sexta-feira, 24 de outubro de 2025

Reflexões sobre Lucas 15

 

Uma breve reflexão sobre Lucas 15.

Em Lucas 15, como às vezes pregado e ensinado, não há 3 parábolas. O verso 3 expõe o que temos ali. Diz o referido verso: "Então ele lhes propôs esta parábola." Note não propôs parábolas; propôs parábola (singular), então é uma só.

Pois bem, a primeira parte da parábola enfoca uma ovelha, enquanto a segunda parte, enfoca uma dracma.

A OVELHA é um animal peculiar ao judeu. Desde que Israel foi para o Egito, nos dias de José, eles foram posicionados na terra do Egito como pastores de ovelhas, o que era uma abominação aos egípcios (Gen 46:34).

O próprio Senhor Jesus fez referência a Israel como ovelha quando disse:

"Não fui enviado senão às ovelhas perdidas da casa de Israel" (Mat 15:24).

E outra vez:

Jesus enviou estes doze, e lhes ordenou, dizendo: Não ireis pelo caminho dos gentios, nem entrareis em cidade de samaritanos; mas ide antes às ovelhas perdidas da casa de Israel” (Mat 10:5,6).

 Então nestas escrituras acima, Israel é caracterizado figurativamente como ovelha.

Por outro lado, a "DRACMA" não tem nada a ver com o judeu. A dracma é uma moeda grega, o que representa o gentio. Em Romanos 1 temos isto em perfeita ordem. Paulo escreveu ali que: "ele não se envergonhava do evangelho, porque é o poder de Deus para salvação de todo aquele que crê; primeiro do judeu, e também do grego."

"PRIMEIRO DO JUDEU, E TAMBÉM DO GREGO." Observe esta expressão! Não confere com as duas figuras iniciais de Lucas 15? Então, entendo que é disto que a parábola está falando.

A conversa que gerou está parábola é esta:

E CHEGAVAM-SE a ele todos os PUBLICANOS E PECADORES para o ouvir. E os FARISEUS E OS ESCRIBAS murmuravam, dizendo: Este recebe pecadores, e come com eles” (Luc 15:1,2).

 Então o diálogo entre o Senhor e os publicanos e pecadores, suscitou nos “noventa e nove justos” este questionamento. Por isso a parábola foi exposta de forma completa, detalhada e não resumida.

Nela o Senhor expõe o evangelho que haveria de ser pregado, bem como, seu alcance. Judeus e gentios ou ovelha e dracma seriam os alvos e são postos em cena nesta alegoria, tal como a forma como ambos seriam alcançados.

Assim nela temos em figura em primeiro plano o Senhor (aquele que foi após a perdida, Israel) e o Espírito Santo (aquele que acende a candeia, varre a casa e busca até encontrá-la, o gentio).

Nos dois filhos, o mais novo (publicanos e pecadores) e o mais velho (fariseus e escribas), temos o relacionamento pessoal do Senhor naquele tempo. João escreveu que Ele “veio para o que era seu, mas os seus não o receberam. Mas, a todos quantos o receberam, deu-lhes o poder de serem feitos filhos de Deus, aos que creem no seu nome” (Jo. 1:11,12).

Os acontecimentos futuros, como registrado em Atos, especialmente, nos capítulos 11,13,14 e 15, descrevem a forma como no princípio foram recebidos em casa.

Assim observem o diálogo entre o pai e os dois filhos. O mais velho representa os noventa e nove justos que não precisam de salvação, o mais novo os que são salvos.

O mais novo nos fala tanto da ovelha como da dracma perdida, e sabendo que o Senhor veio salvar os pecadores, tanto judeus como gentios se enquadram entre eles.

O Senhor, repetindo suas próprias palavras referidas acima, não foi enviado senão as ovelhas perdidas da casa de Israel; no entanto, enviou os seus com esta mensagem:

"Portanto ide, fazei discípulos de todas as nações, batizando-os em nome do Pai, e do Filho, e do Espírito Santo; ensinando-os a observar todas as coisas que eu vos tenho mandado" (Mat 28:19,20).

Porque Ele mesmo não fez isto? Porque existia algo terrível entre Deus e o homem e sua salvação. Havia uma sentença de morte. Deus ordenou a Adão:

De toda a árvore do jardim comerás livremente, mas da árvore do conhecimento do bem e do mal, dela não comerás; porque no dia em que dela comeres, CERTAMENTE MORRERÁS” (Gên. 2:16,17).

A humanidade estava por causa do pecado debaixo de uma sentença de morte. Portanto, um pecador morrendo, somente receberia a punição, sentença aplicada aos seus pecados, então o que fazer? Nada! Impossível redimir-se.

