quinta-feira, 26 de junho de 2014

A Igreja Numa Localidade



A igreja local

Sigamos como de costume os simples ensinos da Palavra de Deus. Esta não fala somente da Igreja em geral, mas também da "igreja que estava em Jerusalém" (Atos 8:1), da "igreja que estava em Antioquia" (Atos 13:1), da "igreja de Deus que estava em Corinto" (1 Coríntios 1:2) e assim sucessivamente.
Assim como todos os crentes nascidos de novo e chamados a sair fora do mundo formam juntos a "ekklesia" ("Igreja") na terra, assim também uma igreja local inclui a todos os santificados em Cristo Jesus, a todos os " chamados santos " que habitam nesse preciso lugar. Isto está demonstrado com toda evidência em 1 Coríntios 1:2. No tempo do apóstolo esta realidade era visível. Anteriormente, todos os crentes de um povo ou de uma cidade congregavam-se como uma só alma num lugar e era perante o mundo uma expressão evidente de todo o corpo de Cristo. Assim foi como Paulo escreveu à igreja de Corinto: "Vós, pois, sois corpo de Cristo, e  seus membros em particular" (1 Coríntios 12:27).
Ainda que cada igreja local, seja num certo sentido autônoma e tenha sua própria responsabilidade diante do Senhor quanto ao seu estado espiritual, não obstante isto, não é um organismo independente. Está intimamente ligada às outras igrejas pelo vínculo do Espírito e deve ser em todas as coisas a imagem exata da Igreja que o Senhor comprou com seu próprio sangue, na terra; deve expressar na localidade onde está, a unidade do corpo de Cristo existente no mundo. Seja qual for o lugar onde um corpo local seja visto, a diferença entre uma localidade e outra deve ser apenas geográfica, pois, ambos expressam a unidade e a comunhão do corpo místico do Senhor Jesus.

O ensino das escrituras.

É muito comum hoje, os cristãos de um mesmo lugar irem aos domingos a tantas “igrejas”  diferentes que não se vê mais a união dos membros num só organismo.
Muitos filhos de Deus estão vivendo esta triste realidade. Contudo há ainda alguns que sinceramente perguntam: Pelo fato da grande maioria dos cristãos nem sequer pensar em voltar ao que era desde o principio, ou aquilo podemos chamar de ensino das escrituras, ainda é possível, mesmo hoje, uma minoria de crentes reunirem-se sobre estas doutrinas?
É verdade que a unidade visível que deve caracterizar o povo de Deus está sendo aniquilada por causa da nossa infidelidade. Mas a realidade divina de que todos os redimidos tem sido batizados pelo Espírito Santo para formar um corpo (1 Coríntios 12:13) permanece viva hoje e para toda eternidade.
Todo aquele que reconhece isto e deseja caminhar, não somente no caminho individual da fé, mas também no caminho coletivo com os filhos de Deus, segundo as instruções dadas por Deus, não devem esperar que seus irmãos saiam dos sistemas dos homens. Pois, permanecer ligado a uma confissão particular ou a uma denominação seria continuar negando praticamente a verdade bíblica de que há "um corpo". Esse crente pode e deve colocar-se na obediência da fé, sobre a base da unidade do Espírito produzida por Deus. Ele não deve, primeiramente, fazer esta unidade, nem esforçar-se por chegar a ela, contudo é seu solene dever guardá-la, caminhando conforme à exortação seguinte: "Procurando guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz" (Efésios 4:3).
Quando um grupo de crentes, ainda que sejam apenas dois ou três, desejam reunir-se numa localidade unicamente segundo o modelo bíblico da igreja local sobre o fundamento do "único corpo", não estão formando uma “nova igreja”; porque não podem afirmar que eles são a igreja, porque reconhecem que cada crente nessa cidade é um membro do corpo de Cristo e que pertencem segundo os pensamentos de Deus à igreja de Deus nessa localidade. Certamente, estes dois ou três não podem voltar a estabelecer, por sua ação, a unidade visível perdida, mas ao atuar desta maneira, constituem um testemunho da verdade divina e invariável da unidade do Espírito, no vínculo da paz, que liga de maneira indissolúvel os membros entre si e com a Cabeça.

