6_ Jacó — sua descida
ao Egito
Gen.
46.1-7/46.26-34/47.1-12 / 47.27-31 / 49.1-33 / 50.1-13
Ao entrarmos nas
considerações finais acerca da última divisão do nosso estudo, admira- nos os
caminhos de Deus em graça para com os seus. Não existe na vida de um santo de
Deus, posição mais elevada do que a de acompanhar pela fé, o desenvolvimento
das atividades, planos e atos de Deus, em favor dos seus no decurso de suas
vidas.
É deveras importante
observar como o Senhor os tem conduzido na jornada dessa vida, apesar de toda a
oposição do mundo (Jo. 15.18), da carne (Rom. 8.8 / Gl. 5.16.17), e de Satanás
(Zc. 3.1 /1 Pe. 1.5-8) e, como nos tem elevado e transportado por cima de toda
adversidade e oposição dos nossos inimigos (Dt. 32.12/Sl. 73.24).
Nesse capítulo encontramos Israel partindo de Berseba a encontrar-se com
Deus (v.l). É importante observar o motivo deste encontro e a forma como ele se
desenvolve. Israel oferece sacrifícios ao Deus de seu Isaque; e a graça de Deus
vem ao encontro das aflições de Jacó, num tríplice aspecto (versos 3 e 4) dizendo-lhe:
1-
Eu sou Deus, o Deus de teu pai;
2-
Não temas descer ao Egito;
3-
Eu descerei contigo ao Egito, e te
farei subir de lá (v.4).
Impressiona-nos a graça de Deus;
não existem palavras que possam descrevê-la, pois ela se manifesta em atos, e
não em palavras (II Cor. 8.9 /12.9). Nenhum mortal pode jamais descrever a
graça manifestada pela descida do Senhor Jesus Cristo a este mundo mau (figura
do Egito) para nos desarraigar dele (Gl. 1.4), mas todo mortal pode entender que foi por amor que Ele condescendeu em vir, para que pela
sua graça provasse a morte por todo homem (Hb. 2.9).
E um ato supremo e
soberano da vontade, compaixão, misericórdia e amor de Deus (Is. 40.18, 25, 28
/ Rom. 11.33-36). O Egito não era um lugar para Deus, mas por causa das necessidades
dos Seus escolhidos, não só os encaminhou para lá, como prometeu ir com eles, e
os tirar de lá. Mas antes disso, enviou adiante deles José — mesmo que traído e
vendido pelos irmãos — para ser Salvador e preservador de suas vidas (Sl.
105.5-23 / Gen. 45.5,7,11).
Mais tarde,
aproximadamente 1700 anos depois, o verdadeiro José desce ao Egito (literal e figuradamente). Ali Ele foi vendido,
maltratado, cuspido, desprezado, rejeitado, pregado na cruz como malfeitor; foi
capaz de entregar Sua própria vida par ser nosso Salvador e Senhor (Mt. 2.14-15
/1 Tm. 1.15 / Gl. 4.4-5 / At. 4.12 / Hb. 5.9 / Jo. 4.42).
Como contar de Deus o
amor? O que podemos acrescentar sobre a obra realizada por Cristo no calvário a
nosso favor? Graças sejam dadas ao soberano Deus, pois Cristo Jesus tudo fez completo
— nada por fazer Ele deixou. As palavras que os Seus lábios proferiram antes de
entregar a Sua vida, foram: “Está consumado!”.
A obra foi realizada
cabalmente, e o véu do templo se rasgou (Mc. 15.37-38 / Mt. 27.50- 53), visto
que não poderia permanecer ali. Um novo caminho estava aberto (Hb. 10.20), e a
salvação estendeu-se a todo pecador que cresse
na obra ali consumada. É a mais pura graça — é dom de Deus. Não houve
qualquer participação humana; tudo Cristo sofreu sozinho pelo fato de que nos
ama, e por causa deste amor, tomou o nosso lugar na cruz do calvário para nos
dar um lugar na glória — morada de Deus. Quem pode descrever esta cena de amor?
Pergunta o poeta do hino 596 (Hinos e Cânticos): “Como contar de Deus o amor,
que o Filho amado ao mundo deu; quem poderá sondar a dor que meu Jesus na cruz
sofreu?... quero adorar ao meu Senhor, por seu divino e santo amor.
São pensamentos que
nos envolvem, mas é necessário prosseguir com a história de Jacó, e ao mesmo
tempo observar as ações de Deus manifestas na vida deste homem. Não podemos
esquecer da angústia de Jacó em capítulo 37.33-35 (como também Jeremias 30.7)
quando soube ele da perda de José. Assim não perderemos de vista os planos e
caminhos de Deus a serem manifestos a Jacó.
