(Continuação)
O capítulo 31 de
Gênesis relata a sua saída de Harã e a consequente volta à terra de Canaã. Em
Eclesiastes encontramos que há tempo para tudo (Ec. 3.1-8) — há o tempo de Deus
e o tempo dos homens. Foi assim como este patriarca, e deve ser assim conosco.
Como os propósitos de Deus relacionavam-se com a terra de Canaã, a sua graça
podia assisti-lo em Harã, mas tinha como objetivo trá-lo de volta à terra de
Deus.
Quando Jacó deixou
sua casa rumo a Harã, ficaram atrás dele marcas inapagáveis, as quais agora,
com a sua intenção de voltar, faziam-no tremer de medo. No entanto, ele está
numa condição que não lhe oferece escapatória. Ele terá que enfrentar os fatos
passados. Harã não lhe serve mais, o ambiente é insuportável, visto que os
comentários dos filhos de Labão e o próprio rosto de Labão atormentavam a sua
vida. Do outro lado, o simples pensamento de ter que encontrar com Esaú o faz
estremecer de medo. Ele está encurralado. Que situação delicada produziu este
homem de Deus. Ficar já não podia mais. Harã não é o seu lugar, e voltar para Canaã representa
uma ameaça direta a
sua vida, porque Esaú está
no seu caminho.
Atentemos
para o sério aviso quanto à nossa conduta aqui nesse mundo. Se nós nos envolvermos
com “o sistema”, haveremos de nos comprometer de uma maneira ou de outra. Nós
não somos do mundo (Jo. 15.19; 17.14-16). Entre nós e o mundo há uma guerra, e
o fator determinante é que
existem duas naturezas opostas
— a carne e o Espírito (Gl. 5.17). A natureza carnal opõe-se à natureza
espiritual, e quando aquela prevalece, deixa sequelas difíceis de serem apagadas. Disse o apóstolo: “O
último estado toma-se pior que o primeiro” (II Pe. 2.20). Foi assim com Jacó e,
via de regra, é assim conosco. É de grande valor as palavras de Paulo em I Timóteo
3.15: Fiques ciente de como se deve proceder na Casa de Deus, que é a Igreja do
Deus vivo, coluna e baluarte da verdade”.
Mas
o fato agora é que Jacó tem de voltar. Não pode mais ficar em Harã. Deus lhe disse:
“Volta” (Gen. 31.3). Ele não tem como olvidar (deixar cair no esquecimento) a
chamada de Deus. Mas ao mesmo tempo a voz da consciência está clamando: “E
Esaú!”. Nesse momento podemos dizer que Jacó chegou exatamente no lugar onde Deus
queria. Tudo quanto dizia respeito a ele é chegado ao fim. Ficar não posso;
seguir para Canaã será meu fim — Esaú me matará (Gen. 32.11). A lição é que:
“Somente quando acaba o homem é que Deus pode agir”.
Enquanto
houver uma minúscula partícula de força o homem recusará o socorro divino. Seus
métodos, razões, ambições, desejos, tudo isso prevalecerá. Mas quando nada
disso pode socorrê-lo, então
o Senhor (bendito seja para sempre o Seu Santo Nome), vem de encontro às suas
necessidades. Então podemos perguntar: “O que era Esaú para o Senhor?”. Ele não
representava nada para aquele que o criou. Para o Altíssimo ele não passava de
um caco de barro, mas para Jacó uma séria ameaça. Deus usou isso para mostrar a
Jacó quem Ele era.
E verdade que mesmo diante desta experiência a
lição não foi completamente aprendida; seria ainda preciso outras lições, as
quais veremos em explanações posteriores. Mas a bondade, fidelidade e paciência
de Deus sempre se manifestam a nosso favor, e pacientemente nos ensina com todo
amor, cada lição que precisamos aprender para o exercício da nossa fé,
confiança e dependência do Senhor.
É
isso que podemos aprender acerca da permanência de Jacó em Harã. A forma como
cuidou dele, suprindo suas necessidades; ensinando-o pela oposição e fadiga que Ele não era o Deus de Harã,
mas o Deus de Betel; que Harã não era o seu lugar, mas sim Canaã, a terra do
seu Deus.
Estes
foram os caminhos e conduta do Senhor para com ele, o Seu eleito. Era
necessário deixar este lugar e desconsiderar toda a adversidade que pudesse
interpor-se entre Harã e Canaã, confiando no Senhor e seguindo o caminho de
volta, sabedor de que, “aquele que prometeu é fiel e há de cumprir tudo o que
prometera” (Heb. 13.5-6).
4_
Jacó Retorna Para Canaã — Gênesis 31.22-55 / 32.1-32 / 33.1-20
Ao
entrarmos nas considerações acerca da quarta divisão do nosso estudo, é
importante lembrarmos que, ao terminarmos a anterior, o Patriarca encontrava-se numa situação muito
difícil, pois não havia mais ambiente para ele em Harã, junto a Labão. Os
acontecimentos ocorridos durante os 20 anos em que esteve em Harã não mais
permitiam sua permanência ali (Pv. 10.9). Era necessário partir (Pv. 6.14-15).
Toda
a astúcia de Jacó, bem como a exploração de Labão, haviam chegado a uma situação
que os impedia de continuarem juntos. Na realidade, segundo suas palavras,
ambos estavam
perdendo e nenhum
deles estava satisfeito (Gen. 31.1-9). Os filhos de Labão diziam: “Jacó se
apossou de tudo que era de nosso pai”. Por sua vez Jacó dizia: “O rosto de
Labão não me é mais favorável; Labão me enganou” (vs. 1,2,7).
Tudo
isso que temos perante nós é o resultado do seu ingresso na escola de Labão, e
serve de advertência a nós outros, para que pesemos nossas decisões à luz da
presença de Deus. Esta situação o expõe a praticar aquilo que aprendeu na
escola de Labão. Podemos distribuir da seguinte maneira:
•
Jacó
convoca ao campo suas mulheres;
•
Jacó
convence-as da necessidade de fugir — vs. 4-7,14-20
A
lição aqui para nós é que a escola de Labão não fechou com a fuga de Jacó, mas continua
até os nossos dias a ministrar suas lições. Entretanto, o lado mais triste e
pior é que “temos sido bons alunos” desta escola e conduzido, também, para lá
nossos filhos. Como aconteceu nos dias de Jacó, acontece hoje também.
Insatisfação, incerteza e engano são apenas alguns exemplos dos resultados
obtidos por frequentar esta
escola, a escola de Labão..
I_
A fuga de
Jacó — vs. 17-21
•
O
Propósito:
Ir a Isaque seu pai.
Foi isso o que ele disse (v. 18b).
•
O
Meio Usado Para Fugir:
“Logrou” (vs. 20). Esta palavra significa iludir, ludibriar, burlar,
produzir o resultado que se espera. Foi isso o que fez Jacó quando reuniu suas
mulheres no campo junto ao seu rebanho.
