sexta-feira, 14 de outubro de 2016

ASPECTOS PRÁTICOS DA UNIDADE DO CORPO DE CRISTO

ASPECTOS PRÁTICOS DA UNIDADE DO CORPO DE CRISTO

         MEUS AMADOS IRMÃOS,

         Acabamos de ver que a igreja não começou sua existência até Pentecostes, e que a duração de sua existência na terra se estenderá até a vinda do Senhor para os Seus. Na carta seguinte tratarei da pergunta que pode ser formulada com respeito aos santos do Antigo Testamento e dos santos durante o período milenial. Desejo que considerem comigo agora alguns dos aspectos práticos da unidade do corpo de Cristo.

         Em nossa última carta chegamos à conclusão de que o corpo de Cristo não pôde ser formado até que Cristo, como sua Cabeça glorificada, estivesse no céu. De fato, como foi formado o corpo? A resposta encontra-se nas palavras já citadas: "Porque num mesmo Espírito todos nós fomos batizados, formando um só corpo." (1 Coríntios 12:13), mostrando, como vimos, que até que o Espírito Santo fosse enviado, como consequência da glorificação do Senhor Jesus Cristo (João 7:39), o corpo de Cristo não podia existir. Mas há outra coisa que impactará o atento leitor do Novo Testamento, e consiste no fato de que não se encontra nenhuma menção do corpo de Cristo, exceto nos escritos do apóstolo Paulo[1]. Ele nos diz, efetivamente, que foi comissionado especialmente para dá-lo a conhecer. (Efésios 3: 2-7; Colossenses 1:25). O princípio da mais plena revelação feita pelo Senhor a Paulo estava contido, sem dúvida, justamente nas primeiras palavras que o Senhor dirigiu a ele; porque quando Ele apareceu a Saulo enquanto ele ia no caminho para Damasco, e disse: "Saulo, Saulo, por que me persegues"? (Não disse por que persegues ao Meu povo? mas por que “ME” persegues) (Atos 9:4)? Temos assim a perfeita identificação de Cristo, a Cabeça ressuscitada com Seus membros na terra; desta forma é contra Ele que se dirigia, realmente, a ira insensata de Saulo. Por conseguinte, quando o apóstolo traz à luz a verdade do corpo, ele diz: "Porque assim como o corpo é um, e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, ainda que sejam muitos, constituem um só corpo, assim também é [não a igreja, mas] CRISTO" (1 Coríntios 12:12); desta forma ele apresenta, mediante o termo Cristo, Cristo e o Seu povo na terra como sendo indivisivelmente um.
         A verdade ensinada é, então, que os crentes são batizados num Espírito em viva união com Cristo, de modo que Cristo e todo Seu povo na terra formam um corpo vital; e por esta causa os crentes são membros de Seu corpo, da sua carne e de Seus ossos - palavras que indicam da maneira mais enérgica possível a união orgânica e viva dos crentes (como forjada e mantida pelo Espírito Santo) com Cristo como Cabeça ressuscitada deles. Várias consequências muito importantes emanam desta verdade; e é a estas consequências que vos convido agora a pôr sua preciosa atenção enquanto as consideramos a partir da Palavra de Deus.