O centro divino

Deus assentou a Cristo "a sua destra nos lugares celestiais... e sobre todas as coisas o constituiu como cabeça da igreja, que é o seu corpo, a plenitude daquele que tudo enche em todos" (Efésios 1:20-23). Por isso, é impossível que Deus possa reconhecer aqui na terra outro centro, em cada igreja local, que não seja o Senhor Jesus Cristo. O Senhor, ao estabelecer de antemão os grandes princípios da disciplina e da reunião para sua igreja, disse: "Porque onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, ali estou eu no meio deles" (Mateus 18:20). O Espírito Santo ensina os crentes sobre este único centro de reunião. Se reunirem sobre esta condição, então o Senhor Jesus, nosso Senhor estará, segundo sua promessa, pessoalmente, entre eles ainda que de forma invisível.
Que verdade tão maravilhosa! Oxalá que este lugar central de direção e de autoridade lhe seja plenamente concedido entre todos os filhos de Deus! Quão grande seria a bênção derramada da Cabeça para todos os seus membros! O nome do Senhor Jesus é plenamente suficiente para cada indivíduo, assim como para as necessidades da igreja.
Todavia ao chegarmos a uma cidade e observar a vida religiosa devemos reconhecer que, na cristandade, muitas outras coisas ou outras pessoas estão "no meio" ocupando o lugar que é exclusivo do Senhor. As pessoas estão se aderindo a uma organização, a um nome, a um pregador, etc. Isto, pois, lança o Senhor Jesus Cristo fora do centro. Vamos procurar mostrar isto no parágrafo seguinte.