•
O
Escape: (v. 21)
D)
Levantou;
E)
Passou
o Eufrates;
F)
Tomou
o rumo da montanha de Gileade.
Impressiona-nos pensar nos meios que Jacó emprega para alcançar os
seus objetivos — 29.18,21 /
30.26,31-33, 37-43 — e ao mesmo tempo pensar na sua ignorância quanto aos
princípios e caminhos de Deus. Não existe qualquer dúvida quanto ao fato de
que ele conhecia a vontade de Deus. Lemos no verso 3 que o Senhor disse a Jacó
para sair dali, mas o que Jacó desconhecia é que os meios utilizados por Deus
para tirá-lo dali, não seriam os
seus próprios meios de Jacó e nem aqueles que aprendeu na escola de Labão, mas
os meios de Deus mesmo.
O
problema de Jacó era que a escola de Labão o despreparou para confiar em Deus e
o capacitou a confiar em si mesmo. Aqui temos a gravidade do problema. Sempre
que nos desligarmos do Senhor para confiarmos em nós mesmos, será necessário
fugir de algo. O caminho da fé é diferente, pois ele desliga-nos de nós mesmos
para nos ligar ao Senhor — em outras palavras, ele determina a confiança no
Senhor, e não em nossos planos.
Se
Jacó tivesse aprendido esta verdade, saberia que Aquele que lhe disse “Sai”,
também iria prover os meios lícitos necessários para a sua saída. Deus prometeu
estar com ele (Gen. 28.15). O caminho da fé é o caminho da obediência —
não pode haver uma sem a outra. E necessário que aquele que se aproxima de
Deus, creia que Ele existe e que é galardoador daqueles que o buscam (Hb. 11.6
/ Sl. 37.7 / 89.15 / 91.1). Em resumo, “a fé não produz meios, mas simplesmente
descansa, confia em Deus”.
II_ A Perseguição de
Labão — vs. 22-23,26
•
Preparação — Tomou consigo seus irmãos (v. 23);
•
Disposição — Saiu ao seu encalço (vs. 23,25);
•
Objetivo — Alcançou a montanha de Gileade (v. 25)
III_ O Cuidado de Deus
— vs. 24,29,42
•
Intervenção — De noite veio a Labão (v. 24);
•
Advertência — Guarda-te (v. 24);
•
Proteção — Não fales a Jacó nem bem, nem mal (v. 24).
Não há nada que
desagrade mais a Deus do que incredulidade; tudo isso poderia ser evitado, se
Jacó tivesse confiado em Deus. É impressionante ler as palavras que Moisés escreveu sobre
ele em Deuteronômio 32. 10,12: “Achou-o numa terra deserta, num ermo solitário
povoado de uivos, rodeou-o e cuidou dele, guardou-o como a menina dos seus
olhos” — só assim o Senhor o guiou. Mas ao mesmo tempo lamentamos o tipo de
conduta dos seus descendentes. Como é triste ler em Hebreus 3.19: “Vemos que
não puderam entrar por causa da incredulidade’’.
IV_ A Contenda — vs.26-41 LABÃO:
1_ Que fizeste? (v. 26);
2_ Por que fugiste? (v. 27);
3_ Por que não permitiste beijar meus filhos e minhas filhas? (v. 28);
4_ Por que furtaste os meus deuses? (v. 30).
JACÓ:
1_ Tive medo (v. 31);
2_ Qual a minha transgressão? Qual o meu pecado que tão furiosamente me tens perseguido? (v. 36);
3_ Vinte Anos te servi; dez vezes mudaste
o meu salário (v. 41).
V_ A Aliança Entre Jacó e Labão — vs. 44-55
•
Jegar-Saaduta — nome que Labão deu à coluna do testemunho. Significa: “monte do testemunho”;
•
Galeede e Mispa — nomes que Jacó e Labão deram ao monte. Significam: “vigie o Senhor
entre mim e ti, e nos julgue quando separar-nos (vs. 47-49)”.
VI_ Jacó a Caminho de Canaã — 32.1
•
Progresso — Seguiu (v. 1);
•
Proteção — Anjos de Deus vêm encontrá-lo (v. 1);
•
Percepção — Quando os viu (v. 2);
•
Provisão — Disse: “Maanaim”, que significa “Acampamento de Deus” (v. 2)
A cada passo que
damos, seguindo pelas páginas inspiradas o caminhar deste homem de Deus,
ficamos perplexos em contemplar como Jacó tão depressa cai do lugar onde a graça
de Deus o coloca (Gl. 1.6), para o lugar da sua razão pondo em ação os seus
planos e desconsiderando a direção de Deus. Pôde ver os anjos; pôde dizer “é o
acampamento de Deus”, mas logo a seguir envia mensageiros e lhes ordena “Assim falareis a meu Senhor Esaú”
(v. 4).
Já temos falado que
necessitamos de visão espiritual. Existe muita diferença entre conhecer e
praticar. Não negamos nunca a eficácia do conhecimento adquirido. Jacó viu os
anjos de Deus, foi capaz de dizer “é o acampamento de Deus, mas quando pensou
em Esaú, nada disso teve valor — não houve nenhum proveito para sua vida (Hb.
4.2). O contrário disso temos em Eliseu, quando o rei da Síria enviou seu
exército para o prender (II Reis 6.12-17).
“Meu Senhor” e “teu
servo” não é a linguagem para um irmão, e muito menos para alguém cônscio da presença de Deus.
São as palavras de alguém com má consciência (no caso, Jacó). O gozo da fé é
repousar nas promessas infalíveis de Deus. O Senhor havia dito a Jacó: “Volta
para a terra de seus pais e eu serei contigo (31.13)”.
Esta promessa deveria
ser suficiente para resolver todos os problemas e obstáculos que pudessem
surgir no caminho, fossem eles de qualquer natureza ou espécie.
Antes de
prosseguirmos, devemos lembrar que a nós também foi feita uma promessa de igual
valor: “Eis que eu estou convosco
todos os dias até a consumação dos séculos (Mt. 28.20). Estas foram as
palavras do Senhor Jesus Cristo e como podemos confiar nelas.
Apesar de tudo que
temos exposto, Jacó não confiou na promessa de Deus, e sim nos seus planos.
Como é terrível deixar de confiar em Deus para confiar nos nossos planos. Jeremias
disse: “Bendito o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor”; mas
disse também: “Maldito o homem que confia no homem e faz da carne mortal o seu
braço e aparta o seu coração do Senhor (Jer. 17.7,5).
Colocar Deus à parte,
para poder colocar os nossos planos em atividade, é uma atitude deveras
ridícula para um homem de Deus. Foi precisamente isso que Jacó fez. Seu
primeiro pensamento já era um plano, algo que ele aprendera na escola de Labão,
e ele é apenas mais um exemplo do pobre coração humano.
Depois de planejar,
ora a Deus pedindo-lhe libertação; mas mal acaba sua oração, volta aos seus
planos. Não podemos confundir as coisas. Quando buscamos a presença do Senhor
em oração, pedindo-lhe auxílio para resolvermos os nossos problemas, devemos
confiar plenamente nele e descansar convictos de que Ele nos valerá. Fazer
planos e orar não é a atitude daquele que conhece a Deus e confia nele (Sl.
