sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

Lições n vida e obra de Jacó

(Continuação)
O capítulo 31 de Gênesis relata a sua saída de Harã e a consequente volta à terra de Canaã. Em Eclesiastes encontramos que há tempo para tudo (Ec. 3.1-8) — há o tempo de Deus e o tempo dos homens. Foi assim como este patriarca, e deve ser assim conosco. Como os propósitos de Deus relacionavam-se com a terra de Canaã, a sua graça podia assisti-lo em Harã, mas tinha como objetivo trá-lo de volta à terra de Deus.
Quando Jacó deixou sua casa rumo a Harã, ficaram atrás dele marcas inapagáveis, as quais agora, com a sua intenção de voltar, faziam-no tremer de medo. No entanto, ele está numa condição que não lhe oferece escapatória. Ele terá que enfrentar os fatos passados. Harã não lhe serve mais, o ambiente é insuportável, visto que os comentários dos filhos de Labão e o próprio rosto de Labão atormentavam a sua vida. Do outro lado, o simples pensamento de ter que en­contrar com Esaú o faz estremecer de medo. Ele está encurralado. Que situação delicada produ­ziu este homem de Deus. Ficar já não podia mais. Harã não é o seu lugar, e voltar para Canaã representa uma ameaça direta a sua vida, porque Esaú está no seu caminho.
Atentemos para o sério aviso quanto à nossa conduta aqui nesse mundo. Se nós nos en­volvermos com “o sistema”, haveremos de nos comprometer de uma maneira ou de outra. Nós não somos do mundo (Jo. 15.19; 17.14-16). Entre nós e o mundo há uma guerra, e o fator de­terminante é que existem duas naturezas opostas — a carne e o Espírito (Gl. 5.17). A natureza carnal opõe-se à natureza espiritual, e quando aquela prevalece, deixa sequelas difíceis de se­rem apagadas. Disse o apóstolo: “O último estado toma-se pior que o primeiro” (II Pe. 2.20). Foi assim com Jacó e, via de regra, é assim conosco. É de grande valor as palavras de Paulo em I Timóteo 3.15: Fiques ciente de como se deve proceder na Casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade”.
Mas o fato agora é que Jacó tem de voltar. Não pode mais ficar em Harã. Deus lhe disse: “Volta” (Gen. 31.3). Ele não tem como olvidar (deixar cair no esquecimento) a chamada de Deus. Mas ao mesmo tempo a voz da consciência está clamando: “E Esaú!”. Nesse momento podemos dizer que Jacó chegou exatamente no lugar onde Deus queria. Tudo quanto dizia res­peito a ele é chegado ao fim. Ficar não posso; seguir para Canaã será meu fim — Esaú me mata­rá (Gen. 32.11). A lição é que: “Somente quando acaba o homem é que Deus pode agir”.
Enquanto houver uma minúscula partícula de força o homem recusará o socorro divino. Seus métodos, razões, ambições, desejos, tudo isso prevalecerá. Mas quando nada disso pode socorrê-lo, então o Senhor (bendito seja para sempre o Seu Santo Nome), vem de encontro às suas necessidades. Então podemos perguntar: “O que era Esaú para o Senhor?”. Ele não repre­sentava nada para aquele que o criou. Para o Altíssimo ele não passava de um caco de barro, mas para Jacó uma séria ameaça. Deus usou isso para mostrar a Jacó quem Ele era.
 E verdade que mesmo diante desta experiência a lição não foi completamente aprendida; seria ainda preci­so outras lições, as quais veremos em explanações posteriores. Mas a bondade, fidelidade e pa­ciência de Deus sempre se manifestam a nosso favor, e pacientemente nos ensina com todo amor, cada lição que precisamos aprender para o exercício da nossa fé, confiança e dependência do Senhor.
É isso que podemos aprender acerca da permanência de Jacó em Harã. A forma como cuidou dele, suprindo suas necessidades; ensinando-o pela oposição e fadiga que Ele não era o Deus de Harã, mas o Deus de Betel; que Harã não era o seu lugar, mas sim Canaã, a terra do seu Deus.
Estes foram os caminhos e conduta do Senhor para com ele, o Seu eleito. Era necessário deixar este lugar e desconsiderar toda a adversidade que pudesse interpor-se entre Harã e Canaã, confiando no Senhor e seguindo o caminho de volta, sabedor de que, “aquele que prometeu é fiel e há de cumprir tudo o que prometera” (Heb. 13.5-6).

4_ Jacó Retorna Para Canaã — Gênesis 31.22-55 / 32.1-32 / 33.1-20

Ao entrarmos nas considerações acerca da quarta divisão do nosso estudo, é importante lembrarmos que, ao terminarmos a anterior, o Patriarca encontrava-se numa situação muito difí­cil, pois não havia mais ambiente para ele em Harã, junto a Labão. Os acontecimentos ocorridos durante os 20 anos em que esteve em Harã não mais permitiam sua permanência ali (Pv. 10.9). Era necessário partir (Pv. 6.14-15).
Toda a astúcia de Jacó, bem como a exploração de Labão, haviam chegado a uma situa­ção que os impedia de continuarem juntos.        Na realidade, segundo suas palavras, ambos estavam
perdendo e nenhum deles estava satisfeito (Gen. 31.1-9). Os filhos de Labão diziam: “Jacó se apossou de tudo que era de nosso pai”. Por sua vez Jacó dizia: “O rosto de Labão não me é mais favorável; Labão me enganou” (vs. 1,2,7).
Tudo isso que temos perante nós é o resultado do seu ingresso na escola de Labão, e ser­ve de advertência a nós outros, para que pesemos nossas decisões à luz da presença de Deus. Esta situação o expõe a praticar aquilo que aprendeu na escola de Labão. Podemos distribuir da seguinte maneira:
                     Jacó convoca ao campo suas mulheres;
                     Jacó convence-as da necessidade de fugir — vs. 4-7,14-20
A lição aqui para nós é que a escola de Labão não fechou com a fuga de Jacó, mas conti­nua até os nossos dias a ministrar suas lições. Entretanto, o lado mais triste e pior é que “temos sido bons alunos” desta escola e conduzido, também, para lá nossos filhos. Como aconteceu nos dias de Jacó, acontece hoje também. Insatisfação, incerteza e engano são apenas alguns exemplos dos resultados obtidos por frequentar esta escola, a escola de Labão..
I_ A fuga de Jacó — vs. 17-21
  O Propósito:
Ir a Isaque seu pai. Foi isso o que ele disse (v. 18b).
  O Meio Usado Para Fugir:
“Logrou” (vs. 20). Esta palavra significa iludir, ludibriar, burlar, produzir o resultado que se espera. Foi isso o que fez Jacó quando reuniu suas mulheres no campo junto ao seu rebanho.
