A IGREJA
DE DEUS
A plena suficiência do nome de Nosso Senhor Jesus
Cristo
Em um tempo como este, quando cada ideia nova vem a
ser quase sempre o centro ou ponto de reunião de alguma nova associação, não
nos é possível deixar de sentir quanto é precioso ter-se convicções divinamente
formadas sobre o que seja realmente a Igreja de Deus. Vivemos em um século de
imensa atividade intelectual, e disto resulta para nós a mais urgente
necessidade de estudar a Palavra de Deus com calma e oração.
Esta palavra, Bendito
seja o seu Autor, é como um rochedo no meio do oceano do pensamento humano, que
permanece imóvel apesar do furor da tempestade e do embate incessante das
águas. E não somente ela persiste inabalável, como também comunica a sua
estabilidade a todos que se firmam singelamente sobre ela. Quanta graça
escapar-se assim do reboliço e dos vai e vem do oceano tempestuoso, e achar a
calma e o repouso sobre a Rocha Eterna (Isa 26:4).
É isto,
verdadeiramente, uma grande graça. Se nós não tivéssemos a “Lei e o [i]Testemunho”,
onde estaríamos? Onde iríamos parar? Que faríamos?
Oh! Que
obscuridade! Que confusão! Que perplexidade! Dez mil vozes discordantes chegam
muitas vezes aos ouvidos, e cada qual parece falar com tamanha autoridade, que,
a não estar o crente bem firmado e bem instruído na Palavra de Deus, haverá
grande perigo de se desencaminhar, ou, pelo menos, de perturbar-se tristemente.
Um vos dirá que
isto está bem; outro vos dirá que aquilo está bem; um terceiro afiançar-vos-á
que tudo está bem; e finalmente, um quarto afirmará que nada está bem. Quanto à
questão de posição eclesiástica, encontrareis cristãos que vão por aqui; outros
que vão por ali; alguns que vão por toda à parte; e alguns ainda, que não vão
por parte nenhuma.
Ora, em tais
circunstâncias, que cumpre fazer? É impossível que tudo esteja bem, e, todavia,
há forçosamente alguma coisa que está bem. Não é possível que sejamos obrigados
a viver no erro, nas trevas, e na incerteza. Bendito seja Deus – “Há uma
vereda, que ignora a ave de rapina e jamais a viram os olhos do falcão; nunca a
pisaram filhos de animais altivos e pela qual nunca passou o leão”. Onde está
este caminho seguro e abençoado? Escutai a resposta divina: “O temor do Senhor
é a sabedoria, e o apartar-se do mal é a inteligência ou entendimento” (JÓ 28:
7, 8, 28).
Assim, pois,
que no temor do Senhor, na luz da sua verdade infalível, e em humilde
dependência do ensino do seu Santo Espírito, procedamos nós ao exame do assunto
indicado na capa deste livro; e que nos seja dado graça para não confiarmos em
nossos próprios pensamentos, nem nos de outrem, a fim de nos submeter
sinceramente e somente ao ensino de Deus.
Ora, para
tratar satisfatoriamente do magno e importante assunto da Igreja de Deus,
cumpre-nos primeiramente estabelecer
um fato; e em segundo lugar, fazer
uma pergunta. O fato é este: Há uma Igreja de Deus sobre a terra. A pergunta é:
O que é esta Igreja?
I.
Vejamos, pois,
primeiramente o fato. Existe sobre a terra certa coisa que se chama, e que
efetivamente é a Igreja de Deus. É este um fato muito importante; seguramente
Deus tem uma igreja aqui sobre a terra. O que entendo por isso, não se refere a
nenhuma organização puramente humana; como seja, por exemplo, a igreja grega, a
igreja romana, a igreja anglicana, a igreja escocesa, os evangélicos, etc. e
nem nenhum dos sistemas derivados delas, formados e arranjados pela mão do
homem, e sustentados pelos recursos do homem. Só tenho em mente a igreja que é
reunida por Deus o Espírito Santo, ao redor da pessoa de Deus Filho, para
adorar a Deus Pai, e ter comunhão com Ele.
Se, porém,
começarmos nossas indagações sobre a Igreja de Deus, ou o que seja a expressão
dela, com um espírito cheio de idéias preconcebidas, de preconceitos, e de
escolha pessoal; ou se, em nossas pesquisas, recorrermos à luz vacilante dos
dogmas, das opiniões e tradições dos homens, então podemos estar perfeitamente
seguros que nunca chegaremos à verdade. Para podermos ver a Igreja de Deus,
cumpre-nos sermos instruídos pela Palavra de Deus unicamente, e guiados pelo
Espírito de Deus; pois, o que foi dito dos filhos de Deus, pode-se dizer também
da Igreja de Deus: “O mundo não a conhece”.
Conseqüentemente,
se nós formos de qualquer maneira que seja, governados pelo espírito do homem;
se o nosso desejo for exaltar o homem; se tivermos em vista nos recomendar a
nós mesmos diante dele; e, sobretudo, se o nosso fim for tocar a meta sedutora
de algum expediente assaz plausível, mas que, ao mesmo tempo, torna-se em
cilada para nossas almas; então podemos
também, desde já, abrir mão das nossas indagações sobre o que seja uma
expressão verdadeira da Igreja de Deus, e ir
buscar o nosso refúgio em qualquer forma de organização humana que mais
recomende aos nossos próprios pensamentos ou as nossas mais íntimas convicções.
De mais, se o
nosso fim for unicamente achar uma associação religiosa onde se lê a Palavra de
Deus, ou onde se achem filhos de Deus, bem depressa poderemos nos satisfazer;
pois seria difícil, na verdade, achar uma secção do corpo professante, aonde
não se pudesse conseguir um ou ambos os fins.
Finalmente, se
tivermos apenas em vista fazer o que pudermos, sem nos importar com o modo
porque o fazemos; se “Justa ou injustamente” e “ a torto e a direita” for o
nosso lema para tudo quanto empreendermos; se acaso já decidimos ler as avessas
às palavras solenes de Samuel, e dizer que: “O sacrifício é melhor que a
obediência, e a gordura de carneiros é melhor que atender”, então é por demais
inútil prosseguirmos nossas investigações sobre a Igreja de Deus, pois que não
é dado descobri-la e aprová-la, senão àqueles que já aprenderam a fugir dos dez
mil lindos trilhos de expedientes humanos, e a sujeitar a sua consciência, seu
coração, sua inteligência, todo seu ser moral a suprema autoridade destas
palavras: “Assim diz o Senhor”.
Em resumo,
pois, o discípulo obediente sabe que existe uma igreja de Deus; e é ele também
quem, pela graça de Deus, estará habilitado a achá-la e a reconhecer o que seja
uma verdadeira expressão dela. Qualquer que estudar inteligentemente as
escrituras descobrirá logo a diferença que há entre um sistema fundado,
formado, e regido pela sabedoria e pela vontade do homem, e esta igreja que é
reunida ao redor do Senhor Jesus Cristo, e por Ele é governada. Que imensa
diferença! É justamente aquela que existe entre Deus e o homem.
Mas talvez haja
alguém que nos peça provas tiradas das escrituras, que comprovam o fato que
sobre a terra existe uma Igreja de Deus. Nós vamos fornecê-las imediatamente,
pois, ser-nos-á permitido dizer, que, sem a autoridade da Palavra de Deus,
todas as afirmações sobre pontos como este, são absolutamente sem valor nenhum.
Que dizem, pois, as escrituras?
Nossa primeira
citação será esta gloriosa passagem de Mateus 16: “Indo Jesus para as bandas de
Cesaréia de Filipe, perguntou a seus discípulos: Quem diz o povo ser o Filho do
Homem? E eles responderam: Uns dizem: João Batista, outros: Elias; e outros:
Jeremias, ou algum dos profetas. Mas vós, continuou Ele, quem dizeis que eu
sou? Respondendo Simão Pedro, disse: Tu és o Cristo, o Filho do Deus vivo.
Então Jesus lhe afirmou: Bem-aventurado és, Simão Barjonas, porque não foi
carne e sangue quem to revelou, mas meu Pai que está nos céus. Também eu te
digo que és Pedro, e sobre esta pedra
(Rocha) edificarei a minha igreja,* [3]e
as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Versos 13-18).
Aqui nosso
Senhor revela o seu desejo de edificar uma igreja, e declara qual é o
verdadeiro fundamento dessa igreja, a saber: “Cristo, o Filho do Deus Vivo”. É
um ponto este de toda a importância para o nosso assunto. O edifício é fundado
sobre o rochedo (petra) e este rochedo não é o pobre Pedro (petros) que pode
falhar, tropeçar, titubear e errar, mas sim o Senhor Jesus Cristo, o eterno
Filho do Deus Vivo. E cada pedra neste edifício participa da vida do rochedo
que é indestrutível pois triunfa sobre
todo o poder do inimigo.
Outrossim, um
pouco mais adiante, no mesmo evangelho de Mateus, chegamos a uma passagem
igualmente bem conhecida: “Se teu irmão
pecar contra ti, vai argüí-lo entre ti e ele só. Se ele te ouvir,
ganhaste a teu irmão. Se, porém, não te ouvir, toma contigo uma ou duas
pessoas, para que, pelo depoimento de duas ou três testemunhas, toda palavra se
estabeleça. E, se ele não os atender, dize-o a igreja; e, se recusar ouvir
também a igreja, considera-o como gentio e publicano. Em verdade vos digo que
tudo o que ligardes na terra terá sido ligado no céu, e tudo o desligardes na
terra terá sido desligado nos céus. Em verdade também vos digo que, se dois dentre vós, sobre a terra,
concordardes a respeito de qualquer coisa
que, porventura, pedirem, ser-lhes-á concedida por meu Pai, que está nos céus.
Porque, onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou no meio
deles” (Mat. 18:15-20).
Teremos ainda ocasião de voltar a esta
passagem na segunda divisão do nosso assunto. Nós a citamos aqui, simplesmente,
como um elo na cadeia de provas que dão as escrituras, quanto ao fato de
existir a Igreja de Deus sobre a terra. Esta igreja não é um simples nome, uma
mera forma, uma pretensão, ou uma suposição. Ela é uma realidade divina – uma
instituição de Deus, de quem tem o selo e a sanção. Pois é coisa para a qual
deve o crente recorrer em todos os casos de ofensas pessoais, e de disputas que
não podem ser ajustadas entre as partes interessadas. Esta igreja pode em
qualquer lugar, consistir apenas de “duas ou três” pessoas – a menor
pluralidade, é verdade; mas apesar disto, ela é reconhecida por Deus, e suas
decisões ratificadas no céu.
Não devemos nos
assustar e recuar ante a verdade atinente a este assunto, porque a igreja de
Roma busca basear suas monstruosas pretensões sobre estas duas passagens que
acabamos de citar. Esta igreja não é a “igreja de Deus”, edificada sobre a
Rocha, que é o Senhor Jesus Cristo, e reunida para o Nome Dele; mas sim uma
apostasia humana, fundada sobre um frágil mortal, e regida pelas tradições e
doutrinas dos homens. Cumpre-nos, pois, não nos deixar despojar da realidade
divina pelas simulações de Satanás. Deus tem sua igreja sobre a terra, e nossa
obrigação é confessar a verdade referente a ela e tornar-nos dela, uma
verdadeira expressão prática. Será isto assaz difícil em um tempo de confusão
como o presente? Será necessário para isto, ter singeleza de alma – vontade
submissa – espírito contrito. Mas fique certo o leitor, que é seu privilégio
ter uma certeza divina do que seja a verdadeira expressão da Igreja de Deus,
tanto quanto do que se refere à verdade da sua própria salvação pelo sangue do
Cordeiro; e não deve estar satisfeito sem isso. Quanto a mim, não estaria
jamais contente de viver uma hora sequer, sem a segurança de que sou em
espírito e em principio, associado com aqueles que se reúnem sob os princípios
da Igreja de Deus. Digo em espírito e em principio; porque poderia dar-se o
caso de achar-me em lugar onde não houvesse nenhuma expressão local da igreja;
neste caso teria de manter-me em comunhão, em espírito, com todos aqueles que
mantêm os princípios da “Igreja de Deus”, e aguardar que Ele me guiasse os
passos de tal sorte que pudesse gozar do privilégio real de estar presente, em
pessoa, para participar das bênçãos da sua igreja e partilhar as santas
obrigações dela.