9.10 / 34.22 / 55.22).
Quando planejo e
atuo, a minha atitude revela que confio naquilo que planejo. Nesse caso, a
oração não é a expressão da minha confiança em Deus, mas o meu
procedimento em função de alguma coisa que acho que devo fazer; algum procedimento,
pelo qual (segundo a minha mente carnal), acredito estar na dependência de
Deus. A questão triste desta história é simplesmente o fato de que este método
não mudou nesses milênios que nos separam de Jacó. Esta atitude tem sido
praticada em todos os dias da história do homem sobre a terra e isso sem dúvida
alguma tem sido a causa de tropeços e fracassos na vida de muitos servos de
Deus.
Outra questão
importante é que quando planejo e atuo, o meu coração não goza de paz, pois
sempre haverá uma raiz de inquietação (Jó 8.14) — foi assim com Jacó. Diz a
Palavra de Deus que quando ele soube que Esaú vinha ao seu encontro, ele
angustiou-se (v. 7). E assim sucede conosco. “A fonte de todo o gozo e paz
consiste numa confiança plena e total em Deus” (Sl. 56.4,11). A Palavra nos
mostra que as atitudes carnais de Jacó, sempre foram os recursos pelos quais
ele se valeu.
Podemos citar:
•
Trocou um prato de lentilhas pelo direito de primogenitura (Gen. 25.29-34);
•
Fez um cozinhado saboroso
de caça para herdar a bênção (Gen. 27.9-29);
•
Submeteu-se a 14 anos de servidão para ter Raquel (Gen. 28.18-30);
•
Preparou varas com listras para adquirir o rebanho de Labão (Gen. 30.37-43);
•
Separou um presente, como ele disse, “para aplacar a ira de Esaú”(32.20).
Planos e mais planos!
Ninguém podia imaginar que aquele que orava e dizia: “Livra- me das mãos de
meus irmão Esaú” (v.l 1), pudesse tão depressa esquecer as palavras de sua oração
e preparar um presente a fim de alcançar o livramento pelo qual orou — Isso é o
homem.
Foi assim com Jacó no
passado, e assim é conosco no presente século. Não podemos associar a oração a
nossos planos, mesmo que sintamo-nos
satisfeitos com este procedimento, visto que, diante de Deus, planos
humanos e orações dirigidas a Ele, não têm o mesmo valor e significado, pelo
fato de tendermos a depositar mais confiança nos planos do que exclusivamente
em Deus.
Enquanto não formos
levados pelo Espírito Santo a entendermos que em nós, isso é, na nossa carne,
não habita bem algum (Rm. 7.18); que toda carne é erva, e toda a sua glória
como a flor da erva (Is. 40.6); que consequentemente os que estão na carne não
podem agradar a Deus (Rm. 8.8); e que a solução para este problema está no fim
de nós mesmos, não teremos condições de experimentar qual seja a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus (Rm. 12.2).
Meus Irmãos e Irmãs,
é muito fácil olharmos para este homem e dizer: “Como era incrédulo! Como era
desobediente! Como era estúpido!”. Mas quando olhamos para nós mesmos, qual o
conceito que temos? Disse o Senhor: “Por que vês tu o argueiro no olho de teu
irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Hipócrita, tira
primeiro a trave do teu olho e então verás claramente para tirar o argueiro do
olho de teu irmão” (Mt. 7.3,5).
Disse também: “São os
olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será
luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em
trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas
serão! (Mt. 6.22-23).
É assim que
encontramos Jacó neste precioso capitulo. Depois de colocar em ordem seus
planos, lemos: “Ficando ele só, lutava com ele um homem até o romper do dia” (32.24). É
interessante considerarmos que a mente de Jacó estava ocupada com Esaú. Ele
jamais pensara nesse homem, mas tremia de medo só de imaginar que Esaú se
aproximava, e resistia com toda firmeza às investidas deste “outro homem”,
visto que lemos em verso 25: “Vendo que não podia com ele, tocou- lhe na articulação da
coxa”.
Nesta cena podemos
ver (em um sentido espiritual) o que é o homem. Diante do seu semelhante
mostra-se um medroso, um suplantador. Mas diante do Senhor: um guerreiro — um
que resiste — um que não se entrega — um que suporta até as últimas e graves consequências
(Is. 45.9 / Is. 64.8 / Rm. 9.20).
Em maravilhoso
contraste, podemos ver nesse ponto da história de Jacó, quem é o nosso Deus — O
Deus de toda graça (I Pe. 5.10). Apesar de toda a oposição humana (Hb. 12.3), o
Seu amor é insondável e os Seus propósitos imutáveis (Hb. 6.17).
Ele desceu até nós em
Cristo Jesus, condescendeu em vir até ao lugar mais negro, denso e profundo da necessidade humana
(Jó 30.25b), para mostrar que odeia o pecado, mas que é grandioso o Seu amor
pelo pecador. Bendito feito do amor redentor!
Outra questão
importante a realçar é o fato de que não era Jacó que lutava com o homem e sim
o homem que lutava com ele. Há uma grande diferença entre eu lutar com alguém e
alguém lutar comigo. Quando luto almejo alcançar algum objetivo, mas quando
alguém luta comigo, é certo que ele deseja algo de mim. É isso que vemos
claramente na história de Jacó.
Lembremo-nos que,
quando ele passou por Betel, chegou a impor condições a Deus para lhe
pertencer. Diante de Labão fez uso de seus métodos e práticas para adquirir
aquilo que almejava. Retomando à terra de Deus, segundo a eleição e chamado do
Senhor, não é mais esta pessoa (Jacó) que o Senhor deseja usar ali. Ele quer
este homem, mas não como é ou se apresenta. É necessário transformar este
homem, mudar a sua forma de ser, a sua conduta.
Por esta razão lutou
com ele até o romper do dia com o firme desejo de mudar-lhe a forma, para
levar-lhe ao fim de si mesmo e transformá-lo num príncipe que luta com Deus.
Isto é Israel!
A graça de Deus
suportou Jacó, mas o Seu amor o mudou em Israel. Lemos em Deuteronômio 7.7-8 que o Senhor teve
afeição por Israel, o seu escolhido. Mas as razões para esta preferência é o
que nos impressiona. Moisés diz: “não porque fôsseis mais numeroso do que
qualquer povo, mas porque o Senhor vos amava”. Aqui temos uma linda lição a
aprender. O texto ensina- nos que Deus é Deus de amor, e a quem ama, ama até ao
fim (Jo. 13.1 /1 Jo. 4.8).
Disse o apóstolo
Paulo em Romanos 11.29: “Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis”. Outra
coisa importante que vemos aqui é que nos caminhos daqueles que são os objetos
do Seu amor, haverá, sempre, um lugar escolhido por Deus para revelar-lhes os
Seus planos e propósitos para com eles.