  O Escape: (v. 21)
D)                Levantou;
E)                 Passou o Eufrates;
F)                 Tomou o rumo da montanha de Gileade.
Impressiona-nos pensar nos meios que Jacó emprega para alcançar os seus objetivos — 29.18,21 / 30.26,31-33, 37-43 — e ao mesmo tempo pensar na sua ignorância quanto aos princí­pios e caminhos de Deus. Não existe qualquer dúvida quanto ao fato de que ele conhecia a von­tade de Deus. Lemos no verso 3 que o Senhor disse a Jacó para sair dali, mas o que Jacó desco­nhecia é que os meios utilizados por Deus para tirá-lo dali, não seriam os seus próprios meios de Jacó e nem aqueles que aprendeu na escola de Labão, mas os meios de Deus mesmo.
O problema de Jacó era que a escola de Labão o despreparou para confiar em Deus e o capacitou a confiar em si mesmo. Aqui temos a gravidade do problema. Sempre que nos desli­garmos do Senhor para confiarmos em nós mesmos, será necessário fugir de algo. O caminho da fé é diferente, pois ele desliga-nos de nós mesmos para nos ligar ao Senhor — em outras pala­vras, ele determina a confiança no Senhor, e não em nossos planos.
Se Jacó tivesse aprendido esta verdade, saberia que Aquele que lhe disse “Sai”, também iria prover os meios lícitos necessários para a sua saída. Deus prometeu estar com ele (Gen. 28.15). O caminho da fé é o caminho da obediência — não pode haver uma sem a outra. E ne­cessário que aquele que se aproxima de Deus, creia que Ele existe e que é galardoador daqueles que o buscam (Hb. 11.6 / Sl. 37.7 / 89.15 / 91.1). Em resumo, “a fé não produz meios, mas sim­plesmente descansa, confia em Deus”.
II_ A Perseguição de Labão — vs. 22-23,26
                     Preparação — Tomou consigo seus irmãos (v. 23);
                     Disposição — Saiu ao seu encalço (vs. 23,25);
                     Objetivo — Alcançou a montanha de Gileade (v. 25)
III_ O Cuidado de Deus — vs. 24,29,42
                     Intervenção — De noite veio a Labão (v. 24);
                     Advertência — Guarda-te (v. 24);
                     Proteção — Não fales a Jacó nem bem, nem mal (v. 24).
Não há nada que desagrade mais a Deus do que incredulidade; tudo isso poderia ser evi­tado, se Jacó tivesse confiado em Deus. É impressionante ler as palavras que Moisés escreveu sobre ele em Deuteronômio 32. 10,12: “Achou-o numa terra deserta, num ermo solitário povoa­do de uivos, rodeou-o e cuidou dele, guardou-o como a menina dos seus olhos” — só assim o Senhor o guiou. Mas ao mesmo tempo lamentamos o tipo de conduta dos seus descendentes. Como é triste ler em Hebreus 3.19: “Vemos que não puderam entrar por causa da incredulida­de’’.
IV_ A Contenda — vs.26-41 LABÃO:
1_ Que fizeste? (v. 26);
2_ Por que fugiste? (v. 27);
3_ Por que não permitiste beijar meus filhos e minhas filhas? (v. 28);
4_ Por que furtaste os meus deuses? (v. 30).
JACÓ:
1_ Tive medo (v. 31);
2_ Qual a minha transgressão? Qual o meu pecado que tão furiosamente me tens perseguido? (v. 36);
3_ Vinte Anos te servi; dez vezes mudaste o meu salário (v. 41).
V_ A Aliança Entre Jacó e Labão — vs. 44-55
                     Jegar-Saaduta — nome que Labão deu à coluna do testemunho. Significa: “monte do teste­munho”;
                     Galeede e Mispa — nomes que Jacó e Labão deram ao monte. Significam: “vigie o Senhor entre mim e ti, e nos julgue quando separar-nos (vs. 47-49)”.
VI_ Jacó a Caminho de Canaã — 32.1
                     Progresso — Seguiu (v. 1);
                     Proteção — Anjos de Deus vêm encontrá-lo (v. 1);
                     Percepção — Quando os viu (v. 2);
                     Provisão — Disse: “Maanaim”, que significa “Acampamento de Deus” (v. 2)

A cada passo que damos, seguindo pelas páginas inspiradas o caminhar deste homem de Deus, ficamos perplexos em contemplar como Jacó tão depressa cai do lugar onde a graça de Deus o coloca (Gl. 1.6), para o lugar da sua razão pondo em ação os seus planos e desconsiderando a direção de Deus. Pôde ver os anjos; pôde dizer “é o acampamento de Deus”, mas logo a seguir envia mensageiros e lhes ordena “Assim falareis a meu Senhor Esaú” (v. 4).
Já temos falado que necessitamos de visão espiritual. Existe muita diferença entre conhe­cer e praticar. Não negamos nunca a eficácia do conhecimento adquirido. Jacó viu os anjos de Deus, foi capaz de dizer “é o acampamento de Deus, mas quando pensou em Esaú, nada disso teve valor — não houve nenhum proveito para sua vida (Hb. 4.2). O contrário disso temos em Eliseu, quando o rei da Síria enviou seu exército para o prender (II Reis 6.12-17).
“Meu Senhor” e “teu servo” não é a linguagem para um irmão, e muito menos para al­guém cônscio da presença de Deus. São as palavras de alguém com má consciência (no caso, Jacó). O gozo da fé é repousar nas promessas infalíveis de Deus. O Senhor havia dito a Jacó: “Volta para a terra de seus pais e eu serei contigo (31.13)”.
Esta promessa deveria ser suficiente para resolver todos os problemas e obstáculos que pudessem surgir no caminho, fossem eles de qualquer natureza ou espécie.
Antes de prosseguirmos, devemos lembrar que a nós também foi feita uma promessa de igual valor: “Eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt. 28.20). Estas foram as palavras do Senhor Jesus Cristo e como podemos confiar nelas.
Apesar de tudo que temos exposto, Jacó não confiou na promessa de Deus, e sim nos seus planos. Como é terrível deixar de confiar em Deus para confiar nos nossos planos. Jeremias disse: “Bendito o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor”; mas disse também: “Maldito o homem que confia no homem e faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do Senhor (Jer. 17.7,5).
Colocar Deus à parte, para poder colocar os nossos planos em atividade, é uma atitude deveras ridícula para um homem de Deus. Foi precisamente isso que Jacó fez. Seu primeiro pensamento já era um plano, algo que ele aprendera na escola de Labão, e ele é apenas mais um exemplo do pobre coração humano.