A direção divina

Se alguns crentes estão congregados num lugar ao nome do Senhor, e esta reunião tem verdadeiramente o caráter de "igreja de Deus", então o Senhor está, evidentemente, no meio deles para conduzi-los em todas as coisas. Os olhares de todos devem ser dirigidos para ele e têm que contar com ele. Todos precisam  perseverar em submissão e na dependência do Senhor e Mestre. Uma das conseqüências desta dependência é que a  ordem reinará conforme os pensamentos e a vontade de Deus, na prática dos dons espirituais, no serviço e no comportamento de todos os membros.
O Espírito Santo está também no meio deles. Desde o dia de Pentecostes, mora tanto em cada um dos crentes como na Igreja de Deus (1 Coríntios 6:19; Efésios 2:22). O Senhor havia avisado aos seus discípulos que o Pai enviaria o Espírito Santo em seu nome (João 14:26). Seria um Consolador entre eles e se ocuparia de tudo o que lhes concerne (João 16:13). E em 1 Coríntios 12 e 14 nos mostra como exerce esta função. Reparte os diferentes dons de graça: "Porém todas estas coisas são feitas pelo mesmo e único Espírito, repartindo a cada um em particular como ele quer" (1 Coríntios 12:11). Está presente para conduzir, dirigir e ensinar. Ele tem o direito de utilizar a quem quer como sua boca para orar, louvar ou servir.
Mas como poderá ser empregado este grande principio da direção divina entre os crentes reunidos, quando há uma direção humana que não pode ser mais do que um obstáculo à livre ação do Espírito de Deus?
Que diria o chefe de uma grande empresa se um dia alguém se sentasse em seu gabinete e se pusesse a dirigir o conselho deliberativo? Chamado a dar explicações, o intruso poderia talvez contestar: “Sei que a empresa é sua, no entanto, faço isto para servir-te melhor e permanecer em estreita relação contigo. O mecanismo administrativo que estou implantando funcionará bem”. Por acaso aceitaria o chefe ser rebaixado ao papel de conselheiro em sua própria empresa?
Se é assim nas coisas materiais, quanto menos nas coisas espirituais. Deveria  não haver nenhuma intervenção da vontade própria do homem nos direitos do Senhor e do Espírito Santo, como é, por exemplo, hoje o caso dos sistemas eclesiásticos confiados à responsabilidade de uma só pessoa. Este se encarrega de todo serviço e, além disso, o exerce em conformidade com a doutrina particular de sua igreja ou de sua comunidade confessional! Este condutor ora, faz o serviço, se ocupa de tudo como se, fora dele, não houvesse nenhum outro guia na igreja, nem outros membros que o Espírito Santo quisesse e pudesse utilizar. E isto é assim, porque é formado em teologia ou escolhido, por homens, eleito par tal lugar. Em virtude de pertencer ao que se chama o clero, é o único autorizado segundo a opinião dos homens a exercer estas atividades segundo princípios humanos, e foi ordenado para este serviço por alguns homens. Ao nomearem sacerdotes, por exemplo, persiste a ideia de uma sucessão apostólica. Desta forma querem manter, por este meio, o mesmo principio que foi utilizado, anteriormente, pelos apóstolos ao nomearem certos homens para o serviço do Senhor. Na verdade o que fazem é recusar os leigos (Laicos) nos suas cátedras, ou seja,  todos os que não possuem a formação religiosa dos seus seminários e que não foram estabelecidos segundo as suas regras. Todo aquele que ocupa e exerce tal função justifica-se a si mesmo, afirmando que é dirigido pelo Espírito para o serviço que realiza. Contudo, estes argumentos não melhoram o sistema no qual servem e, portanto, não pode ser justificado pela Palavra de Deus.
Todavia, no livro dos Atos dos apóstolos, assim como nas epístolas, não há uma única alusão a uma designação deste tipo para exercer uma “função” nas igrejas locais. O Apóstolo Paulo tinha uma autoridade apostólica que ocasionalmente foi transmitida aos seus companheiros no serviço, Timóteo e Tito para formar igrejas. Também lemos de "varões principais" ou dos que "tinham o governo dos irmãos, Os vossos guias" ou dos que "presidem no Senhor" (Atos 15:22; Hebreus 13:7.; 1 Tessalonicenses 5:12). No entanto, estes homens se submetiam nas igrejas à direção do Senhor e do Espírito Santo como os demais irmãos (Atos 13:1-2).
O caminho divino do serviço
Quando alguns cristãos estão congregados ao redor do Senhor como seu centro e seu guia e permanecem dependentes dele, Ele fornece tudo o que necessitam para poder ser um testemunho para seu nome. Como cabeça da sua Igreja, o Senhor tem dado dons aos homens para a obra do serviço, e permite que seja praticado nas igrejas locais os dons para a edificação dos crentes ou para a pregação do Evangelho aos incrédulos. Ainda quando o exercício dos dons seja cumprido com a maior debilidade, apesar de tudo, este serviço é do Senhor. Cinco palavras "como demonstração do Espírito" e de acordo com os ensinos das Sagradas Escrituras, valem mais que uma "excelência de palavras" baseadas na sabedoria humana (1 Coríntios 2:1-5).
Na qualidade de membro do corpo de Cristo, cada crente tem sua parte de responsabilidade na conservação do testemunho para o Senhor; e se alguém tem recebido do Senhor algum dos dons tão variados, tem que cumprir sua tarefa particular de acordo com a seguinte exortação: "Cada um segundo o dom que recebeu, administra aos outros, como bons dispenseiros da multiforme graça de Deus. Se alguém fala, fale conforme as palavras de Deus; se alguém ministra, ministre conforme o poder que Deus dá, para que em tudo Deus seja glorificado por Jesus Cristo" (1 Pedro 4:10-11). Desta maneira, as capacidades e os dons espirituais presentes serão estimulados e desenvolvidos. De forma contrária, no lugar onde um só homem está estabelecido por seus semelhantes como “servo do Senhor”, já não há estes exercícios interiores, e muitos dos dons que o Senhor tem dado a sua Igreja não são utilizados.
Ao estudar as diversas reuniões, voltaremos a falar do serviço com mais detalhe