Vejamos alguns
exemplos:
Jacó — O Vau de Jaboque;
Moisés — O Monte Horebe (Ex. 3.1);
Davi — A Eira de Nacom (II Sm. 6.6 /1 Cr. 13.9);
Saulo de Tarso — A estrada de Damasco (At. 9.3-6).
Estes são apenas
alguns dos muitos exemplos que temos no cânon
inspirado. Mas devemos também frisar que a maioria daqueles que
confessam o nome do Senhor, têm sido, como estes, conduzidos a um lugar de
experiência pessoal com o Senhor.
Infelizmente, a
maioria tem deixado este lugar numa condição espiritual muito inferior àquela
em que estavam. Não viram o Senhor, e nem possuíram sabedoria espiritual para aprenderem
a lição que Ele lhes desejava ensinar. Podemos citar uma vasta lista contida
na Bíblia, mas citaremos apenas alguns exemplos:
V.T
• Caim (Gen. 4.3,6,7)
•
Ló (Gen. 13.7,10-13)
•
Abiú e Nadabe (Lv. 10.1-2)
•
Coré, Datã e Abirão (Nm. 16.1,3,28-32)
•
Balaão (Nm. 22.22-32)
N.T
•
Judas Iscariotes (Jo. 12.4; 13.2,18,21)
•
Himeneu
e Fileto (II Tm. 2.17-18)
•
Demas (II Tm. 4.10)
Mas e acerca daqueles
que não foram escritos, que pertencem a gerações posteriores e até mesmo a
nossos dias, o que podemos dizer acerca das coisas que nos acercam? Quantas almas
preciosas após receberem o conhecimento da verdade, mergulharam novamente numa
vida mundana e estão hoje numa situação pior que a anterior (II Pe. 2.20-22).
Tudo isso está
registrado na Palavra infalível de Deus como uma advertência e aviso para nós,
para que não cobicemos as coisas más como eles cobiçaram (I Cor. 10.5-6 / Tg.
1.13-15). Em suma, o que desejamos frisar com estas linhas é que “Deus nos
conheceu, nos predestinou e nos chamou”. Considere:
•
Como nos conheceu?
A Palavra responde:
“mortos em delitos e pecados (Ef. 2.1) ...perdidos (Lc. 19.10).
•
Porque nos escolheu?
“Para sermos santos e
irrepreensíveis perante Ele”.
•
Para que nos predestinou?
“Para sermos conforme
a imagem de Seu Filho”.
Em Marcos 3.13 lemos que “O Senhor chamou os que Ele mesmo
quis”.
Em Efésios 4.1, Paulo nos exorta a andarmos dignos da vocação com que fomos chamados;
em II Timóteo 1.9 diz que “Ele nos salvou e nos chamou com santa vocação”; em
Romanos 1.6 nos diz que “fomos chamados para sermos de Jesus Cristo”; em João
14.3 e 17.24 vemos a finalidade desta chamada: “Estarmos com Ele e vermos a Sua
Glória”.
Jacó fez uma pergunta àquele homem (v. 27,29): “Como te chamas?”. Ao que
disse o homem: “Por que perguntas pelo meu nome?”. Aqui temos perante nós um
fato triste e ao mesmo tempo salutar, ou seja, uma situação que retrata os
aspectos da condição espiritual de Jacó. Espiritualmente falando, ele não tinha
condições de receber tal revelação (Sl. 25.14). Pôde ser abençoado (v. 29c),
mas não pôde saber o nome de quem lutava com ele.
Não é assim que tem
acontecido conosco? Temos sido abençoados por Deus com toda sorte de bênção
espiritual, mas as nossas vidas e ambições revelam que não temos compreendido
os caminhos que Deus tem traçado para que os trilhemos, nem tão pouco o seu
cuidado, sua disciplina e muito menos o que Ele quer de nós.
Tudo quanto se passa
diante do nosso olhar, nas nossas relações com Deus, fazem-nos ver brilhar de
um modo incompreensível a Sua graça e o Seu amor. Quanto às revelações mais
profundas do Seu Ser, não as temos recebido por causa da nossa condição
espiritual.
Em tudo isso
percebemos que é uma coisa sermos abençoados por Deus, e é outra muito
diferente termos uma revelação de Si mesmo, dos Seus atributos e caráter por
meio do Espírito Santo em nossos corações.
Foi somente depois de
ter a juntura da coxa tocada, que Jacó pode ver a sua condição diante de Deus e
reconhecer que um coxo não pode fazer nada para Deus e nem para si mesmo. Por
isso agarrou-se Àquele que o havia tocado, uma atitude que determina a sua
compreensão de que Aquela pessoa que lutava com ele era mais poderoso do que
ele. Se não pôde saber o Seu nome, pôde saber que era Deus, pois chamou aquele
lugar “Peniel”, dizendo: “Vi a Deus face a face e a minha vida foi salva”
(v.30).
Antes de prosseguir,
quero apenas mencionar aquilo que está relatado no verso 31: “Nasceu-lhe o sol
quando atravessava Peniel, e manquejava
de uma coxa”. Diz o salmista:
“Na tua luz vemos a luz (Sl. 36.9)”. Foi somente quando o sol nasceu que
Jacó viu verdadeiramente sua condição.
Até ali — Peniel —
Jacó estava cheio de vigor físico, repleto de planos, mas espiritualmente
falando, em trevas. Ao atravessar Peniel viu-se como um coxo, todo o seu vigor
havia passado, e foi nesse exato momento que o sol lhe nasceu. O Apóstolo Pedro
disse que: “A Palavra profética nós faremos bem em atendê-la, como a uma luz
que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça
em vossos corações” (II Pe. 1.19).
No capítulo 33
deparamo-nos com Jacó a encontrar-se com Esaú, seu irmão. Vemos o quanto foi
desnecessário os seus planos e o seu presente. Assim como Deus conteve a Labão,
também conteve a Esaú.
É assim que o Senhor
age, em vista de toda a nossa incredulidade e covardia — Ele afugenta os
nossos temores (Sl. 34.4 / 56.3-4). Todo o temor de Jacó; todo o seu medo; toda
a sua angústia foram contidas pelo abraço fraterno (de irmão), pelo beijo e
pelas lágrimas que ambos derramaram (33.4). Tais são os caminhos de Deus (Is.
55.8 / Dt. 32.9-12) em graça para conosco.
Os atos do amor de
Deus visam nos revelar quem Ele é para que possamos conhecê-lo. “Ninguém jamais
viu a Deus, mas o Deus Unigé
O capítulo 31 de
Gênesis relata a sua saída de Harã e a consequente volta à terra de Canaã. Em
Eclesiastes encontramos que há tempo para tudo (Ec. 3.1-8) — há o tempo de Deus
e o tempo dos homens. Foi assim como este patriarca, e deve ser assim conosco.
Como os propósitos de Deus relacionavam-se com a terra de Canaã, a sua graça
podia assisti-lo em Harã, mas tinha como objetivo trá-lo de volta à terra de
Deus.