Depois de planejar, ora a Deus pedindo-lhe libertação; mas mal acaba sua oração, volta aos seus planos. Não podemos confundir as coisas. Quando buscamos a presença do Senhor em oração, pedindo-lhe auxílio para resolvermos os nossos problemas, devemos confiar plenamente nele e descansar convictos de que Ele nos valerá. Fazer planos e orar não é a atitude daquele que conhece a Deus e confia nele (Sl. 9.10 / 34.22 / 55.22).
Quando planejo e atuo, a minha atitude revela que confio naquilo que planejo. Nesse caso, a oração não é a expressão da minha confiança em Deus, mas o meu procedimento em função de alguma coisa que acho que devo fazer; algum procedimento, pelo qual (segundo a minha mente carnal), acredito estar na dependência de Deus. A questão triste desta história é simples­mente o fato de que este método não mudou nesses milênios que nos separam de Jacó. Esta ati­tude tem sido praticada em todos os dias da história do homem sobre a terra e isso sem dúvida alguma tem sido a causa de tropeços e fracassos na vida de muitos servos de Deus.
Outra questão importante é que quando planejo e atuo, o meu coração não goza de paz, pois sempre haverá uma raiz de inquietação (Jó 8.14) — foi assim com Jacó. Diz a Palavra de Deus que quando ele soube que Esaú vinha ao seu encontro, ele angustiou-se (v. 7). E assim su­cede conosco. “A fonte de todo o gozo e paz consiste numa confiança plena e total em Deus” (Sl. 56.4,11). A Palavra nos mostra que as atitudes carnais de Jacó, sempre foram os recursos pelos quais ele se valeu.
Podemos citar:
                     Trocou um prato de lentilhas pelo direito de primogenitura (Gen. 25.29-34);
                     Fez um cozinhado saboroso de caça para herdar a bênção (Gen. 27.9-29);
                     Submeteu-se a 14 anos de servidão para ter Raquel (Gen. 28.18-30);
                     Preparou varas com listras para adquirir o rebanho de Labão (Gen. 30.37-43);
                     Separou um presente, como ele disse, “para aplacar a ira de Esaú”(32.20).

Planos e mais planos! Ninguém podia imaginar que aquele que orava e dizia: “Livra- me das mãos de meus irmão Esaú” (v.l 1), pudesse tão depressa esquecer as palavras de sua ora­ção e preparar um presente a fim de alcançar o livramento pelo qual orou — Isso é o homem.
Foi assim com Jacó no passado, e assim é conosco no presente século. Não podemos associar a oração a nossos planos, mesmo que sintamo-nos satisfeitos com este procedimento, visto que, diante de Deus, planos humanos e orações dirigidas a Ele, não têm o mesmo valor e significado, pelo fato de tendermos a depositar mais confiança nos planos do que exclusivamente em Deus.
Enquanto não formos levados pelo Espírito Santo a entendermos que em nós, isso é, na nossa carne, não habita bem algum (Rm. 7.18); que toda carne é erva, e toda a sua glória como a flor da erva (Is. 40.6); que consequentemente os que estão na carne não podem agradar a Deus (Rm. 8.8); e que a solução para este problema está no fim de nós mesmos, não teremos condi­ções de experimentar qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm. 12.2).
Meus Irmãos e Irmãs, é muito fácil olharmos para este homem e dizer: “Como era incrédulo! Como era desobediente! Como era estúpido!”. Mas quando olhamos para nós mesmos, qual o conceito que temos? Disse o Senhor: “Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então ve­rás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão” (Mt. 7.3,5).
Disse também: “São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão! (Mt. 6.22-23).
É assim que encontramos Jacó neste precioso capitulo. Depois de colocar em ordem seus planos, lemos: “Ficando ele só, lutava com ele um homem até o romper do dia” (32.24). É interessante conside­rarmos que a mente de Jacó estava ocupada com Esaú. Ele jamais pensara nesse homem, mas tremia de medo só de imaginar que Esaú se aproximava, e resistia com toda firmeza às investi­das deste “outro homem”, visto que lemos em verso 25: “Vendo que não podia com ele, tocou- lhe na articulação da coxa”.
Nesta cena podemos ver (em um sentido espiritual) o que é o ho­mem. Diante do seu semelhante mostra-se um medroso, um suplantador. Mas diante do Senhor: um guerreiro — um que resiste — um que não se entrega — um que suporta até as últimas e graves consequências (Is. 45.9 / Is. 64.8 / Rm. 9.20).
Em maravilhoso contraste, podemos ver nesse ponto da história de Jacó, quem é o nosso Deus — O Deus de toda graça (I Pe. 5.10). Apesar de toda a oposição humana (Hb. 12.3), o Seu amor é insondável e os Seus propósitos imutáveis (Hb. 6.17).
Ele desceu até nós em Cristo Jesus, condescendeu em vir até ao lugar mais negro, denso e profundo da necessidade humana (Jó 30.25b), para mostrar que odeia o pecado, mas que é grandioso o Seu amor pelo pecador. Bendito feito do amor redentor!
Outra questão importante a realçar é o fato de que não era Jacó que lutava com o homem e sim o homem que lutava com ele. Há uma grande diferença entre eu lutar com alguém e al­guém lutar comigo. Quando luto almejo alcançar algum objetivo, mas quando alguém luta co­migo, é certo que ele deseja algo de mim. É isso que vemos claramente na história de Jacó.
Lembremo-nos que, quando ele passou por Betel, chegou a impor condições a Deus para lhe pertencer. Diante de Labão fez uso de seus métodos e práticas para adquirir aquilo que al­mejava. Retomando à terra de Deus, segundo a eleição e chamado do Senhor, não é mais esta pessoa (Jacó) que o Senhor deseja usar ali. Ele quer este homem, mas não como é ou se apre­senta. É necessário transformar este homem, mudar a sua forma de ser, a sua conduta.
Por esta razão lutou com ele até o romper do dia com o firme desejo de mudar-lhe a forma, para levar-lhe ao fim de si mesmo e transformá-lo num príncipe que luta com Deus. Isto é Israel!
A graça de Deus suportou Jacó, mas o Seu amor o mudou em Israel. Lemos em Deuteronômio 7.7-8 que o Senhor teve afeição por Israel, o seu escolhido. Mas as razões para esta prefe­rência é o que nos impressiona. Moisés diz: “não porque fôsseis mais numeroso do que qualquer povo, mas porque o Senhor vos amava”. Aqui temos uma linda lição a aprender. O texto ensina- nos que Deus é Deus de amor, e a quem ama, ama até ao fim (Jo. 13.1 /1 Jo. 4.8).
Disse o apóstolo Paulo em Romanos 11.29: “Os dons e a vocação de Deus são irrevo­gáveis”. Outra coisa importante que vemos aqui é que nos caminhos daqueles que são os objetos do Seu amor, haverá, sempre, um lugar escolhido por Deus para revelar-lhes os Seus planos e propósitos para com eles.