Os anciãos e os diáconos ou servidores nas igrejas locais

1) Os anciãos: Durante a primeira viagem missionária do apóstolo Paulo com Barnabé, algumas igrejas foram estabelecidas em diferentes cidades. No curso da sua viagem de regresso, voltaram a visitá-los. "Constituíram anciãos em cada igreja" (Atos 14:23) e seguiram seu caminho. Mais adiante, o apóstolo mandou também a Tito que estabelecesse anciãos nas cidades de Creta (Tito 1:5).
Somente os homens que reuniam as condições e que tinham capacidades, bem como, os requisitos descritos em 1 Timóteo 3:1-7 e Tito 1:6-9 eram aptos para cumprir esta tarefa. Não era, em absoluto, necessário possuir o dom de pregar ou de ensinar publicamente, contudo se semelhante dom houvesse ali, isto permitia que o serviço do ancião fosse praticado com maior bênção (1 Timóteo 5:17).
Qual era, pois, o serviço? O ancião era um bispo (isto é, um superintendente.; Tito 1:5 ,7). Tinha que "cuidar da igreja local " (1 Timóteo 3:5) e era "administrador de Deus" (Tito 1:7). O apóstolo exortou os anciãos de Éfeso assim: "Olhai por vós, e por todo o rebanho sobre o qual o Espírito Santo vos constituiu como bispos, para apascentar a igreja de Deus... E que dentre vós mesmos se levantarão homens que falarão coisas perversas... Portanto, vigiai" (Atos 20:28-35).
"Retendo a palavra fiel tal como têm sido ensinada", os anciãos eram qualificados para zelar pela a vida espiritual de cada crente em particular e de toda a igreja, para que ela permaneça sã. Tinham que vigiar para que não entrasse na igreja nenhum ensino estranho, e deviam convencer aos que contradiziam. Conheciam as necessidades, as dificuldades e as tentações dos crentes de sua localidade, e procuravam servir-lhes com sabedoria, paciência, determinação e doçura. Eram "exemplos dos fiéis" (1 Pedro 5:3), e sua vida piedosa dava força a seus conselhos e a suas ações.
Não há dúvida alguma de que hoje as igrejas necessitam e muito de irmãos que realizem este serviço difícil e necessário. No entanto, não existem mais apóstolos nem sucessores dos apóstolos que possam designar de maneira pública os anciãos e, na Palavra não encontramos nenhuma indicação de que alguma outra pessoa, nem sequer a igreja mesma, estivesse facultada o dever de escolher ou nomear bispos. Contudo se alguns irmãos possuem as condições requeridas pela Palavra de Deus e são dirigidos pelo "Espírito Santo" para cumprirem este serviço (Atos 20:28), então os demais devem reconhecer o serviço, sem por isso, outorgar a estes irmãos o título de "anciãos".
2) Os diáconos ou servidores: Enquanto os "anciãos" cuidavam do bem espiritual da igreja, os servidores ou "diáconos" estavam ocupados nas coisas materiais e temporais da igreja. Entre outros serviços administravam e distribuíam os dons (donativos) materiais que se lhes entregavam (Atos 6:1-6). A importância deste serviço fundamenta-se no fato de que a primeira "murmuração" na igreja de Jerusalém aconteceu em relação com a distribuição destes dons. Por isso deve ser encarregado a homens que tenham "bom testemunho, cheios do Espírito Santo e de sabedoria" (Atos 6:3). Além disso, devem cumprir as condições de 1 Timóteo 3:8-13.

A autoridade divina

Temos verificado que o Senhor e o Espírito Santo dirigem e exercem autoridade no meio dos que estão reunidos em nome do Senhor Jesus. Além disso, a igreja possui a Palavra de Deus como autoridade imperativa. Para todas as questões de doutrina, de serviço e de vida da igreja, não podem ir além do que apoiarem-se sobre esta frase: "Escrito está".
Finalmente, aprendemos de Mateus 18:17, 20 que o Senhor tem dado à igreja - não aos anciãos, nem a certos irmãos- a autoridade de exercer a disciplina. O que ela ata ou desata também estará atado ou desatado no céu. Voltaremos a tratar com mais detalhe sobre este assunto, quando estudarmos o tema relacionado com as questões de disciplina.

