sábado, 14 de dezembro de 2013

Irmãos Santos



“IRMÃOS SANTOS”
            “Portanto, irmãos santos, participantes da vocação  celestial, considerai ao apóstolo e sumo sacerdote de nossa confissão, Cristo Jesus” (Hebreus 3:1)
             “E consideremo-nos uns aos outros para nos estimular ao amor e as boas obras” (Hebreus 10:24).
             Estas duas passagens têm entre si uma relação muito íntima. Isto se deve ao fato que o autor inspirado da epístola emprega em ambas uma mesma palavra, que não é encontrada ao longo deste maravilhoso tratado, a não ser nestes dois lugares.
             Nós somos convidados a considerar Jesus e, ao mesmo tempo, a todos aqueles que lhe pertencem, onde quer que se estejam. Estas são as duas grandes divisões de nossa obra. Devemos aplicar nossa mente diligentemente a Ele e aos seus interesses na terra, e assim seremos libertados da miserável ocupação de pensar em nós mesmos e em nossos próprios interesses. Gloriosa libertação, seguramente, pela qual bem podemos louvar ao nosso glorioso Libertador.

O título de “irmãos santos”

     Mas, antes de entrar no exame dos grandes temas que temos para considerar, detenhamo-nos por um momento no maravilhoso título que o Espírito Santo aplica a todos os crentes, a todos os verdadeiros cristãos. Ele os chama “irmãos santos”.  Este é certamente um título de grande dignidade moral. Não diz que devemos ser santos. Não; mas que somos santos. Trata-se do título ou da posição de todo filho de Deus na terra. Sem dúvida que ao ter esta santa posição, pela soberana graça, devemos ser santos em nosso caminho; por isso é mister que nosso estado moral responda sempre a nosso título. Jamais deveríamos permitir um pensamento, uma palavra ou uma ação que seja, ainda no menor grau, incompatível com nossa elevada posição como “irmãos santos”. Santos pensamentos, santas palavras e santas ações é a única coisa que convém àqueles a quem a graça infinita de Deus tem concedido este título.
     Não o esqueçamos. Não digamos, não pensemos jamais que não podemos manter tão elevada posição ou viver a altura desta medida. A mesma graça que nos tem revestido desta dignidade, nos fará sempre capazes de mantê-la, e, veremos em continuação destas linhas, como esta graça atua, de que poderosos meios morais ela se vale, para produzir um andar prático que esteja em harmonia com nosso santo chamado.
     Porém examinemos sobre que base a epístola fundamenta este título de “irmãos santos”. É de suma importância ver claramente esta questão. Se não vemos que é inteiramente independente de nosso estado, de nosso caminho, ou de nosso progresso, não poderemos compreender, nem nossa posição, nem seus resultados práticos. Afirmamos com a maior segurança que o caminho mais santo que se tem visto neste mundo, o mais elevado estado espiritual que tem sido alcançado, jamais poderá constituir a base de uma tal posição, como a que expressa este título: “irmãos santos”. E mais, nos atrevemos a afirmar que a própria obra do Espírito Santo em nós, tão essencial como é em cada etapa da vida divina, tampouco poderia dar-nos direito a entrar em tal dignidade. Nada em nós, nada de nós, nada concernente a nós, poderá jamais constituir o fundamento desta posição.
     Em que, pois, se fundamenta? Hebreus 2:11 nos fornece a resposta: “Porque o que santifica e os que são santificados, são todos de um ; pelo que não se envergonha de chamar-lhes irmãos.” Aqui temos uma das verdades mais profundas e mais extensas do santo volume. Vemos como chegamos a ser “irmãos santos”; isto é, sermos associados com Aquele bendito que desceu á morte por nós, e que em sua ressurreição veio a constituir o fundamento desta nova ordem de coisas onde temos nosso lugar. Ele é a Cabeça, o chefe desta nova criação, à qual pertencemos, o Primogênito entre muitos irmãos, dos quais não se envergonha, visto que os tem posto sobre o mesmo terreno que Ele, e os tem trazido a Deus, não só segundo a perfeita eficácia de sua obra, mas segundo a perfeita aceitação e a infinita preciosidade de sua pessoa diante de Deus. “O que santifica e os que são santificados, são todos de um.
    Palavras maravilhosas! Meditemo-nos nelas, querido leitor. Notemos a profunda, sim, a incomensurável diferença que existe entre “o que santifica” e “os que são santificados”. O Senhor, pessoalmente, de uma maneira intrínseca, em sua humanidade é “o que santifica”. Nós, pessoalmente, em nossa condição moral, em nossa natureza, temos necessidade de ser santificados. Porém - o universo inteiro louva seu Nome pela eternidade! - é tal a perfeição da sua obra, tais são as “riquezas” e “a glória” da sua graça, que pode ser escrito: “Como é Ele, somos nós neste mundo.” “O que santifica e os que são santificados, são todos de um” (1.ª João 4:17; Hebreus 2:11). Todos estão sobre um mesmo terreno, e isso para sempre.
