sábado, 16 de setembro de 2017

O Espirito Santo atuando na Igreja no século XIX

O Espirito Santo atuando  na Igreja no século XIX
Como os irmãos reuniram, um breve relato do que Deus, o Espírito Santo, fez naqueles dias.
Uma carta escrita a um amigo relatando esta experiência.

LIBERDADE NA IGREJA
PARA ADORAÇÃO E COMUNHÃO

Amado amigo:

            Quando comecei esta serie de cartas, não tinha ideia de que pudesse estender-me até este número. Porém muitos temas vieram a minha mente, e o espaço para cada carta foi, necessariamente, limitado, que quase temo torna-lo cansado. E há ainda muito em minha mente para dizer-lhe - muitas coisas  acerca das quais desejo derramar meu coração a alguém com quem me sinto em liberdade. Mas esta obra de "papel e tinta" é terrivelmente tediosa que com frequência encentro as rodas do carro girando pesadamente.
            Como seja, há um tema especial ao qual devo referir-me, antes de encerrar esta serie de cartas - um tema que possivelmente não seria passado por alto por alguém que diz estar tratando da "atual condição das coisas  na igreja professante de Deus".
            Agora já faz quase meio século desde que começou na Grã-Bretanha e Irlanda esse mui destacado movimento (1827). Nesse tempo alguns amados do povo de Deus foram guiados a ver que havia algo radicalmente errado nas variadas organizações de seus dias. Alguns podem ser, sentiram a morte e a desolação, a secura, a obscuridade e a pobreza de tudo o que lhes rodeava. Eles desejavam algo que a maquina existente faltava em suprir-lhes. Havia ali uma sede por comunhão Cristã, e um desejo pelas mais elevadas verdades  do que as encontradas no Estabelecimento Nacional (a Igreja Anglicana) ou nos variados corpos dissidentes.
            Outros, foram guiados a sondar as Escrituras, e a comparar o que eles encontravam nestes preciosos escritos com a condição de coisas existentes ao seu redor, em toda a igreja professante, e ao fazê-lo foram não só guiados, mas também forçados à conclusão de que toda igreja professante estava em uma condição de absoluta e irreparável ruina - que não havia uma só organização religiosa, nem uma só ordem clerical, tampouco um credo religioso, através de toda a extensão e largura da Cristandade, que pudesse suportar a prova das Escrituras - que não podia encontrar tal coisa, como uma fiel expressão da Igreja de Deus, como ela é vista no Novo Testamento - nenhuma expressão do "um corpo", nem da assembleia dos crentes reunidos simplesmente ao nome do Senhor Jesus (Mateus 18:20 e 1ª Coríntios 5:4), e praticamente reconhecendo a presença, poder, direção, e autoridade do Espírito Santo.
            Além disto, com relação à grande questão do ministério, eles olhavam em vão através de todos os sistemas religiosos existentes, para algo que se aproximasse da verdade ensinada no Novo Testamento. Se eles examinassem os estabelecimentos Gregos, Latinos, Anglicano ou Escocês, ou por outra parte, os variados e populares corpos existentes, eles viram quer seja sob o título de bispo, sacerdote, diácono, ou ministro, que a autoridade humana era absolutamente essencial para o exercício de cada ramo do ministério, assim chamado. Se um homem possuísse todos os dons, como o próprio apóstolo Paulo, ele não se atrevia a ensinar ou pregar a Cristo, exceto se estivesse autorizado pelo homem; considerando que, de modo contrário, ainda que alguém destituído de todo dom espiritual, ainda mais, também da mesma vida espiritual, apesar de tudo isso, se esse homem estava ordenado e autorizado pelo homem, podia ensinar e pregar naquilo que professava ser a igreja de Deus. A autoridade do homem, sem o dom de Cristo, era completamente suficiente. Os dons de Cristo sem a autoridade do homem não o era.
            Tudo isto eles encontraram diametralmente oposto à Palavra de Deus. Quando voltaram, por exemplo, à Escritura como Efésios 4, encontraram, que o ministério, em todas as suas atividades, tem sua fonte numa Cabeça ressuscitada e glorificada nos céus.

            " A graça foi dada a cada um conforme à medida do dom de Cristo".

            Nem uma sílaba acerca da autoridade ou ordenação humana, de nenhuma forma - nem um sonido de tal coisa, ou de algo que se aproximasse disto é encontrado ali, senão o contrário. Isto é simplesmente "o dom de Cristo" ou nada.