As reuniões

Havendo começado a considerar o tema da “igreja local”, chegamos à seguinte pergunta: Quais são os propósitos das reuniões dos crentes? A resposta se encontra no principio do livro dos Atos dos apóstolos, no qual é descrito a vida de comunhão dos primeiros cristãos. Ali nos fala da jovem igreja de Deus em Jerusalém, formada pelo Espírito Santo: “Perseveravam na doutrina dos apóstolos, na comunhão, no partir do pão e nas orações” (Atos 2:42).
É preciso que a Palavra seja continuamente pregada, explicada e estudada em comum, porque a Palavra de Deus, e mais especialmente a “doutrina dos apóstolos”, tal como se encontra nos escritos do Novo Testamento, constitui o alimento espiritual e a base da comunhão prática dos crentes. Assim é como se exercem os dons espirituais outorgados pelo Senhor para a edificação da sua Igreja. Portanto, as reuniões para o partir do pão (Lucas 22:19-20) e para a oração em comum adquirem uma importância de primeira ordem; o Senhor mesmo exorta aos seus a perseverar nestas coisas (Mateus 18:19-20).
Com exceção de 1 Coríntios 14:26-40, na Palavra de Deus não há indicação detalhada sobre o desenvolvimento de todas estas reuniões. O Senhor mesmo e o Espírito Santo têm a direção entre os que estão congregados no nome do Senhor Jesus. As formas rígidas destroem a vida espiritual que deveria desenvolver-se entre eles.
Consideremos agora as diferentes reuniões, e façamos uma buscando cuidadosa dos ensinos fundamentais dados pela Palavra de Deus quanto a este tema.

A reunião do partir do pão

O propósito

Qual é o sentido e o objetivo desta reunião que, nos tempos dos apóstolos, era uma das principais?
Particularmente, a primeira epístola aos Coríntios dá instruções referentes a isto (1 Coríntios 11:20-34). O significado do partir do pão não estava muito claro para muitos destes crentes. Consideravam-no como uma refeição comum, e o simples mandamento do amor nem sequer era respeitado durante essas refeições: uns se embriagavam, outros tinham fome. O Espírito Santo utilizou estas circunstâncias para comunicar-nos diversas instruções por meio do apóstolo Paulo. Se fizerem assim, diz Paulo: “Isto não é comer a ceia do Senhor... não tendes casas onde comer e beber?” Depois, o apóstolo faz referência à própria instituição da “ceia” pelo Senhor mesmo (Lucas 22:19-20). Os doze apóstolos não eram os únicos que o haviam visto; Paulo havia recebido diretamente do Senhor o ensino referente a esta prática: “O Senhor Jesus, na noite em que foi entregue, tomou o pão; e havendo dado graças, o partiu, e disse: Tomai, comei; isto é o meu corpo que por vós é partido; fazei isto em memória de mim. Assim mesmo tomou também o cálice, depois de haver ceado, dizendo: Este cálice é o novo testamento no meu sangue; fazei isto todas as vezes que o beberdes, em memória de mim. Assim, pois, todas as vezes que comerdes este pão, e beberdes este cálice, anunciais a morte do Senhor até que ele venha” (1 Coríntios 11:23-26).
Aprendemos destas palavras que os elementos da ceia do Senhor, o pão e o cálice, são figuras ou símbolos do corpo do Senhor dado por nós na cruz, e de seu sangue vertido por nós. Recordam-nos a pessoa de nosso Senhor e sua obra cumprida por nós. Em relação com a celebração da ceia do Senhor, as palavras do Senhor Jesus: “Fazei isto em memória de mim” se repetem três vezes (Lucas 22:19; 1 Coríntios 11:24-25). Domingo após domingo, os crentes que comem o pão e bebem o cálice anunciam, pela linguagem destas cenas, a morte do Senhor como o único fundamento para a salvação dos pecadores.
Quando falou do pão, o Senhor disse: “Isto é meu corpo” e, ao falar do cálice: “Este cálice é o novo testamento no meu sangue”, não se deve pensar que isto indica alguma mudança de substância misteriosa, segundo a qual, o alimento produzido pelo padeiro ou a bebida que provém da vinha, seriam transformados para converter-se no corpo e no sangue do Senhor. Não obstante, é o que ensinam uma grande parte da cristandade, os quais afirmam, então que a participação nestes elementos faz com que o cristão seja apto para o céu, comunicando-lhe o perdão dos pecados. São falsas as doutrinas que não acham nenhum apoio nas Sagradas Escrituras.
“Fazei isto em memória de mim” disse o Senhor dirigindo-se aos seus discípulos, a todos os redimidos. Amigo crente, você obedece ao seu mandamento?