Eis aqui o que
torna a questão assaz simples. Se não for possível achar uma verdadeira
expressão da Igreja de Deus, então também preferiria antes não ter nada
absolutamente. Não basta que se me aponte para alguma comunidade religiosa,
onde haja alguns cristãos, com o evangelho pregado, e as ordenações
administradas. É necessário também me convencer, pela autoridade da palavra e
do Espírito de Deus, que essa congregação se reúne deveras sob os princípios da
Igreja de Deus, e que dela tem todos os traços característicos; doutro modo,
não a posso reconhecer. Posso reconhecer sim os filhos de Deus que estão nela,
se quiserem me permitir, fora das barreiras do seu sistema religioso; mas esse
sistema não posso reconhecer, nem sancioná-lo de modo nenhum. Se o fizesse,
seria absolutamente como se afirmasse que me é inteiramente indiferente apoiar
os princípios da Igreja de Deus, ou os de sistemas humanos – reconhecer o
senhorio do Senhor Jesus Cristo, ou a autoridade dos homens – curvar-me a
Palavra de Deus, ou a opiniões dos homens.
Sem dúvida isto
vai ofender a muitos. Falarão de hipocrisia, de prevenções, de devoção exagerada,
de intolerância e outras coisas semelhantes; mas nem por isso devemos
esmorecer. O que nos cumpre fazer é descobrir a verdade atinente a Igreja de
Deus, e aderir á ela de coração, com energia, e á todo o transe. Se Deus tem
efetivamente uma Igreja - e as Escrituras dizem - então é meu dever estar no
meio daqueles que sustentam os princípios dela, e em mais parte nenhuma. É
evidente, e todos devem concordar que onde há muitos sistemas em conflito, não
podem todos ser divinos. Que devo eu fazer? Devo me contentar em escolher entre
dois males o menor? De certo que não. Que fazer, pois? A resposta é simples,
clara e positiva - ou os princípios da Igreja de Deus, ou então nada. Se houver
uma expressão local desta Igreja, bem; comparecei pessoalmente. Senão,
contentai-vos de estar em comunhão espiritual com todos, que humilde e
fielmente confessam e mantêm esta santa posição. Pode parecer liberalismo a
disposição de sancionar e de tolerar a tudo e a todos. Também pode parecer muito
fácil e muito agradável estar em qualquer lugar onde a vontade de cada um tenha
plena liberdade, e onde a consciência de nenhuma pessoa seja posta em exercício
- onde pudermos conservar tudo que nos agrada, dizer o que nos agrada, fazer o
que nos agrada, ir onde nos agrada; tudo isso pode parecer mui deleitável - mui
plausível- mui popular - mui simpático; mas afinal haverá esterilidade e
amargura; e, no "dia do Senhor", tudo isso há de ser infalivelmente
queimado como mera "madeira, feno e palha" - que efetivamente é - e
que não poderá resistir á ação do seu juízo.
Mas prossigamos
em nossas provas tiradas das escrituras sagradas. Nos atos dos apóstolos, ou
para melhor dizer, nos atos do Espírito Santo, vemos a Igreja formalmente
estabelecida. Bastarão apenas uma ou duas passagens: "E, perseverando
unânimes todos os dias no Templo, e partindo (klonte's, i. e. quebrando) o pão
em casa,comiam juntos com alegria e singeleza
de coração, louvando a Deus, e caindo na graça de todo o povo. E todos
os dias acrescentava o Senhor a igreja aqueles que haviam de salvar (Atos 2:
46,47). Eis ai a primitiva e simples ordem apostólica. Quando uma pessoa era
convertida, tomava seu lugar na Igreja; não havia nenhuma dificuldade em
admiti-la; não havia nem seitas nem partidos, cada qual com pretensões a ser
considerado como uma igreja, ou como constituindo uma causa ou um interesse
particular. Não havia senão uma única coisa,
e esta, era a Igreja de Deus, onde Ele habitava, agia, e governava. Não era
nenhum sistema formado ao bel prazer, ao juízo, ou mesmo á consciência do
homem. O homem não havia ainda empreendido a tarefa de fazer "igrejas”.
Era puramente obra de Deus. Era exclusivamente da jurisdição e prerrogativa de
Deus, quer reunir os salvos, quer salvar os desgarrados*. [4]
É lícito perguntar: Porque será isto
diferente hoje? Porque hão de os regenerados buscar alguma coisa aparte ou
diferente da igreja de Deus? Não basta estar na Igreja de Deus? De certo que
sim. Porventura devem eles se contentar
com outra coisa qualquer? Seguramente
que não. Nós repetimos enfaticamente: Ou isso ou nada. É verdade, infelizmente,
que a queda, a ruína, e a apostasia se têm manifestado no correr dos séculos. A
sabedoria do homem, e a sua vontade, ou ainda mesmo a sua razão, seu juízo e
sua consciência, tem mexido muito com os negócios eclesiásticos, e seus tristes
resultados se patenteiam aos nossos olhos nas seitas e nos partidos sem conta,
que se multiplicam em toda a parte. Entretanto, nós ousamos dizer, que a base
primitiva da Igreja, continua a ser ainda hoje a base da Igreja, apesar de toda
a decadência, erro e confusão que prevalecem. A dificuldade de se chegar ao
conhecimento prático da igreja pode ser grande; mas, uma vez alcançada, a sua
realidade é inalterada e inalterável. No tempo dos Apóstolos, a igreja
destacava-se destemidamente da região tenebrosa do judaísmo de um lado, e do
paganismo do outro. Era impossível confundi-la com coisa alguma; lá estava ela,
como uma magnífica realidade.
Uma companhia
de homens vivos, reunidos, governados, e dirigidos, por Deus o Espírito Santo,
que neles, habitava, de sorte que vendo-os algum incrédulo, ou ignorante, era
de todos convencidos, e obrigado a confessar que Deus estava ali. (Leia atentamente (I Cor. 12 e 14)).
Assim, no Evangelho, nosso Senhor anuncia o
seu propósito de edificar uma Igreja. A historia desta Igreja, nós a lemos nos
Atos dos Apóstolos. Posteriormente, quando passamos ás Epistola de Paulo,
vemo-lo dirigir-se á Igreja em 7 lugares distintos, a saber: Em Roma, Corinto,
Galácia, Éfeso, Filipos, Colossos, e em Tessalônica; e, finalmente, no
preâmbulo do Livro do Apocalipse, temos epístolas a sete igrejas distintas.
Ora, em todos estes lugares, a igreja de Deus era uma coisa evidente, palpável,
real, estabelecida e mantida por Deus mesmo. Não era nenhuma organização
humana, mas sim, uma instituição divina – um testemunho – uma lâmpada acesa por
Deus em cada lugar.
Eis aí outras
tantas provas tiradas das escrituras, do fato que Deus tem sobre a terra uma
igreja reunida, habitada e governada pelo Espírito Santo. O qual é o único e
verdadeiro, vigário de Cristo sobre a terra.
O evangelho anuncia profeticamente esta
igreja; e as epístolas dirigem-se, formalmente, a esta igreja. Tudo isto é
claro. E se ela está hoje em dia toda dividida, cumpre-nos então reunir sob o principio
desta única igreja de Deus, e dela tornarem-nos uma verdadeira expressão.
Tenha-se o
cuidado de notar que, sobre este assunto, não queremos ouvir senão a voz das
escrituras sagradas. Não fale a razão, porque aqui não a reconhecemos. Não erga
a tradição a sua voz, porque não lhe damos o mínimo valor. Tampouco não
intervenham as conveniências, ou os expedientes, pois não nos merece nenhuma
atenção. Nós acreditamos na plena suficiência das escrituras sagradas; elas
bastam para tornar o homem de Deus perfeito e completo, e instruí-lo para toda
boa obra (II Tim. 3: 16,17). A palavra de Deus ou é suficiente, ou não é. Nós
a cremos amplamente suficiente para tudo quanto for
necessário a igreja de Deus. Não pode ser de outra maneira, se Deus é o seu
autor. De duas uma, ou havemos de negar-lhe a divina inspiração, ou havemos de
admitir a suficiência dá Bíblia, Não há meio termo aqui; E impossível que Deus
tenha escrito um livro insuficiente, imperfeito.
É este um gravíssimo principio, em conexão com
o nosso assunto. Muitos escritores protestantes têm atacado o Papismo,
sustentado com toda razão, a suficiência e autoridade da Bíblia; mas é por
demais claro que eles se acham sempre embaraçados quando os seus adversários
pedem uma prova tirada das, Escrituras em apoio de muitas práticas sancionadas,
e adotadas pelas congregações
protestantes. Há, com efeito, muitas coisas aceitas e praticadas nas diversas comunidades protestantes; que não têm
sanção da palavra; e quando
acontece os astutos e inteligentes defensores do Papismo chamar atenção
para esses fatos, e perguntar sobre que autoridade bíblica se fundam tais praticas, a fraqueza do mero
protestantismo tem sido posta em evidência de um modo notável. Se nós admitirmos, por um só instante que,
sobre certos pontos, temos necessidade de recorrer à tradição e a conveniência,
quem é então que lhes há de demarcar os limites? Se for lícito, em qualquer
coisa, nos apartar das Escrituras, até onde ser-nos-á permitido ir? Se a autoridade
da tradição for admitida de qualquer forma, quem é que há de determinar sua
extensão? Se abandonarmos o caminho estreito e bem trançado da revelação
divina, e nos lançarmos dentro do vasto e emaranhado campo da tradição humana,
acaso não terá o homem, assim como outro qualquer, o direito de nele escolher o
que bem lhe parecer? Em resumo, é impossível fazer face aos aderentes do
catolicismo romano sobre qualquer outro terreno que não seja aquele sobre o
qual se firma a igreja de Deus, Isto é, a plena suficiência da Palavra de Deus,
do nome do Senhor Jesus Cristo, e do poder do Espírito Santo. Tal é bendito
seja Deus, a posição inexpugnável ocupada pela Sua Igreja; e, por mais fraca e
desprezível que aos olhos do mundo possa ser qualquer expressão desta Igreja;
nós sabemos, porque o Senhor Jesus nos disse, "que as portas do inferno
não prevalecerão contra ela”.Essas portas prevalecerão sim, contra todo e
qualquer sistema humano - contra todas as corporações e associações que os
homens têm levantado; E nunca, até hoje, tem este triunfo do inferno se
patenteado mais horrivelmente do que no seio da própria igreja romana, apesar
da presunção atrevida com que ela arroga para si esta declaração do nosso
Senhor, como o baluarte da sua força. Nada pode resistir ao poder das
"portas do inferno" senão a Igreja que é edificada sobre a “Pedra
viva”; e a expressão local desta igreja pode ser dois ou três reunidos para o
nome do Senhor Jesus Cristo - por pobre, frágil, e desprezível que seja esse
mero punhado aos olhos do mundo.
Necessitamos estarmos bem esclarecidos e
decididos sobre este ponto. A promessa de Cristo não pode jamais falhar.
Bendito seja o seu Nome, Ele reduziu até o ponto mais baixo a que era possível
reduzir a sua Igreja, ao numero "dois". Oh! Como é misericordioso!
Como é terno e atencioso! É isso semelhante a Si próprio! Ele liga toda a
dignidade, todo o valor, toda a eficácia e merecimento do seu divino Nome
imortal, a um obscuro e insignificante punhado de gente reunida ao redor de si.