Quando Jacó deixou
sua casa rumo a Harã, ficaram atrás dele marcas inapagáveis, as quais agora,
com a sua intenção de voltar, faziam-no tremer de medo. No entanto, ele está
numa condição que não lhe oferece escapatória. Ele terá que enfrentar os fatos
passados. Harã não lhe serve mais, o ambiente é insuportável, visto que os
comentários dos filhos de Labão e o próprio rosto de Labão atormentavam a sua
vida. Do outro lado, o simples pensamento de ter que encontrar com Esaú o faz
estremecer de medo. Ele está encurralado. Que situação delicada produziu este
homem de Deus. Ficar já não podia mais. Harã não é o seu lugar, e voltar para Canaã representa
uma ameaça direta a
sua vida, porque Esaú está
no seu caminho.
Atentemos
para o sério aviso quanto à nossa conduta aqui nesse mundo. Se nós nos envolvermos
com “o sistema”, haveremos de nos comprometer de uma maneira ou de outra. Nós
não somos do mundo (Jo. 15.19; 17.14-16). Entre nós e o mundo há uma guerra, e
o fator determinante é que
existem duas naturezas opostas
— a carne e o Espírito (Gl. 5.17). A natureza carnal opõe-se à natureza
espiritual, e quando aquela prevalece, deixa sequelas difíceis de serem apagadas. Disse o apóstolo: “O
último estado toma-se pior que o primeiro” (II Pe. 2.20). Foi assim com Jacó e,
via de regra, é assim conosco. É de grande valor as palavras de Paulo em I Timóteo
3.15: Fiques ciente de como se deve proceder na Casa de Deus, que é a Igreja do
Deus vivo, coluna e baluarte da verdade”.
Mas
o fato agora é que Jacó tem de voltar. Não pode mais ficar em Harã. Deus lhe disse:
“Volta” (Gen. 31.3). Ele não tem como olvidar (deixar cair no esquecimento) a
chamada de Deus. Mas ao mesmo tempo a voz da consciência está clamando: “E
Esaú!”. Nesse momento podemos dizer que Jacó chegou exatamente no lugar onde Deus
queria. Tudo quanto dizia respeito a ele é chegado ao fim. Ficar não posso;
seguir para Canaã será meu fim — Esaú me matará (Gen. 32.11). A lição é que:
“Somente quando acaba o homem é que Deus pode agir”.
Enquanto
houver uma minúscula partícula de força o homem recusará o socorro divino. Seus
métodos, razões, ambições, desejos, tudo isso prevalecerá. Mas quando nada
disso pode socorrê-lo, então
o Senhor (bendito seja para sempre o Seu Santo Nome), vem de encontro às suas
necessidades. Então podemos perguntar: “O que era Esaú para o Senhor?”. Ele não
representava nada para aquele que o criou. Para o Altíssimo ele não passava de
um caco de barro, mas para Jacó uma séria ameaça. Deus usou isso para mostrar a
Jacó quem Ele era.
E verdade que mesmo diante desta experiência a
lição não foi completamente aprendida; seria ainda preciso outras lições, as
quais veremos em explanações posteriores. Mas a bondade, fidelidade e paciência
de Deus sempre se manifestam a nosso favor, e pacientemente nos ensina com todo
amor, cada lição que precisamos aprender para o exercício da nossa fé,
confiança e dependência do Senhor.
É
isso que podemos aprender acerca da permanência de Jacó em Harã. A forma como
cuidou dele, suprindo suas necessidades; ensinando-o pela oposição e fàdiga que Ele não era o Deus de Harã,
mas o Deus de Betel; que Harã não era o seu lugar, mas sim Canaã, a terra do
seu Deus.
Estes
foram os caminhos e conduta do Senhor para com ele, o Seu eleito. Era
necessário deixar este lugar e desconsiderar toda a adversidade que pudesse
interpor-se entre Harã e Canaã, confiando no Senhor e seguindo o caminho de
volta, sabedor de que, “aquele que prometeu é fiel e há de cumprir tudo o que
prometera” (Heb. 13.5-6).
4_
Jacó Retorna Para Canaã — Gênesis 31.22-55 / 32.1-32 / 33.1-20
Ao
entrarmos nas considerações acerca da quarta divisão do nosso estudo, é
importante lembrarmos que, ao terminarmos a anterior, o Patriarca encontrava-se numa situação muito
difícil, pois não havia mais ambiente para ele em Harã, junto a Labão. Os
acontecimentos ocorridos durante os 20 anos em que esteve em Harã não mais
permitiam sua permanência ali (Pv. 10.9). Era necessário partir (Pv. 6.14-15).
Toda
a astúcia de Jacó, bem como a exploração de Labão, haviam chegado a uma situação
que os impedia de continuarem juntos. Na realidade, segundo suas palavras,
ambos estavam
perdendo e nenhum
deles estava satisfeito (Gen. 31.1-9). Os filhos de Labão diziam: “Jacó se
apossou de tudo que era de nosso pai”. Por sua vez Jacó dizia: “O rosto de
Labão não me é mais favorável; Labão me enganou” (vs. 1,2,7).
Tudo
isso que temos perante nós é o resultado do seu ingresso na escola de Labão, e
serve de advertência a nós outros, para que pesemos nossas decisões à luz da
presença de Deus. Esta situação o expõe a praticar aquilo que aprendeu na
escola de Labão. Podemos distribuir da seguinte maneira:
•
Jacó
convoca ao campo suas mulheres;
•
Jacó
convence-as da necessidade de fugir — vs. 4-7,14-20
A
lição aqui para nós é que a escola de Labão não fechou com a fuga de Jacó, mas continua
até os nossos dias a ministrar suas lições. Entretanto, o lado mais triste e
pior é que “temos sido bons alunos” desta escola e conduzido, também, para lá
nossos filhos. Como aconteceu nos dias de Jacó, acontece hoje também.
Insatisfação, incerteza e engano são apenas alguns exemplos dos resultados
obtidos por frequentar esta
escola, a escola de Labão..
I_
A fuga de
Jacó — vs. 17-21
•
O
Propósito:
Ir a Isaque seu pai.
Foi isso o que ele disse (v. 18b).
•
O
Meio Usado Para Fugir:
“Logrou” (vs. 20). Esta palavra significa iludir, ludibriar, burlar,
produzir o resultado que se espera. Foi isso o que fez Jacó quando reuniu suas
mulheres no campo junto ao seu rebanho.
•
O
Escape: (v. 21)
D)
Levantou;
E)
Passou
o Eufrates;
F)
Tomou
o rumo da montanha de Gileade.
Impressiona-nos pensar nos meios que Jacó emprega para alcançar os
seus objetivos — 29.18,21 /
30.26,31-33, 37-43 — e ao mesmo tempo pensar na sua ignorância quanto aos
princípios e caminhos de Deus. Não existe qualquer dúvida quanto ao fato de
que ele conhecia a vontade de Deus. Lemos no verso 3 que o Senhor disse a Jacó
para sair dali, mas o que Jacó desconhecia é que os meios utilizados por Deus
para tirá-lo dali, não seriam os
seus próprios meios de Jacó e nem aqueles que aprendeu na escola de Labão, mas
os meios de Deus mesmo.