Quando se deve celebrar a ceia do Senhor?

A Palavra de Deus não da indicação direta referente a isto. O capítulo 2 de Atos (v. 46) ressalta que os crentes em Jerusalém começaram a partir o pão cada dia. Mas parece que mais adiante, em outras igrejas, o costume era congregar-se para o partir do pão cada primeiro dia da semana (Atos 20:7). O Senhor mesmo está esperando que isto tenha lugar com frequência  e os cristãos de então nas primícias de seu primeiro amor, perseveraram no partir do pão ao recordarem-se com amor de seu Senhor. Estavam cheios do Espírito Santo de tal maneira que sempre em seus corações lembravam-se do Senhor Jesus Cristo. Por isso estavam impulsionados a celebrar esta festa, não algumas vezes por ano ou mensalmente, mas com frequência, de acordo com seu expresso desejo (1 Coríntios 11:26). Deveriam os crentes hoje fazer com menos freqüência? Não; somos exortados a anunciar a morte do Senhor até que ele venha!

Como se deve celebrar a ceia do Senhor?

O Senhor não pode aceitar nada quando qualquer crente possa participar de seu memorial de maneira indigna (1 Coríntios 11:26-34). Isto nos mostra claramente a importância que o Senhor mesmo dá à reunião para o partir do pão. Considera culpado a respeito de seu corpo e de seu sangue todo aquele que dentre os seus tome do pão e do cálice de maneira indigna e irreflexiva, como se participasse de uma refeição comum, ou todo aquele que participe (asseara) da ceia do Senhor num estado de coração mal e não julgado, quando come o pão e bebe o cálice.
Estes pensamentos do Senhor são decisivos para nós. Trata-se da ceia do Senhor (1 Coríntios 11:20). Paulo tem recebido estas instruções do Senhor (v. 23) e quem as deprecia deverá de prestar contas diretamente com o Senhor (v. 32).
No domingo, o estado do nosso coração é o mesmo que o da semana toda. Se neste estado animado pela graça do Senhor, nos temos comportado como é digno do evangelho de Cristo (Filipenses 1:27), como é digno da vocação em que fomos chamados (Efésios 4:1), dignos do Senhor (Colossenses 1:10) e “digno de Deus que nos chamou para o seu reino e glória (1 Tessalonicenses 2:12), participaremos dignamente do partir do pão. Mas se a conformidade com o mundo nos caracterizar em cada dia, se buscarmos a satisfação “dos desejos da carne” e “dos desejos dos olhos”, e se andamos na “vanglória da vida” (1 João 2:16), isto nos fará apresentar neste mesmo estado de indignidade diante da mesa do Senhor.
Nossos pensamentos voltarão sem cessar às coisas que encheram nossos corações durante a semana. O Senhor mesmo nos julga. Se, apesar das advertências do Senhor, perseveramos em semelhante estado de indignidade, talvez o juízo tenha que alcançar-nos, como alcançou os coríntios. “Porque o que come e bebe indignamente, sem discernir o corpo do Senhor, come e bebe juízo para si. Por isso há muitos enfermos e debilitados entre vós, e muitos que dormem” (1 Coríntios 11:29-30).
“Julgue cada um a si mesmo”. Estas palavras mostram claramente a importância de permanecer constantemente na vigilância e no juízo de nós mesmos. Que tais exercícios possam formar parte de nossa vida diária! São necessários e indispensáveis para uma vida cristã feliz.
“E assim coma”. Não é isto um grande estímulo? Se tivermos uma consciência carregada, o Senhor não quer que fiquemos afastados do partir do pão, mas que confessemos nossos pecados diante de Deus e, se há necessidade, diante dos homens também. “Ele é fiel e justo para perdoar nossos pecados, e limpar-nos de toda maldade” (1 João 1:9). Então podemos aproximar e celebrar o memorial de nosso Senhor com toda sinceridade e de uma maneira que seja digna dele.
Sou indigno! Ao ver a santidade da ceia do Senhor, alguém poderia equivocar-se pensando que nunca se sentirá digno de participar dela. Em 1 Coríntios 11 não fala de ninguém que haja sido indigno como pessoa. Indigno era o seu estado e a maneira em que estavam no momento de comer e beber. Quem dentre nós seria em si mesmo digno de participar da mesa do Senhor, se o Senhor Jesus Cristo não nos houvesse achado em nosso estado de perdição, não nos houvesse lavado por seu sangue e feitos aptos para sua presença?