         1. Tenham em conta que todos os crentes em qualquer localidade - ou melhor, a igreja de Deus em qualquer lugar - é considerada como a expressão do corpo de Cristo. Assim o apóstolo, escrevendo aos Coríntios, depois de desvendar os aspectos práticos do corpo de Cristo, disse: "Ora, vós sois corpo de Cristo, e cada um individualmente um membro dele" (1 Coríntios 12:27). Este é um princípio muito importante, e ensina explicitamente qual é o terreno de Deus para a reunião do seu povo - o qual é a base da associação do corpo de Cristo; em outras palavras, se os santos reúnem-se sob qualquer outro fundamento que não reconheça todos os membros de Cristo neste lugar (excetuando os que podem estar sob disciplina segundo as escrituras), este não é o terreno de Deus. Por exemplo: se os crentes reúnem como Casa de Oração, Assembléia de Deus, Metodista, Batistas ou Presbiterianos[2], eles reúnem-se como sendo membros de suas respectivas denominações, e não como sendo membros de Cristo. Porém vocês podem contestar e dizer: “É verdade que nós somos Batistas, etc.; mas não temos nenhuma simpatia com aqueles que excluem os outros da comunhão; e, de fato, nós admitimos a todos os crentes”. Isso é dizer, irmãos amados, que vocês acolherão com satisfação os outros crentes, se eles estiverem dispostos a submeterem-se aos seus pontos de vista acerca da verdade, seus pontos de vista acerca do governo 'eclesiástico', e seus métodos de adoração. Ao procederam assim, como sei que ocorre com alguns de vós, o caso não é alterado. Isso apenas demonstra que têm um pouco mais de liberalidade de sentimento do que muitos outros; mas permanece a verdade de que não estão reunidos sobre o terreno do corpo de Cristo, que não estão reunidos ao Seu nome. Porque embora possam tolerar aqueles que recusaram seus peculiares pontos de vistas, entretanto, vós não os considerais como membros  bona fide (autênticos, genuínos, verdadeiros), ou não lhes permitiriam ministrar em suas reuniões, se eles não aceitarem essas opiniões que tantos Cristãos creem que não são escriturais. E sendo isto assim, o terreno da vossa reunião – vou dizê-lo ternamente, embora com toda fidelidade - é uma negação da unidade do corpo de Cristo. Se isso fosse assim, ser membro do corpo de Cristo seria a única condição de comunhão, e o nome de Cristo apenas o centro de sua reunião; e, então, veríamos com dor, o nome ' Casa de Oração, Assembléia de Deus, Metodista', 'Batista' ou 'Presbiteriano', escrito na parte exterior de seus templos; porque que sentiram que poderia haver muitos queridos filhos de Deus, membros de Cristo, que, ao não estar de acordo com os pontos de vista indicados mediante estes nomes, poderiam ser excluídos da comunhão por estes símbolos denominacionais[3].

         2. Estando reunidos como membros do corpo de Cristo, deve-se deixar lugar para o exercício dos dons dos membros. Este é o âmbito da aplicação do argumento do apóstolo em 1 Coríntios 12, que farão muito bem lê-lo atentamente e compará-lo com as práticas existentes. Deste modo, diz o apóstolo: "Porque, assim como o corpo é um só e tem muitos membros, e todos os membros do corpo, ainda que sejam muitos, são um só corpo, assim é Cristo também. Porque em um só Espírito todos fomos batizados num só corpo. . . e bebemos todos de um só Espírito. Pois o corpo não consiste de um só membro, mas de muitos" (1 Coríntios 12: 12-14). Depois ele assinala que nenhum membro pode ser separado do corpo no qual se encontra; que cada membro é necessário para o bem-estar de todo o corpo, quer sejam eles considerados "débeis" ou "decorosos"; porque " Deus assim formou o corpo, dando maior honra à parte que mais carecia dela, a fim de que não haja divisão no corpo, para que os membros tenham o mesmo cuidado uns pelos outros" etc. (1 Coríntios 12: 24, 25). Depois ele acrescenta, "Vós, pois, sois corpo de Cristo, e seus membros em particular. E a uns pôs Deus na igreja", "primeiramente apóstolos, depois profetas, em terceiro mestres" etc. (1 Coríntios 12: 27, 28).
         Então, sendo este o caráter da igreja como o corpo de Cristo, composto de muitos membros, e cada membro tendo uma função diferente, e sendo a atividade de cada um absolutamente necessária para o bem-estar e a benção de todo o corpo, que outra coisa é senão uma negação da unidade do corpo, assim como da função e uso de seus vários membros, quando as reuniões são vistas sob a direção e condução de um homem só? De fato, se fizermos de um só homem, por mais dotado que ele seja, o porta-voz de todos, ignoramos conscientes ou inconscientemente a associação comum do corpo de Cristo representada pelos crentes.
         Suponham, agora, que eu espero que minha Cabeça ou minha mão executem todas as funções do corpo, isso não seria nada menos que uma insensatez. Contudo a insensatez é ainda maior quando esperamos que um 'ministro' desempenhe todas as funções do corpo de Cristo. Não nego seu dom, ou dons, ele pode estar generosamente dotado de vários; mas ele não pode fazer sozinho as funções de todos os membros do corpo que estão ali reunidos, visto que todos têm dons conforme a graça que lhes foi dada. Isto é evidente, e, portanto, até que se deixe espaço em suas reuniões para o exercício de qualquer dom que o Senhor tenha comprazido em conceder aos diferentes membros do Seu corpo, vocês nem sequer podem afirmar que estão reunidos sobre este terreno.
         Isto não é apenas assim, mas vocês mesmos situam-se em oposição ao mandamento do Senhor. Em Romanos 12 o apóstolo nos exorta pelo Espírito: "De maneira que, tendo diferentes dons, segundo a graça que nos foi dada, se profecia, use conforme a medida da fé; se serviço, em servir" (Romanos 12: 6, 7); e sua exortação é baseada no fato de que "num corpo temos muitos membros, mas nem todos os membros têm a mesma função, assim nós, sendo muitos, somos um corpo em Cristo, e todos membros uns dos outros" (Romanos 12: 4, 5). Portanto, é uma falta muito grave se por planejamentos humanos recusamos permitir o exercício dos dons dos vários membros do corpo. Isto é uma desobediência real ao Senhor como Cabeça da igreja; e, por sua vez, isso é apagar o Espírito..
         Tampouco a ofensa é menos grave se nós a considerarmos à luz de outra Escritura. Encontramos na epístola aos Efésios que o Senhor Jesus, uma vez elevado ao céu, deu dons aos homens. Depois temos a descrição dos dons (Efésios 4:11) e para que os dons foram dados: "para o aperfeiçoamento dos santos, para a obra do ministério, para a edificação do corpo de Cristo" etc. (Efésios 4:12). Se, portanto, reuníssemos sobre o terreno do corpo de Cristo, quão zelosos seríamos ante o menor afastamento destas instruções; e com que fervor, removeríamos toda obstrução à realização da provisão que foi feita, pelo Senhor, para a edificação do corpo de Cristo!