Deve ser bem evidente ao entendimento espiritual, que, quando o Senhor Jesus
falava desses “dois ou três”, não tinha em mente nenhum dos gigantescos
sistemas, que desde os séculos remotos
da idade média, e nos dias de hoje, tem surgido no oriente e no ocidente, contando
seus aderentes e seus defensores, não por dois ou três, mas por reinos,
províncias de paróquias. É bem claro que um reino batizado, e dois ou três
crentes verdadeiros, reunidos para o Nome do Senhor Jesus, não significam, e
não podem significar a mesma coisa. A cristandade batizada é uma coisa, a
igreja de Deus é outra. Resta-nos ainda explicar o que seja esta última; por
ora nos limitamos a afirmar que elas não são, nem podem jamais ser, a mesma
coisa. Constantemente elas têm sido confundidas, apesar de que, na realidade
não existem duas coisas que possam ser mais absolutamente distintas uma da
outra. *[5]
Para sabermos a figura debaixo da qual Cristo
apresenta o mundo batizado, basta contemplar apenas - “o fermento” – e o “grão
de mostarda tornado em uma árvore”, de Mateus 13. O primeiro nos mostra o
caráter interno e o último o caráter externo do “Reino dos Céus”, o qual, em
sua origem; foi estabelecido na verdade e na pureza - uma coisa bem real
seguramente, posto que pequena, mas que, pela astúcia de Satanás, tornou-se
interiormente uma massa corrompida, embora que do exteriormente ostente-se como
coisa imponente, gigantesca, faustosa e popular sobre a terra, reunindo toda e
qualquer sorte de gente debaixo da sombra seu patronato. Tal é a simples, mas
também a mui solene lição que ao entendimento espiritual, ensinam "o
fermento" e "a arvore de mostrada" em Mateus 13.
E nós acrescentaremos que desta lição bem compreendida,
resultará a capacidade de diferençar-se entre o "Reino dos Céus" e «a
Igreja de Deus». O primeiro pode ser comparado com um largo brejo, e a última
com um fio de água cristalina atravessando o brejo, em perigo constante de
perder seu caráter distintivo assim como sua própria direção, misturando-se com
as águas Impuras que o cercam de todos os lados. Confundir as duas coisas é
desfechar golpe mortal sobre toda piedosa disciplina, e, por conseguinte, sobre
a pureza também da igreja de Deus. Se o Reino e a igreja significam uma só e a
mesma coisa; como deveremos então fazer em casos semelhantes ao "desse
iníquo" de I Cor. 5? O apóstolo nos manda que "o tiremos para
fora". Onde, porém, havemos de colocá-lo?
Nosso Senhor, Ele mesmo, nos diz claramente em Mateus 13: 38 que "o
campo é mundo", e também em João 17: 14. 16. Ele declara que os seus
"não são do mundo”, e isto torna tudo bem claro.
Mas, apesar
desta declaração bem positiva do Nosso Senhor, dizem os homens, que o "campo" é a Igreja, e que o “joio” e o «bom grão» - os ímpios
e os justos — devem crescer ai juntamente, e que, de maneira alguma, devem ser
separados. Eis ai como se põe o claro e positivo ensino de Deus o Espírito
Santo, em 1 Cor. 5, em oposição aberta ao ensino igualmente claro e positivo de
Nosso Senhor Jesus em Mateus 13; e tudo
isto resulta do propósito de confundir duas cousas inteiramente distintas, que
são: «o Reino dos Céus» a «a Igreja de Deus».
O fim que nos
propomos neste escrito, não nos permite dar maior desenvolvimento ao assunto
assaz interessante do «Reino dos Céus. » — Basta, porém, o que fica dito; se o leitor
houver-se convencido da imensa importância de diferenciar perfeitamente
o«Reino» da «Igreja». Nós vamos agora examinar o que seja esta última, e que o
divino Espírito Santo seja o nosso Guia.
II.
Tratando
da questão atinente a Igreja de Deus, daremos clareza e precisão aos nossos
pensamentos; considerando os quatro pontos seguintes, a saber:
Primeiramente, qual é o material de que se compõe a Igreja?
Em segundo Lugar; qual é o centro ao redor do qual a Igreja se reúne?
Em terceiro lugar, qual é o poder, pelo
qual, a Igreja se reúne?
Em quarto lugar, qual é a autoridade pela qual a Igreja se reúne?
1- Primeiramente, então, quanto ao material de que se compõe a Igreja de Deus; e, em uma
palavra, de todos que já estão de posse de salvação, ou vida eterna.
Não entramos para a da
igreja a fim de nos salvar, mas sim como
aqueles que já estão salvos. A palavra é: "Sobre esta Rocha eu
edificarei a minha Igreja”.Não diz: “Sobre a minha Igreja eu edificarei a
salvação das almas”. Um dos dogmas mais jactanciosos de Roma a este:
"Fora da verdadeira Igreja não há salvação". Sim, é verdade; mas podemos
ir ainda mais longe e dizer, “Fora da verdadeira Rocha não há Igrejas”. Retirai o verdadeiro "Rochedo", e não
tendes senão um sistema sem alicerces, cheio de erro e de corrupção.
Que miserável engano, cuidar alguém poder salvar-se com isso. Graças a
Deus, assim não é. Não
vamos ter a Cristo por meio da Igreja, mas sim a Igreja por meio de Cristo. Inverter esta
ordem é deslocar Cristo inteiramente, e, portanto; não ter nem a
"Rocha", nem a Igreja, nem salvação. Primeiro é mister ter o Senhor
Jesus Cristo como nosso Salvador vivificante, antes de termos que ver de alguma
maneira, com a Igreja; e daí segue-se,
que nós poderíamos possuir a vida eterna e gozar plenamente de salvação, quer
houvesse ou não, uma Igreja de Deus
sobre a terra.*[6]
Em um tempo como este em que as pretensões clericais se erguem tão
altaneiras torna-se imprescindível apreendermos esta verdade em toda
sua singeleza. A igreja falsamente assim chamada abre seu seio com uma
ternura sedutora, e convida pobres almas atribuladas pelo pecado, fatigadas do mundo, a acabrunhadas,
a buscar nela o seu refugio. Com astuciosa liberalidade abre as portas dos seus
tesouros e põe-nos a disposição dessas pobres ansiosas, e angustiadas almas. E
estes recursos são, na verdade, um poderoso atrativo para
aqueles que não estão sobre "a Rocha". Há ali um sacerdócio
ordenado, que pretende reportar-se até os Apóstolos por meio de uma
sucessão direta e sem interrupção. Mas, ah! Como diferem as duas extremidades
desta linha! Há ali um sacrifício continuo! Um sacrifício incruento, «sem
efusão de sangue», e por conseqüência, sem nenhum valor. (Heb. 9. 22). Há ali
um esplêndido ritual. Mas, ah! Tira sua origem das sombras de uma época que se
foi - sombras que foram para sempre substituídas pela própria Pessoa, pela
obra; e pelos ofícios, do Filho de Deus. Para sempre seja adorado Seu Santo
Nome sem igual
Tem o crente
uma resposta mui concludente a todas as pretensões e promessas do sistema
Romano. Pode afirmar que achou tudo em um Salvador crucificado e ressuscitado.
Que precisão tem ele do sacrifício da missa? Ele está lavado no sangue de
Cristo. Que precisão tem ele de um pobre
padre pecador e mortal, que não pode salvar-se a si próprio? Ele tem o Filho do
Deus Vivo por seu sacerdote. Que lhe importa um pomposo ritual com todos os
seus imponentes acessórios? Ele presta seu culto
em espírito e em verdade, no interior do Santuário Celeste,
onde ele entra com toda segurança pelo sangue de Jesus.
E não é só com o catolicismo romano que temos de
haver, para estabelecer o nosso primeiro ponto.
Tememos que haja fora dele, milhares que
em seus: corações apóiam-se sobre a Igreja com o fim de conseguir, senão a
salvação, pelo menos o primeiro degrau na subida que a ela vai ter. Daí resulta para todos a maior necessidade de
bem compreender, que o material
de que se compõe a Igreja de Deus, é de todos que já estão de posse da salvação ou vida eterna; de sorte que,
qualquer que seja a função da Igreja de
Deus na terra, não é certamente a de prover
salvação a seus membros,
pois que todos os seus
membros já estão salvos antes de
transpor o seu limiar.
A Igreja de Deus é uma casa
cheia de livramento desde uma extremidade
até a outra. Bendita estância! Ela não é nenhuma oficina montada para fornecer salvação aos pecadores, nem tampouco para prover as suas necessidades religiosas. É sim um corpo vivente, salvo, e reunido pelo Espírito Santo, “para que
a multiforme sabedoria de Deus seja
patenteada, pela Igreja; aos principados
e potestades nos céus”, e para fazer saber a todo o universo,
a plena suficiência do Nome do Nosso Senhor Jesus Cristo.
Ora,
o maior inimigo
do Senhor Jesus Cristo e da Igreja, sabe perfeitamente
bem que magno e possante testemunho
está a Igreja de Deus destinada e incumbida de prestar sobre a terra; tal e a razão porque ele desencadeia toda sua energia infernal para esmagar este testemunho a todo transe. Ele odeia
o nome do Senhor Jesus Cristo, e tudo quanto tende a glorificar este Nome. Daí procede a sua ardente oposição
a Igreja, como um todo, e a cada expressão local da mesma, em qualquer
lugar que posse existir. Ele não faz objeção contra um simples
estabelecimento religioso montado com o fim de
prover as meras necessidades religiosas
do homem, quer seja sustentado pelo tesouro público, quer por donativos voluntários. Ele vos permitirá montar o que quiserdes. Podeis vos
associar ao que quiserdes; podeis ser o que quiserdes; tudo, seja lá o que for,
é indiferente a Satanás, exceto unicamente a Igreja de Deus, ou qualquer expressão pratica
dela; pois é isso o que ele aborrece de todo seu coração, e buscará, por todos
os meios a seu alcance, difamar e arruinar. Mas estas palavras
consoladoras de Cristo, o Senhor, tocam com força divina o ouvido da fé: “Sobre
esta Rocha Eu edificarei a minha Igreja; e as portas do inferno não
prevalecerão contra ela”.
2-Isto nos conduz
naturalmente ao nosso segundo ponto, a saber: Qual é o centro ao
redor do qual se reúne a Igreja de Deus? O centro é Cristo - a “Pedra viva” conforme lemos na 1ª Epístola de Pedro: “Chegai-vos para Ele, como para
a Pedra viva, que os homens tinham sim rejeitado,
mas que Deus escolheu, e honrou, também sobre ela, vós mesmos, como pedras
vivas, sois edificados casa espiritual e sacerdócio Santo; para oferecerdes
sacrifícios espirituais, que sejam
aceitos a Deus por Jesus Cristo”. (I Pe 2: 4, 5.)
É, pois, ao redor da
Pessoa do Cristo vivo, que a Igreja de Deus se reúne. Não é ao redor de nenhuma doutrina — por mais correta e
verdadeira que seja; nem ao redor de nenhum preceito por mais
profundo que seja; mas é, sim, ao
redor de uma Divina Pessoa viva. É de todo mister nos compenetrarmos bem claramente
deste ponto cardeal e vital, e conservá-lo tenazmente, e fiel e constantemente
confessá-lo e pô-lo em prática. “Chegai-vos para Ele”. Não diz: «Chegai-vos para um sistema, um dogma; ou um preceito». Nós não nos
chegamos para coisa nenhuma; mas,
sim, para uma Pessoa. “Saiamos,
pois a ele” (Heb. 13:
13). O Espírito Santo nos conduz unicamente
à
Jesus Cristo, nada aproveitará que não seja Ele. Podemos
falar de nos unir a uma igreja, de nos tornar membros de uma congregação, de nos ligar a um partido, a
uma causa ou a um interesse. Todas estas expressões tendem a obscurecer, a
confundir o entendimento, e a ocultar aos
nossos olhos a idéia
divina da Igreja de Deus. Não temos o direito de nos unir a coisa nenhuma.
Quando Deus nos converteu, Ele nos uniu ao mesmo tempo, pelo seu Santo
Espírito, a Cristo; e isto deve bastar-nos. Cristo e o único
centro da Igreja de Deus.