A mesa do Senhor

Até agora nos temos ocupado, sobretudo, com a ceia do Senhor à luz de 1 Coríntios 11. Passemos agora ao capítulo 10 que nos apresenta a mesa do Senhor e as verdades relacionadas com ela.
Qual é, pois a diferença entre estas duas coisas? Usemos uma ilustração para explicá-lo:
Um homem convida uns amigos para uma ceia. Tem diante de si a comida preparada pelo mordomo da casa. Cada um dos convidados participa dela e também se dão conta de como é o hospedeiro, da sua simplicidade ou da sua riqueza, de seus costumes, sua atenção, etc. Tudo isto foi manifestado na ceia oferecida. Além disto, à mesa do Senhor da casa se assentaram seus amigos. Cada um, pelo fato de poder tomar parte na sua ceia, goza da comunhão da sua mesa. Se for homem honesto e estimado, não terá convidado a sua mesa pessoas com ideias subversivas ou com comportamento imoral, do contrário sua boa reputação seria comprometida por sua associação com tais pessoas. Por fim, esta comunhão na mesa expressa o laço que existe entre os convidados. Cada um está relacionado com o Senhor da casa e seus interesses, e participa dos alimentos que se encontram em sua mesa.
Agora, certamente poderemos entender melhor o que 1 Coríntios 10:14-22 quer dizer-nos. Todavia o significado desta passagem ultrapassa e muito nossa débil ilustração.
A ceia e a mesa são dois aspectos mui distintos de uma só e mesma coisa. A ceia do Senhor como temos visto é ao mesmo tempo o memorial e a proclamação do amor e da obra do Senhor na sua morte, enquanto a mesa do Senhor nos fala da comunhão dos salvos por este amor e obra.
Os símbolos do memorial de 1 Coríntios 11 são considerados em 1 Coríntios 10 como os símbolos da comunhão.
Quando os crentes na mesa do Senhor abençoam o cálice e o bebem, anunciam por isto a comunhão do sangue de Cristo (1 Coríntios 10:16). A propiciação por este sangue constitui a base de sua comunhão com Deus e entre eles. Quando partem o pão na mesa do Senhor, não é somente em memória do corpo do Senhor entregue por eles. Também expressam por isto a comunhão do corpo invisível de Cristo, formado por todos os cristãos nascido de novo na terra, cuja cabeça é Cristo na gloria (Efésios 1:22-23). “Sendo um só pão, nós apesar de muitos, somos um corpo; pois todos participamos daquele mesmo pão” (1 Coríntios 10:17).
A mesa do Senhor é, pois, a representação pública da unidade do corpo de Cristo, a expressão da comunhão, da identificação completa com ele e seu corpo, do qual todos os redimidos são parte, da mesma maneira que os membros do corpo humano são parte daquele corpo. A mesa do Senhor evidentemente não é um móvel sobre o qual estão postos o cálice e o pão, mas trata-se de um principio divino, do terreno escriturário sobre o qual o pão tem que ser partido.
Algumas perguntas que podem surgir na mente de alguns de nossos leitores: desejamos, entretanto, explicá-las de forma singela e breve.
Pode o cristão celebrar a “ceia” somente para “si mesmo”? A nossa resposta é não, embora muitos cristãos sinceros na cristandade respondesse esta pergunta afirmativamente. “Julgam... a si mesmos” e, com profundo respeito, tomam a ceia recordando do amor que o Senhor teve por eles pessoalmente; e recordam deste amor que o levou a sofrer e morrer para propiciar os pecados de cada um de nós individualmente e para levar-nos a Deus. Pensam que não é responsabilidade deles informar-se de que, no lugar onde tomam a ceia, a disciplina é exercida e os incrédulos não são recebidos. Porém, independentemente do que sejam ou não, devem lembrar de que a ceia na qual participam está sempre em relação com uma mesa, com um principio de comunhão. Por isso são responsáveis diante do Senhor de examinar se a mesa com a qual se unem, leva realmente o caráter da mesa do Senhor.
Hoje em dia, onde está a mesa do Senhor? Em poucas palavras, a resposta fundamental baseada na Palavra de Deus é a seguinte: ali onde o Senhor Jesus é o único centro da reunião; onde seu santo nome não está associado a nenhuma iniquidade ou a outras coisas contrarias às Escrituras; onde se prática a disciplina com este fim; onde a autoridade do Senhor é reconhecida e não está posta de lado por um comportamento de independência; onde não se exclui nenhum filho de Deus da comunhão por meio de barreiras organizacionais ou de confissão particular, onde se procura evitar tudo o que é contrário à verdade segundo a qual todos os resgatados na terra pertencem ao único corpo de Cristo.
Quem pode participar no partir do pão na mesa do Senhor? Todo aquele que pode fazer suas as palavras de 1 Coríntios 10:17: “Sendo um só pão, nós, embora muitos, somos um corpo; pois todos participamos daquele mesmo pão”, ou seja todo aquele que é nascido de Deus, que tem uma conduta e uma doutrina sã, e se separa de tudo o que não é conforme ao principio da mesa do Senhor.
Visto que o Senhor responsabiliza a igreja local de celebrar a festa, não com “os asmos da malicia e da maldade, mas com pães sem levedura, de sinceridade e de verdade” (1 Coríntios 5:8), é evidente que a pessoa que deseje expressar a comunhão na mesa do Senhor deve ser examinada pela igreja local para saber se cumpre com as condições dadas pela Palavra.