         3. Outra verdade importante é ensinada pelo apóstolo em 1 Coríntios 10. Ele diz: "O cálice da benção que abençoamos, não é a comunhão do sangue de Cristo? o pão que partimos, não é a comunhão do corpo de Cristo? Porque [nós] sendo muitos, somos um só pão, e um só corpo; porque todos participamos do mesmo pão" (1 Coríntios 10: 16, 17). Nos é dito aqui que o "único pão" é um símbolo da unidade do corpo de Cristo, e que esta unidade também é expressa mediante o fato de que todos (os membros de Cristo que formam a igreja) participam (quando se reúnem) daquele único pão. Daí que o propósito de reunir para 'partir o pão', é para 'anunciar a morte do Senhor até que Ele venha" (1 Coríntios 11:25). Assim sendo, quando nos reunimos conforme o pensamento de Deus como membros de Cristo, isto é, ao redor da mesa do Senhor em obediência ao Seu mandamento, onde, além de recordar do Senhor Jesus Cristo, temos diante de nós o pão que nos recorda, por uma parte, Seu corpo moído e, por outra, a unidade de Seu corpo - a igreja. Por conseguinte, encontramos que quando os primeiros discípulos se reuniam no primeiro dia da semana, era para partir o pão (Atos 20:7); porque eles estavam conscientes do mandamento do Senhor, bem como do fato de que eles eram membros do corpo de Cristo.
         Mas, permita-me que vos pergunte afetuosamente, qual é o objetivo da vossa reunião no primeiro dia da semana? Não é para partir o pão! Se for, porque então fazem isto apenas uma vez por mês, ou quando muito, duas vezes ao mês; e nestas reuniões o partir do pão não é o objetivo principal para o qual reúnem, digo isto, porque o partir do pão, na Ceia do Senhor, tem um caráter totalmente diferente das demais reuniões, e é o resultado da nossa devoção anterior ao Senhor. Isto demostra de forma concludente que o propósito que têm em mente ao reunirem-se é, principalmente, ouvir uma mensagem. Não me interpretem mal. Não ponho em dúvida, de nenhum modo, o fato de que muitos de vós, como indivíduos, prestam adoração; contudo, fica muito claro que priorizam o sermão; e disto resulta a frequente pergunta, A quem ouvem? ou, quem é seu ministro? ou, receberam um bom sermão? Não se pode negar o fato de que, desta maneira, vocês com frequência recebem benção; entretanto é certo que, enquanto não se reunirem ao nome (ou para o nome) de Cristo ao redor da sua mesa, não se reunirão como membros do corpo de Cristo, e por conseguinte, não se reunirão conforme as escrituras, e, portanto, conforme o pensamento e à vontade de Deus.

