O começo
da ansiedade é o fim da fé, e o começo da fé é o fim da ansiedade.
( Jorge
Müller).
Fé não é
um sentido, nem vista, nem razão — é tomar a Deus na sua Palavra.
(Evans).
NAQUELE TEMPO NASCEU MOISÉS
“Aquele... tempo”, do qual fala Estevão em seu
discurso, diante do concilio, é o da terrível opressão que sofreram os filhos
de Israel das mãos do rei de Egito. Segundo a ordem do rei deviam lançar no rio
todo filho recém-nascido. “Naquele mesmo tempo nasceu Moisés e era formoso aos
olhos de Deus; e foi criado três meses em casa de seus pais” (Atos 7:20).
“Aquele... tempo”, não obstante isso, esteve
marcado ainda, por algo mais grave que a opressão dos egípcios. Os filhos de
Israel haviam esquecido de certa maneira de Jeová, seu Deus, para envolver-se com
os deuses dos egípcios. Isto se vê claramente nas palavras que Josué disse mais
tarde ao povo: “Tirai de entre vós os deuses aos quais serviram vossos pais do outro
lado do rio e no Egito; e servi a Jeová” (Josué 24:14). Ezequiel também recorda
este lamentável feito: “Não lançaram de si cada uma das abominações de diante
de seus olhos, nem deixaram os ídolos de Egito” (20:8; compare com 23:14).
As cargas pesadas com as quais os egípcios oprimiam
os filhos de Israel, e até a grande angustia que a ordem do rei lhes trouxe, não
os fizera voltar para Deus, nem lembrar-se das Suas promessas e clamar a ele. Quão
triste é quando as aflições enviadas por nosso Deus e Pai não nos fazem voltar para
Ele, para perto do seu coração!
Os filhos de Israel clamaram em sua angustia, e Deus,
em sua graça ouviu o gemido deles (Êxodo 2:23). Ainda que não se lembrassem de Deus,
ele se lembrou da aliança feita com Abraão muitos séculos antes (Êxodo 2:24;
6:5). Deus lhe havia prometido: “Sabe com certeza que a tua descendência será
peregrina em terra alheia, e será escrava ali, e será oprimida por quatrocentos
anos... E na quarta geração voltaram para cá” (Génesis 15:13-16). Será que
enquanto estavam no Egito, os filhos de Israel, tinham em conta esta promessa
de Deus, a fim de esperar o seu cumprimento? Haviam contado os anos? Tinham consciência
de que, como nos dias de Daniel em Babilônia, agora era o momento oportuno? (veja
Daniel 9:2). É certo que para a maioria deles: a resposta é não.
Entretanto, o tempo do cumprimento da promessa se aproximava.
Todavia, se Deus não se serviu dos esforços de Satanás e de seus instrumentos —
sempre hostis a seu povo — para fazê-los sair do Egito, podemos ver que os filhos
de Israel se instalaram tão bem ali que nunca pensaram em voltar ao país da promessa.
Muitos anos depois, após ter experimentado os milagres de Deus a seu favor, recordavam
com melancolia das panelas de carne e dos legumes do Egito (veja Êxodo 16:3;
Números 11:5).
Tudo isto deve exercitar nossos corações. Vivemos em
dias que a Palavra de Deus os chama de “tempos perigosos” (2 Timóteo 3:1), dias
caracterizados pela depravação moral e pelo abandono do que provém de Deus. O
amor de muitos esfriou, e outros “buscam o que é seu próprio, não o que é de
Cristo Jesus” (Filipenses 2:21). A conformidade com este mundo penetrou
profundamente no meio de nós; é a maneira de atuar que caracteriza Satanás nestes
dias e em nossas regiões. Ele age assim para privar-nos do gozo das benções
celestiais, por uma parte, e também para anular nosso testemunho de um Cristo
glorificado que breve voltará, por outra. Não corremos nós também o perigo de acharmos
prazer neste mundo, o qual recusou ao Senhor Jesus Cristo e ainda o recusa? Não
há também em nossos corações uma perigosa tendência a desejar voltar ao “Egito”?