O salmista escreveu:

Nenhum deles de modo algum pode remir a seu irmão, ou dar a Deus o resgate dele (Pois a redenção da sua alma é caríssima, e cessará para sempre)” (Sal 49:7,8).

O quadro era aterrador, não havia saída para o homem em si mesmo. Em todas as direções só se via pecado, transgressão. Do outro lado uma justiça implacável, imparcial, a justiça de Deus. Falando desta justiça o profeta registrou:

O Senhor é um Deus zeloso e vingador; o Senhor é vingador e cheio de indignação; o Senhor toma vingança contra os seus adversários, e guarda a ira contra os seus inimigos. O Senhor é tardio em irar-se, e de grande poder, e AO CULPADO DE MANEIRA ALGUMA TERÁ POR INOCENTE” (Naum 1:2,3).

Diante desta exigência o que fazer? É necessário encontrar um substituto, alguém sem pecado, um santo, alguém que satisfizesse esta justiça. Aí entra em cena o amor de Deus. Se Ele é justo, Ele também ama o pecador. Para mim a frase mais linda e preciosa que a minha mente pode conceber é esta: “Deus (apesar do que sou como pecador) não desistiu de mim, não desistiu de você”. Ele me ama, ama você também. O profeta Isaias escreveu:

TRAZEI MEUS FILHOS DE LONGE, e minhas filhas das extremidades da terra; a todo aquele que é chamado pelo meu nome, e QUE CRIEI PARA MINHA GLÓRIA, e que formei e fiz” (Isa 43:7,8).

Como soa refrescante em nossos corações estas doces palavras. Podemos agregar muitas outras como estas:

Deus prova o seu amor para conosco, em que Cristo morreu por nós, sendo nós ainda pecadores, ” (Rom 5:8).

“Nisto está o amor, não em que nós tenhamos amado a Deus, mas em que ele nos amou a nós, e enviou seu Filho para propiciação pelos nossos pecados” (1 Jo 4:10).

 Eu e você carecíamos de um substituto, de  alguém para morrer em nosso lugar, mas alguém que não tinha sobre si a sentença de morte, alguém que não tinha pecado.  Deus deu este substituto, deu seu Filho Amado:

Porque Deus amou o mundo de tal maneira que deu o seu Filho unigênito, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna” (Jo 3:16).

A salvação dos pecadores somente deveria ser proclamada sobre uma base sólida, segura e estável. Por esta razão o Senhor a comissionou aos homens, embora como diz o escritor aos Hebreus, Ele foi quem primeiramente a anunciou (Heb 2:3).

A justiça de Deus requer a morte do pecador e o Senhor Jesus morreu no seu lugar. A escritura afirma: “Cristo morreu pelos pecados, o justo pelos injustos, para nos levar a Deus” (1 Pe 3:18). Preciosa verdade! Judeu e gentio agora podem ser salvos, se pela fé, arrependidos, confessando seus pecados, confiarem no Senhor Jesus como seu Senhor e Salvador.

O evangelho de Cristo só podia ser pregado debaixo desta sustentação. Por isso Ele se dispôs a morrer no lugar do pecador. Ele foi a cruz rasgar o escrito de dívida que era contra o pecador (Col 2:13,14).

Estando ausente como o sustentador daquilo que Ele mesmo fez, comissionou aos pecadores salvos a nobre tarefa de proclamar o evangelho. Ele mesmo como escreveu Marcos “cooperou com eles confirmando a palavra com os sinais que se seguiram” (Mar 16:20).

A salvação e a agregação de qualquer pecador ao plano inicial de Deus, devido a entrada do pecado, exigia o pagamento de um alto preço, e na cruz do calvário, o Senhor Jesus o pagou para a redenção de todo aquele que crê.

Portanto, havia necessidade de redenção e Ele estava aqui para fazê-la. Como é precioso o que escreveu Paulo em Efésios 1:7 e Colossenses 1:14, no primeiro lemos:

Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a remissão das ofensas, segundo as riquezas da sua graça.”

E no segundo:

Em quem temos a redenção pelo seu sangue, a saber, a remissão dos pecados.”

Somente depois que o Senhor Jesus ressuscitou é que o evangelho foi ordenado a ser pregado a todo mundo. Primeiro a justiça tinha que ser estabelecida, e para isto a sentença de morte tinha que ser aplicada, executada e, então, lemos:

Ide por todo o mundo, pregai o evangelho a toda criatura. Quem crer e for batizado será salvo; mas quem não crer será condenado” (Mar 16:15,16).