O
problema de Jacó era que a escola de Labão o despreparou para confiar em Deus e
o capacitou a confiar em si mesmo. Aqui temos a gravidade do problema. Sempre
que nos desligarmos do Senhor para confiarmos em nós mesmos, será necessário
fugir de algo. O caminho da fé é diferente, pois ele desliga-nos de nós mesmos
para nos ligar ao Senhor — em outras palavras, ele determina a confiança no
Senhor, e não em nossos planos.
Se
Jacó tivesse aprendido esta verdade, saberia que Aquele que lhe disse “Sai”,
também iria prover os meios lícitos necessários para a sua saída. Deus prometeu
estar com ele (Gen. 28.15). O caminho da fé é o caminho da obediência —
não pode haver uma sem a outra. E necessário que aquele que se aproxima de
Deus, creia que Ele existe e que é galardoador daqueles que o buscam (Hb. 11.6
/ Sl. 37.7 / 89.15 / 91.1). Em resumo, “a fé não produz meios, mas simplesmente
descansa, confia em Deus”.
II_ A Perseguição de
Labão — vs. 22-23,26
•
Preparação — Tomou consigo seus irmãos (v. 23);
•
Disposição — Saiu ao seu encalço (vs. 23,25);
•
Objetivo — Alcançou a montanha de Gileade (v. 25)
III_ O Cuidado de Deus
— vs. 24,29,42
•
Intervenção — De noite veio a Labão (v. 24);
•
Advertência — Guarda-te (v. 24);
•
Proteção — Não fales a Jacó nem bem, nem mal (v. 24).
Não há nada que
desagrade mais a Deus do que incredulidade; tudo isso poderia ser evitado, se
Jacó tivesse confiado em Deus. É impressionante ler as palavras que Moisés escreveu sobre
ele em Deuteronômio 32. 10,12: “Achou-o numa terra deserta, num ermo solitário
povoado de uivos, rodeou-o e cuidou dele, guardou-o como a menina dos seus
olhos” — só assim o Senhor o guiou. Mas ao mesmo tempo lamentamos o tipo de
conduta dos seus descendentes. Como é triste ler em Hebreus 3.19: “Vemos que
não puderam entrar por causa da incredulidade’’.
IV_ A Contenda — vs.26-41 LABÃO:
1_ Que fizeste? (v. 26);
2_ Por que fugiste? (v. 27);
3_ Por que não permitiste beijar meus filhos e minhas filhas? (v. 28);
4_ Por que furtaste os meus deuses? (v. 30).
JACÓ:
1_ Tive medo (v. 31);
2_ Qual a minha transgressão? Qual o meu pecado que tão furiosamente me tens perseguido? (v. 36);
3_ Vinte Anos te servi; dez vezes mudaste
o meu salário (v. 41).
V_ A Aliança Entre Jacó e Labão — vs. 44-55
•
Jegar-Saaduta — nome que Labão deu à coluna do testemunho. Significa: “monte do testemunho”;
•
Galeede e Mispa — nomes que Jacó e Labão deram ao monte. Significam: “vigie o Senhor
entre mim e ti, e nos julgue quando separar-nos (vs. 47-49)”.
VI_ Jacó a Caminho de Canaã — 32.1
•
Progresso — Seguiu (v. 1);
•
Proteção — Anjos de Deus vêm encontrá-lo (v. 1);
•
Percepção — Quando os viu (v. 2);
•
Provisão — Disse: “Maanaim”, que significa “Acampamento de Deus” (v. 2)
A cada passo que
damos, seguindo pelas páginas inspiradas o caminhar deste homem de Deus,
ficamos perplexos em contemplar como Jacó tão depressa cai do lugar onde a graça
de Deus o coloca (Gl. 1.6), para o lugar da sua razão pondo em ação os seus
planos e desconsiderando a direção de Deus. Pôde ver os anjos; pôde dizer “é o
acampamento de Deus”, mas logo a seguir envia mensageiros e lhes ordena “Assim falareis a meu Senhor Esaú”
(v. 4).
Já temos falado que
necessitamos de visão espiritual. Existe muita diferença entre conhecer e
praticar. Não negamos nunca a eficácia do conhecimento adquirido. Jacó viu os
anjos de Deus, foi capaz de dizer “é o acampamento de Deus, mas quando pensou
em Esaú, nada disso teve valor — não houve nenhum proveito para sua vida (Hb.
4.2). O contrário disso temos em Eliseu, quando o rei da Síria enviou seu
exército para o prender (II Reis 6.12-17).
“Meu Senhor” e “teu
servo” não é a linguagem para um irmão, e muito menos para alguém cônscio da presença de Deus.
São as palavras de alguém com má consciência (no caso, Jacó). O gozo da fé é
repousar nas promessas infalíveis de Deus. O Senhor havia dito a Jacó: “Volta
para a terra de seus pais e eu serei contigo (31.13)”.
Esta promessa deveria
ser suficiente para resolver todos os problemas e obstáculos que pudessem
surgir no caminho, fossem eles de qualquer natureza ou espécie.
Antes de
prosseguirmos, devemos lembrar que a nós também foi feita uma promessa de igual
valor: “Eis que eu estou convosco
todos os dias até a consumação dos séculos (Mt. 28.20). Estas foram as
palavras do Senhor Jesus Cristo e como podemos confiar nelas.
Apesar de tudo que
temos exposto, Jacó não confiou na promessa de Deus, e sim nos seus planos.
Como é terrível deixar de confiar em Deus para confiar nos nossos planos. Jeremias
disse: “Bendito o homem que confia no Senhor e cuja esperança é o Senhor”; mas
disse também: “Maldito o homem que confia no homem e faz da carne mortal o seu
braço e aparta o seu coração do Senhor (Jer. 17.7,5).
Colocar Deus à parte,
para poder colocar os nossos planos em atividade, é uma atitude deveras
ridícula para um homem de Deus. Foi precisamente isso que Jacó fez. Seu
primeiro pensamento já era um plano, algo que ele aprendera na escola de Labão,
e ele é apenas mais um exemplo do pobre coração humano.
Depois de planejar,
ora a Deus pedindo-lhe libertação; mas mal acaba sua oração, volta aos seus
planos. Não podemos confundir as coisas. Quando buscamos a presença do Senhor
em oração, pedindo-lhe auxílio para resolvermos os nossos problemas, devemos
confiar plenamente nele e descansar convictos de que Ele nos valerá. Fazer
planos e orar não é a atitude daquele que conhece a Deus e confia nele (Sl.
9.10 / 34.22 / 55.22).
