quarta-feira, 17 de julho de 2019

Fareis, pois, saber a meu pai todo a minha glória


“Fareis, pois, saber a meu pai toda minha GLÓRIA·”

                                        (Génesis 45:13).



Desde o principio de sua história, aborrecido por seus irmãos porque era o amado de seu pai, temos em José um tipo do Senhor Jesus Cristo, um dos mais formosos que encontramos nos escritos do Antigo Testamento.

Assim como Cristo, no tempo próprio, se apresentou para ser enviado a este mundo, declarando a seu Pai: “Eis aqui  venho, oh Deus, para fazer a tua vontade ” (Hebreus 10:9), também José esteve disposto a ir ao encontro de seus irmãos: “Eis-me aqui” (Génesis 37:13).

Desprezado e recusado por eles, assim como, muito tempo depois, o Senhor Jesus haveria de ser, pelos seus, José foi vendido aos ismaelitas por vinte peças de prata (37:28), tal como o Senhor foi vendido por trinta peças de prata, “formoso preço ” — irônica expressão — com que o avaliou o seu povo (Mateus 26:15; 27:3-10; Zacarias 11:12-13).

Os irmãos de José - como os homens em relação a Cristo— pensavam que este procedimento havia acabado com ele; e não havendo ouvido falar mais dele durante vinte anos, sem dúvida consideravam que ele estivesse morto (veja Gênesis 44:20).

Mas as circunstâncias foram dirigidas por Deus de tal maneira que os irmãos de José iam ser colocados frente a frente com aquele que criam ter desaparecido para sempre.

Em figura vemos, pois, o Senhor Jesus Cristo, primeiramente, morto e depois ressuscitado. Entretanto, para que José pudesse dar-se a conhecer a seus irmãos, era necessário que previamente se realizasse neles um trabalho de consciência, a fim de que fossem conduzidos a confessar sinceramente o seu pecado.

Os atos que são relatados nos capítulos 42 a 44 de Gênesis demonstram com que sabedoria José agiu para que esse trabalho fosse realizado até sua conclusão. O resultado foi notório: Seus irmãos, conduzidos, assim, a luz de Deus, disseram: “Que falaremos, ou com que nos justificaremos? Achou Deus a maldade de teus servos” (44:16). Somente, então, José pode dar-se a conhecer a eles.

É o que vemos na comovedora cena descrita no capítulo 45. “E disse José a seus irmãos: Eu sou José” (v. 3). Estes versículos nos fazem pensar no dia em que o remanescente restaurado levantará seus olhos para Aquele que anunciou profeticamente seu regresso: “E olharão para mim, a quem traspassaram” (Zacarias 12:10).

Porém na atualidade, sem duvida, podemos aplicá-lo a nós mesmos naquilo que nos concerne: reunidos ao redor do Senhor, não o ouvimos dizer: “chegai-vos a mim... Eu sou Jesus”? Tal como José convidou a seus irmãos: “chegai-vos agora a mim” (v. 4), assim também nós somos exortados a chegar ao Senhor.

Depois, quando os irmãos atenderam ao seu convite, José lhes repetiu as mesmas palavras: “Eu sou José”, e acrescentou: “vosso irmão” (v. 4). Quão preciosa é a reunião dos redimidos ao redor Daquele que “não se envergonha de chamá-los irmãos” (Hebreus 2:11)!

No entanto, na figura que estamos considerando, a frase: “O que vendestes para Egito”, nos trás a memoria a morte do Senhor Jesus Cristo e nossa culpa. Mas imediatamente a graça se expressa, pois ela pode ser manifestada àqueles que confessaram seus pecados: “Agora, pois, não vos entristeçais, nem vos pese de ter-me vendido para cá; porque para preservação da vida Deus me enviou a diante de vós” (v. 5).