     Nada pode ultrapassar a grandeza deste título e esta posição. Estamos diante de Deus segundo todos os gloriosos resultados da sua obra perfeita e segundo toda a aceitação de sua Pessoa. Ele nos tem unido consigo, em sua vida de ressurreição, e nos tem feito participantes de tudo o que tem e de tudo o que é como homem, salvo sua Deidade, naturalmente, que é incomunicável.
     Prestemos particular atenção no que implica o fato de que necessitamos ser “santificados”. Isso põe de manifesto, da maneira mais forte e clara, a ruína total sem esperança e absoluta em que se acha cada um de nós. Não importa, no que toca a este aspecto da verdade, quem éramos, e o que somos em nossa vida pessoal e prática. Poderíamos ter sido refinados, cultos, amáveis, morais e religiosos à maneira dos homens; ou em contra partida poderíamos ter sido degradados, imorais, depravados, a escória da sociedade. Em uma palavra, poderíamos haver estado, quanto ao nosso estado moral e a nossa condição social tão longe uns dos outros, como os dois pólos; todavia, como se trata da necessidade de sermos santificados, não há evidentemente “nenhuma diferença, nem para o mais excelente, assim como para o pior, antes de sermos chamados “irmãos santos”,”O mais vil não necessitava nada mais, e nem nada menos que o melhor. Todos, e cada um de nós estávamos envoltos na mesma ruína comum e tínhamos necessidade de ser santificados, postos aparte, antes de poder tomar nosso lugar entre os “irmãos santos”. E agora, postos a parte, estamos todos sobre um mesmo terreno; O mais débil filho de Deus sobre a face da terra forma parte dos “irmãos santos” tão verdadeira e realmente como o apóstolo Paulo mesmo. Não é questão de progresso nem de logros, por importante e precioso que seja fazer progressos; trata-se, simplesmente, de nossa comum posição diante de Deus, da qual o “Primogênito” é de uma maneira viva, em sua pessoa, a eterna e preciosa definição.
     Porém devemos recordar aqui ao leitor que é da maior importância ter isto bem claro e estar bem fundados quanto à relação do “Primogênito” com os “muitos irmãos”. É esta uma verdade fundamental, com respeito a qual não deve haver nenhuma oscilação, nem indecisão. A Escritura é clara e enfática sobre este grande ponto principal. Contudo há muitos que não querem ouvir a Escritura. Estão tão cheios de seus próprios pensamentos que não tomam o cuidado de esquadrinhar as Escrituras para ver o que dizem sobre este tema. Por isso hoje encontramos muitos que sustêm o erro fatal de que a encarnação constitui o fundamento de nossa relação com o “Primogênito”. Os tais consideram  Aquele que se encarnou como nosso “irmão maior” que, ao tomar sobre si uma natureza humana, nos uniu a Ele ou ele se uniu a nós.
     Seria difícil expressar convenientemente e enumerar as terríveis consequências de tal erro. Em primeiro lugar, traz junto consigo uma positiva blasfêmia contra a Pessoa do Filho de Deus; é a negação de sua humanidade absolutamente pura, sem pecado, perfeita. Em sua humanidade, era tal que o anjo podia dizer à virgem Maria: “O Santo Ser que nascerá, será chamado Filho de Deus” (Lucas 1:35). Sua natureza humana era absolutamente santa. Como homem, não conheceu pecado. Foi o único homem na terra de quem se podia dizer isto. Era único, absolutamente só nessa condição. Não havia nem podia haver nenhuma união com ele em sua encarnação. Como o Santo e os profanos, o Puro e os impuros, o Imaculado e os maculados podiam ser unidos alguma vez? Isso era absolutamente impossível! Aqueles que pensam e dizem que tal coisa era possível, erram grandemente, ignorando as Escrituras e o Filho de Deus.
     Além disso, aqueles que falam de união na encarnação são manifestamente inimigos da cruz de Cristo. Com efeito, que necessidade haveria da cruz, da morte ou do sangue de Cristo, se os pecadores pudessem estar unidos a Ele em sua encarnação? Nenhuma, seguramente. Não haveria nenhuma necessidade de propiciação, nenhuma necessidade de propiciação, nenhuma necessidade dos sofrimentos e da morte de Cristo como substituto, se os pecadores pudessem estar unidos a Ele sem isso.
     Daí podemos ver que tal sistema de doutrina não pode vir senão do inimigo. Desonra a pessoa de Cristo e põe de lado sua obra expiatória. Além de tudo isto, tal doutrina lança fora o ensino de toda Bíblia a respeito da ruína e da culpa do homem. Em suma, destrói completamente todas as grandes verdades fundamentais do cristianismo, e não nos deixa senão um sistema profano, sem Cristo, e infiel. Este é o objetivo que o diabo sempre teve em vista, e que ainda persegue; e milhares que se denominam mestres cristãos atuam como seus agentes nos seus esforços de desacreditar o cristianismo. Que tremenda responsabilidade para eles!