E,
perguntamos nós, não é Ele suficiente? Porventura não nos é muito bastante
ser “unidos ao Senhor?” (1 Cor. 6: 17). Para que acrescentar Lhe mais coisa
alguma? “Onde, dois ou três estiverem reunidos para o meu nome, ai estarei Eu no meio deles" (Matheus 18. 20). Que nos será mais preciso? Se Nosso Senhor Jesus
Cristo esta no meio de nós, porque lembrar-nos de levantar na Igreja de Deus um
presidente humano? Porque não havemos de nos curvar unanimemente
e de todo nosso coração em Sua presença, e de nos submeter humildemente a Ele
em todas as coisas? Para que criar autoridades humanas, sob qualquer forma, na
casa de Deus ? Mas é isto justamente o
que se faz em toda parte do mundo, e, pois, cumpre falar claro a tal respeito.
O homem põe-se a testa daquilo que se
diz ser uma Igreja de Deus. Vemos a autoridade humana exercida nesta esfera
onde só a autoridade divina deveria ser reconhecida. Quanto ao princípio
fundamental que aí se encerra, pouco importa que seja um papa, um
pastor, um padre, ou um presidente. É o homem estabelecido no lugar que só ao
Senhor Jesus Cristo compete. Pode ser ele o papa nomeando um cardeal, ,núncio,
ou bispo, para sua esfera de ação; ou pode ser ele o presidente de uma congregação
designando alguém para exortar ou fazer oração durante dez minutos. 0 principio
é um e o mesmo. É a autoridade humana ingerindo-se e atuando na esfera onde só
a autoridade de Deus deveria ser reconhecida. Se Cristo está no meio de nós,
então podemos contar com Ele para tudo que for preciso.
Dizendo isto,
prevemos uma objeção assaz provável de parte dos defensores da autoridade
humana: «Como», dirão eles, «pode uma Igreja existir sem alguma presidência
humana? Não daria isto, lugar para toda sorte de confusão e de desordem? Não
abriria isto espaço para que qualquer pessoa; sem nenhum dom, se intrometer
incompetentemente na Igreja? Não se viriam indivíduos levantando-se a cada
momento atormentando-nos a paciência e os ouvidos com vãos discursos e com fatigantes
palavras vãs?»
Nossa resposta
é muito simples: O Senhor Jesus Cristo é suficiente para tudo. Podemos contar
com Ele para manter a ordem na casa de Deus. Nós nos julgamos muito mais
garantidos e resguardados em suas benditas e onipotentes mãos, do que nas mãos
de qualquer presidente humano, por mais simpático e experimentado que ele seja.
Temos todos os dons espirituais acumulados no Senhor Jesus Cristo. Ele é a
única fonte de toda a autoridade e de todo o ministério, “Ele tem na mão as
sete estrelas”. Confiemos só nele; pois Ele providenciará acerca da ordem na
Igreja, tão perfeitamente como no caso da salvação de nossas almas. É esta
justamente a razão porque, no título deste livro, acrescentamos as palavras, “A
plena suficiência do Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo”, a estas outras, “A
Igreja de Deus”. Cremos que o Nome do Senhor Jesus Cristo seja deveras
suficiente, não somente para a salvação pessoal, mas também para todas as
necessidades da Igreja - para o culto, a comunhão, o ministério, a disciplina,
o governo, em uma palavra, para tudo. Tendo a Ele, temos tudo em abundância.
É
este o âmago
verdadeiro o ponto cardeal, de todo o nosso assunto. Nosso único fim é exaltar o Nome do Senhor Jesus Cristo; e acreditamos haver Ele sido
desonrado por aquilo mesmo que se intitula casa de Deus. Os homens o
destituíram do seu cargo, e calcaram aos pés a Sua autoridade. Em vão Ele dispensa um dom para o ministério; o
possuidor desse dom não se atreve a
exercê-lo sem a sanção e sem o selo e a autorização dos homens. E não é só isto o que acontece; mas, também, se os homens entendem que devem por seu selo, e dar sua sanção e sua
autorização a qualquer individuo sem um átomo de dons, sim, e até mesmo de vida
espiritual — é ele, todavia, reconhecido como
ministro. Enfim, a autoridade humana
sem nenhum dom do Senhor Jesus Cristo, basta para fazer de qualquer homem um
ministro; ao passo que um dom do Senhor Jesus Cristo
sem a autoridade humana, não o faz. Se isto não é uma desonra feita ao Senhor Jesus Cristo, que outra coisa será?
Leitor
cristão! Parai aqui e pesai seriamente este princípio da autoridade humana.
Confessamos o nosso grande desejo que
aprofundeis ate a raiz, e que o julgueis a
luz das Escrituras Sagradas e da presença_ de Deus. Este princípio, sede
convicto, é o magno ponto de distinção
entre o princípio da Igreja de Deus e
de todos os sistemas humanos de religião, que
existem debaixo do sol. Se examinardes_ todos esses sistemas, desde o
catolicismo romano até a mais depurada forma de associação religiosa, só
achareis a autoridade humana reconhecida e exigida. Com ela, ser-vos-á licito
ministrar; sem ela, porém não podereis.
Na Igreja de Deus, pelo contrário, só o dom de Cristo é que faz
de um homem um ministro, independentemente de toda a autorização
humana. «Não pelos homens nem por meio de homem algum, mas por
Jesus Cristo e Deus o Pai que o ressuscitou de entre os mortos. (G’al. 1. 1.) Eis aí o magno principio do ministério
no seio da Igreja de Deus.
Ora,
classificando nós o catolicismo romano juntamente com todos os demais sistemas
religiosos que existem hoje em dia, cumpre-nos também declarar mui
positivamente, uma vez por todas, que o fazemos tão somente quanto ao que
respeita o princípio da autoridade ministerial. Deus nos defenda de jamais querer
equiparar um sistema que exclui a Palavra de
Deus, e ensina a idolatria, o culto dos santos, e dos anjos, e uma massa de erros
e de superstições mais grosseiras e abomináveis, com aqueles outros onde a Palavra
de Deus é acatada, e aonde se propalam, mais ou menos, as
verdades das Sagradas Escrituras. Nada pode estar mais longe de nossos
pensamentos. Acreditamos que, como sistema de religião, é o papismo
a obra prima de Satanás, muito embora tenha havido, e talvez haja ainda, muitos
filhos de Deus emaranhados dentro dele.
Também
cumpre aqui declarar mui explicitamente, que acreditamos haver filhos de Deus
em todas as inúmeras comunidades e congregações protestantes, seja como
ministros, seja como simples fiéis; e que o Senhor os emprega de muitas maneiras
— abençoando-lhes também as suas obras, os seus serviços e o testemunho pessoal
deles.
Enfim,
entendemos dever declarar também, que não queremos mover um dedo sequer para
tocar nenhum destes sistemas. Não é com os sistemas que queremos nos ocupar. O Senhor ocupar-se-á com eles. O
nosso interesse é unicamente com os santos, os
filhos de Deus, dentro desses sistemas, procurando libertá-los dos mesmos por todos os meios espirituais e pela influência das Escrituras, e
excitá-los a por em pratica os princípios divinos da Igreja de Deus.
Digo
isto, no intuito de prevenir contra todo e qualquer engano; tornaremos com maior energia ao nosso ponto, a saber: que o principio da
autoridade humana faz parte, sem exceção alguma, de todos os sistemas
religiosos na cristandade, e que, em boa verdade, não há, nem se pode admitir
que haja, nenhuma posição sustentável no espaço que existe entre a igreja romana e uma verdadeira expressão da Igreja
de Deus. Acreditamos que uma alma que busca sinceramente a verdade, saindo das
trevas do Papismo, não pode descansar até achar-se na clara e abençoada luz que
alumia toda verdadeira expressão da Igreja de Deus. Gastaria talvez anos a
percorrer o. espaço intermediário. Seus passos serão lentos: e bem medidos;
mas, se ela somente seguir a luz em toda simplicidade e pura sinceridade, não
achará jamais descanso entre aqueles dois extremos. 0 terreno da Igreja de Deus
é o único verdadeiro ponto de reunião de todos os filhos de Deus. Ah! Eles não
estão todos aí; certamente com prejuízo seu, e desonra do seu Senhor. Eles
deveriam estar nesse terreno, não somente porque Deus aí está, mas porque
somente é aí que se lhe concede governar e atuar.
Este motivo é de tanto mais importância quanto
se pode dizer verdadeiramente: «Então não está Deus em toda parte? Acaso não
obra Ele em vários lugares?» Pois não; Ele está em toda parte, e obra
seguramente no meio do erro e do mal o mais palpável. Mas nos sistemas dos
homens, não lhe é concedido governar nem atuar, visto que a autoridade do homem
é neles realmente suprema, como já demonstramos. Demais se o fato de converter
a Deus e abençoar almas em um sistema qualquer, é razão; para estarmos nele,
então também poderíamos estar na igreja romana. Pois quantos não há que
efetivamente foram convertidos e abençoados nesse horrível sistema? Quem prova
demasiado não prove nada; e, portanto, não se pode basear nenhum argumento
sobre o fato que Deus opera em todo e qualquer lugar que for do seu agrado. Ele
é soberano, e pode obrar onde Lhe apraz. Quanto a nós, porem, cumpre
sujeitar-nos a Sua autoridade, e trabalhar unicamente onde Ele nos ordenar. O
meu Senhor pode ir onde lhe agrada; mas, quanto a mim, seu servo, só devo ir
onde Ele me mandar que vá.
Mas perguntará
alguém: Não pode bem acontecer que homens incompetentes se infiltrem no
ministério na Igreja de Deus? E em tal caso, onde esta a diferença entre esta
Igreja e os sistemas dos homens? Nós responderemos: seguramente este perigo
existe. Mas então, semelhante acontecimento seria a despeito, e jamais em
virtude, do princípio que sustentamos. Eis aí toda a diferença. Ah! Temos, algumas vezes, presenciado erros e
faltas que bem podem nos humilhar.
Ninguém pense
que, pugnando pela verdade atinente a Igreja de Deus, ignoramos ou nos tenhamos
esquecido dos perigos e das provas a que estão expostos todos que a praticam
sinceramente. Bem longe de nós isso: ninguém pode ter passado vinte e oito anos
sobre este terreno, como nós, sem haver-se compenetrado da dificuldade de mantê-lo.
Mas então, esses mesmos perigos e dificuldades, tornam-se para nós outras
tantas provas - bem penosas pedem ser - mas, por isso mesmo provas certas da
verdadeira da posição que sustentamos, e, quando mesmo não houvesse outro
remédio senão o apelo para a autoridade humana – colocando-se ou erguendo-se um
homem no lugar do Senhor Jesus Cristo – o regresso aos sistemas humanos, nós
não havíamos de hesitar em declarar que o remédio era, sem comparação, pior do que o mal.
Mas, bendito
seja Deus, há um remédio. Qual é ele? «Eu estarei no meio deles». É quanto
basta. Não diz: “Há um papa, um padre, um ministro, um pastor, ou um
presidente, no meio deles, a testa deles, na tribuna, ou no púlpito”. De tal
coisa não se fala desde o principio ate o fim do Novo Testamento. Até mesmo na
Igreja de Corinto, onde reinavam grande confusão e as mais graves desordens, o
apóstolo inspirado não sugere jamais tal coisa como fosse um presidente humano,
sob qualquer titulo que seja. Deus é o autor da paz em todas as Igrejas dos
Santos. (1 Cor. 14: 33). Deus lá estava para manter a ordem. Para Ele é que
devia se recorrer, e não para um homem, sob pretexto nenhum. Estabelecer um
homem para manter a ordem na Igreja de Deus, é pura incredulidade, é um insulto
manifesto a Presença Divina.