Vejamos alguns exemplos:
Jacó — O Vau de Jaboque;
Moisés — O Monte Horebe (Ex. 3.1);
Davi — A Eira de Nacom (II Sm. 6.6 /1 Cr. 13.9);
Saulo de Tarso — A estrada de Damasco (At. 9.3-6).
Estes são apenas alguns dos muitos exemplos que temos no cânon inspirado. Mas deve­mos também frisar que a maioria daqueles que confessam o nome do Senhor, têm sido, como estes, conduzidos a um lugar de experiência pessoal com o Senhor.
Infelizmente, a maioria tem deixado este lugar numa condição espiritual muito inferior àquela em que estavam. Não viram o Senhor, e nem possuíram sabedoria espiritual para aprenderem a lição que Ele lhes desejava en­sinar. Podemos citar uma vasta lista contida na Bíblia, mas citaremos apenas alguns exemplos:
V.T
  Caim (Gen. 4.3,6,7)
  Ló (Gen. 13.7,10-13)
  Abiú e Nadabe (Lv. 10.1-2)
  Coré, Datã e Abirão (Nm. 16.1,3,28-32)
  Balaão (Nm. 22.22-32)
N.T
  Judas Iscariotes (Jo. 12.4; 13.2,18,21)
  Himeneu e Fileto (II Tm. 2.17-18)
  Demas (II Tm. 4.10)
Mas e acerca daqueles que não foram escritos, que pertencem a gerações posteriores e até mesmo a nossos dias, o que podemos dizer acerca das coisas que nos acercam? Quantas al­mas preciosas após receberem o conhecimento da verdade, mergulharam novamente numa vida mundana e estão hoje numa situação pior que a anterior (II Pe. 2.20-22).
Tudo isso está registra­do na Palavra infalível de Deus como uma advertência e aviso para nós, para que não cobicemos as coisas más como eles cobiçaram (I Cor. 10.5-6 / Tg. 1.13-15). Em suma, o que desejamos frisar com estas linhas é que “Deus nos conheceu, nos predestinou e nos chamou”. Considere:
  Como nos conheceu?
A Palavra responde: “mortos em delitos e pecados (Ef. 2.1) ...perdidos (Lc. 19.10).
  Porque nos escolheu?
“Para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele”.
  Para que nos predestinou?
“Para sermos conforme a imagem de Seu Filho”.
Em Marcos 3.13 lemos que “O Senhor chamou os que Ele mesmo quis”.
Em Efésios 4.1, Paulo nos exorta a andarmos dignos da vocação com que fomos chama­dos; em II Timóteo 1.9 diz que “Ele nos salvou e nos chamou com santa vocação”; em Romanos 1.6 nos diz que “fomos chamados para sermos de Jesus Cristo”; em João 14.3 e 17.24 vemos a finalidade desta chamada: “Estarmos com Ele e vermos a Sua Glória”.
Jacó fez uma pergunta àquele homem (v. 27,29): “Como te chamas?”. Ao que disse o homem: “Por que perguntas pelo meu nome?”. Aqui temos perante nós um fato triste e ao mesmo tempo salutar, ou seja, uma situação que retrata os aspectos da condição espiritual de Jacó. Espiritualmente falando, ele não tinha condições de receber tal revelação (Sl. 25.14). Pôde ser abençoado (v. 29c), mas não pôde saber o nome de quem lutava com ele.
Não é assim que tem acontecido conosco? Temos sido abençoados por Deus com toda sorte de bênção espiritual, mas as nossas vidas e ambições revelam que não temos compreendi­do os caminhos que Deus tem traçado para que os trilhemos, nem tão pouco o seu cuidado, sua disciplina e muito menos o que Ele quer de nós.
Tudo quanto se passa diante do nosso olhar, nas nossas relações com Deus, fazem-nos ver brilhar de um modo incompreensível a Sua graça e o Seu amor. Quanto às revelações mais profundas do Seu Ser, não as temos recebido por causa da nossa condição espiritual.
Em tudo isso percebemos que é uma coisa sermos abençoados por Deus, e é outra muito diferente termos uma revelação de Si mesmo, dos Seus atributos e caráter por meio do Espírito Santo em nossos corações.
Foi somente depois de ter a juntura da coxa tocada, que Jacó pode ver a sua condição diante de Deus e reconhecer que um coxo não pode fazer nada para Deus e nem para si mesmo. Por isso agarrou-se Àquele que o havia tocado, uma atitude que determina a sua compreensão de que Aquela pessoa que lutava com ele era mais poderoso do que ele. Se não pôde saber o Seu nome, pôde saber que era Deus, pois chamou aquele lugar “Peniel”, di­zendo: “Vi a Deus face a face e a minha vida foi salva” (v.30).
Antes de prosseguir, quero apenas mencionar aquilo que está relatado no verso 31: “Nas­ceu-lhe o sol quando atravessava Peniel, e manquejava de uma coxa”. Diz o salmista: “Na tua luz vemos a luz (Sl. 36.9)”. Foi somente quando o sol nasceu que Jacó viu verdadeiramente sua condição.
Até ali — Peniel — Jacó estava cheio de vigor físico, repleto de planos, mas espiritu­almente falando, em trevas. Ao atravessar Peniel viu-se como um coxo, todo o seu vigor havia passado, e foi nesse exato momento que o sol lhe nasceu. O Apóstolo Pedro disse que: “A Palavra profética nós faremos bem em atendê-la, como a uma luz que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vossos corações” (II Pe. 1.19).
No capítulo 33 deparamo-nos com Jacó a encontrar-se com Esaú, seu irmão. Vemos o quanto foi desnecessário os seus planos e o seu presente. Assim como Deus conteve a Labão, também conteve a Esaú.
É assim que o Senhor age, em vista de toda a nossa incredulidade e co­vardia — Ele afugenta os nossos temores (Sl. 34.4 / 56.3-4). Todo o temor de Jacó; todo o seu medo; toda a sua angústia foram contidas pelo abraço fraterno (de irmão), pelo beijo e pelas lá­grimas que ambos derramaram (33.4). Tais são os caminhos de Deus (Is. 55.8 / Dt. 32.9-12) em graça para conosco.
Os atos do amor de Deus visam nos revelar quem Ele é para que possamos conhecê-lo. “Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigé
O capítulo 31 de Gênesis relata a sua saída de Harã e a consequente volta à terra de Canaã. Em Eclesiastes encontramos que há tempo para tudo (Ec. 3.1-8) — há o tempo de Deus e o tempo dos homens. Foi assim como este patriarca, e deve ser assim conosco. Como os propósitos de Deus relacionavam-se com a terra de Canaã, a sua graça podia assisti-lo em Harã, mas tinha como objetivo trá-lo de volta à terra de Deus.