     Prestemos ouvidos com reverência ao ensino das Santas Escrituras sobre este grande tema. Que significado tem essas palavras que brotaram dos lábios de nosso Senhor Jesus Cristo e que Deus o Espírito Santo as tem preservado: “Se o grão de trigo caindo na terra não morrer fica ele só” (João 12:24)? Quem é este grão de trigo? Ele mesmo, Bendito seja seu santo Nome. O Senhor Jesus devia morrer, a fim de “produzir muito fruto”. Para acercar-se de “muitos irmãos”, devia descer à morte, a fim de remover todo obstáculo que impedisse que eles fossem eternamente associados com ele no novo terreno da ressurreição. Ele, o verdadeiro Davi, devia avançar só contra o temível inimigo, a fim de ter o profundo gozo em compartilhar com seus irmãos os despojos, frutos de sua gloriosa vitória. Eternas aleluias sejam dadas a seu Nome sem igual!
     No capítulo 8 do evangelho de Marcos temos uma formosíssima passagem que se relaciona com nosso tema. “E começou a ensinar-lhes que importava que o Filho do Homem padecesse muito, e que fosse rejeitado pelos anciãos, pelos principais sacerdotes e pelos escribas, e que fosse morto, mas que depois de três dias, ressuscitaria. E dizia abertamente estas palavras. E Pedro o tomou aparte e começou a repreendê-lo.” Em outro evangelho, vemos o que Pedro lhe disse: “Senhor, tem compaixão de ti; de nenhuma maneira isto te acontecerá.” Agora, prestemos atenção na resposta e na atitude do Senhor: “Mas Ele, virando-se e olhando para os seus discípulos, repreendeu a Pedro, dizendo: Retira-te de diante de mim, Satanás; porque não compreendes as coisas que são de Deus, mas as que são dos homens.”
     Isto é de uma beleza perfeita. Não só apresenta à inteligência uma verdade, mas deixa penetrar no coração um brilhante raio da glória moral de nosso adorável Senhor e Salvador Jesus Cristo, com o expresso propósito de inclinar a alma em adoração diante dEle. “Virando-se e olhando para os seus discípulos”, é como se houvesse querido dizer ao seu errado servo: «Se admito o que me sugeres, se tenho compaixão de mim mesmo, o que será destes?» Bendito Salvador! Ele não pensou em si mesmo. “Manifestou o  firme propósito de ir a Jerusalém” (Lucas 9:51), sabendo muito bem o que ali o esperava. Ia a cruz para sofrer ali a ira de Deus, o juízo do pecado, todas as terríveis consequências de nossa condição, a fim de glorificar a Deus com respeito aos nossos pecados, e iso, a fim de ter o gozo inefável e eterno de ver-se rodeado de “muitos irmãos” a quem, sobre o terreno da ressurreição, podia anunciar o nome do Pai. “Anunciarei o teu nome a meus irmãos.” Do meio das terríveis sombras do Calvário, onde suportava por nós o que nenhuma criatura inteligente pudesse jamais sondar, Ele olhava adiante, para este momento glorioso. Para poder chamar-nos “irmãos”, Ele devia encontrar a morte e o juízo por nós.
     Pois bem, por que todos estes sofrimentos, se a encarnação fosse a base de nossa união ou de nossa associação com ele? Não é perfeitamente evidente que não poderia haver nenhum vínculo entre Cristo e nós exceto sobre a base de uma expiação cumprida? Como poderia existir este vínculo, com o pecado não expiado, a culpabilidade não apagada e os direitos de Deus não satisfeitos? Seria absolutamente impossível. Manter semelhante pensamento é andar na contra mão da revelação divina, enterrar os mesmos fundamentos do cristianismo, e isto é precisamente, como bem sabemos, o objetivo do diabo.
     No entanto, não nos deteremos mais neste tema aqui. Acreditamos que a grande maioria dos leitores estejam perfeitamente convencidas disto e firmadas neste ponto, e que o sustenham como uma das verdades principais e essenciais do cristianismo. Mas em um tempo como o presente, sentimos a importância de dar a toda a Igreja de Deus um claro testemunho desta tão bendita verdade. Estamos persuadidos de que o erro que temos combatido - a saber, a união com Cristo na encarnação - forma uma parte integrante de um vasto sistema infiel e anticristão que domina sobre milhares de cristãos professantes, e que faz tremendos progressos em toda a cristandade. É a profunda e solene convicção que temos deste fato, o que nos conduz a chamar a atenção do amado rebanho de Cristo sobre um dos mais preciosos e gloriosos temas que pode ocupar nosso coração, a saber, o título de sermos chamados “irmãos santos”.

