidas; não estou
pensando no que falamos, mas naquilo que praticamos. Que o Senhor conceda a
capacidade que precisamos para a cada dia tomar a nossa cruz e segui-lo.
Capítulo 3
3- Jacó em Harã e a sua
permanência ali — Gênesis 29.14-35; 30.1-43; 31.1-21
A palavra Harã aparece
apenas 12 vezes nas Escrituras. São 10 no V.T, e 02 no N.T.
a)
No V.T — 07 em
Gênesis; 01 em II Reis; 01 em Isaías; e 01 em Ezequiel.
b)
No N.T — 02 em Atos
07.
Trás o significado de
“Caminho; Comércio”. Como nome de pessoas, ocorre 08 vezes no V.T, sendo 05 em
Gênesis 11; e três em I Crônicas 02 e 23.
Ao pensarmos nesta cidade
(Harã) recordamos que em anos anteriores seu avô Abraão também esteve neste
lugar, e fixou morada num lugar para o qual não foi enviado.
Não sabemos quantos anos habitou em Harã, mas sabemos que deixou esta cidade
quanto tinha a idade de 75 anos (Gen. 12:4
·
O
que o levou até ali?
Lemos em Gênesis 11.31
que Terá, Abrão, Sarai e Ló saíram de Ur dos Caldeus rumo à terra de Canaã, mas
chegando a Harã ali permaneceram.
Não temos dados bíblicos acerca das razões que os levaram a permaneceram nesta
cidade, razões que os levaram a perder de vista a chamada de Deus. Tão pouco
podemos especular de maneira fantasiosa acerca do que haveria de tão atrativo nesta localidade para que os
detivesse em sua jornada. O que sabemos é que ali
esteve “O Peregrino de Deus” por longo período.
Tendo o nome desta cidade o significado de
“Comércio” é possível que a atividade comercial,
associada à oportunidade de enriquecer, tenha sido a causa de sua permanência ali. Segundo a história secular, Harã era um grande
centro comercial e, certamente, o grande patriarca, sob a influência de seu
pai, que é uma figura da natureza humana, quisesse aproveitar esta oportunidade
para adquirir bens materiais, pois, lemos dos bens que adquiriu em Harã (Gen.
12:5). Diante disto, não podemos esquecer aqui das palavras do nosso Divino
Mestre em Mateus 6.24: “Não podeis servir a Deus e às riquezas”; como também das
palavras de Paulo a Timóteo: “O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males; e
alguns nesta cobiça desviaram-se da fé” (I Tim. 6:10). Estas coisas são
escritas para nossa advertência.
·
O
que Abrão fez ali?
Não sabemos das suas atividades neste lugar e se o Espírito Santo não as
registrou, é porque não há proveito nelas. Remetemos nossas mentes a Rom. 15:4:
“Tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino
foi escrito”. Se não há instrução para os seus, não foi registrado no
Tomo Sagrado.
Pode, segundo o pensamento humano ter sido um período muito próspero na
vida de Abraão; ele pode ter ganho muito dinheiro; ou mesmo adquirido um
célebre nome entre seus contemporâneos — tudo isso é possível — mas segundo a
avaliação da sabedoria de Deus, é destituído de qualquer valor moral e
instrutivo. Certamente, não há nada que pudesse nos beneficiar neste período de
sua vida.
Temos aqui um aviso solene para aplicarmos à nossa
vida espiritual: “Deus sabe dos objetivos do
nosso labor (trabalho, esforço) — Ele sabe qual a razão de ser da nossa
ocupação — como também sabe o que nos motiva a estarmos em determinado lugar
fazendo alguma coisa”.
Devemos trazer sempre em mente a afirmativa do
parágrafo anterior. Sabemos que diante da onisciência
de Deus, todo o propósito do nosso coração está plenamente revelado. O
nosso labor, ocupação, ou qualquer ação que
seja, deve ser um modelo de conduta cristã para a glória de Deus.
·
Como
Abraão saiu dali?
Em Atos 7.4
podemos ler que com a morte de seu pai Deus o tirou dali. Esta é a sentença
Divina para a natureza humana. Não importa o nome da nossa razão; nem tão pouco
o que você pensa — o que importa é o veredicto de Deus. Em Colossenses. 3.5
Paulo disse: “Fazei, pois, morrer a vossa natureza terrena”. Terá, seu pai, é
uma figura da natureza humana e, embora tendo
deixado Ur com o propósito de
ir à terra de Canaã, só conseguiu chegar até Harã e ali ficou até a morte.