Não quer Deus, por meio de numerosas e diversas provas, separar-nos desta cena onde
Satanás é o deus deste século? Ele emprega tais provas para dirigir nossos corações
para Aquele que prometeu em breve voltar para nos levar para Ele mesmo.
Esperamos realmente o Senhor? Por acaso não nos satisfazem
estas palavras: “Mas quando se aproximava o tempo da promessa” (Atos 7:17)?
Pensemos nisto: já é “o último tempo” e “agora a nossa salvação está mais próximo
do que quando cremos” (1 João 2:18; Romanos 13:11). A Escritura também dá o solene
testemunho de que vivemos nestes “últimos dias” (2 Timóteo 3). Não é o tempo de
despertar-nos e sair ao encentro do esposo com as lâmpadas acesas?
Como cristãos, “os tempos ou as estações” não nos concernem
como a Israel (Atos 1:7; 1 Tessalonicenses 5:1) digo, que não devemos esperar acontecimentos
ou períodos proféticos, é ao Senhor a quem temos o privilegio de poder esperar
cada dia e a cada instante. Porém se deixarmos de esperar ao nosso Salvador, a decadência
é inevitável, seja em nossa vida pessoal ou na vida coletiva. O mal se instalou
na Igreja quando o servo mal disse em seu coração: “Meu senhor tarda em vir” (Mateus
24:48). A grande massa da cristandade professante não reconhece a Cristo como Senhor
e Mestre; ela não pensa Nele, nem o espera. Sejamos como aqueles servos que quando
o Senhor vier estarão prontos para abrir-lhe a porta!
Sem qualquer duvida, vivemos em tempos muito solenes.
Mas não era diferente para os pais de Moisés. Apesar do triste estado do povo, permaneceram
fieis e tiveram experiências preciosas com Deus. “Naquele mesmo tempo”,
justamente nesse tempo, “nasceu Moisés”. Seus pais não disseram: “Nestes dias difíceis,
não nos é possível ter um filho”, mas o receberam como um dom especial de Deus.
Esconderam-no por três meses em sua casa, e a Palavra de Deus nos diz que fizeram
“pela fé”: “não temeram o decreto do rei” (Hebreus 11:23). Certamente que Deus proveu
tudo. E o motivo que a Palavra nos informa quanto a maneira destes pais atuar é
notável: “...porque viram que o menino era formoso”. Estevão diz: “era formoso
aos olhos de Deus” (Atos 7:20). A fé de seus pais também os capacitou a ver uma
formosura para Deus, o que, certamente, os fez pensar no futuro libertador do povo.
Assim puderam pensar: Se Deus nos deu um menino tão formoso neste tempo, certamente
é porque tem algo particular para ele. Desta forma sentiram a responsabilidade
de protegê-lo, custe o que custasse, e contaram com o poder de Deus para
cumprir a sua vontade. Tinham confiança nEle e, como Moisés mais tarde, não temeram
a ira do rei. Sabemos que sua fé foi maravilhosamente recompensada.
Vemos que Deus tinha um remanescente fiel nessa
época, assim como há um em nossos dias. Havia israelitas cuja fé contava com as
promessas de Deus, e que esperavam com paciência seu cumprimento. Hoje também, no
meio de uma profissão sem vida, há crentes que se apoiam na Palavra de Deus e
que esperam o cumprimento de suas promessas. Pela ação do Espírito Santo, seus
olhos foram abertos para discernir a formosura de Cristo, do qual o libertador
de Israel é uma figura. Assim como Moisés nasceu “naquele mesmo tempo”, também o
Senhor Jesus, “vindo a plenitude do tempo”, nasceu “de mulher” (Gálatas 4:4). Ele
foi o único homem sobre a terra, do qual, no sentido absoluto da palavra, pode ser dito a seu respeito que “foi agradável
a Deus”, por isso o céu se abriu e a voz do Pai foi ouvida: “Este é meu Filho
amado, em quem me comprazo”? (Mateus 3:17).
Que possamos, nestes dias maus, ser como aqueles
que o esperam!
Ch. Briem
Fonte
Creced / 2008 - N° 4 – Suiça.
Tradução JCarneiro.
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