terça-feira, 12 de maio de 2015

A POSIÇÃO DO CRENTE EM CRISTO.

 

         MEUS AMADOS IRMÃOS, 

         Permita-me agora convidar-lhes a considerar a posição do crente. Serão necessárias poucas palavras acerca deste assunto; mas estou ansioso em colocar diante de vós, porque, até que isto seja compreendido, não pode haver uma devida apreciação de nossas relações ou de nossas responsabilidades. De fato, não seria demais dizer que grande parte da debilidade da vida Cristã, e grande parte da incerteza no andar, e a falta de separação do mundo, que com frequência se manifestam nos Cristãos professantes, podem ser atribuídos a um conhecimento imperfeito da posição que ocupa o crente diante de Deus em Cristo. 

         Comecemos, então, pelo princípio. "Justificados, pois, pela fé, temos paz com Deus por meio de nosso Senhor Jesus Cristo" (Romanos 5:1). Digo, paz com Deus é a herança inalienável de cada um que é justificado; porque é a paz que foi feita "mediante o sangue da sua cruz" (Colossenses 1:10); portanto, não é da experiência ou do conhecimento de que se fala aqui; mas daquilo que pertence a todo crente, quaisquer que sejam seus sentimentos, no momento que é justificado. E por conseguinte, se nós não desfrutamos desta paz, isto é reconhecer nossa insuficiência do conhecimento da graça de Deus, como consequência de (pode ser) mal ensino ou incredulidade. No entanto, é de vital importância que todo crente, qualquer que seja sua debilidade ou timidez, deva conhecer que a paz eterna com Deus é sua porção por meio do sangue precioso do Senhor Jesus Cristo. 

         Há, no entanto, mais que isto. Nós prosseguimos lendo, "por quem também temos entrada pela fé a esta graça na qual estamos firmes." (Romanos 5:2). De novo, observe-se que isto não é experiência, mas a posição a que todo crente é levado em Cristo Jesus - uma posição de aceitação perfeita, na qual o pleno favor de Deus repousa sobre ele; não por causa do que o crente é em si mesmo, ou por causa de alguma experiência que ele possa ter, ou de algum mérito que ele julgue ter, mas unicamente em razão daquilo que o Senhor Jesus Cristo é e do que ele fez em seu favor.

         Se examinarmos outra passagem, esta verdade será compreendida mais claramente. Voltando, então, à epístola aos Colossenses, lemos: "E a vós, que noutro tempo éreis estranhos e inimigos na vossa mente, por causa das vossas obras más, agora, porém, vos reconciliou no corpo da sua carne, por meio da morte, para vos apresentar santos e imaculados e irrepreensíveis diante da sua presença", etc. (Colossenses 1: 21, 22). Agora, prestem atenção a duas coisas. Primeiro, que Deus reconciliou estes crentes ("E a vós  . . . (Ele) vos reconciliou", etc.); e em segundo lugar, que temos três palavras que indicam o caráter perfeito desta reconciliação. A primeira é "santos" - uma palavra que expressa do modo mais forte possível a perfeita adequação do crente para a presença santa de Deus. Depois temos a palavra "imaculados" - uma palavra que será melhor compreendida mediante uma referência a outra passagem-. Em Hebreus lemos: "quanto mais o sangue de Cristo, o qual mediante o Espírito eterno se ofereceu a si mesmo sem mancha a Deus", etc. (Hebreus 9:14). A palavra grega traduzida aqui "sem mancha", é a mesma que traduz "imaculados" em Colossenses; e por isso nós concluímos que o crente é diante de Deus, quanto a sua posição, o que o Senhor Jesus Cristo foi na oferta de Si mesmo; a saber, sem mancha. Por último temos a palavra "irrepreensíveis", mais exatamente "sem culpa" ou "sem acusação"; digo, alguém contra quem não se pode formular nenhuma culpa ou acusação, conforme às palavras do apóstolo em outra escritura - "Quem acusará os escolhidos de Deus" (Romanos 8:33)?