            "Subindo ao alto, levou cativo o cativeiro, e deu dons aos homens. 9 E isso de que subiu, que é, senão que também havia descido primeiro às partes mais baixas da terra? 10 O que desceu, é o mesmo que também subiu por cima de todos os céus para encher tudo. 11 E ele mesmo constituiu uns, apóstolos; a outros, profetas; a outros, evangelistas; a outros, pastores e mestres, 12 a fim de aperfeiçoar os santos para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo".
            Aqui, então, eles encontraram a única fonte do ministério. Todos os dons ministeriais, todos os dons para edificação fluem direto do Cristo ressuscitado e glorificado. Não há meio humano através do qual possa vir - nenhum canal humano através do qual devam fluir - nem nenhuma autoridade humana necessária para disponibilizar tais dons - nenhuma adição humana é necessária. Os dons descem em sua divina integridade da cabeça aos membros. O homem não pode acrescentar nada a eles. Ele não pode melhorá-los. Quem os recebe são responsáveis em exercê-los - em esperar em seu dom - cultivá-lo e desenvolvê-lo, com toda diligencia e fidelidade; todavia quanto a ter de alguma autoridade, licença, aprovação, ou ordenação humana, para tornar disponíveis os preciosos dons  de Cristo para seu corpo, a Igreja, nas escrituras não só não existe tal coisa, como isso é absolutamente e completamente oposto à Palavra de Deus e ao pensamento de Cristo.
            Muitos cristãos sinceros, em vários lugares, sentindo profundamente o estado da igreja professante, foram guiados a separarem-se das diferentes denominações existentes. Muito poucos, ou apenas alguns deles, sabiam exatamente onde ir, porém eles sentiam que era impossível seguir adiante com aquilo que era palpavelmente oposto à Palavra de Deus. O antigo provérbio, "os pássaros de penas reúnem-se juntos" é uma ilustração da história destes primeiros irmãos. Eles estavam insatisfeitos com o que viam ao seu redor; e verdadeiramente pode-se dizer deles, que "saíram sem saber para onde iam".  Entretanto, não podiam continuar ligados com claros e palpáveis erros. Estavam cansados e enfermos por causa da mundanidade e da morte da igreja professante; e desejavam algo melhor; eles saíram um desta, outros daquela; e estando fora, não encontraram nenhuma razão pela qual não pudessem reunir agora, nem motivos que os impedisse de partir o pão como fizeram os primeiros cristãos, contando com o Senhor que estava com eles e capacitando-os para edificarem-se uns aos outros, esperando que Ele pudesse conceder-lhes os dons e a graça necessária.

            Entre aqueles que se separaram das variadas organizações havia homens de consideráveis dons, de peso moral,  poder intelectual, e inteligência - clérigos, advogados, militares e oficiais navais, médicos, e homens de alta posição. Sua separação, como pode-se supor, causou considerável agitação e produziu muita oposição. Muitos laços de amizade foram rompidos; muitos afetuosos companheiros foram separados; foi feito  muito sacrifício; eles encontraram muitas provas e aflições, reprovações, e perseguições tiveram que ser suportadas. Não posso intentar entrar em detalhes, tampouco é meu desejo fazê-lo. Isto agora não seria útil, e a lembrança só traria desnecessárias penas. Todos os que quiserem viver piedosamente - e estão determinados a seguir ao Senhor - e aqueles que desejam manter uma boa consciência - e que, com firme propósito de coração, atuaram sobre a autoridade das Santas Escrituras devem preparar suas mentes  para suportar provas e perseguições. Nosso Senhor Jesus Cristo nos disse que Ele não enviaria paz mas espada.
            "Pensais que vim trazer paz sobre a terra? Eu vos direi: Não; mas antes dissensão. Porque daqui em diante haverá cinco em uma casa dividida, três contra dois e dois contra três".
            E novamente nos diz:
            "Os inimigos do homem estarão em sua própria casa" (Mat.10:34,36; Luc.12:51,52);