         4. Combinando estas coisas, fica muito claro também, que enquanto os Cristãos se satisfazem em ser 'membros de igrejas' (referente ao qual não se diz nada na Escritura) - as quais se distinguem umas das outras - pertencentes a diferentes denominações, não tendo nenhuma relação uma com a outra, além das ocasionais cortesias Cristãs reconhecendo umas às outras, como pertencendo a Cristo; 'adorando' em lugares diferentes, em formas e métodos diversos, e tendo diferentes condições de comunhão, não podem, desta forma, estar reunindo-se como membros do corpo de Cristo, ou esforçando para guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz ("esforçando-vos para guardar a unidade do Espírito no vínculo da paz" Efésios 4:3). Porque uma vez que todos os crentes são membros do corpo de Cristo, e o ajuntamento dos crentes em qualquer lugar é a expressão do corpo (1 Coríntios 12:27), qualquer lugar de reunião que não reconhece todos os membros do corpo simplesmente como membros de Cristo (excetuando os que estão sob disciplina conforme as escrituras), não é o ajuntamento da igreja de Deus. Em outras palavras, se exigimos outra coisa além de ser um membro de Cristo, andar em santidade e verdade; se adotamos nomes humanos, seja Casa de Oração, Assembléia de Deus, Presbiteriano, Independiente ou Batista; e se há qualquer centro de reunião além do nome de Cristo; e se os dons dos distintos membros do corpo não são reconhecidos; ou se o exercício deles não é permitido conforme às Escrituras; então essa reunião, onde existem tais coisas, não é a reunião da igreja de Deus, mas a reunião dos homens.
         E quão poucos de vocês sabem, irmãos amados, o que perdem por ignorar de maneira prática a unidade do corpo de Cristo. O apóstolo escreve: "se um membro sofre, todos os membros sofrem com ele" (1 Coríntios 12:26). Suponham agora que 'um membro de outra igreja' na mesma cidade cai em pecado, o que vocês sabem acerca de sofrer com ele? Vocês serão afetados, indubitavelmente, por seu pecado se vocês ouvirem acerca dele; porque se ele é um membro de Cristo, todo o corpo deve sofrer com ele; mas, o que sabem acerca de entrar inteligentemente em sua condição diante do Senhor, e procurar sua restauração? Nada! porque, de fato, vocês podem não ter ouvido acerca de seu declínio e queda; ou se ouviram não farão oração por ele em suas reuniões, porque ele pertence a outra 'igreja'. Por outra lado, quando reunimos como membros do corpo, o pecado de um é sentido como o pecado de todos. Assim, posso ver uma igreja completa, num bairro de Londres, sobre seus rostos diante do Senhor por causa do pecado de um crente em outro lugar, longe de Londres; e seria impossível descrever a bem-aventurança desta realidade prática do sofrer com outro membro do corpo de Cristo. A unidade do corpo de Cristo é, desta maneira, uma coisa real, e compreendida no poder do Espírito.

         Permitam-me, então, recomendar este tema para seu estudo devocional; e o faço com a fervorosa esperança de que o Senhor os possa guiar a esta verdade por Seu Espírito, de modo que daqui em diante, vocês possam reunir-se com aqueles que, recusam todos os nomes e diferenças sectários, e se reunirem como membros de Cristo, esperando somente nEle, procurando na simplicidade da dependência, ordenar todas as coisas pertencentes a reunião dos santos, conforme às Escrituras.

         Creia-me, amados irmãos, que lhes saúdo,

         Afetuosamente em Cristo.

         Edward Dennett




[1] N. do T. - Há um menção do corpo no evangelho de João feita por Caifás (Jo 11:52), Caifás falava da morte de um homem por toda nação e João escreveu que ele sendo sumo sacerdote profetizava que o Senhor Jesus morreria pela nação e para reunir em um corpo os filhos de Deus que estavam dispersos.
[2] N. do T. – Inserimos alguns nomes que não conta no original, em vista de que nos dias do autor, no país em que viveu, não existirem estes nomes denominacionais, mas haviam outros que não são bem conhecidos aqui.
[3] N.do T - É importante salientar que esta carta foi escrita a pessoas denominacionais com os quais o autor teve uma relação anterior.

Extraído de: www.graciayverdad.net

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