Têm-se-nos pedido
muitas vezes, citações das Escrituras em apoio da idéia de uma presidência
divina na Igreja. A isto respondemos logo “Eu estarei no meio deles” e “Deus
não é um Deus de desordem”. Sobre estas
duas magnas bases, quando mesmo não houvesse ainda outras, podemos fundar a
gloriosa verdade da presidência divina - verdade essa que a todos que a recebem
e aceitam-na de Deus, há de forçosamente libertá-los de todos os sistemas humanos,
sejam quais forem os nomes que sejam chamados. É impossível, quanto a nós,
reconhecer Cristo coma o centro e o soberano Chefe na Igreja, e ainda persistir
em sancionar e apoiar a presidência humana.
Uma vez
saboreada a doçura de estarmos submissos a Cristo, nunca mais podemos tornar a
nos colocar debaixo do jugo servil do homem. Não a isto nenhuma insubordinação,
nem tampouco intolerância de governo. É, sim, a recusa absoluta de jamais nos
inclinar ante uma falsa autoridade - de sancionar uma iníqua usurpação. Assim
que vemos o homem usurpar qualquer autoridade naquilo que se diz Igreja, perguntamos
simplesmente: «Quem sois vós? E nos retiramos para uma esfera onde só Deus é
reconhecido.
Mas, também
dir-nos-ão: Há erros, há males e abusos, mesmo nesta esfera. Sem dúvida; mas também se os há, temos Deus para
corrigi-los e para remediá-los. Daí resulta que, se uma igreja for perturbada
por quaisquer intrusos insensatos e ignorantes - por homens que ainda estão por
se pesar na presença de Deus — por homens ousados que, desprezando o, senso
comum e transpondo todas as conveniências e a decência moral, tomam parte no
culto, etc. e cuidam, todavia haver sido guiados pelo Espírito Santo - por
homens inquietos, que querem por força fazer alguma cousa, e que trazem a
Igreja em um estado continuo de apreensão nervosa sobre o que pode acontecer em
seguida; uma Igreja que fosse assim
reduzida a tão terrível prova, que: deveria
fazer? .Deveria porventura, cheia de impaciência, de enfado e
desapontamento, abandonar o terreno? Deixar tudo como uma mera fábula, ou uma
vã fantasia? Regressar aquilo de onde já se haviam retirado? Ah! É o que alguns
têm feito provando com isso que nunca haviam compreendido o que fizeram ou
então, se compreendiam que nunca tiveram a fé precisa para prosseguir. Que o
Senhor se compadeça deles e lhes abra os olhos, afim de que vejam donde
decaíram, e venham a ter ainda conhecimento exato do que seja a Igreja de Deus,
em contraste com os mais simpáticos sistemas humanos que possa haver.
Mas; que deve
fazer uma Igreja quando se introduzam abusos em seu seio? Recorrer simplesmente
a Cristo, como ao Senhor, que é da casa de Deus. Dar-Lhe o lugar que a Ele só
compete. Fazer o nome do Senhor Jesus
Cristo atuar sobre o abuso qualquer que seja. Acaso dirá alguém que isso não
basta? Porventura já houve alguém que ensaiasse esse meio em vão? Nós não o
acreditamos nem tampouco podemos acreditá-lo. E certamente podemos dizer que,
se o Nome do Senhor Jesus Cristo não basta, nós jamais recorremos ao homem, e a
sua miserável ordem. Com a ajuda de Deus, nós jamais riscaremos esse Nome
incomparável do estandarte ao redor do qual o Espírito Santo nos há reunido,
para substituí-lo pelo nome perecível de um frágil mortal.
Conhecemos
plenamente as imensas dificuldades e as dolorosas provas a que está sujeita
toda e qualquer Igreja que for uma expressão verdadeira da Igreja de Deus.
Acreditamos serem suas provas e suas dificuldades perfeitamente
características. Nada há debaixo de abóbada celeste que Satanás aborreça tanto
como a Igreja de Deus. Ele moverá céu e terra contra esta Igreja: Temos visto muitos
e repetidos exemplos disto. Pode um evangelista ir a certo lugar pregar a plena
suficiência do Nome de Jesus Cristo para a salvação das almas, e achará
milhares de ouvintes todos atentos as suas palavras. Mais tarde, porém, ele que
volte ao mesmo lugar pregando o mesmo evangelho, e proclame a plena suficiência
do mesmo Senhor Jesus Cristo para satisfazer todas as necessidades de uma
Igreja de crentes, e logo ver-se-há combatido de todos os lados. Porque isto?
Porque Satanás aborrece ainda a mais débil expressão da Igreja de Deus.
Podereis topar com uma cidade entregue, durante séculos e gerações, a sua
ignorante e tenebrosa rotina de formalismo religioso - um povo morto
reunindo-se uma vez por semana, para ouvir talvez um outro morto, celebrar um
serviço também morto, e todo o resto da semana vivo e ativo no pecado e na
loucura. Não há ali nem sequer um sopro de vida espiritual; uma folha não há
que se mexa. Satanás se compraz bem com isto.
Mas alguém que venha desenrolar o estandarte do Nome do Senhor Jesus
Cristo — o Senhor Jesus Cristo para a alma, e o Senhor Jesus Cristo para a
Igreja e logo vereis uma mudança medonha. Toda raiva do inferno se excitará, e
a formidável maré de uma oposição ignorante e cega se levantará incontinente.
Acreditamos
piamente ser este o verdadeiro segredo dos ataques ferinos continuamente
dirigidos em toda parte do mundo, contra os que sustentam os verdadeiros
princípios da Igreja de Deus. Sem duvida, nós outros temos enganos, erros, e
faltas a deplorar. Temos muitas vezes dado ocasião ao adversário, com nossas
loucuras e inconsequências. Temos na verdade sido triste epístola, cheia de
mácula, um testemunho bem fraco e sem força, uma luz vacilante. Por todas estas
coisas nós temos que nos humilhar diante do nosso Deus. Não haveria nada mais
indecoroso do que se nós nos arrogássemos orgulhosamente títulos pomposos e
direitos eclesiásticos. Nosso lugar é prostrado no pó. Sim, amados irmãos,
compete-nos unicamente a atitude de confissão e julgamento individual na
presença de Deus.
Todavia, não
devemos deixar escapar a verdade dos gloriosos princípios da Igreja de Deus, pelo
fato, vergonhoso sim, de havermos-los posto em prática tão imperfeitamente; não
devemos ajuizar da verdade pelo modo por que a demonstramos, mas sim, aferir o
nosso testemunho pela verdade. Ocupar uma posição divina é uma coisa; outra
coisa, porém, é aí comportar-se convenientemente; e conquanto seja
perfeitamente lícito aferir a nossa prática pelos nossos princípios, todavia a
verdade é sempre a verdade a despeito de tudo, e podemos ficar bem certos que
Satanás aborrece a verdade que caracteriza a Igreja de Deus. Um mero punhado de
pobres homens, reunidos para o Nome do Senhor Jesus Cristo para partir o pão,
torna-se um verdadeiro aguilhão voltado contra Satanás. É verdade que tal
Igreja provoca também a cólera dos homens, por isso que abate o oficio e a
autoridade deles, o que não podem suportar. Mas nós cremos que a origem de toda
a oposição se acha no ódio de Satanás contra o testemunho mui especial, que semelhante
Igreja dá da plena suficiência do nome de Jesus Cristo, para satisfazer à todas
as necessidades possíveis dos santos de Deus.
É este,
verdadeiramente, um nobre testemunho. Oxalá!
Que fosse posto em prática com mais fidelidade. Podemos contar infalivelmente
com a mais violenta oposição. Acontecerá
conosco o mesmo que aconteceu com os cativos, em seu regresso, no tempo de
Esdras e de Neemias. Podemos contar, com toda certeza achar muitos Reum e
muitos Sambalate. Houvesse Neemias ido edificar, em qualquer parte do universo,
uma muralha que não fosse a de Jerusalém, que Sambalate jamais o teria
molestado. Mas reedificar as muralhas de Jerusalém era uma ofensiva
imperdoável. E por quê? Precisamente
porque Jerusalém era o centro terrestre de Deus, ao redor do qual Ele ainda há
de reunir as tribos reconduzidas de Israel. Eis aí todo o segredo da oposição o
do inimigo. E atentai bem para o seu fingido desprezo: « Edifiquem embora, se
vier uma raposa facilmente derribará sua muralha de pedra. » (Neemias 4.
3). Entretanto nem Sambalate nem todos
seus comparsas foram capazes de derribá-la. Eles podiam fazer com que a obra
parasse por causa da falta de fé e de energia da parte dos Judeus; mas não
podiam jamais derribar a muralha quando. Deus aprouve pô-la em pé. Quanto não
se assemelha isto com o tempo presente! Seguramente nada, há que seja novo
debaixo do sol (Ecles. 1: 10). Hoje também há um desprezo fingido, mas que é um
pavor bem real. Ah! Se todos os que se reúnem para o Nome de Jesus Cristo,
fossem somente mais fieis de coração ao seu precioso centro, que testemunho não
seria o deles! Que poder! Que vitória! Com que força não falaria ele a todos os
corações! “Onde dois ou três estão
reunidos para o meu nome, Eu estarei lá”.
Por fraco e desprezado que seja, todavia nada há no mundo inteiro que
com isso se possa comparar. O Senhor seja louvado por haver suscitado
semelhante testemunho para Si mesmo nestes últimos dias. Possa Ele aumentar-lhe
grandemente a eficácia pelo poder do Divino Espírito Santo!
3. Vamos agora
nos ocupar rapidamente com o nosso terceiro ponto, a saber: “Qual é a potência,
ou o poder, pelo qual a Igreja se reúne?” Também aqui tem o homem com sua ação,
de ser posto, inteiramente de lado. Não é o arbítrio dos homens a fazer
escolhas, o que aqui se encontra, nem tampouco é a sua razão a fazerem
descobertas, nem seu juízo a decretar regras, nem sua consciência a fazer
exigências; o que vemos, sim, é o Espírito Santo reunindo as almas ao redor do
Senhor Jesus Cristo. Assim como o Senhor
Jesus Cristo é o único centro; assim o Espírito Santo é a única potência ou
poder que reúne. Um é tão independente do
homem como o outro. É lá “onde dois ou três forem reunidos”; não diz
“onde dois ou três entenderem se reunir”.
Pode-se encontrar pessoas ao redor de um centro qualquer; sobre qualquer
terreno ou principio, e por qualquer
influência, e formarem apenas uma sociedade, uma associação, uma comunidade.
Mas o Espírito Santo reúne almas ao redor do Senhor Jesus Cristo, sobre o
terreno da salvação; eis aí o principio em que se assenta a Igreja de Deus.
Pode uma Igreja
não contar no seu seio com todos os santos de Deus numa localidade, e, todavia,
estar realmente sobre o terreno da “Igreja de Deus” *[7] ao
passo que nenhuma outra está. Ela pode não consistir senão de “dois ou três», e
pode haver centenas de cristãos nos diversos sistemas religiosos que a cercam, mas
os “dois ou três”, estariam sobre o terreno da Igreja de Deus:
È esta uma
verdade bem simples. Toda a alma guiada pelo Espírito Santo reunir-se-á
unicamente para o Nome do Senhor Jesus Cristo; se outro, porém, for o nosso
centro de reunião, ou seja, um ponto de verdade, ou qualquer preceito, então,
neste caso, não somos conduzidos nem guiados pelo Espírito Santo. Não é isto
nenhuma questão de vida ou de salvação. Milhares há que efetivamente estão
salvos por Cristo, sem, contudo reconhecê-lo como seu centro: Eles se reúnem ao
redor deste ou daquele sistema de governo eclesiástico, ao redor de alguma
doutrina predileta, de algum preceito especial, ou, de algum homem assaz,
dotado e simpático. O Espírito Santo não reunirá jamais alguém ao redor de tais
centros. Ele reúne somente ao redor do Senhor Jesus Cristo ressuscitado. Esta
verdade refere-se à Igreja de Deus toda inteira sobre a terra; e cada Igreja
local, em qualquer lugar onde se achar, deveria ser a expressão da Igreja toda
inteira.