A adoração comum

No momento da reunião para o partir do pão, os símbolos postos diante dos salvos os fazem recordar com insistência da maravilhosa realidade do amor de Deus para com seres tais como nós: o dom inefável de seu Filho, o sacrifício do Senhor Jesus Cristo como nosso Substituto, o dom da sua vida, sua morte e sua ressurreição. Se estas coisas ocupar os corações dos que são objetos deste amor incomparável, só poderá produzir neles cantos de louvor e de alegria, um agradecimento sincero e uma adoração plena de um profundo respeito. A reunião para o partir do pão é pois ao mesmo tempo uma reunião de adoração comum.
O Senhor, ao instituir a “ceia”, “tomou o pão e deu graças, e o partiu e lhes deu” (Lucas 22:19). Paulo também fala do “cálice da bênção que abençoamos” ou pelo qual damos graças. Certamente os crentes são exortados a oferecer “sempre a Deus... sacrifício de louvor” (Hebreus 13:15). Mas na mesa do Senhor tem a oportunidade única de fazê-lo em comum. Que sabor antecipado do céu onde a adoração comum será a ditosa e principal ocupação de todos os redimidos, seu serviço eterno!
 

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Será assim um dia.

Acontecimentos no livro de Apocalipse. "Depois disso Eu olhei, e, contemplei uma porta aberta no paraíso: e a primeira voz que ouvi era...