Até então, como disse acima, não havia redenção, salvação a ser pregada. Foi Ele mesmo quem fez a redenção. Ele mesmo que morreu. Paulo escreveu aos coríntios nestes termos:

Vos notifico, irmãos, o evangelho que já vos tenho anunciado... pelo qual também sois salvos... que Cristo morreu por nossos pecados, segundo as Escrituras, e que foi sepultado, e que ressuscitou ao terceiro dia, segundo as Escrituras” (1 Cor 15:1-4).

Continuando na observação dos detalhes da parábola, entendemos pelos registros apontados que o pai jamais desviou seu olhar daquela cena onde o filho mais novo desapareceu. O Senhor disse:

Quando ainda estava longe, viu-o seu pai, e se moveu de íntima compaixão e, correndo, lançou-se-lhe ao pescoço e o beijou” (Luc 15:20).

 Na epístola de Paulo a Timóteo e na 2 epistola de Pedro encontramos a resposta para o posicionamento do Pai, especialmente, sobre o fato de nunca ter desviado seu olhar nem dado sono aos seus olhos, desde que o filho desapareceu, seja numa montanha ou numa curva.

Em primeira Timóteo 2:3,4 lemos que:

"Deus nosso Salvador... deseja que todos os homens sejam salvos e cheguem ao pleno conhecimento da verdade."

Em 2 Pedro 3:9 lemos também:

"O Senhor...  é longânimo para convosco, não querendo que ninguém se perca, senão que todos venham a arrepender-se."

Assim, quando chegamos ao livro de Atos temos o desenrolar daquilo que se passou em figura na experiência de ambos, isto é: pai, filho mais novo e filho mais velho.

As narrações de Lucas obedecem ao mesmo princípio do seu evangelho e estão distribuídas neste livro, segundo minha visão, assim:

Primeiro o evangelho foi pregado aos judeus, com a promessa de chegar aos confins da terra (Atos 1:8). Enquanto o evangelho era pregado somente aos judeus houve alguns distúrbios de pequena monta, (exceto o caso de Estevão).

Mas quando o evangelho foi levado aos gentios, a partir de Atos 8, os distúrbios aumentaram numa elevada proporção. Assim a pregação do evangelho para fora dos termos de Israel, onde a dracma foi varrida e encontrada, ocorreu após início da perseguição de Estevão (Atos7 e 8).

"Naquele dia levantou-se grande perseguição contra a igreja que estava em Jerusalém; e todos exceto os apóstolos, foram dispersos pelas regiões da Judeia e da Samaria...

E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu por causa de Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquía, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus. 

E havia entre eles alguns homens cíprios e cirenenses, os quais entrando em Antioquía falaram aos gregos, anunciando o Senhor Jesus...

Mas os judeus incitaram as mulheres devotas de alta posição e os principais da cidade, suscitaram uma perseguição contra Paulo e Barnabé, e os lançaram fora dos seus termos" (Atos 8:1; 11:19,20; 13:50).

Então o que temos relativo à propagação do evangelho fora dos limites de Jerusalém, começou com o martírio de Estevão. Devido aquela perseguição cumpriu-se o que havia sido dito pelo Senhor aos seus, quando lhes falou do Espírito Santo e que pelo seu poder eles seriam suas testemunhas, começando em Jerusalém e indo até os confins da terra. 

Então devido a perseguição eles saíram fora dos termos de Jerusalém, e no capítulo 11 de Atos temos o relato de Pedro acerca de como o evangelho alcançou Cornélio, e nos relatos finais o evangelho chega a Antioquía e ali ouvimos de outros que também creem no evangelho. Agora em verso 20 lemos de cíprios e cirenenses pregando aos gregos e estes crendo também. A notícia destes acontecimentos chega a Jerusalém e eles enviam Barnabé para lá.

Estes fatos fazem-nos lembrar de Lucas 15 onde o filho mais velho (figura dos judeus) não concorda com o perdão dado ao filho pródigo (figura dos que se arrependem).  

Algo semelhante é visto aqui nesta parte da parábola de Lucas 15. Em Lucas 15:32 o problema foi resolvido com estas palavras:

"Mas era justo alegrarmo-nos e folgarmos, porque este teu irmão estava morto, e reviveu; e tinha-se perdido, e achou-se".

O mesmo ocorreu também em Atos 11:17quando Pedro também disse:

"Quem era então eu, para que pudesse resistir a Deus?"

Em continuação lemos que os dispersos seguiram anunciando o evangelho somente aos Judeus:

"E os que foram dispersos pela perseguição que sucedeu a Estêvão caminharam até à Fenícia, Chipre e Antioquía, não anunciando a ninguém a palavra, senão somente aos judeus (Atos 11:19).