A exortação dirigida aos “irmãos santos”

O Apóstolo  de nossa confissão.

     Nos deteremos agora por uns momentos à exortação dirigida aos “irmãos santos, participantes da vocação celestial”. Como já temos observado, não somos exortados a ser “irmãos santos”, somos feitos tais. Este lugar e esta porção são nossos em virtude de uma graça infinita, e sobre esta graça o escritor aos Hebreus baseia sua exortação: “Por isso, santos irmãos, que participais da vocação celestial, considerai, atentamente, o apóstolo e sumo sacerdote de nossa confissão, Jesus.”
     Os títulos outorgados aqui ao Senhor Jesus, o apresentam aos nossos corações de uma maneira muito maravilhosa. Descrevem todo o curso da sua história: desde o momento em que estava no seio do Pai até descer ao pó, no sepulcro, e dali ao trono de Deus. Como Apóstolo, veio de Deus até nós, e como Sumo Sacerdote voltou a Deus, onde está por nós. Veio do céu para revelar-nos a Deus, para expor diante de nós o coração de Deus, para fazer-nos conhecer os preciosos segredos que estavam em seu seio. “Havendo Deus antigamente falado muitas vezes, e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas, nestes últimos dias nos falou pelo Filho [en uiô = no Filho], a quem constituiu herdeiro de tudo, e por quem  fez também o universo; o qual, sendo o resplendor de sua glória, e a expressa imagem da sua substância, e sustentando todas as coisas pela palavra do seu poder, havendo feito por si mesmo a purificação de nossos pecados, assentou-se a destra da majestade nas alturas” (Hebreus 1:1-3).
     Que maravilhoso privilégio que Deus tem revelado a nós na pessoa do Senhor Jesus Cristo! Deus falou-nos pelo Filho. O Apóstolo da nossa confissão nos tem dado a plena e perfeita revelação do que Deus é. “Deus nunca foi visto por alguém. o Filho unigênito, que está no seio do Pai, este o fez conhecer.” “Porque Deus, que disse que das trevas resplandecesse a luz, é quem resplandeceu em nossos corações, para iluminação do conhecimento da glória de Deus na face de Jesus Cristo” (João 1:18; 2.ª Coríntios 4:6).
     Tudo isto é de um preço inestimável. Jesus tem revelado Deus às nossas almas. Não poderíamos conhecer, absolutamente, nada de Deus se o Filho não tivesse vindo e não nos houvesse falado. Mas - graças e louvores sejam dados ao nosso Deus! - podemos dizer com toda a certeza possível: “Sabemos que o Filho de Deus é vindo, e nos deu entendimento para conhecermos o que é verdadeiro; e no que é verdadeiro estamos, isto é, em seu Filho Jesus Cristo. Este é o verdadeiro Deus, e a vida eterna” (!.ª João 5:20). Se recorrermos ás páginas dos quatro evangelhos e contemplarmos Aquele bendito que o Espírito Santo nos apresenta em todo o resplendor de sua soberana graça, dessa graça que brilha em todas as suas palavras, seus atos, e em seus caminhos, podemos dizer: Eis aí a Deus. Vemo-lo indo de lugar em lugar fazendo o bem, e curando a todos os que estavam oprimidos pelo diabo; vemo-lo curando aos enfermos, purificando os leprosos, abrindo os olhos dos cegos e as ouvidos dos surdos, alimentando aos que tinham fome, enxugando as lágrimas das viúvas, chorando diante do túmulo de Lázaro, e dizemos: Este é Deus. Todos os raios da glória moral que brilharam na vida e no ministério do Apóstolo da nossa confissão, eram a expressão de Deus. Ele é o resplendor da glória divina e a imagem, ou expressão exata, de sua substância ou essência divina.

O Verbo eterno és tu;
O unigênito do Pai,
Deus manifestado, Deus visto e ouvido,
O Amado do céu.

Em ti, perfeitamente expresso,
Do Pai mesmo, o resplendor.
A plenitude da Deidade,
O Bendito, eternamente Deus.

     Quão infinitamente precioso é tudo isto para nossas almas! Ter a Deus revelado na pessoa de Cristo, de maneira que podemos conhecer-lhe, regozijarmos nEle, encontrar todas as nossas delicias nEle, Chamar-lhe “Aba Pai”, andar na luz de sua bendita face, ter comunhão com Ele e com seu Filho Jesus Cristo, conhecer o amor do seu coração, o amor mesmo com que ama ao Filho, que profunda bênção! Que plenitude de gozo! Como poderemos louvar e bendizer suficientemente ao Deus e Pai de nosso Senhor Jesus Cristo pela maravilhosa graça que demonstrou para nós, ao introduzir-nos em tal esfera de bênçãos e privilégios, e ao colocar-nos em tão maravilhosa relação consigo mesmo no Filho do seu amor! Oh, que nossos corações o louvem! Que nossas vidas o glorifique! Que o único grande objeto de todo nosso ser moral seja magnificar seu Nome!
    