Quando planejo e
atuo, a minha atitude revela que confio naquilo que planejo. Nesse caso, a
oração não é a expressão da minha confiança em Deus, mas o meu
procedimento em função de alguma coisa que acho que devo fazer; algum procedimento,
pelo qual (segundo a minha mente carnal), acredito estar na dependência de
Deus. A questão triste desta história é simplesmente o fato de que este método
não mudou nesses milênios que nos separam de Jacó. Esta atitude tem sido
praticada em todos os dias da história do homem sobre a terra e isso sem dúvida
alguma tem sido a causa de tropeços e fracassos na vida de muitos servos de
Deus.
Outra questão
importante é que quando planejo e atuo, o meu coração não goza de paz, pois
sempre haverá uma raiz de inquietação (Jó 8.14) — foi assim com Jacó. Diz a
Palavra de Deus que quando ele soube que Esaú vinha ao seu encontro, ele
angustiou-se (v. 7). E assim sucede conosco. “A fonte de todo o gozo e paz
consiste numa confiança plena e total em Deus” (Sl. 56.4,11). A Palavra nos
mostra que as atitudes carnais de Jacó, sempre foram os recursos pelos quais
ele se valeu.
Podemos citar:
•
Trocou um prato de lentilhas pelo direito de primogenitura (Gen. 25.29-34);
•
Fez um cozinhado saboroso
de caça para herdar a benção (Gen. 27.9-29);
•
Submeteu-se a 14 anos de servidão para ter Raquel (Gen. 28.18-30);
•
Preparou varas com listras para adquirir o rebanho de Labão (Gen. 30.37-43);
•
Separou um presente, como ele disse, “para aplacar a ira de Esaú”(32.20).
Planos e mais planos!
Ninguém podia imaginar que aquele que orava e dizia: “Livra- me das mãos de
meus irmão Esaú” (v.l 1), pudesse tão depressa esquecer as palavras de sua oração
e preparar um presente a fim de alcançar o livramento pelo qual orou — Isso é o
homem.
Foi assim com Jacó no
passado, e assim é conosco no presente século. Não podemos associar a oração a
nossos planos, mesmo que sintamo-nos
satisfeitos com este procedimento, visto que, diante de Deus, planos
humanos e orações dirigidas a Ele, não têm o mesmo valor e significado, pelo
fato de tendermos a depositar mais confiança nos planos do que exclusivamente
em Deus.
Enquanto não formos
levados pelo Espírito Santo a entendermos que em nós, isso é, na nossa carne,
não habita bem algum (Rm. 7.18); que toda carne é erva, e toda a sua glória
como a flor da erva (Is. 40.6); que consequentemente os que estão na carne não
podem agradar a Deus (Rm. 8.8); e que a solução para este problema está no fim
de nós mesmos, não teremos condições de experimentar qual seja a boa,
agradável e perfeita vontade de Deus (Rm. 12.2).
Meus Irmãos e Irmãs,
é muito fácil olharmos para este homem e dizer: “Como era incrédulo! Como era
desobediente! Como era estúpido!”. Mas quando olhamos para nós mesmos, qual o
conceito que temos? Disse o Senhor: “Por que vês tu o argueiro no olho de teu
irmão, porém não reparas na trave que está no teu próprio? Hipócrita, tira
primeiro a trave do teu olho e então verás claramente para tirar o argueiro do
olho de teu irmão” (Mt. 7.3,5).
Disse também: “São os
olhos a lâmpada do corpo. Se os teus olhos forem bons, todo o teu corpo será
luminoso; se, porém, os teus olhos forem maus, todo o teu corpo estará em
trevas. Portanto, caso a luz que em ti há sejam trevas, que grandes trevas
serão! (Mt. 6.22-23).
É assim que
encontramos Jacó neste precioso capitulo. Depois de colocar em ordem seus
planos, lemos: “Ficando ele só, lutava com ele um homem até o romper do dia” (32.24). É
interessante considerarmos que a mente de Jacó estava ocupada com Esaú. Ele
jamais pensara nesse homem, mas tremia de medo só de imaginar que Esaú se
aproximava, e resistia com toda firmeza às investidas deste “outro homem”,
visto que lemos em verso 25: “Vendo que não podia com ele, tocou- lhe na articulação da
coxa”.
Nesta cena podemos
ver (em um sentido espiritual) o que é o homem. Diante do seu semelhante
mostra-se um medroso, um suplantador. Mas diante do Senhor: um guerreiro — um
que resiste — um que não se entrega — um que suporta até as últimas e graves consequências
(Is. 45.9 / Is. 64.8 / Rm. 9.20).
Em maravilhoso
contraste, podemos ver nesse ponto da história de Jacó, quem é o nosso Deus — O
Deus de toda graça (I Pe. 5.10). Apesar de toda a oposição humana (Hb. 12.3), o
Seu amor é insondável e os Seus propósitos imutáveis (Hb. 6.17).
Ele desceu até nós em
Cristo Jesus, condescendeu em vir até ao lugar mais negro, denso e profundo da necessidade humana
(Jó 30.25b), para mostrar que odeia o pecado, mas que é grandioso o Seu amor
pelo pecador. Bendito feito do amor redentor!
Outra questão
importante a realçar é o fato de que não era Jacó que lutava com o homem e sim
o homem que lutava com ele. Há uma grande diferença entre eu lutar com alguém e
alguém lutar comigo. Quando luto almejo alcançar algum objetivo, mas quando
alguém luta comigo, é certo que ele deseja algo de mim. É isso que vemos
claramente na história de Jacó.
Lembremo-nos que,
quando ele passou por Betel, chegou a impor condições a Deus para lhe
pertencer. Diante de Labão fez uso de seus métodos e práticas para adquirir
aquilo que almejava. Retomando à terra de Deus, segundo a eleição e chamado do
Senhor, não é mais esta pessoa (Jacó) que o Senhor deseja usar ali. Ele quer
este homem, mas não como é ou se apresenta. É necessário transformar este
homem, mudar a sua forma de ser, a sua conduta.
Por esta razão lutou
com ele até o romper do dia com o firme desejo de mudar-lhe a forma, para
levar-lhe ao fim de si mesmo e transformá-lo num príncipe que luta com Deus.
Isto é Israel!
A graça de Deus
suportou Jacó, mas o Seu amor o mudou em Israel. Lemos em Deuteronômio 7.7-8 que o Senhor teve
afeição por Israel, o seu escolhido. Mas as razões para esta preferência é o
que nos impressiona. Moisés diz: “não porque fosseis mais numeroso do que
qualquer povo, mas porque o Senhor vos amava”. Aqui temos uma linda lição a
aprender. O texto ensina- nos que Deus é Deus de amor, e a quem ama, ama até ao
fim (Jo. 13.1 /1 Jo. 4.8).
Disse o apóstolo
Paulo em Romanos 11.29: “Os dons e a vocação de Deus são irrevogáveis”. Outra
coisa importante que vemos aqui é que nos caminhos daqueles que são os objetos
do Seu amor, haverá, sempre, um lugar escolhido por Deus para revelar-lhes os
Seus planos e propósitos para com eles.
