quinta-feira, 20 de abril de 2017

Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina


“TEM CUIDADO DE TI MESMO

E DA DOUTRINA”.
 

UMAS PALAVRAS AOS QUE TRABALHAM NA OBRA DO SENHOR
 

“Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina; persiste nisto, pois fazendo isto, te salvarás a ti mesmo e aos que te ouvem” (1.ª Timóteo 4:16). 

Antes de entrar em detalhes sobre o tema acima, desejo advertir aos leitores, que o termo que usamos como obreiro não é designativo de uma classe clerical eleita e nomeada para tal, não importando o nome que utilizam, o que não tem amparo nas escrituras, mas usamos a palavra para referenciar àqueles que trabalham na obra do Senhor, nas várias localidades, sem possuírem título algum, e sem qualquer filiação a nenhum tipo de entidade, dependendo apenas da graça de Deus para cumprirem seu ministério (Atos 14:26; 15:40). 

Voltemos ao nosso tema. As palavras do texto citado são muito solenes e devem ser pesadas por todos aqueles que têm que apresentar às almas a Palavra de Deus e a doutrina. O inspirado apóstolo dirige estas palavras a seu amado filho Timóteo, as quais contém a mais preciosa instrução para cada um dos que são chamados por Deus para ministrar na igreja ou para pregar o Evangelho. Com toda segurança, tomar parte em tal ministério é um santo e elevado privilegio; mas, ao mesmo tempo, aquele que o exerce tem uma enorme responsabilidade. 

A passagem citada na epígrafe expõe diante do obreiro do Senhor os deveres sumamente importantes; deveres absolutamente essenciais aos quais deve prestar atenção com diligente oração e vigilância, se quer ser um obreiro útil na Igreja de Deus, um “bom ministro de Jesus Cristo” (1.ª Timóteo 4:6). Primeiramente, deve cuidar de si mesmo, e depois cuidar do ensino ou doutrina. 

1. “Tem cuidado de ti mesmo”. 

Consideremos em primeiro lugar este solene mandato: “Tem cuidado de ti mesmo.” Seria difícil expressar todo o alcance moral destas palavras. É importante que todo crente as observe, mas principalmente um obreiro do Senhor, pois, especificamente a estes, são dirigidas em particular. Ele, mais que qualquer outro, necessita cuidar de si mesmo. Deve cuidar do estado de seu coração, da sua consciência, do seu homem interior. Deve conservar-se “puro” (1.ª Timóteo 5:22). Seus pensamentos, seus afetos, seu espírito, seu caráter, sua linguagem, tudo deve ser mantido sob o santo controle do Espírito e da Palavra de Deus. É necessário que esteja cingido com a verdade e vestido com a couraça da justiça. Sua condição moral e seu andar prático devem concordar com a verdade que ministra; do contrário, o inimigo, com segurança, ganhará vantagem sobre ele. 

O mestre deveria ser a expressão viva do que ensina; isto deveria ser o objetivo perseguido por ele com sinceridade, com veemência e com perseverança. É desejável que esta santa medida esteja constantemente diante “dos olhos de seu entendimento (lit. coração)” (Efésios 1:18). Infelizmente, os mais experimentados cometem faltas e permanecem sempre abaixo deste padrão; contudo, se seu coração for sincero, se sua consciência é delicada, se o temor de Deus e o amor de Cristo ocupam nele seu devido lugar, o obreiro do Senhor não se sentirá satisfeito com nada que abaixo da medida divina, seja em seu estado interior ou em seu andar exterior. Em todo tempo e em todo lugar, seu ardente desejo será manifestar em sua conduta o efeito prático de seu ensino, e ser “exemplo dos crentes na palavra, na conduta, no amor, no espírito, na fé e na pureza” (1.ª Timóteo 4:12). E quanto ao seu ministério, todo obreiro do Senhor deveria poder dizer: “Não  pregamos a nós mesmos, mas a Jesus Cristo como Senhor, e a nós como seus servos por amor de Jesus” (2.ª Coríntios 4:5). 

No entanto, jamais devemos perder de vista a importante realidade moral de que o mestre deve viver a verdade que ensina. Moralmente, é extremamente perigoso que um homem ensine em público o que sua vida privada desmente — perigoso para si mesmo, desonroso para o testemunho e prejudicial para aqueles aos quais ensina —. Quão deplorável e humilhante é para um homem, quando contradiz com sua conduta pessoal e sua vida doméstica a verdade que apresenta publicamente na igreja! Isto é algo que ele deve temer sobremaneira e que trará indefectivelmente os mais funestos resultados. 

Que o firme propósito e o sincero anelo de todos os que ministram a Palavra e apresentam a doutrina, seja, pois, o de alimentar a si mesmo com a preciosa verdade de Deus, de apropriar-se dela, de viver e mover-se em sua atmosfera, de modo que seu homem interior seja fortalecido e formado por ela; que ela habite ricamente nele, e que desse modo possa correr para os outros com seu vivo poder, sabor, unção e plenitude. 