Ora, a
potência, ou o poder, numa Igreja dependerá muito da medida, de inteireza de
coração com que cada um de seus membros se reúne ao redor do Nome do Senhor
Jesus Cristo. Se eu me ajuntar simplesmente a um partido com certas opiniões
particulares — se for atraído apenas pelas pessoas ou pelo ensino enfim, se não
for o poder do Espírito Santo o que me conduz ao verdadeiro centro da Igreja de
Deus, então se servirei de estorvo, e tornar-me-ei um pesadelo, um vexame, um
elemento de fraqueza. Serei para a Igreja o que chamamos um «ladrão» na tocha,
e em lugar de contribuir a luz e a utilidade de todos em geral, farei
justamente o contrario.
Tudo isto é
altamente prático, e deveria por os nossos corações em exercício; e produzir em
nós, o exame pessoal quanto àquilo que nos atrairá para tal igreja, e quanto ao
nosso comportamento no seio dela.
Estamos plenamente convencidos de que o tom e o testemunho de algumas
Igrejas tem muitas vezes sido grandemente enfraquecido pela presença de pessoas
que não compreendem nada da posição que ocupam. Alguns se apresentam nelas porque aí acham um
ensino e conforto, que em mais nenhuma outra parte podem achar: Alguns vêm para
elas porque gostam da simplicidade do culto. Outros ainda vêm em busca de amor
fraternal. Ora, nada disto tem valor algum. Devemos estar presentes na Igreja,
simples e unicamente porque o Nome do Senhor Jesus Cristo é o único estandarte lá
erguido, e porque o Divino Espírito Santo nos há reunido ao redor do mesmo.
Não há duvida
que o ministério seja mui precioso, e nós o teremos, em mais ou menos poder, lá
onde tudo estiver em regra. Assim, também, quanto a simplicidade do culto,
estamos seguros de ser simples, ingênuos, e verdadeiros sempre que nos
compenetrarmos da Presença Divina, e nos
capacitarmos inteiramente da soberania do Espírito Santo, e nos submetermos
plenamente a Ele. Quanto ao amor fraternal, se o formos buscar, certamente que
seremos desapontados; mas se nos tornarmos capazes de o cultivar„ e de o
manifestar; então podemos estar seguros de encontrar muito maior medida dele do
que, esperamos ou merecemos. Acontece em geral, que os que se queixam
constantemente de carência de amor por parte dos outros, são justamente
aqueles a quem falta completamente o
amor e, pelo contrario, os que andam realmente no amor vos dirão que se lhes
testemunham não mil vezes mais do que eles merecem. Lembremos-nos de que melhor
o meio de tirar água de uma bomba posta a seco, a de deitar nela um pouco da
água. Labutareis ate vos fatigar, e a deixareis enfadado, queixando-vos dessa
horrível bomba; entretanto que, se derramásseis
nela um pouco d’água ,obteríeis logo em recompensa, um jato capaz de
satisfazer todos os vossos desejos.
Não podemos
fazer senão uma fraca idéia do que, seria uma Igreja, se cada um fosse
distintamente conduzido pelo Espírito Santo, e fosse reunido unicamente ao
redor do Senhor Jesus Cristo. Não teríamos então ocasião nenhuma de lamentar reuniões
fatigantes, e sem grande proveito. Não presenciaríamos a intrusão profana, nem
ação nenhuma inquieta da natureza humana, nem o mero comporem de rezas, nem o
falar só por gosto de falar - nem o empunhar-se o livro de cânticos para
preencher tempo. Cada um conheceria o seu Lugar na presença imediata do Senhor
cada vaso qualificado estaria repleto, aparelhado, e empregado pela mão do
Mestre - todos os olhos estariam voltados para Cristo e todos os corações
ocupados com Ele. Lido que fosse um capítulo, seria como que a voz do mesmo
Deus. Qualquer palavra que fosse dita falaria com toda força ao coração.
Qualquer oração que se oferecesse conduziria a alma à presença mesma de Deus.
Cantado que fosse um hino, elevaria o espírito até Deus, e ressoaria como as
cordas de uma harpa celeste. Não haveria na Igreja sermões preparados de
antemão, e jamais o ensino ou a pregação introduzida nas orações, como se
quiséssemos explicar doutrinas a Deus, ou contar-Lhe uma quantidade, de coisas
a nosso respeito — jamais orações insidiosas contra outrem; nem tampouco
implorando para eles toda sorte de graças, de que tivéssemos lamentável falta
nos mesmos - nunca cântico por amor da musica, ou perturbação de nossa
tranqüilidade de espírito por causa do menor desafino. Todas estas misérias
seriam evitadas. Seria para nós, realmente, como se estivéssemos no Santuário
mesmo de Deus, saboreando diante mão os gozos desse tempo em que havemos de
adorar nos átrios celestes, e de onde não sairemos nunca mais.
Perguntar-se-nos-há:
«Onde quereis achar tudo isto neste mundo?» Ah! Eis aí a questão. Uma coisa é
apresentar um “belo ideal” sobre papel, e outra coisa é realizá-lo no meio do
erro e da fraqueza, de faltas, e da ignorância. Por mercê, de Deus, alguns há
que tem por vezes gozados momentos do céu sobre a terra. Ah! A Deus prouvera
que os tivéssemos mais freqüentemente! Praza ao Senhor, em Sua grande
misericórdia, elevar o tom das Igrejas em todos os lugares! Digne-se Ele nos
tornar muito mais capazes de comunhão intima e de culto espiritual! Que Ele nos
permita também andar na vida privada, de dia em dia, examinando e julgando-nos
a nós mesmos em Sua santa presença, de tal sorte que, quando menos, não nos
tornemos uma massa de chumbo, um pesadelo, ou um, ”ladrão”, no meio de nenhuma
Igreja.
E, então,
embora aconteça talvez não possamos atingir, por experiência própria, a
verdadeira expressão da Igreja, todavia não nos contentemos jamais com coisa
alguma que, fique a quem disto. Víssemos francamente o grão mais elevado, e
peçamos ardentemente que sejamos a ele levantados. Quanto aos princípios da
igreja, cumpre-nos mantê-los ciosamente, a todo transe, e não consentir jamais,
por um só instante sequer, em manter nenhuns outros. Quanto ao tom e ao caráter
de uma Igreja, isso pode e há de variar consideravelmente, e dependerá muito
dos que a compõem. Lá onde houver a consciência de que este tom acha-se abatido
onde se sente que as reuniões são sem proveito onde se diz e se faz
freqüentemente coisas que os mais espirituais sentem estar fora de ordem; que
todos que o sentem, recorram logo a Deus, esperando continuamente, esperando
com confiança e paciência, e, seguramente Ele atenderá e responderá a sua
expectativa. Desta maneira até mesmo as provas e os exercícios peculiares a
Igreja de Deus, terão o ditoso efeito de nos lançar ainda mais sobre Ele; e
assim, do comedor sairá comida e do forte sairá doçura. (Juizes 14: 14).
Devemos contar que tudo quanto for uma verdadeira expressão da Igreja de Deus
há de passar por provas e dificuldades, por isso mesmo que é a verdadeira e a
única cousa divina sobre a terra. Satanás desenvolverá todos os seus esforços
para nos arredar deste terreno santo e verdadeiro. Porá a prova nossa paciência
e o nosso gênio, machucará o nosso o nosso sentimento e nos magoará por mil
maneiras, e far-nos-á toda a casta de dano, de injuria, e de injustiça - enfim,
ele fará tudo a seu alcance para que nos aborreçamos da Igreja e a renunciemos.
E bom estarmos
prevenidos. E somente pela fé que podemos nos conservar sobre o terreno divino.
Eis o que assinala a Igreja de Deus, e a distingue de todos os sistemas
humanos. Não se pode permanecer nela senão pela fé. Outrossim, se for o vosso
fim ser alguma cousa neste mundo, se pretendeis algum lugar, se tiverdes em vista
exaltar-vos a vós mesmos, então deveis evitar tudo que for uma expressão
verdadeira da Igreja de Deus, pois que aí achareis bem depressa o vosso nível
no pó, se é que estiver ela na altura que lhe compete. A grandeza carnal ou
mundana não tem jamais importância alguma na Igreja de Deus. A Presença Divina
cresta tudo que for deste teor, e abate toda a pretensão humana. Enfim, não
podereis permanecer na Igreja se viverdes em algum pecado secreto. A presença
Divina não vos convirá. Não temos muitas vezes experimentados, na Igreja, um
sentimento de mal estar, causado pela recordação de muitas coisas que nos
tinham escapado durante a semana! Maus pensamentos, palavras loucas,
procedimento pouco ou nada espiritual, todas estas coisas causam constrangi
mento ao nosso espírito, e põem a consciência em exercício na Igreja! Porque a
que acontece isso? Porque a atmosfera da Igreja e mais pura do que aquela que
respiramos durante toda a semana Não estivemos na presença de Deus em nossa
vida privada; não nos havemos julgado a nós mesmos; e por isso a que quando
comparecemos a uma Igreja espiritual, os nossos corações são descobertos — os
nossos procedimentos expostos à luz; e então o exercício pelo qual deveríamos
ter passado em particular — como fosse o exercício preciso para o julgamento
próprio, tem de passar-se ante a mesa do Senhor; É esta uma bem triste
miserável ocupação para qualquer, e que prova o poder da presença de Deus no
meio da Igreja. É preciso que uma igreja esteja em um estado de misérrimo
abatimento espiritual para que os corações não sejam assim descobertos e postos
a nu. É uma admirável prova do poder do Espírito Santo no meio da Igreja,
quando pessoas sem pudor, descuidadas, carnais, mundanas, ambiciosas, com
usura, vêm-se constrangidas a julgar-se a si próprias perante Deus, ou - na
falta disto - são repelidas pela espiritualidade da atmosfera que não podem
suportar. Semelhante Igreja não é lugar próprio para tais pessoas, que só podem
respirar livremente fora do seu recinto.
É impossível
deixar de pensar que muitos têm-se arredado do terreno da Igreja porque nem a
sua vida, nem as suas práticas, condiziam com a pureza do lugar em que estavam.
Sem duvida é fácil, em todos os casos semelhantes, achar pretextos na conduta
dos que deixam atrás. Mas se as raízes das coisas fossem, em todos os casos, postas
a descoberto, ver-se-ia então que muitos há que abandonam a Igreja porque
repugnam, ou porque não podem, suportar a luz investigadora. “Mui fiéis são os
Teus testemunhos; a santidade convém a tua Casa, Senhor, para sempre. » (salmo
93: 5)”.
O mal tem de
ser julgado por força porque Deus não o pode sancionar; e a Igreja que puder,
não é, praticamente, nenhuma Igreja de Deus, embora seja ela composta de
cristãos, como já dissemos. Pretender ser uma Igreja de Deus, e não julgar
falsas doutrinas e iniquidades, implicaria a blasfêmia em dizer que Deus e a maldade podem conviver juntos. A Igreja
de Deus deve manter-se pura, pois é ela a Sua habitação. Os homens podem
sancionar o mal, e chamar a isso liberalismo e largueza de coração; mas a casa
de Deus deve se conservar pura. Oh! Que os nossos corações se compenetrem cada
vez mais desta magna verdade prática, e que a influência dela santifique o
nosso comportamento e o nosso caráter.
4. Poucas
palavras bastarão para demonstrar, em último lugar, qual seja a autoridade pela
qual a, Igreja de Deus se reúne. É a Palavra de Deus unicamente. A carta ou o
diploma da Igreja é a Palavra eterna do Deus vivo e verdadeiro. Não são nem as
tradições, nem as doutrinas, nem tampouco os mandamentos dos homens. Há uma
passagem das Escrituras, a qual já temos por vezes aludido no correr deste escrito,
descerrando ao mesmo tempo o estandarte ao redor do qual a Igreja se reúne, o
poder pelo qual ela é reunida, e a autoridade pela qual ela é reunida: O Nome
de Jesus Cristo — 0 Espírito Santo — a Palavra de Deus.