Disse o apóstolo
Paulo: “a nossa leve e momentânea tribulação
produz para nós eterno peso de glória, acima de toda comparação”; e
mais: “os sofrimentos do tempo presente não são para comparar com a glória que
em nós há de ser revelada” (II Cor. 4.17 e Rom. 8.18). Podemos perguntar:
“Qual o momento mais significativo na vida de Jacó? A perda ou o reencontro de
José? Perguntamos mais: “O que foi mais emocional? O choro da ausência ou o
choro do reencontro? (Gen. 46.29-30). O que será maior, a humilhação ou a
exaltação do Senhor Jesus? (Fp. 2.5-11 / Ap. 1.7; 4.11; 5.8-14). Exaltado seja
para todo o sempre aquele que conferiu ao Senhor Jesus Cristo todo o Senhorio
(At. 2.36; 10.36 / Rom. 14.9 / Fp. 2.11).
Agora encontramos
Israel no Egito, e podemos afirmar que a única atração daquele país é seu filho
José (Gen. 45.26-28 / 46.29-30). Como foi agradável aquele momento de poder
abraçá-lo e estar com ele os dezessete anos finais de sua vida; como foi
maravilhoso receber os seus cuidados, a sua provisão; poder participar da sua
exaltação vendo-o honrado e glorificado,
sendo senhor de toda a terra do Egito (Gen. 45.9-13 / 47.12). Tudo o que
passa perante os nossos corações é fascinante e cheio de instrução. A história
deste homem nos ensina o princípio ensinado no Novo Testamento de que: “Quem se
humilha será exaltado” (Lc. 18.14 / Tg. 4.10). Deus usou estes meios para
ensinar a Jacó este princípio. Chegando ao final de sua vida, toda esperteza,
altivez, astúcia, egoísmo, planos, nada subsistiu — todas essas nuvens carregadas da natureza humana
passaram. Agora Jacó manifesta-se em toda calma e fé para abençoar e transmitir
dignidade na exigência quanto ao lugar de sepultamento do seu corpo.
São aptidões e qualidades que só a comunhão com Deus pode conceder. Os
olhos de Israel se escureceram, mas a fé de Israel não estava sujeita aos
estragos da natureza humana, e nem mesmo às suas influências. Por causa disso,
não seria tão enganado quanto à posição destinada por Deus aos filhos de José.
Não mostrou-se como Isaque, seu pai, que estremeceu em quase cometer um erro
fatal querendo dar a Esaú aquilo que por decreto de Deus era de Jacó (Gen.
27.33). Pelo contrário, estava plenamente convicto pela fé do ato que ia
praticar. “Eu sei meu filho, eu sei” (Gen. 48.19). A resposta a seu querido
filho revela o princípio de que isso só pode ser manifesto no pleno exercício
da fé. Foram essas as palavras pronunciadas a José. Sua visão natural, já
escurecida pelo tempo, não podia de modo algum impedir a visão espiritual, e
nem mesmo obstrui-la.
Na escola de Deus,
através de toda experiência provada, Jacó aprendeu aquilo que a escola de
Labão nunca pode ensinar-lhe, isto é, que manter-se agarrado aos propósitos de
Deus, é a bendita posição de todo aquele que confessa o nome do Senhor; e que
as influências da natureza humana não o podem afastar deles. Outra grande
manifestação da graça e bondade de Deus, encontra-se ainda relatada nesse
capítulo 48. Temos um belo quadro de como Deus se eleva acima do pensamento
humano e alivia todos os nossos temores (Sl. 34.4 / Os. 11,4a). Disse Israel:
“Eu não cuidava ver o teu rosto, e eis que Deus me fez ver os teus filhos também”.
Em Gen. 37.33,35-36
encontramos o relato precioso acerca de dois acontecimentos que ocorreram ao
mesmo tempo:
•
Jacó está a lamentar e chorar por José;
•
Os midianitas conduzem José e o vendem
no Egito a Potifar.
Enquanto Jacó estava
a lamentar pelo filho, o Senhor o conduz ao Egito (mesmo que vendido como
escravo) para que ele seja senhor de toda a terra, ainda que para isto fosse
necessário submetê-lo a toda sorte de humilhação e desprezo, para que há seu
tempo fosse exaltado e o constituísse preservador
da vida. É importante compreendermos que tudo isso ilustra o próprio
Senhor Jesus Cristo (Gen. 45.5-7 / Sl. 105.17-22).
Assim é Deus e os
seus caminhos. Em tudo isso vemos brilhar de modo incomparável a sua graça.
Disse o apóstolo inspirado: “Temos recebido da sua plenitude, e graça sobre
graça”, e mais: “A graça e a verdade vieram por Jesus Cristo” (Jo. 1.16-17).