Quando Jacó deixou sua casa rumo a Harã, ficaram atrás dele marcas inapagáveis, as quais agora, com a sua intenção de voltar, faziam-no tremer de medo. No entanto, ele está numa condição que não lhe oferece escapatória. Ele terá que enfrentar os fatos passados. Harã não lhe serve mais, o ambiente é insuportável, visto que os comentários dos filhos de Labão e o próprio rosto de Labão atormentavam a sua vida. Do outro lado, o simples pensamento de ter que en­contrar com Esaú o faz estremecer de medo. Ele está encurralado. Que situação delicada produ­ziu este homem de Deus. Ficar já não podia mais. Harã não é o seu lugar, e voltar para Canaã representa uma ameaça direta a sua vida, porque Esaú está no seu caminho.
Atentemos para o sério aviso quanto à nossa conduta aqui nesse mundo. Se nós nos en­volvermos com “o sistema”, haveremos de nos comprometer de uma maneira ou de outra. Nós não somos do mundo (Jo. 15.19; 17.14-16). Entre nós e o mundo há uma guerra, e o fator de­terminante é que existem duas naturezas opostas — a carne e o Espírito (Gl. 5.17). A natureza carnal opõe-se à natureza espiritual, e quando aquela prevalece, deixa sequelas difíceis de se­rem apagadas. Disse o apóstolo: “O último estado toma-se pior que o primeiro” (II Pe. 2.20). Foi assim com Jacó e, via de regra, é assim conosco. É de grande valor as palavras de Paulo em I Timóteo 3.15: Fiques ciente de como se deve proceder na Casa de Deus, que é a Igreja do Deus vivo, coluna e baluarte da verdade”.
Mas o fato agora é que Jacó tem de voltar. Não pode mais ficar em Harã. Deus lhe disse: “Volta” (Gen. 31.3). Ele não tem como olvidar (deixar cair no esquecimento) a chamada de Deus. Mas ao mesmo tempo a voz da consciência está clamando: “E Esaú!”. Nesse momento podemos dizer que Jacó chegou exatamente no lugar onde Deus queria. Tudo quanto dizia res­peito a ele é chegado ao fim. Ficar não posso; seguir para Canaã será meu fim — Esaú me mata­rá (Gen. 32.11). A lição é que: “Somente quando acaba o homem é que Deus pode agir”.
Enquanto houver uma minúscula partícula de força o homem recusará o socorro divino. Seus métodos, razões, ambições, desejos, tudo isso prevalecerá. Mas quando nada disso pode socorrê-lo, então o Senhor (bendito seja para sempre o Seu Santo Nome), vem de encontro às suas necessidades. Então podemos perguntar: “O que era Esaú para o Senhor?”. Ele não repre­sentava nada para aquele que o criou. Para o Altíssimo ele não passava de um caco de barro, mas para Jacó uma séria ameaça. Deus usou isso para mostrar a Jacó quem Ele era.
 E verdade que mesmo diante desta experiência a lição não foi completamente aprendida; seria ainda preci­so outras lições, as quais veremos em explanações posteriores. Mas a bondade, fidelidade e pa­ciência de Deus sempre se manifestam a nosso favor, e pacientemente nos ensina com todo amor, cada lição que precisamos aprender para o exercício da nossa fé, confiança e dependência do Senhor.
É isso que podemos aprender acerca da permanência de Jacó em Harã. A forma como cuidou dele, suprindo suas necessidades; ensinando-o pela oposição e fàdiga que Ele não era o Deus de Harã, mas o Deus de Betel; que Harã não era o seu lugar, mas sim Canaã, a terra do seu Deus.
Estes foram os caminhos e conduta do Senhor para com ele, o Seu eleito. Era necessário deixar este lugar e desconsiderar toda a adversidade que pudesse interpor-se entre Harã e Canaã, confiando no Senhor e seguindo o caminho de volta, sabedor de que, “aquele que prometeu é fiel e há de cumprir tudo o que prometera” (Heb. 13.5-6).

4_ Jacó Retorna Para Canaã — Gênesis 31.22-55 / 32.1-32 / 33.1-20

Ao entrarmos nas considerações acerca da quarta divisão do nosso estudo, é importante lembrarmos que, ao terminarmos a anterior, o Patriarca encontrava-se numa situação muito difí­cil, pois não havia mais ambiente para ele em Harã, junto a Labão. Os acontecimentos ocorridos durante os 20 anos em que esteve em Harã não mais permitiam sua permanência ali (Pv. 10.9). Era necessário partir (Pv. 6.14-15).
Toda a astúcia de Jacó, bem como a exploração de Labão, haviam chegado a uma situa­ção que os impedia de continuarem juntos.        Na realidade, segundo suas palavras, ambos estavam
perdendo e nenhum deles estava satisfeito (Gen. 31.1-9). Os filhos de Labão diziam: “Jacó se apossou de tudo que era de nosso pai”. Por sua vez Jacó dizia: “O rosto de Labão não me é mais favorável; Labão me enganou” (vs. 1,2,7).
Tudo isso que temos perante nós é o resultado do seu ingresso na escola de Labão, e ser­ve de advertência a nós outros, para que pesemos nossas decisões à luz da presença de Deus. Esta situação o expõe a praticar aquilo que aprendeu na escola de Labão. Podemos distribuir da seguinte maneira:
                     Jacó convoca ao campo suas mulheres;
                     Jacó convence-as da necessidade de fugir — vs. 4-7,14-20
A lição aqui para nós é que a escola de Labão não fechou com a fuga de Jacó, mas conti­nua até os nossos dias a ministrar suas lições. Entretanto, o lado mais triste e pior é que “temos sido bons alunos” desta escola e conduzido, também, para lá nossos filhos. Como aconteceu nos dias de Jacó, acontece hoje também. Insatisfação, incerteza e engano são apenas alguns exemplos dos resultados obtidos por frequentar esta escola, a escola de Labão..
I_ A fuga de Jacó — vs. 17-21
  O Propósito:
Ir a Isaque seu pai. Foi isso o que ele disse (v. 18b).
  O Meio Usado Para Fugir:
“Logrou” (vs. 20). Esta palavra significa iludir, ludibriar, burlar, produzir o resultado que se espera. Foi isso o que fez Jacó quando reuniu suas mulheres no campo junto ao seu rebanho.
  O Escape: (v. 21)
D)                Levantou;
E)                 Passou o Eufrates;
F)                 Tomou o rumo da montanha de Gileade.
Impressiona-nos pensar nos meios que Jacó emprega para alcançar os seus objetivos — 29.18,21 / 30.26,31-33, 37-43 — e ao mesmo tempo pensar na sua ignorância quanto aos princí­pios e caminhos de Deus. Não existe qualquer dúvida quanto ao fato de que ele conhecia a von­tade de Deus. Lemos no verso 3 que o Senhor disse a Jacó para sair dali, mas o que Jacó desco­nhecia é que os meios utilizados por Deus para tirá-lo dali, não seriam os seus próprios meios de Jacó e nem aqueles que aprendeu na escola de Labão, mas os meios de Deus mesmo.