Estes três
elementos são os mesmos para todo o mundo. Quer eu vá, a Nova Zelândia, a
Austrália, ao Canadá, a Londres, a Paris, a Roma, ao Rio de Janeiro, a Lisboa,
a China, a costa da África, - o “centro” o “poder” que reúne, e a “autoridade”
são só uma e a mesma coisa; não podemos reconhecer absolutamente nenhum outro
centro, senão Cristo; nenhuma outra energia ou potência para reunir, senão o
Espírito Santo; nenhuma outra autoridade, senão a palavra de Deus; e nenhum
outro característico, senão a santidade de vida, e a pureza de doutrina.
Tal é a
verdadeira expressão da Igreja de Deus, nós não podemos reconhecer nenhuma
outra. Podemos reconhecer, amar, e honrar os santos de Deus como tais, em
qualquer lugar onde os encontrarmos; quanto aos sistemas humanos, porém, não
passam eles de uma desonra feita a Cristo, prejudicam os verdadeiros interesses
dos santos de Deus. Anelamos ver todos os cristãos sobre verdadeiro terreno da
Igreja. Acreditamos ser ele o único lugar de benção real e de testemunho
eficaz. Acreditamos que a pratica dos princípios da Igreja, apresenta certo
testemunho que não poderia existir sem ela, ainda mesmo que cada membro tivesse
capacidade de um Whitefield para evangelizar. Não dizemos isto para rebaixar a
obra da evangelização; Deus nos guarde de tal. A Deus prouvera que todos fossem
outros tantos Whitefields: Mas também não podemos fechar os olhos sobre o fato
de que muitos afetam desprezar a igreja, sob o pretexto de evangelizar; e
quando lhes seguimos os passos e examinamos os resultados de sua obra, vemos
que eles nada têm para darem as almas que tem sido convertidas por intermédio
deles. Parecem não saber o que fazer delas. Tiram as pedras da pedreira, mas
não edificam nada com elas. A conseqüência e que as almas ficam dispersas aqui
e acolá; algumas vagueiam sem rumo certo; outras vivem no isolamento, e todas
ignorantes quanto ao verdadeiro terreno da Igreja.
Ora, nós cremos
que todas estas pessoas deveriam achar-se sabre o terreno da Igreja de Deus,
para ter «comunhão na fração do pão e nas orações. » (Atos 2. 42.) Deveriam “
reunir-se no primeiro dia da semana para partir o pão” (Atos 20. 7); com os
olhos no Senhor Jesus Cristo, a espera que Ele os edifique por boca de quem lhe
aprouver. Eis aí o caminho simples — a ideia normal, divina, a qual exige sem
duvida fé para. Pó-1a em pratica, por causa das: inúmeras seitas em discordante
conflito hoje em dia, mas que nem por isso deixa de ser simples e verdadeira.
“Prevemos que tudo isto será, taxado de proselitismo,
de prejuízos, e de espírito de partido, por todos aqueles para quem o
verdadeiro belo ideal de liberalismo, e largueza de coração, for o poder dizer:
«Eu não pertenço, a nada”. Posição essa
bem estranha e anormal na verdade, que leva uma pessoa a nada professar, só com
o fim de escapar a toda responsabilidade, e poder ir de mãos dadas com tudo e
com todos. E um caminho bem cômodo para a natureza — a natureza amável — mas veremos
em que dará, no «dia do Senhor«. Mesmo
agora, nós a temos em conta da mais positiva falta de fidelidade para com
Cristo, da qual queira o Senhor, em Sua bondade, livrar os Seus.
Não pense
ninguém, porém, por um só instante, que nós queremos com isto por em
antagonismo O evangelista com a Igreja. Nada esta mais longe dos nossos
pensamentos. O evangelista deveria partir diretamente do seio da igreja em
plena comunhão com.ela; ele deveria esforçar-se não somente por encaminhar
almas a Cristo, mas também por conduzi-las a igreja, onde pastores dotados e
qualificados por Deus cuidariam delas, e onde ensinadores divinamente dotados,
as instruíram nas verdades da Escritura. Não
temos o mínimo desejo de combater o evangelista; queremos; apenas
guiar os seus movimentos. Pesa-nos ver esgotar-se assim tanta energia
verdadeiramente espiritual em um serviço sem nenhum fim certo. Sem duvida que é
um magno fim encaminhar almas a Cristo. A união de uma alma a Cristo é
uma obra completa para todo sempre. Mas, porventura não cumpre também depois recolher,
pensar, e curar dos cordeiros e das ovelhas? Haverá alguém que se contente em
comprar ovelhas, e deixá-las depois errar por toda parte onde lhes aprouver?
Seguramente que não. Mas onde deverão ser recolhidas as ovelhas de Cristo? Será
acaso dentro de apriscos montados
pelos homens a seu bel prazer, ou dentro de uma. Igreja reunida
sobre terreno e princípios divinos? Nesta última, sem contestação; pois temos a
certeza que a Igreja, por mais fraca, desprezada, caluniada,
maltratada, e difamada que seja, é, todavia, o único lugar que compete a todos os
cordeiros e a todas as ovelhas do rebanho de Cristo.
Haverá ali,
porém, responsabilidades, cuidados, ansiedade, trabalho, uma necessidade
constante de vigilância e de oração; enfim, haverá tudo o que a carne e o
sangue haviam de evitar sempre que pudessem. E coisa bem agradável e cheia de
atrativos o percorrer-se o mundo como evangelista, e ter-se milhares de
ouvintes atentos a todas as nossas palavras, e centenas de almas convertidas
como outros tantos selos em abono do nosso ministério: mas que fazer depois
destas almas? Necessariamente cumpre mostrar-lhes que o seu lugar verdadeiro é
no meio daqueles que se reúnem sob os princípios da Igreja de Deus, onde, sem
embargo da ruína e da apostasia do corpo professante, elas poderão gozar da
comunhão, do culto, e do ministério espirituais. Isto acarretará por certo
muitas provas dolorosas e exercícios penosos. Assim foi também no tempo dos
Apóstolos. Aqueles que cuidavam sinceramente do rebanho de Cristo, derramaram
por certo que muitas lágrimas levantaram fervorosas suplicas, e seguramente
passaram noites inteiras sem repouso. Mas, também em todas estas coisas eles
gozavam a doçura proveniente de comunhão com o soberano pastor; e, quando Ele
aparecer, suas lágrimas, suas orações, suas vigílias, hão de ser lembradas e
recompensadas todas; ao passo que aqueles que por ai andam ocupados na
edificação de sistemas humanos, vê-los-ão todos dar em nada, para nunca mais
serem lembrados por todo sempre; e ai! Dos falsos pastores, que, sem compaixão
alguma, não empunham o cajado pastoral senão para dele se servirem como de um
instrumento de crueldade contra o rebanho, ou de vil mercancia em proveito
próprio — todos estes terão as faces cobertas de opróbrio eterno.
Aqui poderíamos terminar se não tivéssemos em mente
responder a três questões que poderão surgir ao espírito do leitor.
Primeiramente,
pode-se nos perguntar: «Onde é que se pode achar isso, que, vós chamais “a verdadeira expressão da igreja de
Deus, desde os dias apostólicos até o presente século?” Onde devemos procurá-la
agora?
Em segundo
lugar: Não é por demais inútil tentar-se por em prática os princípios da Igreja
de Deus, visto achar-se a igreja professante em completa ruína?
E em terceiro
lugar: Onde está esta verdadeira expressão da igreja de Deus agora?
1- Nossa
resposta será simplesmente apontando para as palavras do Senhor Jesus Cristo
“Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, aí estarei EU no meio deles”
(Mat 18:20). Quanto a nós, pouco ou nada
importa que Neander, Mosheim, Milner, e dezenas de outros historiadores
eclesiásticos, em suas interessantes pesquisas deixassem de descobrir um só
traço da verdadeira expressão da igreja de Deus, desde o fim da era apostólica,
até ao começo do século dezenove. É bem possível que houvesse aqui e acolá, no
meio das espessas trevas da idade média, “dois ou três” realmente “reunidos ao
nome do Senhor Jesus Cristo”; ou, pelo menos, que suspiravam ansiosamente pela
realidade de tal coisa. Mas fosse isto como fosse, o certo é que esta verdade
permanece em pé, inteiramente intacta, até o dia de hoje. Não é sobre as
narrações de historiadores que nos apoiamos, mas sim sobre a verdade infalível
da palavra de Deus; e, portanto, mesmo que se pudesse provar com certeza, que
durante mil e oitocentos anos, jamais houve os “dois ou três reunidos ao nome
do Senhor Jesus Cristo”, isto não afetaria a questão nem de leve; pois o que se
lê na palavra de Deus não é: Que dizem os historiadores eclesiásticos? Mas sim:
“Que diz as escrituras?”.
Se houvesse a
mínima força no argumento fundado sobre a história, então teria ele igual
aplicação à preciosa instituição da Ceia do Senhor. Pois o que aconteceu com
esta ordenança durante mais de mil anos? Foi ela despojada de um de seus
grandes elementos, foi encerrada em uma língua morta, sepultada em um túmulo de
superstição, trazendo esta inscrição: “Sacrifício incruento pelos pecados dos
vivos e dos mortos”. E até mesmo no tempo da Reforma, quando a Bíblia foi de
novo permitida falar a consciência do homem e derramar sua luz vivente sobre o
sepulcro onde jazia a Eucaristia, que foi que se viu? Sob que forma é que vemos
reaparecer a Ceia do Senhor na igreja Luterana? Sob a forma da
consubstanciação. Lutero negou que o pão e o vinho se tornassem em corpo e em
sangue do Senhor Jesus Cristo; mas sustentou até mesmo em oposição veemente e
inflexível aos teólogos Suissos, que havia uma presença misteriosa do Senhor
Jesus com o pão e o vinho.
Deveremos nós
por este motivo deixar de celebrar a Ceia do Senhor, conforme a ordem
consignada no Novo Testamento? Deveremos acaso prestar o nosso apoio ao
sacrifício da missa, ou a consubstanciação, porque a verdadeira noção da
Eucaristia, fora pela igreja professante perdida durante tantos séculos? Certamente
que não. Que devemos então fazer? Tomar o Novo Testamento, e ver o que ele diz
sobre este ponto – inclinarmos com submissão e respeito ante a sua autoridade –
aparelhar a Mesa do Senhor em sua divina simplicidade, e celebrar a festa
conforme a ordem estabelecida por nosso Senhor e Mestre, que disse a seus
discípulos e conseqüentemente a nós: “Fazei isto em memória de mim”.
2- Mas,
perguntar-se-nos-a ainda: Não é por demais inútil tentar por em prática os
princípios da Igreja de Deus, visto achar-se a igreja professante em tão
completa ruína? Nós respondemos perguntando: Se a igreja está em ruína, é isto
uma razão para sermos desobedientes? Porque dispensação tem falhado, acaso
segue-se que devemos persistir no erro? Seguramente que não. Nós reconhecemos a
ruína, pranteamos sobre ela, nós a confessamos
e tomamos dela a parte que nos toca, e, no meio de suas tristes
conseqüências, buscamos andar mansa e humildemente, reconhecendo que somos nós
mesmos muito infiéis e indignos. Mas, embora estejamos em falta, o Senhor Jesus
nunca falhou; Ele permanece fiel; Ele não pode jamais negar-se a si mesmo. Ele
prometeu estar com os seus todos os dias até a consumação dos séculos. Mateus
28:20 é uma promessa tão segura hoje como era há dois mil anos atrás. “Seja
Deus verdadeiro e mentiroso todo homem” (Rom. 3:4). Repelimos absolutamente
toda pretensão dos homens de formarem igrejas, assim como o direito de
ordenarem ministros. Quanto a nós, tudo isso não passa de mera presunção sem a
mínima sombra de autoridade fornecida pelas escrituras. A Deus somente compete
formar sua igreja e provê-la de ministros. Não temos o direito de formar
igrejas, nem de ordenar homens para ofício nenhum. Sem dúvida o Senhor é muito
misericordioso e cheio de ternura e compaixão; Ele suporta nossa fraqueza e nos
sustém em nossos erros, e quando o coração é fiel para com Ele, embora esteja
também na ignorância, Ele não deixará de nos conduzir a uma maior luz.
