Conhecemos
a doutrina pré-milenarista ou esperamos o Filho?
C.H. Mackintosh
Apocalipse 1: 5-7
Nos tempos atuais, quando o conhecimento acerca de muitas
questões é amplamente difundido, é necessário apelar à consciência do leitor cristão
para que discirna a grande diferença que há entre a possessão da doutrina da
segunda vinda do Senhor e uma espera real de sua manifestação (1.ª Tes. 1:10). Há
muitos que pregam, eloquentemente, a doutrina do segundo advento dAquele a quem
realmente não conhecem! Advento que eles pregam e professam crer. Esta má conduta
deveria ser julgada e deixada de lado. Vivemos na era do conhecimento, do conhecimento
religioso. Mas, o conhecimento religioso não é vida, o conhecimento religioso não
é poder, o conhecimento religioso não traz libertação nem de Satanás, nem do
mundo, nem da morte, nem do inferno! Este conhecimento, ao qual tenho-me
referido, carece do conhecimento de Deus em Cristo. Uma pessoa pode saber muito
das Escrituras, da profecia, da doutrina e, no entanto, estar mergulhada em
delitos e pecados.
Por outro lado, há um conhecimento que verdadeiramente
proporciona vida eterna e este é o conhecimento de Deus, revelado na face do Senhor
Jesus Cristo “E a vida eterna é esta: que te conheçam a ti, o único Deus verdadeiro
e a Jesus Cristo a quem enviaste” (João
17:3). Além disto, é impossível viver esperando o dia e a hora “da vinda do Filho
do Homem”, se não conhecemos ao Filho do Homem por experiência. Eu posso
tomar dados proféticos e, por meio de um simples estudo e o exercício de minhas
capacidades intelectuais, descobrir a doutrina da segunda vinda do Senhor. Mas
tudo isto não garante que eu conheça a Cristo e que Ele habite em meu coração.
Com frequência sucede isto! Quantas pessoas nos surpreende com seu vasto conhecimento
profético, conhecimento adquirido, talvez, durante anos de laboriosa investigação,
mas que afinal, nos traz dúvidas, pelo fato de eles mesmos manifestarem uma luz
não santa, diferente da luz que é adquirida por meio da oração e da espera em Deus!
Seguramente, ao pensar nestas coisas nossos corações são profundamente
estimulados, nossos pensamentos ficam mais sensíveis, e nos ocupamos em
inquirir se verdadeiramente conhecemos ou não à bendita Pessoa que anunciamos que
“cedo virá”. Além disto, se não conhecemos o Senhor, podemos considerar-nos
como um daqueles a quem o profeta dirige com as seguintes palavras introdutórias:
“Ai daqueles que desejam o dia de Jeová! Para que quereis vós este dia de Jeová?
Será dia de trevas e não de luz; como o que foge de diante do leão, e se encontra
com o urso ou como se, entrando em casa e apoiasse sua mão na parede, e fosse mordido
por uma cobra. Não será o dia de Jeová trevas, e não luz? escuridão, sem nenhum
resplendor?” (Amos 5:18-20).
O segundo capítulo de Mateus fornece uma ilustração
muito atrativa da diferença entre um mero conhecimento profético de Cristo, — o
exercício do intelecto para compreender a letra das Escrituras — e os desígnios
do Pai na Pessoa de Cristo. Os sábios que são guiados pelo dedo de Deus, buscam
a Cristo sinceramente e com fervor e o encontram. Quanto ao conhecimento
escritural, eles não podiam nem por um momento competir com os chefes dos
sacerdotes e os escribas. O que estimulou o conhecimento escritural nestes
últimos? Ele possibilitou-lhes serem instrumentos eficientes nas mãos de Herodes,
que os chamou com o propósito de usar o conhecimento bíblico deles, em sua ferrenha
oposição ao Ungido de Deus. Estes sacerdotes e escribas eram capazes de citar
capítulos e versículos de todo o velho testamento, como nenhum outro, no entanto,
usaram este conhecimento para ajudar Herodes, enquanto, por outro lado, os verdadeiros
sábios estavam, por desígnio do Pai, caminhando com o Senhor Jesus. Bendito
contraste! Que imensa felicidade é estar aos pés do Senhor Jesus como adorador,
ainda que tenhamos pouco conhecimento, é melhor do que ser um douto escriba com
um coração frio, morto e distante do bendito Senhor! É melhor ter o coração cheio
de vivos afetos por Cristo, do que ter o intelecto repleto do mais exato conhecimento
bíblico!