Enquanto o nosso “eu”
(natureza humana) não for submetido à morte, não teremos condições espirituais
para compreendermos plenamente a vontade de Deus e muito menos condições de
andar nesta mesma vontade. Só a morte pode nos libertar da nossa natureza
humana. Ela deve morrer. Estarmos unidos a ela nos impede de servirmos e
obedecermos a Deus, como está registrado em Lucas 14.26 e 27.33. Se não sabemos
com exatidão o tempo que Abraão permaneceu em Harã, sabemos que somente após a
morte de seu pai, foi que Deus o tirou dali.
Temos fugido por um pouco
de tempo da história de Jacó para colhermos algumas espigas nas experiências e
exemplos de seu avô Abraão, mas achamos muito proveitoso retroceder à vida
deste patriarca, e alimentarmos dos ricos ensinos que a sua preciosa vida nos
trás. O Senhor nunca chamou alguém para Harã. Agora voltaremos nossas atenções
para a vida de Jacó.
Ao entrarmos nas
considerações sobre o período que Jacó habitou em Harã, não podemos esquecer-nos
das experiências passadas, enquanto caminhava rumo a esta cidade, e, em
especial a que se passou em Betel. Em Gênesis 28.13 Deus se manifestou a ele
como o Deus de Abraão e o Deus de Isaque, mas em Gênesis 31.13 Ele disse: “Eu
sou o Deus de Betel”. Prestemos bastante atenção nisto. Se quisermos viver na
presença do nosso Deus e conhecê-lo devemos ir a Betel, pois é ali o seu lugar;
agora se quisermos saber quem é o homem devemos ir a Harã. Foi em Betel,
mediante a revelação de Deus, que Jacó o conheceu; e foi também em Harã, na própria
escola de Labão, que Jacó conheceu Labão e aprendeu as lições que o tomaram em
um fiel seguidor dos planos, meios e propósitos de Labão.
E necessário afirmar que
mesmo em sua casa, Rebeca, irmã de Labão, já havia dado início a esta
preparação, a qual culminou no ingresso de Jacó nas práticas corriqueiras de
seu tio. Harã para ele era uma escola. Nunca esqueçamos que mesmo nestas
condições Deus não o desamparou, o Senhor estava com ele, e a Sua presença não
estava condicionada a qualquer outra apreciação que Jacó pudesse ter Dele, ou
mesmo à revelação que Ele houvera feito em Betel a alguém que Ele já conhecia.
Na verdade, o que estava em questão, era as Suas promessas. Em Gênesis 28.15
Ele disse: “Estou contigo”. Nada poderia interpor e obstruir o cumprimento
destas mesmas promessas.
Em tudo isso vemos brilhar
de maneira deslumbrante a graça de Deus, embora Jacó a conhecesse apenas
superficialmente e mostrasse completa ignorância quanto aos métodos do Senhor
aplicá-la em favor dele mesmo. Observando cada passo deste homem, obtemos uma
maravilhosa concepção do que seja a graça de Deus. Ninguém, senão o Eterno
poderia suportar alguém como Jacó — somente Deus poderia tratar com uma pessoa desta
natureza.
São fatos como estes que tornam
a história deste homem tão interessante e proveitosa. Ninguém pode (ou deve)
deparar-se com os assuntos relativos a esta pessoa, sem ter o seu coração
despertado para a graça maravilhosa que pôde cuidar tão zelosamente dele. E não
somente isso, mas em descobrir tudo o que nele havia, dizer: “Não vi iniquidade
em Jacó, nem contemplei desventura em Israel”
(Nm. 23.21). Ao contemplarmos esta afirmação somos impelidos a dizer como
Paulo:
“Ó profundidade da
riqueza, tanto da sabedoria, como do conhecimento de Deus! Quão insondáveis
são os seus juízos, e quão inescrutáveis
são os seus caminhos” (Rm. 11.33)!
Olhemos para Jacó. Ele
agora se encontra onde seu avô esteve. Faremos aqui as mesmas perguntas que
temos feito nos parágrafos anteriores. Que o Senhor, pela sua graça, nos
capacite a encontrar as respostas a estas perguntas, e que assim possamos ser
habilitados a aprender as preciosas lições que a vida deste patriarca nos
fornece.
·
O que o levou até
ali?
·
O que fez ele ali?
·
Como saiu dali?
a)
O que o levou até ali?