Mas é preciso
não nos servir da graça de Deus, como dum pretexto, para torcer as escrituras;
assim como não devemos tampouco nos servir da ruína da igreja, como desculpa,
para sancionar o erro. Cumpre-nos confessar a ruína, confiar na graça, e andar
em obediência simples à palavra de Deus. Tal é o caminho da benção em todo o
tempo.
O pequeno
remanescente judaico no tempo de Esdras, não visava o poder e o esplendor dos
dias de Salomão, mas obedecia a Palavra do Senhor de Salomão e foi
abundantemente abençoado em sua obra. Não disseram: “tudo está em ruína, e,
conseqüentemente, o melhor é permanecer em Babilônia e não fazermos nada”. Não!
Eles confessaram com simplicidade seu próprio pecado, e o da sua nação, e
confiaram em Deus. È justamente isto, o que nós outros temos de fazer agora.
Cumpre-nos confessar a ruína da igreja, e confiar em Deus.
3- Finalmente,
se nos perguntar: Onde está essa verdadeira expressão da Igreja de Deus
agora? Responderemos: “Lá onde dois ou
três estiverem reunidos ao nome do Senhor Jesus Cristo”. E tenha-se o cuidado
de notar, que para alcançar resultados divinos, é mister haver condições
divinas. Pretender estes resultados sem estar nestas condições, não é senão uma
vã presunção. Se não estivermos realmente reunidos para o nome do Senhor Jesus
Cristo, não temos nenhum direito de esperar que Ele esteja em nosso meio; e se
Ele não estiver no meio de nós, a reunião da igreja, será uma bem triste coisa.
Mas,
compete-nos sim, o grande privilégio de nos reunir de tal maneira que possamos
gozar da sua bendita presença no meio de nós, e, tendo-o assim, não há nenhuma
necessidade de erguer um pobre mortal para presidir as nossas reuniões. O
Senhor Jesus Cristo é o Senhor da sua própria casa; não se atreva nenhum mortal
usurpar-lhe o lugar. Quando a igreja se reúne para o culto, Deus está no meio
dela, e, se Ele for plenamente reconhecido, haverá a comunhão, o culto, a
adoração, e a edificação, na mais doce e perfeita harmonia.* Mas se a carne for
permitida atuar, ela entristecerá e extinguirá o Espírito e prejudicará tudo. É
mister que a carne seja julgada na igreja, tanto quanto deve sê-lo em nossa
vida particular dia a dia. Devemos lembrar também, que erros e faltas no seio
da igreja, não podem ser empregados como argumentos contra a verdade da
Presença Divina na nela; também não podem servir as nossas faltas e erros
individuais, para contrapor-se a bem conhecida verdade de habitar o Espírito
Santo no crente.
“Sois vós,
pois, o povo de Deus?” Dirá alguém. A questão, porém, não é: “Somos nós o povo
de Deus”, mas sim: “Estamos nós sobre o terreno divino?”*[8] Se
acaso nós não estamos nele, então será melhor abandonar, o quanto antes, a
nossa posição. Que haja como efetivamente há um terreno divino, apesar de toda
a obscuridade e confusão, é o que será difícil negar. Deus não deixou o seu
povo na necessidade de permanecer no erro e no mal. E como podemos saber se
estamos sobre o terreno divino ou não? Mediante a palavra de Deus, unicamente.
Examinemos reta e seguramente, em confrontação com as escrituras, tudo com que
nos achamos ligados, e abandonemos, imediatamente, tudo que não for capaz de
resistir esta prova; sim, imediatamente. Se pausarmos e pusermos a raciocinar
ou a pesar as conseqüências, o resultado será descambar da senda
verdadeira. Pausa, sim de certo, para
certificar-vos bem do pensamento do Senhor, mas uma vez esclarecido isto, não vos demoreis em raciocinar. O Senhor jamais
nos ministra luz para caminharmos dois passos de uma vez. Ele nos dá luz, e só depois de nos utilizarmos
dela é que Ele nos dá mais. “A vereda dos justos é como a luz da aurora que vai
brilhando mais e mais até ser dia perfeito” (Prov. 4:18). Preciosa e animadora
divisa para a alma! A luz cresce ao passo que caminhamos para adiante. Não nos
é lícito fazer alto – nem ficar parados – nem descansar naquilo que jamais atingimos.
A luz caminha, vai adiante e cresce, até sermos introduzidos na plena luz do
“dia perfeito” da glória.
Leitor,
porventura estai vós sobre este terreno divino? Se estiverdes, aderi a Ele de
todo o vosso coração e alma. Se trilhais esse caminho, prossegui para adiante com
todas as forças do vosso ser moral. Não vos contentais jamais com outra coisa
absolutamente, que não seja o Senhor Jesus Cristo habitando realmente em vós, e
a certeza intima de estardes bem próximo dele. Que Satanás não vos despoje do
quinhão que vos compete, induzindo-vos a descansar em qualquer coisa que não
passe de um mero nome. Não vos tente ele a ponto de fazer-vos confundir a vossa
posição ostensiva com a vossa condição real. Cultivai a comunhão íntima com o
Senhor – a oração secreta – o julgamento contínuo de vós mesmo. Sede sobre tudo
vigilante contra toda forma de orgulho espiritual. Cultivai a humildade, a
mansidão, o espírito contrito, a susceptibilidade de consciência, em vossa vida
particular. Buscai combinar a graça a mais doce para com todos, com a coragem
de um leão, sempre que se tratar da verdade.
Então sereis
abençoados no seio da igreja de Deus, e tornar-vos-eis em uma testemunha eficaz
da plena suficiência do Nome de Nosso Senhor Jesus Cristo.
C.H.M.
[3]
Nota - Temos obrigação
de diferenciar cuidadosamente o que Cristo edifica de tudo quanto o homem
edifica. “As portas do inferno” hão de seguramente prevalecer contra tudo que
for meramente humano; e seria, portanto, erro fatal atribuir a edifícios
humanos, palavras que só ao Senhor Jesus, exclusivamente, se pode referir. O
homem pode levantar – ah! Sim, e efetivamente levanta – “edifícios de madeira,
feno e palha”, tudo, porem, que Nosso Senhor Jesus Cristo edificar há de
permanecer para sempre. Toda a obra que sai de suas benditas mãos leva consigo
o cunho da eternidade. Louvado seja o seu glorioso Nome.)
[4][4] Nota - Não há em parte nenhuma
das Escrituras Sagradas, a idéia de ser alguém membro de uma igreja. Todo o
verdadeiro crente é membro da “Igreja de Deus” - do corpo de Cristo, e não
pôde, pois, ser propriamente, membro de nenhuma outra coisa; assim como o meu
braço não pôde ser membro de nenhum corpo alheio. O único principio verdadeiro
sob o qual podem os crentes reunir, é revelado nesta magna declaração: "Há
um corpo e um Espírito”. E ainda: "Nós sendo muitos, somos um pão, e um
corpo” (Ef. 4: 4; I Cor. 10: 17). Se Deus declara que não há senão um só corpo,
então é forçosamente contrario ao seu pensamento haver muitos corpos, seitas ou
denominações. Ora, ao passo que é
verdade não poder apenas certo numero dado de crentes em qualquer lugar, ser
chamado "0 Corpo de Cristo",
ou "A Igreja de Deus";
é sua obrigação, todavia, reunir-se unicamente sob os princípios deste
"corpo" e desta "Igreja",
e jamais sob nenhum outro. Chamamos a atenção particular do leitor para
este principio que obriga em todos os
tempos , em todos os lugares e em todas as circunstâncias. O fato de a igreja
professante achar-se em ruína não o afeta de maneira alguma. Ele tem
permanecido verdadeiro desde o dia de Pentecostes, ele é verdadeiro neste
momento, e será verdadeiro até que a igreja seja arrebatada ao encontro de sua
cabeça – O Senhor – nas nuvens, e isto porque “há um só corpo”. Todos os
crentes pertencem a este corpo e é sua obrigação reunir-se sob este principio e
mais nenhum outro.
[5] Nota - O leitor fará bem em ponderar a distinção
que há entre a igreja encarada como “o Corpo de Cristo” e “a Casa de Deus”.
Quanto ao primeiro aspecto, poderá estudar Ef. 1:22; I Cor. 12; e quanto ao
segundo, Ef. 2:21; I Cor. 3; I Tim. 3. Esta distinção é tão interessante quanto
instrutiva e importante.
[6] NOTA - O leitor fará bem de notar o fato que em Mateus 16, temos a
primeira alusão à igreja, e aí nosso Senhor fala dela como de coisa futura. Ele
diz: Sobre esta Rocha Eu edificarei a minha igreja". Ele não diz: "já
edifiquei", ou “estou edificando", etc.Em suma, a igreja nunca existiu antes de Cristo Nosso Senhor
ressuscitar dentre os mortos, e ser glorificado à destra de Deus. Então, e somente então, é que o Espírito
Santo foi enviado ao mundo para batizar os crentes, fossem eles Judeus
ou Gentios, em um corpo, e uni-los a cabeça
ressuscitada e glorificada no céu. Este
corpo tem existido sobre a terra desde a descida
do Espírito Santo; está ainda neste mundo, e nele estará até que Cristo venha
arrebatá-lo para junto de si. É coisa absolutamente sem igual; ; não se acha no Velho
Testamento. Paulo nos diz
terminantemente, que ela não fora revelada em outras gerações; ela estava
escondida em Deus, e este mistério nunca foi dado a conhecer antes de haver
sido revelado a Paulo (vede cuidadosamente Rom. 16. 25 26; Ef. 3. 3-11; Col. 1. 24, 27) - é verdade e abençoada verdade essa
- que Deus tinha um povo nos tempos do Velho Testamento não simplesmente a nação de Israel, mas um povo espiritual, salvo, regenerado,
que viveu pela fé, foi para o céu, onde agora
é "os espíritos dos justos aperfeiçoados". Mas a Igreja nunca foi mencionada antes de Mateus 16, e aí, somente como coisa futura. Os
dois pontos terminais da historia terrestre da Igreja são: no passado, o dia de Pentecostes; (Atos 2),
e no futuro, o dia do seu
arrebatamento). (I Tes. 4: 16, 17).
[7] Nota - Note bem o leitor a distinção que há entre
o ser “a Igreja de Deus” neste ou naquele lugar, e o estar sobre “o terreno da
Igreja”, e, portanto, ser uma verdadeira expressão da mesma. Tal é a
importância de ter-se bem em vista essa distinção, aliás, já apontada pelo
autor na sua nota a paginas 13 e 14, que pedimos permissão para reiterá-la.
Para que uma congregação, ou reunião de crentes, fosse “A Igreja de Deus” em
qualquer parte, seria mister que contasse com todos os fiéis naquela parte, o
que hoje em dia não acontece quase em lugar nenhum. Nenhuma reunião que não
esteja neste caso deve jamais arrogar a si o estilo da Igreja de Deus, ou da
Assembléia de Deus, em tal parte: pode ser uma verdadeira expressão da
Assembléia de Deus ali, mas não “a Igreja”, Tradutor.
[8] Nota – É mister lembrar que há grande diferença entre
estas ocasiões em que a igreja acha-se reunida para o culto, e outras para
serviços especiais. Neste último caso, o evangelista, o ensinador, o pregador
ou aquele que faz preleção, serve em seu caráter individual, sendo responsável
ao seu Senhor. Pouco importa que tais serviços tenham lugar nas salas
habitualmente ocupadas pela igreja, ou em qualquer outra parte. Podem estar
presentes os membros da igreja ou não. Mas, quando a igreja, como tal, reúne-se
para o culto, se acontecer que um homem, por mais dotado ou qualificado que
seja, arrogar-se a qualquer posição, será isto “extinguir o Espírito”.
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