Qual é a triste característica do tempo presente? Uma
ampla difusão de conhecimento escritural com muito pouco amor por Cristo, e quase
nenhuma devoção por Sua obra. Exibe-se uma eficiente preparação para citar as
Escrituras, como a que tinham os escribas e os chefes dos sacerdotes, mas sem
propósito de coração. De modo contrário, os sábios abrem os tesouros e os apresentam
diante de Cristo como ofertas voluntarias de corações plenos do conhecimento de
sua Pessoa. O que devemos anelar é ter uma devoção pessoal e não apresentar uma
mera exposição vazia de conhecimento. Não é que devemos desistir do conhecimento
escritural. Que Deus não nos permita fazê-lo, pois, trata-se do conhecimento
que requer um genuíno discipulado! Mas se não for assim, pergunto-me que valor
tem. Nenhum, em absoluto. Se Cristo não for seu objetivo central, o mais
extenso grau de conhecimentos será algo completamente vão; E não só isto, é
muito provável, que será um instrumento eficiente nas mãos de Satanás para seus
propósitos hostis contra o Senhor Jesus Cristo. Um homem ignorante pode equivocar-se
em certa medida, mas um homem douto, sem Cristo, pode provocar grandes danos.
Os versículos que encabeçam este estudo nos apresentam
as bases divinas sobre as quais está firmado todo o conhecimento Escritural, e
mui particularmente, o conhecimento profético. Antes que alguém anuncie seu
sincero amém ao anuncio “Eis que vem com as nuvens”, é preciso ser
capaz, sem dúvida nenhuma, de acrescentar uma declaração bendita de adoração:
“Aquele que nos amou, e nos lavou de nossos pecados com seu sangue”. O crente
conhece Aquele que vem, porque Ele o amou e o lavou de seus pecados. O Filho de
Deus espera o Amor eterno de sua alma. Aquele que com humildade e mansidão serviu,
sofreu e esvaziou a si mesmo aqui embaixo, cedo virá nas nuvens do céu, com
poder e grande glória, e todo aquele que o conhece o receberá com alegres louvores
e será capaz de dizer: “Este é o Senhor, temos lhe esperado, nos regozijaremos
e nos alegraremos em sua salvação”. Mas, lamentavelmente, muitos esperam e discutem
acerca da vinda do Senhor, mas não o esperam sinceramente, vivem para eles mesmos
no mundo, e sua mente está ocupada nas coisas terrenas. Quão terrível é falar
da vinda do Senhor e ser deixado de lado quando Ele aparecer! Oh! Querido leitor,
pense em tudo isto e se realmente estás consciente de que não conheces ao Senhor,
lhe rogamos então, que o contemple derramando seu precioso sangue para lavá-lo
de seus pecados, e o admoestamos a que aprendas a confiar nEle, apoiar-se nEle,
a regozijar-se nEle e só nEle.
Todavia, se pudermos olhar para os céus e dizer: “Graças
te dou ó Deus, porque o Senhor está conosco e estamos esperando-o”, então
devemos lembrar-nos da exortação do apóstolo João acerca desta bendita esperança:
“E todo aquele que nEle tem esta esperança, purifica-se a si mesmo, assim como ele é puro”. Sim, este deve ser
sempre o fruto da esperança no Filho que vem dos céus, e não do simples conhecimento
da doutrina profética. Muitas pessoas impuras, profanas e ímpias que tem aparecido
no mundo confirmam, na teoria, o segundo advento de Cristo; mas eles não estão
esperando o Filho, portanto não se purificam a eles mesmos, nem tampouco podem fazê-lo.
É impossível que alguém que genuinamente está esperando a aparição do Senhor
Jesus Cristo, não faça um esforço para crescer em santidade, separar-se do mal e
ter um coração puro para Ele. “Eis que cedo venho, bem aventurado aquele que
quando o Filho do Homem vier se encontre velando assim”. Aqueles que conhecem
o Senhor Jesus Cristo e amam sua vinda, buscarão diariamente despojar-se de qualquer
coisa contraria aos pensamentos de seu Mestre; buscarão mais e mais ser conforme
a Ele em todas as coisas. Os homens podem sustentar a doutrina da segunda vinda
de Cristo e ainda assim permanecer agarrados ao mundo e a suas coisas com um
enorme afã, mas o verdadeiro servo de coração fixará seus olhos no retorno de seu
Mestre, recordando de suas benditas palavras: “Virei outra vez, e vos levarei
para mim mesmo, para que onde eu estou, vós estejais também” (João 14:3).
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