         Combinando estas três expressões, aprendemos que, quanto à posição do crente diante de Deus, ela é absolutamente perfeita; porque as palavras que temos considerado mostram que Deus considera o Seu povo em Cristo como santo, sem mancha, e toda questão que pudesse ser levantada contra eles, completamente aniquilada, de modo que não é possível efetuar nenhuma acusação contra eles. E recordem que esta posição é a de todo crente; que não é, em absoluto, um assunto de experiência ou de conhecimento, mas que pertence ao menino recém nascido em Cristo, assim como aos jovens (novos convertidos) e aos pais; porque, efetivamente, assim que crermos no Senhor Jesus, como Nosso Senhor e Salvador, estaremos diante de Deus em toda perfeição, fragrância, e aceitação do Senhor Jesus Cristo. Portanto, trata-se do que o Senhor Jesus é, e não do que nós somos; e o que Ele é, assim somos nós nEle diante de Deus. 

         Contudo podemos ir mais longe. Na epístola aos Romanos lemos: "Portanto, vós não estais na carne mas no Espírito, se na verdade o Espírito de Deus habita em vós." (Romanos 8:9). Estas palavras devem ser observadas cuidadosamente. "Vós não estais na carne", etc. ("Não vivais segundo a carne" dizem outras traduções). Então, a que se refere isto? Refere-se à posição do crente, ao resultado de sua morte e ressurreição com Cristo. Assim, se lermos atentamente o capítulo 6, encontraremos que os crentes são considerados ali mortos com Cristo quanto a sua velha natureza. Tomemos uma ou duas passagens como exemplo: "Ou não sabeis que todos os que foram batizados em Cristo Jesus, foram batizados na sua morte?" (Romanos 6:3); "Sabendo isto, que nosso velho homem foi crucificado juntamente com ele" (Romanos 6:6); "Se já morremos com Cristo", etc. (Romanos 6:8). Como aprendemos também em outra parte, eles são considerados como quem já "ressuscitou com Cristo" (Colossenses 3:1); e devemos lembrar aos crentes que eles se “despiram do velho homem com seus feitos, e revestiram do novo", etc. (Colossenses 3: 9, 10). Então, a verdade ensinada é que, quanto a nossa posição diante de Deus, nós não estamos na carne, porque nosso velho homem foi julgado e crucificado na cruz, mas estamos no Espírito; digo, é o Espírito que caracteriza nossa posição diante de Deus. Ante Seus olhos nós não estamos na carne. Isto pressupõe, efetivamente, a existência da carne; contudo havendo recebido o Espírito Santo, e tendo a vida do Espírito Santo, é Ele, quem constituem nosso vínculo com Deus. Nossa existência moral diante de Deus é no Espírito, não na carne, ou no homem natural. Em outras palavras, nós estamos, quanto a posição, não em Adão, em absoluto (e indo além da passagem que considerávamos recentemente, podemos acrescentar), mas em Cristo, e em Cristo onde Ele está no céu.

         Podemos apoiar estas declarações mediante uma ou duas passagens mais. Em Efésios encontramos o seguinte: "Mas Deus, que é rico em misericórdia, por causa do grande amor com que nos amou, ainda quando estávamos mortos em nossos delitos, nos deu vida juntamente com Cristo (pela graça sois salvos), e nos ressuscitou juntamente com Ele, e nos assentou nos lugares celestiais em Cristo Jesus" (Efésios 2: 4-6). Todos estes verbos estão em tempo passado - Deus nos deu vida, nos ressuscitou juntamente, e nos assentou; e, por conseguinte, nos dirige a algo que foi concluído a nosso favor. E o que foi isto? Nossa posição perfeita em Cristo. Sim, somos ensinados que em Cristo já estamos assentados nos lugares celestiais, e que este é o nosso verdadeiro lugar diante de Deus. Se nós estivéssemos na carne, este cenário no qual nos movemos seria nossa porção e lugar; mas devido ao fato que em Cristo nós morremos para ele, e temos sido ressuscitados juntamente com Cristo, nosso verdadeiro lugar é em Cristo onde Ele está - nos lugares celestiais. É por este motivo que o apóstolo diz em outra parte, "Se alguém está em Cristo, nova criatura (criação) é" (2 Coríntios 5:17). Porque em Cristo temos morrido à antiga criação, fomos inteiramente tirados dela, e fomos ressuscitados com Ele na nova criação, onde tudo é perfeito conforme à perfeição de Deus. Por isto o apóstolo João pode dizer, "como ele é, assim somos nós neste mundo." (1 João 4:17), digo, como Cristo é diante de Deus, assim somos nós nEle, embora estejamos neste mundo, mas perfeitamente aceitos, porque Sua aceitação é a nossa aceitação.