O Sumo Sacerdote da nossa confissão.

     Examinemos agora outra divisão importante de nosso tema. Temos que considerar o “sumo sacerdote da nossa confissão”. Isto também está repleto das mais ricas bênçãos para cada um dos irmãos santos. O mesmo Bendito Senhor que, como Apóstolo, desceu de Deus até nós, para nos revelar-lhe, voltou a Deus a fim de estar diante dEle por nós. Veio falar-nos de Deus, e voltou para o céu, para falar de nós a Deus. Comparece por nós diante da face de Deus. Nos leva continuamente sobre seu coração. Nos representa diante de Deus, e nos mantém na integridade da posição em que sua obra expiatória nos tem introduzido. Seu bendito sacerdócio é a provisão divina para nossa senda no deserto. Se só fosse questão de nossa posição ou de nosso título, não teríamos necessidade de sacerdócio; mas como se trata de nosso estado atual e de nosso caminho prático, não podemos dar um só passo se não tivermos nosso grande Sumo Sacerdote vivendo sempre por nós na presença de Deus.
     Assim, a epístola aos Hebreus nos apresenta três preciosíssimas fazes do serviço sacerdotal do Senhor. Em primeiro lugar, lemos no capítulo 4: “Visto que temos um grande sumo sacerdote, Jesus, Filho de Deus, que penetrou nos céus, retenhamos firmemente a nossa confissão. Porque não temos um sumo sacerdote que não possa compadecer-se das nossas fraquezas; porém um que, como nós, em tudo foi tentado, mas sem pecado”.