A razão pela qual Jacó foi
enviado a Harã foram às ameaças de morte impostas por Esaú (Gen. 27.41-45). Em
outras palavras, podemos afirmar que foi o medo da morte que o conduziu até
Harã. Quando contemplamos a narrativa do Espírito Santo acerca deste assunto,
chegamos à conclusão que Harã não era um lugar apropriado para tal refugio,
visto que, o escape encontrado por sua mãe, espiritualmente falando, era um
lugar de morte! A estada de Jacó neste lugar é configurada por escravidão,
servidão (29:19 e 26,27), engano(29:25; 31:7), intrigas (31:2), e
acusações(31:1). Na essência, a cidade de Harã representa aquilo que escraviza
o homem. Em Josué 24.2 lemos que nas
terras além do Eufrates se prestava culto a outros deuses. Certamente em Harã era
um lugar de idolatria.
O Deus verdadeiro jamais
poderia ser invocado ali e, consequentemente, a vida verdadeira não poderia
ser encontrada em Harã, mas tão somente em Betel. A experiência de Betel não
poderia ser apreciada por Jacó nesta cidade, nem tão pouco o que pudesse ser
encontrado nesta cidade tinha qualquer valor em Betel. Tal era o refugio ao
qual Jacó foi enviado.
E lamentável ver que em
nossos dias este procedimento tem sido imitado pelos pais que enviam seus
filhos a “Harã” — os resultados não poderiam ser piores. Consideremos que Rebeca, sua mãe, nunca mais viu o seu filho! Os que assim procedem estão na
iminência de eternamente separarem-se de seus “amados filhos”. Este é um aviso
que se aplica a todos nós, e não deve ser negligenciado.
Como temos visto, Jacó foi
enviado a Harã para fugir da morte, mas o que seria uma solução para o seu
problema, passou a ser uma séria ameaça a sua vida. O que há de valor nisto é o
fato de que Betel estava entre ele e o seu destino. Ali ele teve um contato com
Deus. Não deveria ser assim hoje também?
Na estrada enganosa desta
vida, mesmo estando refugiado nos sistemas organizados da religião destes dias,
o Senhor, pela Sua imensa graça, tem procurado manifestar a Sua vontade aos
pecadores, entretanto a sua simplicidade tem sido recusada e substituída por
programas, métodos e tradições humanas que satisfazem suas aspirações carnais,
e desta forma desprezam as preciosas instruções da sua Santa Palavra, procurando refúgio
onde não há refúgio (Mt. 15.6b).
Como foi outrora, também é
assim agora no mundo destes dias. Paulo disse a Timóteo: “Os homens perversos e
impostores irão de mal a pior, enganando e sendo enganados” (II Tm. 3.13). Esta foi a experiência de Jacó nas terras de Labão.
Elifaz disse a Jó: “O coração do perverso só prepara enganos” (Jó 15.35b).
B) O que ele fez ali?
Em Harã as únicas coisas
que sobrevieram a Jacó foram “paixão” e “escravidão”. Lemos as suas próprias palavras: “Dez vezes me mudaste o salário; vinte anos te servi: quatorze anos por tuas
filhas, e seis anos por teu rebanho” (Gen. 31.41). É este o procedimento de
Harã: escravidão sobre escravidão. O que toma o homem escravo? É a sua paixão
ou desejo. Em Tito 3.3 Paulo faz alusão a isso e diz: “Éramos escravos de toda
sorte de paixões e prazeres, até que se manifestou a benignidade de Deus nosso Salvador e o seu amor para com os homens”.
Amados irmãos, isso é um
grande aviso para nós; como devemos estar precavidos quanto às coisas de Harã?
Ali existe tudo isso: religião, paixão e escravidão. Em Harã não podemos
encontrar Deus, visto que Deus é o Deus de Betel. Nada pode ser mais triste do
que a escravidão do pecado possuindo uma consciência morta; pensando que
estamos progredindo, quando na verdade estamos regredindo (Gl. 4.8-9).
Podemos ser bem sucedidos
naquilo que fazemos; podemos adquirir bens materiais e satisfazer todos os
desejos do nosso enganoso coração; podemos adquirir nome ou mesmo obter em
abundância tudo quanto um mortal possa almejar — mas o resultado disso será o
culto de si mesmo (Cl. 2.23). Este é o quadro da escravidão que gera para a
morte (Gl. 4.24c / Hb. 2.15).