O problema de Jacó era que a escola de Labão o despreparou para confiar em Deus e o capacitou a confiar em si mesmo. Aqui temos a gravidade do problema. Sempre que nos desli­garmos do Senhor para confiarmos em nós mesmos, será necessário fugir de algo. O caminho da fé é diferente, pois ele desliga-nos de nós mesmos para nos ligar ao Senhor — em outras pala­vras, ele determina a confiança no Senhor, e não em nossos planos.
Se Jacó tivesse aprendido esta verdade, saberia que Aquele que lhe disse “Sai”, também iria prover os meios lícitos necessários para a sua saída. Deus prometeu estar com ele (Gen. 28.15). O caminho da fé é o caminho da obediência — não pode haver uma sem a outra. E ne­cessário que aquele que se aproxima de Deus, creia que Ele existe e que é galardoador daqueles que o buscam (Hb. 11.6 / Sl. 37.7 / 89.15 / 91.1). Em resumo, “a fé não produz meios, mas sim­plesmente descansa, confia em Deus”.
II_ A Perseguição de Labão — vs. 22-23,26
                     Preparação — Tomou consigo seus irmãos (v. 23);
                     Disposição — Saiu ao seu encalço (vs. 23,25);
                     Objetivo — Alcançou a montanha de Gileade (v. 25)
III_ O Cuidado de Deus — vs. 24,29,42
                     Intervenção — De noite veio a Labão (v. 24);
                     Advertência — Guarda-te (v. 24);
                     Proteção — Não fales a Jacó nem bem, nem mal (v. 24).
Não há nada que desagrade mais a Deus do que incredulidade; tudo isso poderia ser evi­tado, se Jacó tivesse confiado em Deus. É impressionante ler as palavras que Moisés escreveu sobre ele em Deuteronômio 32. 10,12: “Achou-o numa terra deserta, num ermo solitário povoa­do de uivos, rodeou-o e cuidou dele, guardou-o como a menina dos seus olhos” — só assim o Senhor o guiou. Mas ao mesmo tempo lamentamos o tipo de conduta dos seus descendentes. Como é triste ler em Hebreus 3.19: “Vemos que não puderam entrar por causa da incredulida­de’’.
IV_ A Contenda — vs.26-41 LABÃO:
1_ Que fizeste? (v. 26);
2_ Por que fugiste? (v. 27);
3_ Por que não permitiste beijar meus filhos e minhas filhas? (v. 28);
4_ Por que furtaste os meus deuses? (v. 30).
JACÓ:
1_ Tive medo (v. 31);
2_ Qual a minha transgressão? Qual o meu pecado que tão furiosamente me tens perseguido? (v. 36);
3_ Vinte Anos te servi; dez vezes mudaste o meu salário (v. 41).
V_ A Aliança Entre Jacó e Labão — vs. 44-55
                     Jegar-Saaduta — nome que Labão deu à coluna do testemunho. Significa: “monte do teste­munho”;
                     Galeede e Mispa — nomes que Jacó e Labão deram ao monte. Significam: “vigie o Senhor entre mim e ti, e nos julgue quando separar-nos (vs. 47-49)”.
VI_ Jacó a Caminho de Canaã — 32.1
                     Progresso — Seguiu (v. 1);
                     Proteção — Anjos de Deus vêm encontrá-lo (v. 1);
                     Percepção — Quando os viu (v. 2);
                     Provisão — Disse: “Maanaim”, que significa “Acampamento de Deus” (v. 2)

A cada passo que damos, seguindo pelas páginas inspiradas o caminhar deste homem de Deus, ficamos perplexos em contemplar como Jacó tão depressa cai do lugar onde a graça de Deus o coloca (Gl. 1.6), para o lugar da sua razão pondo em ação os seus planos e desconsiderando a direção de Deus. Pôde ver os anjos; pôde dizer “é o acampamento de Deus”, mas logo a seguir envia mensageiros e lhes ordena “Assim falareis a meu Senhor Esaú” (v. 4).
Já temos falado que necessitamos de visão espiritual. Existe muita diferença entre conhe­cer e praticar. Não negamos nunca a eficácia do conhecimento adquirido. Jacó viu os anjos de Deus, foi capaz de dizer “é o acampamento de Deus, mas quando pensou em Esaú, nada disso teve valor — não houve nenhum proveito para sua vida (Hb. 4.2). O contrário disso temos em Eliseu, quando o rei da Síria enviou seu exército para o prender (II Reis 6.12-17).
“Meu Senhor” e “teu servo” não é a linguagem para um irmão, e muito menos para al­guém cônscio da presença de Deus. São as palavras de alguém com má consciência (no caso, Jacó). O gozo da fé é repousar nas promessas infalíveis de Deus. O Senhor havia dito a Jacó: “Volta para a terra de seus pais e eu serei contigo (31.13)”.
Esta promessa deveria ser suficiente para resolver todos os problemas e obstáculos que pudessem surgir no caminho, fossem eles de qualquer natureza ou espécie.
Antes de prosseguirmos, devemos lembrar que a nós também foi feita uma promessa de igual valor: “Eis que eu estou convosco todos os dias até a consumação dos séculos (Mt. 28.20). Estas foram as palavras do Senhor Jesus Cristo e como podemos confiar nelas.
Apesar de tudo que temos exposto, Jacó não confiou na promessa de Deus, e sim nos seus planos. Como é terrível deixar de confiar em Deus para confiar nos nossos planos. Jeremias disse: “Bendito o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor”; mas disse também: “Maldito o homem que confia no homem e faz da carne mortal o seu braço e aparta o seu coração do Senhor (Jer. 17.7,5).
Colocar Deus à parte, para poder colocar os nossos planos em atividade, é uma atitude deveras ridícula para um homem de Deus. Foi precisamente isso que Jacó fez. Seu primeiro pensamento já era um plano, algo que ele aprendera na escola de Labão, e ele é apenas mais um exemplo do pobre coração humano.
Depois de planejar, ora a Deus pedindo-lhe libertação; mas mal acaba sua oração, volta aos seus planos. Não podemos confundir as coisas. Quando buscamos a presença do Senhor em oração, pedindo-lhe auxílio para resolvermos os nossos problemas, devemos confiar plenamente nele e descansar convictos de que Ele nos valerá. Fazer planos e orar não é a atitude daquele que conhece a Deus e confia nele (Sl. 9.10 / 34.22 / 55.22).