Pois bem, embora temos conversão de gentios, o evangelho é centralizado nos judeus e isto sucede até que eles sejam declarados como aqueles que rejeitaram o evangelho. Em cap. 13:46 lemos:

"Mas Paulo e Barnabé, usando de ousadia, disseram: Era mister que a vós se vos pregasse primeiro a palavra de Deus; mas, visto que a rejeitais, e não vos julgais dignos da vida eterna, eis que nos voltamos para os gentios."

Foi neste período de grande conturbação que Deus chama um homem, Paulo, para ser este instrumento, e quando Barnabé foi para Antioquía associa-se consigo a Paulo nesta pregação e ensino do evangelho aos que creram. Os versos finais nos contam deste trabalho conjunto de Barnabé e Paulo, seja ensinando (vs 26), seja socorrendo (vs 29,30).

Resumindo o nosso texto para não ficar cansativo, lemos nos capítulos  11,13,14 e15 que depois desta  resistência dos judeus à conversão dos gentios, houve uma reunião (concilio) em Jerusalém para solucionar este problema.

"Ora, ouviram os apóstolos e os irmãos que estavam na Judeia que também os gentios haviam recebido a palavra de Deus.

E quando Pedro subiu a Jerusalém, disputavam com ele os que eram da circuncisão, dizendo: Entraste em casa de homens incircuncisos e comeste com eles" (Atos 11:1-3).

"Mas os judeus, vendo as multidões, encheram-se de inveja e, blasfemando, contradiziam o que Paulo falava.

Mas os judeus incitaram as mulheres devotas de alta posição e os principais da cidade, suscitaram uma perseguição contra Paulo e Barnabé, e os lançaram fora dos seus termos" (Atos 13,:45,50).

"Mas os judeus incrédulos excitaram e irritaram os ânimos dos gentios contra os irmãos... E se dividiu o povo da cidade; uns eram pelos judeus, e outros pelos apóstolos. E, havendo um motim tanto dos gentios como dos judeus, juntamente com as suas autoridades, para os ultrajarem e apedrejarem...

Sobrevieram, porém, judeus de Antioquía e de Icônio e, havendo persuadido as multidões, apedrejaram a Paulo, e arrastaram-no para fora da cidade, cuidando que estava morto" (Atos 14:2,4,5,19).

Tendo tido Paulo e Barnabé não pequena discussão e contenda contra eles, resolveu-se que Paulo e Barnabé, e alguns dentre eles, subissem a Jerusalém, aos apóstolos e aos anciãos, sobre aquela questão...

E, quando chegaram a Jerusalém, foram recebidos pela igreja e pelos apóstolos e anciãos, e lhes anunciaram quão grandes coisas Deus tinha feito com eles...

Congregaram-se, pois, os apóstolos e os anciãos para considerar este assunto.

E, havendo grande contenda, levantou-se Pedro e disse-lhes: Homens irmãos, bem sabeis que já há muito tempo Deus me elegeu dentre nós, para que os gentios ouvissem da minha boca a palavra do evangelho, e cressem...

Então toda a multidão se calou e escutava a Barnabé e a Paulo, que contavam quão grandes sinais e prodígios Deus havia feito por meio deles entre os gentios.

E, havendo-se eles calado, tomou Tiago a palavra, dizendo: Homens irmãos, ouvi-me:

Simão relatou como primeiramente Deus visitou os gentios, para tomar deles um povo para o seu nome...

Por isso julgo não se deve perturbar aqueles, dentre os gentios, que se convertem a Deus...

Então pareceu bem aos apóstolos e aos anciãos com toda a igreja escolher homens dentre eles e enviá-los a Antioquia com Paulo e  Barnabé...

E, quando a leram, alegraram-se pela consolação" (Atos 15:2,4,6,7,12-14,19, 22,31).

Os fatos narrados acima de capítulos 11 a 14 mostram a inimizade ou resistência do filho mais velho contra o mais novo.

Em capitulo 15 temos o tribunal da igreja em Jerusalém, para discussão destes assuntos o que prefigura a conversa do pai com o filho mais velho.

Assim, a análise criteriosa destes acontecimentos, sintetizam o que o Senhor expôs na parábola de Lucas 15.

Como citei de Romanos 1:16, que “ o evangelho é o poder de Deus para a salvação de todo que crê; primeiro do judeu e também do grego (o gentio)”; os fatos transcritos acima demonstram de forma muito clara esta verdade preciosa dos propósitos de Deus, e assim confirma aquilo que o apóstolo Paulo escreveu em Romanos 11:29: “Porque os dons e a vocação de Deus são sem arrependimento.”

 

JCarneiro.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Reflexões sobre Lucas 15

  Uma breve reflexão sobre Lucas 15. Em Lucas 15, como às vezes pregado e ensinado, não há 3 parábolas. O verso 3 expõe o que temos ali. D...