            E tudo isto foi plenamente cumprido nestes tempos aos quais agora me refiro; e não somente perseguição doméstica, mas também prejuízos públicos em varias formas, muita prova, aflição e perda, o que eles deveriam enfrentar.
            Mas apesar disso a obra seguiu adiante. Os Irmãos se entregaram devotamente e com energia à bendita obra da evangelização e do ensino. O evangelho foi pregado com clareza, plenitude, profundidade, e poder desconhecido desde os tempos apostólicos. As grandes doutrinas da Igreja como o corpo de Cristo; a unidade do corpo; a presença e a ação do Espírito Santo no crente individualmente e na Assembleia, junto com a bendita esperança da vinda de Cristo, primeiro para seu povo e, posteriormente com eles - todas estas gloriosas verdades que haviam sido quase completamente perdidas por 18 séculos, foram mostradas novamente com grande poder, unção, e frescura, para o gozo e benção de centenas de preciosas almas.
            Além disto, a importante distinção entre a pregação do evangelho aos não convertidos e o ensino ao povo do Senhor -tampouco compreendido ainda agora- começou a ser forçosamente ilustrada e com os mais benditos resultados. O evangelista e o mestre esperava cada um em sua própria obra - as almas eram convertidas, e os crentes edificados em sua mui santíssima fé. Também a adoração e a comunhão dos santos começaram a ser compreendida. O povo do Senhor se encontrava, no primeiro dia da semana, para partir o pão (Atos 20:7), e ao fazê-lo sentiram a presença do Senhor Jesus como uma realidade divina no meio deles (ver Mateus 18:20). Certamente, só foram admitidos à mesa do Senhor aqueles que eram conhecidos como verdadeiros cristãos, sãos na fé, e piedosos em seu andar.
            Tudo isto, querido irmão, atraiu muita atenção. Muitos não creram que isto pudesse crescer. Alguns profetizaram que cedo tudo se desvaneceria. Que isto era como uma bolha no rio do tempo, que rapidamente explodiria.  Estimaram que era completamente impossível que um número de pessoas, sem nenhuma estrutura eclesiástica, e sem uma organização palpável, ou ordem clerical, e cabeça visível, sem uma confissão de fé, pudesse permanecer por muito tempo. Perguntavam: Como poderá continuar suas reuniões? Quem as presidirá? Quem irá manter a ordem? Haverá pessoas levantando-se para falar em todos os sentidos, ou para orar e citar hinos. Isto provará ser uma perfeita Babel.
            Tais eram as obscuras sugestões dos adversários e incrédulos prognosticadores; entretanto, provou-se que tais objeções eram falsas. As pessoas que assistiam às reuniões eram surpreendidas  pelo fato de ver centenas de pessoas reunidas sem sacerdotes, clérigos ou dirigentes, e apesar disto não havia desordem, nem confusão. O mesmo Senhor estava ali. Dava-se a Ele o seu próprio lugar como Dirigente, e Ele dirigia e enchia de gozo, conforto, benção, e edificação o seu amado povo, que preferiam Ele do que qualquer organização humana.
            Dificilmente necessito dizer, que, aqui e ali, erros foram cometidos. A debilidade e a loucura da mera natureza ocasionalmente se manifestou nestas reuniões. Assim como, na vida dos crentes individualmente, apesar da presença e morada do Espírito Santo neles, há equívocos, males, fracassos e debilidade, assim foi nas igrejas dos Irmãos, como pode-se saber, ali se viu também a exibição daquilo que não era do Espírito, ainda que, nas principais atividades, a presença do Espírito e seu governo eram reconhecida e sentida. O inimigo, pode estar seguro disso, fez especiais esforços para introduzir a confusão na assembleia, com vista a desacreditar o fundamento no qual a assembleia estava assentada.
            Ainda assim, posso dizer, olhando para trás, para uma experiência de mais de 35 anos, que a ordem e poder das reuniões eram maravilhosos; e quanto aos equívocos e fracassos, a situação era muito pior nas denominações; havia muito mais deles nas organizações que nos rodeavam, as quais não se lamentavam destes fracassos, mas os tinham como legítimos frutos do arranjo humano. Os Irmãos não tinham uma ordem, nem arranjos humanos, ainda assim a solenidade e ordem de suas reuniões eram muito surpreendentes. Muitos daqueles que assistiam as suas reuniões como visitantes, saiam convencidos de que ali não havia nenhuma pré-organizada ou alguma ordem pré-estabelecida; no entanto, posso solenemente declarar-lhe que nunca houve tal coisa. Nunca poderíamos dizer, quando começávamos uma reunião, qual seria a sua ordem, tom, ou carácter. Falo só das reuniões da igreja para adoração e comunhão. E que aquelas reuniões que eram anunciadas, sob a responsabilidade individual de algum irmão, para a pregação ou ensino, é um caso muito diferente. A ordem de tais reuniões foi sempre à mesma. Esta era meramente uma causa de responsabilidade individual (daqueles irmãos responsáveis).
            Porém devo terminar esta carta. Se o Senhor quiser, continuarei meu tema na próxima carta. Tenho lhe dado um breve e débil resumo de um interessante movimento na Igreja de Deus. Refiro-me às atividades exercidas pelos assim chamados "Irmãos". 

C. H. Mackintosh

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