Quando planejo e atuo, a minha atitude revela que confio naquilo que planejo. Nesse caso, a oração não é a expressão da minha confiança em Deus, mas o meu procedimento em função de alguma coisa que acho que devo fazer; algum procedimento, pelo qual (segundo a minha mente carnal), acredito estar na dependência de Deus. A questão triste desta história é simples­mente o fato de que este método não mudou nesses milênios que nos separam de Jacó. Esta ati­tude tem sido praticada em todos os dias da história do homem sobre a terra e isso sem dúvida alguma tem sido a causa de tropeços e fracassos na vida de muitos servos de Deus.
Outra questão importante é que quando planejo e atuo, o meu coração não goza de paz, pois sempre haverá uma raiz de inquietação (Jó 8.14) — foi assim com Jacó. Diz a Palavra de Deus que quando ele soube que Esaú vinha ao seu encontro, ele angustiou-se (v. 7). E assim su­cede conosco. “A fonte de todo o gozo e paz consiste numa confiança plena e total em Deus” (Sl. 56.4,11). A Palavra nos mostra que as atitudes carnais de Jacó, sempre foram os recursos pelos quais ele se valeu.
Podemos citar:
                     Trocou um prato de lentilhas pelo direito de primogenitura (Gen. 25.29-34);
                     Fez um cozinhado saboroso de caça para herdar a benção (Gen. 27.9-29);
                     Submeteu-se a 14 anos de servidão para ter Raquel (Gen. 28.18-30);
                     Preparou varas com listras para adquirir o rebanho de Labão (Gen. 30.37-43);
                     Separou um presente, como ele disse, “para aplacar a ira de Esaú”(32.20).

Planos e mais planos! Ninguém podia imaginar que aquele que orava e dizia: “Livra- me das mãos de meus irmão Esaú” (v.l 1), pudesse tão depressa esquecer as palavras de sua ora­ção e preparar um presente a fim de alcançar o livramento pelo qual orou — Isso é o homem.
Foi assim com Jacó no passado, e assim é conosco no presente século. Não podemos associar a oração a nossos planos, mesmo que sintamo-nos satisfeitos com este procedimento, visto que, diante de Deus, planos humanos e orações dirigidas a Ele, não têm o mesmo valor e significado, pelo fato de tendermos a depositar mais confiança nos planos do que exclusivamente em Deus.
Enquanto não formos levados pelo Espírito Santo a entendermos que em nós, isso é, na nossa carne, não habita bem algum (Rm. 7.18); que toda carne é erva, e toda a sua glória como a flor da erva (Is. 40.6); que consequentemente os que estão na carne não podem agradar a Deus (Rm. 8.8); e que a solução para este problema está no fim de nós mesmos, não teremos condi­ções de experimentar qual seja a boa, agradável e perfeita vontade de Deus (Rm. 12.2).
Meus Irmãos e Irmãs, é muito fácil olharmos para este homem e dizer: “Como era incrédulo! Como era desobediente! Como era estúpido!”. Mas quando olhamos para nós mesmos, qual o conceito que temos? Disse o Senhor: “Por que vês tu o argueiro no olho de teu irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Hipócrita, tira primeiro a trave do teu olho e então ve­rás claramente para tirar o argueiro do olho de teu irmão” (Mt. 7.3,5).
Disse também: “São os olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas serão! (Mt. 6.22-23).
É assim que encontramos Jacó neste precioso capitulo. Depois de colocar em ordem seus planos, lemos: “Ficando ele só, lutava com ele um homem até o romper do dia” (32.24). É interessante conside­rarmos que a mente de Jacó estava ocupada com Esaú. Ele jamais pensara nesse homem, mas tremia de medo só de imaginar que Esaú se aproximava, e resistia com toda firmeza às investi­das deste “outro homem”, visto que lemos em verso 25: “Vendo que não podia com ele, tocou- lhe na articulação da coxa”.
Nesta cena podemos ver (em um sentido espiritual) o que é o ho­mem. Diante do seu semelhante mostra-se um medroso, um suplantador. Mas diante do Senhor: um guerreiro — um que resiste — um que não se entrega — um que suporta até as últimas e graves consequências (Is. 45.9 / Is. 64.8 / Rm. 9.20).
Em maravilhoso contraste, podemos ver nesse ponto da história de Jacó, quem é o nosso Deus — O Deus de toda graça (I Pe. 5.10). Apesar de toda a oposição humana (Hb. 12.3), o Seu amor é insondável e os Seus propósitos imutáveis (Hb. 6.17).
Ele desceu até nós em Cristo Jesus, condescendeu em vir até ao lugar mais negro, denso e profundo da necessidade humana (Jó 30.25b), para mostrar que odeia o pecado, mas que é grandioso o Seu amor pelo pecador. Bendito feito do amor redentor!
Outra questão importante a realçar é o fato de que não era Jacó que lutava com o homem e sim o homem que lutava com ele. Há uma grande diferença entre eu lutar com alguém e al­guém lutar comigo. Quando luto almejo alcançar algum objetivo, mas quando alguém luta co­migo, é certo que ele deseja algo de mim. É isso que vemos claramente na história de Jacó.
Lembremo-nos que, quando ele passou por Betel, chegou a impor condições a Deus para lhe pertencer. Diante de Labão fez uso de seus métodos e práticas para adquirir aquilo que al­mejava. Retomando à terra de Deus, segundo a eleição e chamado do Senhor, não é mais esta pessoa (Jacó) que o Senhor deseja usar ali. Ele quer este homem, mas não como é ou se apre­senta. É necessário transformar este homem, mudar a sua forma de ser, a sua conduta.
Por esta razão lutou com ele até o romper do dia com o firme desejo de mudar-lhe a forma, para levar-lhe ao fim de si mesmo e transformá-lo num príncipe que luta com Deus. Isto é Israel!
A graça de Deus suportou Jacó, mas o Seu amor o mudou em Israel. Lemos em Deuteronômio 7.7-8 que o Senhor teve afeição por Israel, o seu escolhido. Mas as razões para esta prefe­rência é o que nos impressiona. Moisés diz: “não porque fosseis mais numeroso do que qualquer povo, mas porque o Senhor vos amava”. Aqui temos uma linda lição a aprender. O texto ensina- nos que Deus é Deus de amor, e a quem ama, ama até ao fim (Jo. 13.1 /1 Jo. 4.8).
Disse o apóstolo Paulo em Romanos 11.29: “Os dons e a vocação de Deus são irrevo­gáveis”. Outra coisa importante que vemos aqui é que nos caminhos daqueles que são os objetos do Seu amor, haverá, sempre, um lugar escolhido por Deus para revelar-lhes os Seus planos e propósitos para com eles.
Vejamos alguns exemplos:
Jacó — O Vau de Jaboque;
Moisés — O Monte Horebe (Ex. 3.1);
Davi — A Eira de Nacom (II Sm. 6.6 /1 Cr. 13.9);
Saulo de Tarso — A estrada de Damasco (At. 9.3-6).