Também é assinalada a nossa responsabilidade, e é mencionado o que provém da parte de Deus, de modo que lemos: “A este (a Jesus)... prendestes e matastes por mãos de iníquos, crucificando-o”, também nos diz que foi “entregue pelo determinado conselho e presciência de Deus, conhecimento antecipado” (Atos 2:23).

Para que o conselho de Deus fosse cumprido era necessária a morte de Cristo, era necessário que José fosse “vendido para o Egito”, para que os seus tivessem a “preservação da vida”. Que “grande libertação” (Gênesis 45:7) foi operada por meio de José em favor de seus irmãos. Quanto maior é a libertação em virtude da qual nós temos a vida eterna, e que é fruto da obra propiciatória do Senhor Jesus Cristo!

José, pois, foi o instrumento desta “grande libertação”, necessária “para preservação da vida” dos seus. Por outro lado José agiu de uma maneira que permitiu que em seus irmãos se operasse um trabalho de coração e de consciência que os conduzisse a confessar os seus pecados, a fim de que pudessem ter com ele uma relação em plena liberdade. Que figura tão ilustrativa do duplo trabalho realizado pelo Senhor Jesus Cristo!

Vemos primeiro o que Ele fez a favor de nós na cruz e, em seguida, o que operou em nós, para que, havendo nascido de novo, possamos gozar dos resultados de sua obra propiciatória e de uma feliz comunhão com Ele. Dai em diante, constituídos como família de adoradores, fomos feitos capazes de adorar “ao Pai em espírito e em verdade” (João 4:23-24). Que poderíamos apresentar-lhe, no poder do Espírito Santo, senão a gloriosa Pessoa de seu Filho, seu Amado?

E é o Filho mesmo, que canta o louvor no meio da congregação para conduzir-nos na adoração que devemos oferecer ao Pai, nos ensina como louvá-lo da maneira que lhe agrada: “Fareis, pois, saber a meu pai toda minha glória.” Toda sua glória! A glória que tinha com o Pai “antes que houvesse mundo” (João 17:5), sua glória como Criador de todas as coisas, como “primogênito de toda criação” (Colossenses 1:15-17), sua glória como Aquele “que sustenta todas as coisas pela palavra do seu poder” (Hebreus 1:3), sua glória manifestada no ato de esvaziar-se, despojando-se a si mesmo, e depois em sua humilhação voluntária (Filipenses 2:6-8), sua glória no humilde presépio de Belém (Lucas 2:12-14), sua glória como Homem perfeito, cumprindo completamente a vontade do Pai, que pode abrir o céu sobre Ele e dizer: “Este é meu Filho amado, em quem tenho prazer; a ele ouvi” (Mateus 17:5), a glória do Homem Cristo Jesus que, ao finalizar seu caminho  neste mundo, pode dizer a seu Pai: “Eu te glorifiquei na terra ” (João 17:4), a glória que brilhou da cruz, no meio das trevas e da ignomínia: “Agora é glorificado o Filho do Homem, e Deus é glorificado nele ” (João 13:31), a glória que o coroou —havendo acabado a obra— a destra da Majestade nas alturas (João 13:32; Hebreus 2:9 e 1:3; 1.ª Pedro 1:21), a glória que deseja que compartilhamos com Ele (João 17:22), suas glórias futuras como Rei de Israel e como Filho do Homem no domínio universal que exercerá segundo o Salmo 8, a glória eterna do Filho de Deus, a qual contemplaremos eternamente (João 17:24). Toda sua glória!

Quando chegamos à presença de Deus, reunidos ao redor do Senhor para adorar, não nos limitemos a expressar somente nossa gratidão pela grande libertação de que fomos objetos e pelas bênçãos com as quais agora estamos enriquecidos.

No altar de bronze, tipo da cruz de Cristo, o holocausto deveria ser oferecido   inteiramente, a gordura do sacrifício da oferta de paz e também a gordura do sacrifício pelo pecado (Levítico 1:9; 3:3-5; 4:8-10); o altar de ouro era apropriado “para queimar o incenso” (Êxodo 30:1). Que perfume aspirava Deus quando, mediante a ação do fogo, o incenso ardendo - imagem da intercessão de Cristo e de suas insondáveis perfeições — exalava seu bom odor!