     Leitor cristão, não é uma preciosa e imensa bênção ter à destra da Majestade nos céus, Àquele que se compadece de nossas debilidades, que experimentou todas as nossas dores, que sente por nós e conosco em todos os nossos exercícios da alma, nossas provas e nossas dificuldades? Que inefável bênção é ter no trono de Deus um Homem que tem um coração humano perfeito, com o qual podemos contar em todas nossas fraqueza, nossos fardos e nossos conflitos; em todas as coisas, mas, em uma palavra, sem pecado!. Com este último, o pecado – Bendito seja seu Santo Nome - Ele não pode ter nenhuma simpatia.
     Que pena, que língua humana, seria capaz de descrever digna e plenamente a profunda bênção que resulta do fato de termos na glória um Homem cujo coração está conosco em todas as provas, em todas as dores de nossa senda pelo deserto? Que preciosa provisão! Que divina realidade!  Aquele que tem toda poder nos céus e na terra, vive agora por nós no céu. Podemos contar com Ele em todo tempo. Toma parte em todos os nossos sentimentos, como nenhum amigo na terra poderia fazê-lo. Podemos recorrer a Ele e dizer-lhe coisas que não diríamos ao nosso amigo  mais intimo na terra. Somente Ele pode compreender-nos perfeitamente.
    O nosso grande Sumo Sacerdote pode compreender tudo o que nos concerne. Ele experimentou todas as nossas dores e as provas que o coração humano pode conhecer. Por isso é capaz de simpatizar perfeitamente conosco, e se compraz em ocupar-se de nós cada vez que passamos pela dor e a aflição, quando nosso coração é quebrantado e sufocado sob o peso de angústia que só Ele pode conhecer plenamente. Precioso Salvador! Misericordioso Sumo Sacerdote! Que nossos corações encontrem suas delicias em ti, e se apropriem mais e mais das fontes inesgotáveis de consolação e de gozo que se acham em teu terno amor por todos teus irmãos provados, tentados, que choram e sofrem aqui embaixo!
     Hebreus 7:25 nos mostra outra preciosíssimas parte da obra sacerdotal de nosso Senhor, a saber: sua incessante intercessão a favor de nós na presença de Deus. “Por isso pode também salvar perpetuamente aos que por Ele se chegam a Deus, vivendo sempre para interceder por eles.”
     Que poderoso consolo para todos os “irmãos santos”! Que segurança bendita! Nosso grande Sumo Sacerdote nos leva continuamente em seu coração diante do trono. Tudo o que concerne a nós está em suas benditas mãos, e jamais deixará que nada de lo nosso peligre. Vive por nós, e nós vivemos nEle. Nos levará adiante, em segurança, até o fim. Os teólogos falam acerca «da perseverança final dos santos»; a Escritura fala da perseverança de nosso divino e adorável Sumo Sacerdote. Sobre isso ponderamos. Ele nos disse: “Porque eu vivo, vós também vivereis” (João 14:19). “Se sendo inimigos, fomos reconciliados com Deus pela morte de seu Filho - o único meio pelo qual podíamos ser reconciliados --, muito mais, estando já reconciliados, seremos salvos por sua vida” (Romanos 5:10), digo, sua vida no alto, no céu. Ele fez a si mesmo responsável – garantiu – por cada um dos “irmãos santos”, de levá-los direto à glória através de todas as dificuldades, provas, armadilhas e tentações do deserto. Que o universo inteiro louve para sempre seu Bendito Nome!      