Vejamos alguns
exemplos:
Jacó — O Vau de Jaboque;
Moisés — O Monte Horebe (Ex. 3.1);
Davi — A Eira de Nacom (II Sm. 6.6 /1 Cr. 13.9);
Saulo de Tarso — A estrada de Damasco (At. 9.3-6).
Estes são apenas
alguns dos muitos exemplos que temos no cânon
inspirado. Mas devemos também frisar que a maioria daqueles que
confessam o nome do Senhor, têm sido, como estes, conduzidos a um lugar de
experiência pessoal com o Senhor.
Infelizmente, a
maioria tem deixado este lugar numa condição espiritual muito inferior àquela
em que estavam. Não viram o Senhor, e nem possuíram sabedoria espiritual para aprenderem
a lição que Ele lhes desejava ensinar. Podemos citar uma vasta lista contida
na Bíblia, mas citaremos apenas alguns exemplos:
V.T
•
Caím (Gen. 4.3,6,7)
•
Ló (Gen. 13.7,10-13)
•
Abiú e Nadabe (Lv. 10.1-2)
•
Coré, Datã e Abirão (Nm. 16.1,3,28-32)
•
Balaão (Nm. 22.22-32)
N.T
•
Judas Iscariotes (Jo. 12.4; 13.2,18,21)
•
Himeneu
e Fileto (II Tm. 2.17-18)
•
Demas (II Tm. 4.10)
Mas e acerca daqueles
que não foram escritos, que pertencem a gerações posteriores e até mesmo a
nossos dias, o que podemos dizer acerca das coisas que nos acercam? Quantas almas
preciosas após receberem o conhecimento da verdade, mergulharam novamente numa
vida mundana e estão hoje numa situação pior que a anterior (II Pe. 2.20-22).
Tudo isso está
registrado na Palavra infalível de Deus como uma advertência e aviso para nós,
para que não cobicemos as coisas más como eles cobiçaram (I Cor. 10.5-6 / Tg.
1.13-15). Em suma, o que desejamos frisar com estas linhas é que “Deus nos
conheceu, nos predestinou e nos chamou”. Considere:
•
Como nos conheceu?
A Palavra responde:
“mortos em delitos e pecados (Ef. 2.1) ...perdidos (Lc. 19.10).
•
Porque nos escolheu?
“Para sermos santos e
irrepreensíveis perante Ele”.
•
Para que nos predestinou?
“Para sermos conforme
a imagem de Seu Filho”.
Em Marcos 3.13 lemos que “O Senhor chamou os que Ele mesmo
quis”.
Em Efésios 4.1, Paulo nos exorta a andarmos dignos da vocação com que fomos chamados;
em II Timóteo 1.9 diz que “Ele nos salvou e nos chamou com santa vocação”; em
Romanos 1.6 nos diz que “fomos chamados para sermos de Jesus Cristo”; em João
14.3 e 17.24 vemos a finalidade desta chamada: “Estarmos com Ele e vermos a Sua
Glória”.
Jacó fez uma pergunta àquele homem (v. 27,29): “Como te chamas?”. Ao que
disse o homem: “Por que perguntas pelo meu nome?”. Aqui temos perante nós um
fato triste e ao mesmo tempo salutar, ou seja, uma situação que retrata os
aspectos da condição espiritual de Jacó. Espiritualmente falando, ele não tinha
condições de receber tal revelação (Sl. 25.14). Pôde ser abençoado (v. 29c),
mas não pôde saber o nome de quem lutava com ele.
Não é assim que tem
acontecido conosco? Temos sido abençoados por Deus com toda sorte de benção
espiritual, mas as nossas vidas e ambições revelam que não temos compreendido
os caminhos que Deus tem traçado para que os trilhemos, nem tão pouco o seu
cuidado, sua disciplina e muito menos o que Ele quer de nós.
Tudo quanto se passa
diante do nosso olhar, nas nossas relações com Deus, fazem-nos ver brilhar de
um modo incompreensível a Sua graça e o Seu amor. Quanto às revelações mais
profundas do Seu Ser, não as temos recebido por causa da nossa condição
espiritual.
Em tudo isso
percebemos que é uma coisa sermos abençoados por Deus, e é outra muito
diferente termos uma revelação de Si mesmo, dos Seus atributos e caráter por
meio do Espírito Santo em nossos corações.
Foi somente depois de
ter a juntura da coxa tocada, que Jacó pode ver a sua condição diante de Deus e
reconhecer que um coxo não pode fazer nada para Deus e nem para si mesmo. Por
isso agarrou-se Àquele que o havia tocado, uma atitude que determina a sua
compreensão de que Aquela pessoa que lutava com ele era mais poderoso do que
ele. Se não pôde saber o Seu nome, pôde saber que era Deus, pois chamou aquele
lugar “Peniel”, dizendo: “Vi a Deus face a face e a minha vida foi salva”
(v.30).
Antes de prosseguir,
quero apenas mencionar aquilo que está relatado no verso 31: “Nasceu-lhe o sol
quando atravessava Peniel, e manquejava
de uma coxa”. Diz o salmista:
“Na tua luz vemos a luz (Sl. 36.9)”. Foi somente quando o sol nasceu que
Jacó viu verdadeiramente sua condição.
Até ali — Peniel —
Jacó estava cheio de vigor físico, repleto de planos, mas espiritualmente
falando, em trevas. Ao atravessar Peniel viu-se como um coxo, todo o seu vigor
havia passado, e foi nesse exato momento que o sol lhe nasceu. O Apóstolo Pedro
disse que: “A Palavra profética nós faremos bem em atendê-la, como a uma luz
que brilha em lugar tenebroso, até que o dia clareie e a estrela da alva nasça
em vossos corações” (II Pe. 1.19).
No capítulo 33
deparamo-nos com Jacó a encontrar-se com Esaú, seu irmão. Vemos o quanto foi
desnecessário os seus planos e o seu presente. Assim como Deus conteve a Labão,
também conteve a Esaú.
É assim que o Senhor
age, em vista de toda a nossa incredulidade e covardia — Ele afugenta os
nossos temores (Sl. 34.4 / 56.3-4). Todo o temor de Jacó; todo o seu medo; toda
a sua angústia foram contidas pelo abraço fraterno (de irmão), pelo beijo e
pelas lágrimas que ambos derramaram (33.4). Tais são os caminhos de Deus (Is.
55.8 / Dt. 32.9-12) em graça para conosco.
Os atos do amor de
Deus visam nos revelar quem Ele é para que possamos conhecê-lo. “Ninguém jamais
viu a Deus, mas o Deus Unigênito foi quem O revelou” (Jo. 1.18). Oséias diz: “Conheçamos e prossigamos em
conhecer o Senhor... pois misericórdia quero, e não sacrifício; e o
conhecimento de Deus, mais do que holocaustos” (Os. 6.2,6).
A nossa oração é que
o Senhor nos capacite a saber, o lugar e como o sol nasceu em nossas vidas, e
que estes simples pensamentos possam permitir o aproximarmos mais de Deus, e
assim conhecê-lo melhor, pois nisso está a vida eterna (Jo. 17.3). Amém.
(Continua...)
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