sexta-feira, 14 de fevereiro de 2020

ABRÃO RESTAURADO


ABRÃO RESTAURADO

"Subiu, pois, Abrão do Egito para o Neguebe, ele e sua mulher, com tudo o que tinha, e com ele Ló. E Abrão era riquíssimo em gado, em prata e em ouro. E fez as suas jornadas do Neguebe até Betel, até o lugar onde havia estado antes a sua tenda entre Betel e Ai, até ao lugar do altar que havia feito antes; e ali invocou Abrão o nome do Senhor."

(Gênesis 13: 1-4)


         O principio deste capítulo treze nos apresenta um assunto da maior importância para o coração. Quando, de um modo ou outro o estado espiritual do crente haja entrado em decadência e haja perdido a comunhão com Deus, corre o risco de não apropriar-se da graça tal qual é, desde o momento que haja começado a despertar a consciência, e de não entrar plenamente na realidade de sua restauração diante de Deus.

         Pois bem, sabemos que tudo o que Deus faz, o faz de um modo digno de Sua pessoa; seja ao que crê ou ao que salva, seja ao que converta ou ao que restaure, Ele somente age em conformidade, com Seu ca­ráter, glorificando Seu nome em todos os Seus caminhos. Assim vemo-lo em todos os seus atos, agindo em nosso favor, embora estejamos sempre dispostos a "por limite ao Santo de Israel" (Salmo 78:41), fazendo assim sobretudo quan­do se trata da graça restauradora.

        Na porção com a qual nos ocupamos, vemos que Abrão não só subiu do país do Egito mas que foi conduzido "até o lugar onde ha­via estado antes sua tenda... ao lugar do altar que outrora havia feito, e invocou ali Abrão o nome do Senhor" (Gênesis 13: 3-4). No que diz respeito ao desviado, Deus não está satisfeito até levá-lo ao caminho de volta, de retorno a Ele, e restabelecê-lo perfeitamente à Sua comunhão. Nosso coração, cheio de Justiça própria, pensaria natural­mente que um lugar menos elevado que o anterior seria suficiente para tal pessoa; e assim, na realidade, sucederia que seríamos tratados de acordos aos nossos méritos ao nosso caráter; mas como se trata tão somente da graça de Deus, cabe a Deus determinar a medida da altura do restabelecimento; e esta medida se nos oferece na seguinte passagem: "Se te hás de converter, oh Israel, diz o Senhor, converte-te á mim." (Jeremias 4:1).

         Assim é como Deus levanta ao caído: fazê-lo de outro modo seria indigno Dele. Ou não restaura ou o faz de um modo que fiquem exaltadas e glorificadas as riquezas da Sua graça. Quando o leproso curado fosse admitido de novo ao acampamento, ele era conduzido até "a porta do tabernáculo da congregação" (Levítico 14:11); quando o filho pródigo voltou à casa paterna, o pai o fez assentar consigo a sua própria mesa; quando Pedro foi levantado da sua queda, pode dizer aos homens de Israel: "vós negastes o Santo e o Justo" (Atos 3:14), acusando-os precisamente do que ele mesmo havia feito, sob as circunstâncias mais agravantes. Em cada um destes casos, e em muitos outros, vemos que Deus restaura de um modo perfeito: conduz sempre a alma novamente a Si mesmo, em toda o poder de Sua graça e em toda a confiança da fé. "Se te hás de converter,… converte-te a mim" (Jeremias 4:1). Abrão "voltou até o lugar onde havia estado, antes sua tenda".

         Por outra parte, é infinitamente prático o resultado da restauração divina da alma. Se por seu caráter confunde ao legalismo, pelo efeito que produz, confunde a antinomianismo (que nega a obrigação da lei, ou melhor dizendo, que recusa toda classe de lei ou sujeição). Se a alma levantada da sua caída tem um sentimento vivo e profundo do mal do qual foi salva, este sentimento se mani­festará pelo espírito de vigilância, de oração, de santidade e de prudência que agora a distingue. Deus não nos levanta para que outra vez voltemos outra vez ao pecado, caindo de novo nele, pois disse: "Vai-te, e não peques mais" (João 8:11).

         Quanto mais profundo for o sentimento da graça restauradora de Deus, tanto mais profundo é o sentimento da santidade da restauração. Isto é um principio estabelecido e ensinado desde o começo até o fim da Escritura, mas especialmente em duas passagens bem conhecidos, Salmo 23:3 e 1 João 1:9, "Ele restaura minha alma; guia-me no caminho da justiça, por amor do seu nome." (Salmo 23:3), e "Se confessarmos os nossos pecados, ele é fiel e justo para perdoar os nossos pecados, e nos purificar de toda injustiça" (1 João 1:9).

         O caminho que convém a alma restaurada são os "caminhos da jus­tiça". Desfrutar da graça produz uma vida justa; falar da graça e viver na injustiça é converter "em libertinagem a graça de nosso Deus" (Judas 4). Se a graça reina pela justiça para vida eterna (Romanos 5:21), também se manifestará em obras de justiça, que são os frutos desta vida. A graça que perdoa nossos pecados, nos purifica também de toda injustiça. Estas duas coisas nunca devem separar-se. São duas coisas que juntas confundem, como temos dito, tanto ao legalismo como ao antinomianismo do coração humano.

C. H. Mackintosh

Revista "VIDA CRISTIANA", Ano 1956, No. 22.-

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