     Naturalmente que não podemos, em tão breve tratado, abordar o grande tema do sacerdócio com todos os seus detalhes. Não podemos mais do que tratar brevemente dos três pontos sobressalentes que já mencionamos, e citar, para o leitor, as passagens da Escritura onde apareciam.
Em Hebreus 13:15 temos a terceira parte do serviço que o Senhor Jesus cumpre por nós no santuário celestial: “Portanto, ofereçamos sempre por Ele a Deus,sacrifício e louvor, isto é, o fruto de lábios que confessam o seu nome.”
     Que consolo é saber que temos diante de Deus alguém que lhe apresenta nossos sacrifícios de louvor e nossas ações de graças! Quão docemente isso nos anima a levar-lhe em todo tempo tais sacrifícios! É certo que podem parecer mui pobres, mui magros e mui imperfeitos; mas nosso grande Sumo Sacerdote sabe como separar o precioso do vil. Toma nossos sacrifícios e os apresenta a Deus em toda a perfeição do perfume do bom odor de sua própria Pessoa e de seu ministério. O menor suspiro do coração, a menor expressão dos lábios, o mais insignificante ato de serviço, sobe a Deus não somente despojado de toda nossa debilidade e imperfeição, mas adornado de toda a excelência dAquele que vive sempre na presença de Deus, não somente para simpatizar e interceder, mas também para apresentar nossos sacrifícios de ações de graças e de louvor.    


     Tudo isto está pleno de alento e de consolo. Com quanta frequência temos que nos lamentar por nossa frieza, por nossa esterilidade, por nossa falta de vida, tanta  privada como em público! Parece que somos incapazes de fazer algo mais que proferir um gemido ou um suspiro, entretanto, o Senhor Jesus - e este é o fruto de sua graça - toma este gemido ou este suspiro, e o apresenta a Deus em todo o valor daquilo que Ele é. Isto faz parte de seu ministério atual por nós na presença de nosso Deus, ministério que Ele se compraz  em cumprir - bendito seja seu Nome!—. Ele acha seu gozo em levar-nos sobre seu coração diante do trono. Pensa em cada um de nós em particular, como se não tivesse mais no que pensar.
    Quão maravilhoso é isto!, mas é mesmo assim. Ele toma parte em todas as nossas pequenas provas, em nossas dores mais desapreciáveis, em nossos conflitos e exercícios de coração, como se não tivesse outra coisa em que pensar. Cada um de nós possui a atenção e a simpatia indivisível do seu grande e amante coração, em tudo o que possa surgir durante nosso curso ao longo desta cena de provas e de dores. Ele a percorreu toda. Conhece cada passo do caminho. Podemos discernir as pegadas bendita de suas pisadas através do deserto, e, olhando ao alto, para os céus abertos, vemos no trono, a Ele, o Homem glorificado, contudo, o mesmo Jesus que esteve aqui embaixo. As circunstancias em que aqui esteve tem mudado, mas não mudaram seu terno coração, amante e cheio de simpatia: “O mesmo ontem, hoje, e para sempre.”
     Tal e, pois, amado leitor cristão, o grande Sumo Sacerdote que somos exortados a considerar. Realmente, temos nEle o que responde a todas as nossas necessidades. Sua simpatia e perfeita; sua intercessão prevalece sobre tudo, e nossos sacrifícios, para Ele são atos aceitáveis. Bem podemos dizer: “Bastante tenho recebido, tenho a abundãncia” (Filipenses 4:18 ).