Quem pode explicar a graça de Deus? Se não podemos explicar, podemos saber que
a salvação do pecador somente é possível por essa graça inexplicável. Para Jacó
seu filho José já estava morto, mas para Deus não somente estava vivo. como
também era governador da terra do Egito. A ausência de José era segundo a
avaliação da natureza humana — impossível de ser contemplada por Jacó. Mas
segundo os caminhos de Deus. Jacó não somente veria a José, mas também os seus
filhos. Somente a graça de Deus pode promover momentos assim (Is. 64.3-5a).
Em capítulo 49 temos
as últimas palavras de Jacó, e é importante observarmos que no primeiro verso
ele diz que elas se referem a dias vindouros. Temos aqui a menção dos seus filhos,
um por um, bem como a sua respectiva profecia em forma de bênção, que fora
aplicada a cada um segundo os desígnios de Deus. Podemos encontrar neste
capítulo palavras de Juízo sobre as suas más obras, mas o que sobressai aqui é
a graça de Deus manifesta na visão espiritual de Israel (Gen. 49.2b). Quem
poderia dar a Judá o privilégio de ser louvado e adorado por seus irmãos? Quem poderia
imaginá-lo sendo rei? Quem poderia conferir a ele a honra de ser da linhagem
genealógica do Senhor Jesus? (Gen. 49.8-10 / Hb. 7.14). Somente a graça de Deus
poderia conceder-lhe isso, e dar a Israel o privilégio de referi-lo antes de
sua morte.
Ele tem neste
capítulo uma visão espiritual da porção cabível a cada um de seus filhos, e
isto segundo os desígnios de Deus. Assim podemos ver a diferença do Israel
formado, preparado e provado por Deus, do Jacó que peregrinou em Harã e foi
instruído pela escola de Labão. Mas nesta escola ele aprendeu tão somente a
olhar para os seus interesses, ao passo que na escola de Deus aprendeu a
esquecer de si mesmo e velar pelos interesses de Deus e dos seus escolhidos
(Fp. 2.20-21).
Nos capítulos finais
desse livro, encontramos varias menções dos nomes Jacó e Israel. Este detalhe é
também percebido no Salmo 105.10. Como já fizemos referência a isso em divisões passadas, faz-se necessário
relembrar que ao falar de Jacó, estamos considerando o homem natural, mas
quando nos referimos a Israel, falamos do homem espiritual (I Cor. 2.14-15).
Quando pensamos em Jacó, pensamos no lugar até onde Deus desceu; quando
pensamos em Israel, pensamos no lugar até onde Deus o elevou. Jacó, um
suplantador (Gen. 27.36); Israel, um príncipe que luta com Deus (Gen. 32.28 e 35.10).
Em terminar essas
considerações, desejamos frisar que Israel se preocupou com o sepultamento do
seu corpo e, por duas vezes lemos
desse fato (Gen. 47.29-30 / 49.29-33). A razão disso está baseada na
compreensão da importância do corpo para o Senhor, e no fato que o corpo há de
ressurgir, havendo nós de prestar contas por tudo aquilo que fizemos por meio
do corpo (Ecl. 12.14 / II Cor. 5.10). Ao preocupar-se consigo, menciona o fato
importante de que sepultou aqueles que estiveram sob sua responsabilidade.
Sabemos que não temos
esgotado a ordem de pensamentos que vieram ao nosso coração acerca da história
desse homem de Deus. Tudo nos foi dado mediante a inspiração do Espírito Santo.
Não mencionamos qualquer quantidade a qual pudéssemos atribuir índices de
porcentagem, pois não é essa a nossa intenção, mas o nosso objetivo é pura e
simplesmente o de glorificar o nome do Senhor e promover a edificação de seus
filhos com o que temos recebido.
É nosso desejo
despertar em cada um a necessidade de conhecer os caminhos de Deus em graça,
bem como a sua vontade revelada nas Escrituras Sagradas, para que assim
possamos dedicar-lhe mais a nossa própria vida e obediência, como uma fragrância que exale do nosso
ser, para a honra e glória do seu santo nome. Se esta ordem de pensamentos
promoverem em nós o desejo de conhecermos plenamente a palavra de Deus, de
conhecer a sua graça, bem como o seu amor manifesto a vida de cada um dos seus
eleitos em todos os tempos da história desse mundo, de maneira alguma teremos
escrito em vão essas palavras que oferecemos a todos aqueles que sentirem o
sincero desejo de aprender acerca do que está escrito.
Que o eterno Deus
seja glorificado é a nossa oração e desejo em concluir estes pensamentos. Amém...
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