Quero mais uma vez
mencionar que sempre que estivermos pisando o terreno de Harã, estaremos num
lugar onde o Senhor pode estar tão somente pela Sua bondade e misericórdia para
nos guardar; entretanto, será um lugar onde nós mesmos não o encontraremos, nem
divisaremos Seus atos — é um terreno onde não podemos manter comunhão com Ele.
Note bem isso: “Deus pode
nos assistir em Harã, mas nós não podemos servi-lo ali, porque Ele é o Deus de
Betel”. Convém distinguirmos isso.
Foi a caminho de Harã que Jacó passou em Betel. É também a
caminho da satisfação dos seus anseios religiosos e carnais que os homens têm
passado por ali, tomado conhecimento do amor e bondade de Deus e chegado à
confusão religiosa dos nossos dias — à formalidade visível que hoje impera. O objetivo destas
linhas é nos precaver de fazermos de Betel um atalho para Harã e mergulharmos
na confusão reinante da religião deste mundo. Que o Senhor Jesus Cristo seja
para sempre a satisfação do meu e do teu coração, e que eu e você saibamos
santificá-lo como Senhor dos nossos corações (I Pe. 3.15), e saibamos dizer
não, com firmeza, a toda forma aparente ou mesmo invisível de religião mundana.
O nosso desejo em redigir
estes parágrafos é promover em nós a simplicidade no ato de servir, a santidade
no proceder e uma maior consagração no nosso viver diante de Deus, como também
capacitar-nos a sermos mais achegados à Sua
Pessoa, prontos a amar, mais dedicados no estudo da Sua Palavra, sendo
dependentes da Sua graça para que ele seja engrandecido em nosso viver enquanto
aqui nesse mundo. Amém!
Devemos lembrar que os
vinte anos nos quais Jacó serviu a Labão serviram para o tomar mais astuto do
era. Se em casa de seus pais ele já procedia assim, na escola de Labão tomou-se
muito mais hábil ainda. Consideremos que de todo esse período junto ao seu tio,
14 anos de serviço foi o salário pelas suas duas mulheres, e somente 6 anos
serviram para que ele entesourasse bens
materiais. Este curto espaço de tempo foi suficiente para planejar meios pelos
quais poderia apropriar-se dos bens de Labão. Ele planejou meios quando agiu de
maneiras anormais para que os rebanhos pudessem produzir conforme seus
objetivos e contrato feito com Labão.
O resultado disso é que
houve percepção, e os filhos de Labão começaram a falar mal dele, dizendo que
apropriara-se dos bens de seu pai de maneira leviana, e agora estava rico. O
rosto de Labão já não lhe era favorável (Gen. 37-43; 31.1-2). Esta situação
causou desgosto a Jacó. Deus usou-a para tirá-lo dali. 20 anos são passados, e
somente agora, nesta situação, é que ele lembra-se do Deus de Betel (Gen.
31.13).
Devemos ainda frisar que em
Gênesis 27.20, Jacó atribuíra a Deus algo que não procedia dele (Gen. 31.9).
Agora não deixa de ser diferente. Ele diz que Deus tomou o gado de Labão e o
deu a ele, quando na verdade foi com astúcia que preparou varas riscadas e as
pôs diante dos rebanhos — separou-os para darem crias conforme o seu salário.
É muito grave atribuir o
ganho de algo a Deus tendo agido com a própria esperteza. Infringir a Lei
violando seus princípios constitui-se em pecado. Qualquer prosperidade
adquirida com estas práticas é facilmente atribuída Àquele que não tem nada a
ver com isso. É verdade que, em certo sentido, o Senhor esteve com ele, tal como
prometera, mas atribuir a Ele aquilo que é produto da esperteza humana é uma
atitude gravíssima, reprovável. São fatos como este que fazem com que a
história deste homem ser deveras instrutiva para nós.
Nunca outra história
manifestou de forma tão relevante a graça de Deus, e nenhuma outra trouxe ao
nosso conhecimento tanto material útil ao nosso crescimento espiritual. Em
todos os séculos, Deus instruiu os seus servos acerca da extensão de Sua graça
usando como lição principal os fatos concernentes a Jacó. Podemos ler Paulo falando aos Coríntios acerca do seu trabalho: “Não
eu, mas a graça de Deus comigo” (I Cor. 15.10). Temos Pedro dizendo: “O Deus de
toda a graça” (I Pe. 5.10), e muitas outras passagens semelhantes a estas.
Entretanto, todo o curso deste notável atributo divino — Sua graça — foi
demonstrado de forma maravilhosa na vida de Jacó — Isso é algo incontestável
(II Cor. 13.13).
(Continua...)
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