“Consideremo-nos uns aos outros”

     E agora, como conclusão, lancemos uma vista à exortação de Hebreus 10:24: “Consideremo-nos uns a outros para estimularmos ao amor e as boas obras.”
     A conexão moral desta passagem com o que nos tem ocupado primeiramente, é verdadeiramente formosa. Quanto mais atentamente considerarmos ao Senhor Jesus, mais aptos e dispostos estaremos para considerar a todos os que lhe pertencem, quaisquer que sejam e onde quer que se encontrem. Mostra-me um homem pleno de Cristo, e eu vos mostrarei um homem cheio de amor, de solicitude e de interesse por cada membro do Corpo de Cristo. Assim deve ser sempre. É totalmente impossível estar perto de Cristo, e não ter o coração cheio dos mais ternos afetos por todos os que lhe pertencem. Não podemos considerar ao Senhor Jesus, sem pecerber isto, e, ser conduzidos a serví-los, a orar por eles, a ter simpatia e respeito por eles de acordo com nossa débil medida.
     Se ouvis que alguém fala em alta voz de seu amor por Cristo, de seu apego a sua Pessoa, do deleite que acha nEle, e, ao mesmo tempo vês que não há nesta pessoa, nem amor por aqueles que pertencem a Cristo, nem solicitude ou respeito por eles, nem interesse por suas circunstancias, nem boa disposição para dedicar tempo e esforço para eles, nem sacrifício de si mesmo por amor deles, podeis estar seguros de estar na presença de uma profissão vazia e sem valor. “Conhecemos o amor nisto: que Ele deu a sua vida por nós, e nós devemos dar a vida pelos irmãos. Quem pois tiver bens do mundo, e, vendo a seu irmãos necessitado, lhe cerrar as suas entranhas, como estará nele o amor de Deus? Meus filhinhos não amemos de palavra, nem de língua, mas por obra e em verdade.” E contudo: “Dele temos este mandamento: Que quem ama a Deus, ame também a seu irmão” (1.ª João 3:16-18; 4:21).
     Estas palavras são saudáveis para cada um de nós. Oxalá que façam marcas no fundo dos nossos corações. Oxalá que, pela poderosa ação do Espírito Santo, possamos ser feitos capazes de responder de todo nosso coração a estas duas importantes e prementes exortações: Considerar o apóstolo e sumo sacerdote da nossa confissão, por uma parte, e, pela outra: Considerar uns aos outros! E recordemos que uma consideração sensata dos uns pelos outros, jamais revestirá da forma de uma curiosidade indiscreta, nem de uma espionagem inescusável: coisas que não podem ser consideradas mais do que uma praga e a destruição de toda sociedade cristã. Não! Devemos fazer o contrário de tudo isto. É a solicitude terna e amante, que se expressa de uma maneira refinada, delicada e oportuna em todo serviço realizado, fruto do amor de uma verdadeira comunhão com o coração de Cristo. 

C. H. M.

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