É algo muito pobre, e inclusive muito perigoso, sentar-se ante a Palavra de Deus como um mero estudante, com o objetivo de preparar estudos ou sermões para pregar aos outros. Nada poderia ser mais fatigoso ou dessecante para a alma. O uso meramente intelectual da verdade de Deus, acumular na memoria certas doutrinas, pontos de vista e princípios, e depois expô-los com alguma facilidade de palavras, é por sua vez desmoralizador e enganoso. Poderíamos estar extraindo água para os outros e ao mesmo tempo ser, nós mesmos, como canos enferrujados. Não há nada mais triste que isto. O Senhor disse: “Se alguém tem sede, vem a mim e beba”. Não disse extraia a água. A verdadeira fonte e o poder de todo ministério na Igreja, será sempre encontrado ao beber nós mesmos da agua viva e não ao extraí-la para os demais. O Senhor segue dizendo: “Aquele que crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrá rios de água viva” (João 7:37-38). É necessário que permaneçamos bem próximos da fonte eterna, do coração de Cristo, e beber dela continuamente longos goles. Desse modo nossas próprias almas serão refrescadas e enriquecidas; rios de benção correrão delas para refrigério dos demais, e os sacrifícios de louvores subirão ao trono e ao coração de Deus por Jesus Cristo. Este é o ministério cristão; o cristianismo mesmo; e qualquer outra coisa carece absolutamente de valor. 

2. “Tem cuidado da doutrina”. 

Detenhamo-nos agora por um momento no segundo ponto de nosso tema; refiro-me à doutrina ou ao ensino; esta última palavra expressa o verdadeiro sentido do original. Quantas coisas se encontram encerradas ali! “Tem cuidado do ensino.” Que solene advertência! Quanto cuidado e que santa vigilância é requerida! Quanto necessitamos esperar em Deus com oração e com perseverança, para saber o que devemos dizer e a maneira como  dizê-lo! Só Deus conhece o estado e a necessidade das almas. Nós não sabemos o que necessitam. Poderíamos oferecer “alimento sólido” aos que só são capazes de “beber leite”, e assim causar-lhes muito prejuízo. O apóstolo disse: “Se alguém fala, fale como os oráculos de Deus” (1.ª Pedro 4:11). Não disse: «Fale conforme os oráculos ou as palavras de Deus», (como se lê em algumas versões). Um homem pode levantar na igreja e falar durante uma hora, estando cada uma de suas palavras em estrito acordo com a letra das Escrituras, e, no entanto, não haver falado de nenhum modo como oráculo de Deus - como mensageiro ou porta-voz de Deus—. Pode ter apresentado a verdade, mas não a verdade que necessitava nesse momento. 

Tudo isto é muito solene e nos faz sentir a seriedade da advertência do apóstolo: “Tem cuidado do ensino”! Que urgente necessidade temos de ser despojados de nós mesmos, para depender por completo do poder e da direção do Espírito Santo! Nisto estriba o precioso segredo de todo ministério eficaz, seja oral ou escrito. Alguém poderia falar durante horas e escrever muitos volumes sem dizer ou escrever nada que seja ante escriturário, mas se não o fizer no poder do Espírito, suas palavras só serão metal que ressoa ou címbalo que retine, e seus volumes um montão de papel velho. Necessitamos permanecer mais aos pés do Mestre e bebermos mais do seu Espírito; é necessário estar em comunhão com seu coração pleno desse amor que Ele tem pelos preciosos cordeiros e ovelhas de seu rebanho. Então nossas almas estarão em condições de dar o alimento no tempo conveniente. 

Só o Senhor sabe exatamente o que os seus amados necessitam a cada instante. Nós até poderíamos sentir profundo interesse numa ordem especial de verdades e julgar que isso é o que convém à igreja, mas podemos equivocar por completo. Se é a verdade o que nos interessa, então o que temos que apresentar é a verdade que responde às necessidades da igreja, e para fazê-lo é necessário esperar constantemente no Senhor de toda graça. Deveríamos fixar nossos olhos nEle, com tenacidade e com simplicidade, e dizer-lhe: “Senhor, que queres que eu diga aos teus santos amados? Dá-me a mensagem que lhes convém”. Assim o Senhor se servirá de nós como seus canais; a verdade fluirá do seu amado coração aos nossos, e dali se derramará nos corações dos seus, segundo o poder do seu Espírito. 

Oxalá que isto fosse assim para todos os que falam e escrevem para a Igreja de Deus! Que resultados poderíamos esperar! Que poder, crescimento e progresso manifesto na vida divina se veriam! Os verdadeiros interesses do rebanho de Cristo seriam os objetivos de tudo o que se diz e escreve. Não haveria nada equivocado; não se apresentaria nada estranho nem nada que cause sobressalto ou assombro. Dos lábios ou das penas só brotaria o que é são, sóbrio e oportuno. Só se ouviriam “sãs palavras” (1.ª Timóteo 6:3; 2.ª Timóteo 1:13), que não podem ser condenadas; e se apresentaria unicamente o que é bom para a edificação.

Que em toda a Igreja de Deus cada obreiro se aplique a si mesmo a advertência do apóstolo: “Tem cuidado de ti mesmo e da doutrina (ensino)... pois fazendo isto, te salvarás a ti mesmo e aos que te ouvem.” 

“Recorda-lhes isto, exortando-lhes diante do Senhor a que não contendam sobre palavras, o que para nada aproveita, senão que é para perdição dos ouvintes. Procura com diligencia apresentar-te a Deus aprovado, como obreiro que não tem de que se envergonhar, que usa bem a palavra da verdade” (2.ª Timóteo 2:14-15)

 

C. H. Mackintosh

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