Estes são apenas alguns dos muitos exemplos que temos no cânon inspirado. Mas deve­mos também frisar que a maioria daqueles que confessam o nome do Senhor, têm sido, como estes, conduzidos a um lugar de experiência pessoal com o Senhor.
Infelizmente, a maioria tem deixado este lugar numa condição espiritual muito inferior àquela em que estavam. Não viram o Senhor, e nem possuíram sabedoria espiritual para aprenderem a lição que Ele lhes desejava en­sinar. Podemos citar uma vasta lista contida na Bíblia, mas citaremos apenas alguns exemplos:
V.T
  Caím (Gen. 4.3,6,7)
  Ló (Gen. 13.7,10-13)
  Abiú e Nadabe (Lv. 10.1-2)
  Coré, Datã e Abirão (Nm. 16.1,3,28-32)
  Balaão (Nm. 22.22-32)
N.T
  Judas Iscariotes (Jo. 12.4; 13.2,18,21)
  Himeneu e Fileto (II Tm. 2.17-18)
  Demas (II Tm. 4.10)
Mas e acerca daqueles que não foram escritos, que pertencem a gerações posteriores e até mesmo a nossos dias, o que podemos dizer acerca das coisas que nos acercam? Quantas al­mas preciosas após receberem o conhecimento da verdade, mergulharam novamente numa vida mundana e estão hoje numa situação pior que a anterior (II Pe. 2.20-22).
Tudo isso está registra­do na Palavra infalível de Deus como uma advertência e aviso para nós, para que não cobicemos as coisas más como eles cobiçaram (I Cor. 10.5-6 / Tg. 1.13-15). Em suma, o que desejamos frisar com estas linhas é que “Deus nos conheceu, nos predestinou e nos chamou”. Considere:
  Como nos conheceu?
A Palavra responde: “mortos em delitos e pecados (Ef. 2.1) ...perdidos (Lc. 19.10).
  Porque nos escolheu?
“Para sermos santos e irrepreensíveis perante Ele”.
  Para que nos predestinou?
“Para sermos conforme a imagem de Seu Filho”.
Em Marcos 3.13 lemos que “O Senhor chamou os que Ele mesmo quis”.
Em Efésios 4.1, Paulo nos exorta a andarmos dignos da vocação com que fomos chama­dos; em II Timóteo 1.9 diz que “Ele nos salvou e nos chamou com santa vocação”; em Romanos 1.6 nos diz que “fomos chamados para sermos de Jesus Cristo”; em João 14.3 e 17.24 vemos a finalidade desta chamada: “Estarmos com Ele e vermos a Sua Glória”.
Jacó fez uma pergunta àquele homem (v. 27,29): “Como te chamas?”. Ao que disse o homem: “Por que perguntas pelo meu nome?”. Aqui temos perante nós um fato triste e ao mesmo tempo salutar, ou seja, uma situação que retrata os aspectos da condição espiritual de Jacó. Espiritualmente falando, ele não tinha condições de receber tal revelação (Sl. 25.14). Pôde ser abençoado (v. 29c), mas não pôde saber o nome de quem lutava com ele.
Não é assim que tem acontecido conosco? Temos sido abençoados por Deus com toda sorte de benção espiritual, mas as nossas vidas e ambições revelam que não temos compreendi­do os caminhos que Deus tem traçado para que os trilhemos, nem tão pouco o seu cuidado, sua disciplina e muito menos o que Ele quer de nós.
Tudo quanto se passa diante do nosso olhar, nas nossas relações com Deus, fazem-nos ver brilhar de um modo incompreensível a Sua graça e o Seu amor. Quanto às revelações mais profundas do Seu Ser, não as temos recebido por causa da nossa condição espiritual.
Em tudo isso percebemos que é uma coisa sermos abençoados por Deus, e é outra muito diferente termos uma revelação de Si mesmo, dos Seus atributos e caráter por meio do Espírito Santo em nossos corações.
Foi somente depois de ter a juntura da coxa tocada, que Jacó pode ver a sua condição diante de Deus e reconhecer que um coxo não pode fazer nada para Deus e nem para si mesmo. Por isso agarrou-se Àquele que o havia tocado, uma atitude que determina a sua compreensão de que Aquela pessoa que lutava com ele era mais poderoso do que ele. Se não pôde saber o Seu nome, pôde saber que era Deus, pois chamou aquele lugar “Peniel”, di­zendo: “Vi a Deus face a face e a minha vida foi salva” (v.30).
Antes de prosseguir, quero apenas mencionar aquilo que está relatado no verso 31: “Nas­ceu-lhe o sol quando atravessava Peniel, e manquejava de uma coxa”. Diz o salmista: “Na tua luz vemos a luz (Sl. 36.9)”. Foi somente quando o sol nasceu que Jacó viu verdadeiramente sua condição.
Até ali — Peniel — Jacó estava cheio de vigor físico, repleto de planos, mas espiritu­almente falando, em trevas. Ao atravessar Peniel viu-se como um coxo, todo o seu vigor havia passado, e foi nesse exato momento que o sol lhe nasceu. O Apóstolo Pedro disse que: “A Palavra profética nós faremos bem em atendê-la, como a uma luz que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça em vossos corações” (II Pe. 1.19).
No capítulo 33 deparamo-nos com Jacó a encontrar-se com Esaú, seu irmão. Vemos o quanto foi desnecessário os seus planos e o seu presente. Assim como Deus conteve a Labão, também conteve a Esaú.
É assim que o Senhor age, em vista de toda a nossa incredulidade e co­vardia — Ele afugenta os nossos temores (Sl. 34.4 / 56.3-4). Todo o temor de Jacó; todo o seu medo; toda a sua angústia foram contidas pelo abraço fraterno (de irmão), pelo beijo e pelas lá­grimas que ambos derramaram (33.4). Tais são os caminhos de Deus (Is. 55.8 / Dt. 32.9-12) em graça para conosco.
Os atos do amor de Deus visam nos revelar quem Ele é para que possamos conhecê-lo. “Ninguém jamais viu a Deus, mas o Deus Unigênito foi quem O revelou” (Jo. 1.18). Oséias diz: “Conheçamos e prossigamos em conhecer o Senhor... pois misericórdia quero, e não sacrifício; e o conhecimento de Deus, mais do que holocaustos” (Os. 6.2,6).
A nossa oração é que o Senhor nos capacite a saber, o lugar e como o sol nasceu em nossas vidas, e que estes simples pensa­mentos possam permitir o aproximarmos mais de Deus, e assim conhecê-lo melhor, pois nisso está a vida eterna (Jo. 17.3). Amém.
(Continua...)

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Será assim um dia.

Acontecimentos no livro de Apocalipse. "Depois disso Eu olhei, e, contemplei uma porta aberta no paraíso: e a primeira voz que ouvi era...