Os atos de apresentar a oferta vegetal “com todo o incenso” (Levítico 2:2), de exaltar o sacrifício efetuado na cruz, perfeito holocausto e perfeito sacrifício pelo pecado, de celebrar as infinitas glórias do Senhor Jesus Cristo fazendo “queimar o incenso” sobre o altar, descrevem o culto que somos chamados a render.

O fogo que servia para queimar o incenso se tomava do altar de bronze e havia sido acesso do céu: “Saiu fogo de diante de Jeová” (Levítico 9:24). Quando a vítima havia sido consumida no altar de bronze — figura do Senhor Jesus Cristo oferecendo-se a si mesmo; e havendo-se oferecido ele mesmo como sacrifício perfeito —, o incenso podia subir a Deus.

Para queimar o incenso no altar de ouro é preciso que recordemos o que passou no altar de bronze; de maneira que no culto seria normal começar pelo altar de bronze e depois passar ao altar de ouro. No entanto, é conveniente que demos toda liberdade ao Espírito Santo para que ele oriente o louvor da igreja.

Com respeito ao altar de ouro, está escrito: “Não oferecereis sobre ele incenso estranho, nem holocausto, nem oferta” (Êxodo 30:9). O incenso, o bom perfume do Senhor Jesus Cristo para Deus, nos fala da pessoa do Senhor Jesus Cristo em si mesma, enquanto que os diversos sacrifícios ressaltam o que a sua Pessoa fez. Este último foi cumprido fora do lugar santo, o que nos permite compreender por que não se ofereciam sacrifícios no altar de ouro, nem holocaustos, nem ofertas vegetais.

Só nos resta dizer que estas coisas estão estreitamente ligadas: a vida perfeita é a vida do Senhor Jesus Cristo; o sacrifico perfeito é o sacrifício do Senhor Jesus Cristo e a excelência da sua Pessoa nos fala da perfeição da sua vida e de seu sacrifício na cruz. Necessitava-se de tal Pessoa para viver tal vida e oferecer tal sacrifício!

O incenso composto, “um perfume segundo a arte do perfumador, bem mesclado (ou salgado com sal), puro e santo” era “coisa sagrada para Jeová” (veja Êxodo 30:34-38). Somente Deus pode apreciar plenamente as perfeições e as glórias do Senhor Jesus Cristo, mas ele deseja que nós cheguemos a sua presença e, dirigidos pelo Espírito Santo, lhe falemos do Senhor Jesus. Poderia haver algo de maior agrado para Deus que a Pessoa do seu Amado?

O culto consiste em apresentar a Deus a vida perfeita do Senhor Jesus, cujo tipo achamos na oferta vegetal; em presentar o sacrifício perfeito, cuja figura temos no holocausto, digo, o que foi entregue inteiramente para Deus, mas também consiste em falar-lhe da própria Pessoa Daquele que viveu tal vida e sofreu tal morte. Este é o culto em seu caráter mais elevado!

Velemos para que nosso coração esteja ocupado com o Senhor Jesus Cristo, nutrido por Ele mesmo de suas formosuras e de suas glórias, a fim de que nunca deixemos de lado o que é o aspecto mais precioso para o Pai: o louvor que a Igreja é chamada a apresentar-lhe.

Pensemos ante tudo isto e acima de tudo, no que o Senhor Jesus Cristo foi para Deus em sua vida e em sua morte; meditemos no que foi e no que será por toda eternidade vindoura para Ele em sua Pessoa, e que dessa forma nos seja concedido o gozo de entrar no lugar santo e chegar ao altar de ouro para “queimar o incenso” ali.

Recordemos as palavras do nosso verdadeiro e divino José: “Fareis, pois, saber a meu pai toda minha glória”!  



  Fuzier P. - (Messager Évangélique, 1969).

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