         "Perto, tão perto de Deus,

          Mais perto não posso estar;  

          Porque na pessoa de Seu Filho        

         Eu estou tão perto como Ele está."
         

         Vocês deverão ter em conta que estou tratando acerca da posição do crente. Obviamente nosso lugar de serviço é aqui no deserto; embora isto seja verdadeiro, não esqueçamos jamais que nós pertencemos a outra criação e não a esta, porque estamos assentados em Cristo nos lugares celestiais. "Nossa cidade está nos céus, de onde também esperamos o Salvador, o Senhor Jesus Cristo" (Filipenses 3:20); e quando Ele vier, Ele nos receberá para Ele mesmo, para que onde Ele está nós - nesse estado, feitos semelhantes a Ele, conformes a Ele na glória - também possamos estar com Ele. 

         Estou muito ansioso para que possam compreender plenamente estas verdades por causa da influência concreta que exercerão sobre o vosso andar e comportamento. Havendo aprendido que somos um povo celestial, logo perceberemos que nosso verdadeiro lugar e nossa verdadeira posição diante de Deus há de determinar o caráter do nosso andar que, numa palavra, nosso andar deveria corresponder a nossa posição em Cristo; que a palavra separação deveria estar escrita sobre tudo o que somos, e sobre tudo o que fazemos - separados para Deus. Se os crentes estivessem mais familiarizados com o caráter de sua posição, eles veriam a completa incongruência de muitas de suas associações; eles não poderiam ter comunhão com os homens do mundo na política, e nos assim chamados movimentos filantrópicos - com tantas coisas, em ressumo, que contristam o Espírito de Deus; mas viveriam conforme a linguagem do apóstolo: "De maneira que nós daqui em diante a ninguém conhecemos segundo a carne; e ainda que tenhamos conhecido a Cristo segundo a carne, já não o conhecemos assim ou deste modo" (2 Coríntios 5:16); procedendo assim, entenderiam sua instrução: "Não vos prendais em jugo desigual com os incrédulos; que companheirismo ou sociedade tem a justiça com a injustiça? E que comunhão tem a luz com as trevas? E que concórdia de Cristo com Belial? Ou que parte tem o crente com o incrédulo? E que acordo há entre o templo de Deus e os ídolos? Porque vós sois o templo do Deus vivo, como Deus disse: Habitarei e andarei entre eles, e serei o seu Deus, E eles serão o meu povo. Pelo que, Sai do meio deles, e apartai-vos, diz o Senhor, E não toqueis nada imundo; E eu vos receberei, e serei para vós Pai, e vós me sereis filhos e filhas, diz o Senhor Todo-poderoso" (2 Coríntios 6: 14-18); e eles buscariam graça dia a dia para acatar a exortação "Se, pois, ressuscitastes com Cristo, buscai as coisas de cima, onde Cristo está assentado à destra de Deus. Pensai nas coisas de cima e não nas da terra. Porque morrestes, e vossa vida está escondida com Cristo em Deus." (Colossenses 3: 1-3).


Creia-me, amados irmãos, que vos saúdo, 

         Afetuosamente em Cristo. 

         Edward Dennett
 
...Continua

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